Sobre a centralidade e a estrutura do capítulo “Os corpos dóceis” do Vigiar e Punir (original) (raw)

O corpo na escrita diarística de Lúcio Cardoso e Walmir Ayala

Raído, 2018

Este ensaio dedica-se a pensar a presença do corpo e de seus desdobramentos na escrita diarística de Lúcio Cardoso e de Walmir Ayala. Ambos os autores desenvolveram, entre os anos de 1940 e 1960, uma escrita pioneira que colocou em cena, pela primeira vez na literatura brasileira, a existência do homossexual e da homossexualidade a partir de uma perspectiva da primeira pessoa. Assim, busca-se aqui compreender como se dá a negociação do espaço simbólico que esse corpo, colocado tradicionalmente à margem da sociedade, vai passar a ocupar uma vez que se ouse propor sua existência, que ele seja colocado em evidência.

A crítica ao duplo revisionismo nos Cadernos do cárcere

Este artigo resulta de pesquisas em andamento e apresenta uma reflexão sobre o conceito de “filosofia da práxis” nos Cadernos do Cárcere de Antonio Gramsci. O tema envolve questões referentes ao método, a uma gnoseologia ou teoria do conhecimento, sendo pressuposto da articulação entre economia, política e filo- sofia. A primeira parte aborda os limites do liberalismo na sua estrutura formal; a segunda explicita a articulação entre economia, política e filosofia para, no terceiro momento, retomar a crítica ao duplo revisionismo de Marx a partir do Caderno 4. A crítica gramsciana reinterpreta a filosofia marxista na sua identificação com a política e a história.

Uma palavra atravessada: sobre o equívoco dos corpos em Roça Barroca, de Josely Vianna Baptista

Raído, 2021

O texto propõe um percurso pelo livro Roça barroca (2011), de Josely Vianna Baptista, a partir de variações da ideia de atravessamento. Os diferentes caminhos abertos procuram esboçar tensões relativas ao ponto de vista do livro, isto é, explorar os modos como as relações são nele estabelecidas, já que a perspectiva não existe fora daquilo que a constitui e do qual ela se mantém. Perceber como as diferentes textualidades presentes em Roça Barroca – transcrição de cantos mbya Guarani e sua tradução; versos autorais; texto de caráter etnográfico; glossário; texto ensaístico etc. – estão em deslocamento nos levou a algumas problemáticas sobre tradução, pensada em diálogo com as imagens de alguns poemas. Por tratar-se de um livro com inflexões sobre diferenças cosmológicas – mundos distintos –, a própria ideia de literatura, enquanto instituição moderna, emerge como problema. Sem almejar resolver os conflitos, queremos propor Roça barroca como materialidade que sugere impasses e inquiet...

A dor que ninguém vê : “corpos docilizados” com episódios reacionais hansênicos

2013

A hanseniase e uma doenca estigmatizada de alto poder incapacitante atribuido em parte aos episodios reacionais hansenicos. A relevância do tema consiste na premencia em diagnosticar e tratar os episodios reacionais hansenicos, eventos inflamatorios agudos no curso de uma doenca cronica, que pode acometer os individuos antes da hanseniase, durante o tratamento e apos a alta. Tem-se como objetivo compreender a vivencia dos corpos com episodio reacional hansenico no âmbito individual, familiar e comunitario. Parte-se do pressuposto que os episodios reacionais marcam a vida das pessoas contribuindo para o estigma e o isolamento social. Constituindo-se numa investigacao de carater qualitativo, desenvolvida a luz da fenomenologia existencial, este estudo teve como cenario o centro de referencia em hanseniase no municipio de Floriano no Piaui. Foram realizadas nove entrevistas fenomenologicas, em abril de 2012, sendo quatro com mulheres e cinco com homens que vivem ou viveram tal experien...

A escola da mestra Silvina (Cora Coralina) e a formação dos corpos “dóceis”

Revista Profissão Docente, 2019

RESUMO O presente artigo tem como objetivo refletir sobre a sociedade disciplinar e como a instituição escolar contribui para a formação de corpos "dóceis". Para isso, utiliza-se como corpus o poema A escola da mestra Silvina, de Cora Coralina (2014), e como aporte teórico as reflexões desenvolvidas por Michel Foucault (2014). A pesquisa tem natureza investigativa e qualitativa, sendo desenvolvida a partir de cunho bibliográfico, compreendendo a literatura como elemento constitutivo da cultura e reflexo das concepções disciplinadoras, típicas da sociedade contemporânea. Logo, a docilização dos corpos é perceptível por meio do controle de movimentos em conformidade às regras, no tempo e no espaço. A professora é detentora do poder, enquanto os alunos são seres passivos. Logo, a escola contribui para a formação de corpos 'dóceis', atendendo, assim, aos anseios da sociedade disciplinar, habilitando o indivíduo para a produção eficiente, a submissão e a obediência às regras.

O Corpo No Espaço Urbano: Entre O Vigiar, O Punir e O Significar

Linguagem em (Dis)curso, 2016

Resumo O corpo, como objeto discursivo, é uma materialidade significante, pela qual retornam e ressoam memórias e discursos, instaurando processos de identificação. Neste sentido, pensa-se nas formas como o corpo vem sendo representado e lido, no espaço urbano, como uma textualidade. Faz-se isso por meio de dois olhares teóricos: o de Foucault e o de Pêcheux, ressaltando que o discurso constitui o ponto de encontro entre os dois. De um lado, atenta-se para o corpo vigiado e punido e para uma sociedade coercitiva, que se autoriza a fazer justiça e, de outro, para a ideologia que naturaliza o vigiar, o punir e as memórias que significam as práticas discursivas em torno do "fazer" justiça, do julgar e do condenar. Para isso, recorta-se a capa da revista Veja (fevereiro de 2014), tendo em vista o corpo vigiado e punido e o corpo que significa pela memória e pela ideologia em uma sociedade que se representa como justiceira, mas nem sempre justa.

O corpo des-pedaçado em escritos de Veronica Stigger

Este TCC trabalha com alguns textos da escritora brasileira Veronica Stigger – são eles: “Curta- metragem I”, “Curta-metragem II”, “Tatuagem” e “Teleférico”, do livro “Os Anões”;; “Domitila” e “Tristeza e Isidoro”, do livro “Gran Cabaret Demenzial”;; e “No Teatro”, do livro “O Trágico e Outras Comédias”. O que se percebe – à primeira vista – nesses escritos é a extrema violência, compartilhada e familiar, de seus “personagens”, provocando nos leitores – ou expectadores? – a experiência do riso e do choque, como se nós estivéssemos assistindo a um filme no cinema, lendo/vendo tudo a partir de uma tela de virtualização. E o que se pode ver nessa tela são corpos des-pedaçados, corpos em pedaços e que são, por sua vez, des-pedaçados, alargados, massacrados e cortados, como se tudo fosse um filme, um espetáculo, ou, como um gran cabaret demenzial.

“Fanon Sobre Cadáveres, Loucura e Os Condenados”

EntreLetras, 2022

Uma mulher foi atropelada por um automóvel em Fort-de-France quando Frantz Fanon tinha 14 anos. Naquela época, as autópsias eram feitas na catedral daquela cidade. Fanon convidou seus amigos para acompanhá-lo em uma expedição para testemunhar a autópsia através de uma janela aberta da igreja. Seus amigos recusaram. Então, Fanon foi por conta própria. Ele ficou enojado com o que viu. Não era o sangue que o incomodava. Era o procedimento impessoal e prático. Ali a mulher jazia não mais como pessoa, mas como cadáver. Fanon não separaria a pessoa do cadáver, a mulher da carne dissecada na mesa. Ele testemunhou degradação, indignidade, humanidade ausente no processo, mas não em seu coração. O menino encontrou sua humanidade e, por meio de sua convicção, seu humanismo.