Cognição social no transtorno esquizotípico de personalidade e vulnerabilidade à psicose (original) (raw)

Esquizotipia, habilidades "Teoria da Mente" e vulnerabilidade à psicose: uma revisão sistemática

Revista de Psiquiatria Clínica, 2009

Contexto: A capacidade de inferir estados mentais de terceiros (também chamada habilidade "Teoria da Mente" ou "ToM") desenvolveu-se em decorrência de uma pressão evolutiva exercida por sociedades progressivamente mais complexas e parece estar comprometida na esquizofrenia e em portadores de transtorno esquizotípico de personalidade. Tal comprometimento poderia explicar o aparecimento de sintomas psicóticos nestes indivíduos. Objetivo: Revisar criticamente a literatura sobre alterações ToM em indivíduos esquizotípicos ou portadores de sintomas psicóticos subsindrômicos. Métodos: Realizou-se uma busca na base MedLine por trabalhos publicados em inglês e português, entre 1990 e 2008, utilizando a frase "Schizotypal Personality Disorder [MeSH] AND "Theory of Mind" OR "Mentalising". Resultados: Foram selecionados 15 artigos, os quais utilizaram diversos desenhos experimentais e instrumentos para avaliação de traços esquizotípicos, propensão à psicose e habilidades ToM. Conclusões: Os trabalhos revisados visaram estabelecer relações entre vulnerabilidade à psicose e alterações ToM. Alguns artigos também abordaram o caráter traço ou estado dependente das alterações ToM. A maioria dos trabalhos selecionados sugeriu que indivíduos com escores altos para esquizotipia e familiares de esquizofrênicos apresentam problemas no processamento ToM (este teria, portanto, um caráter traço-dependente). Tais dados devem ser interpretados cuidadosamente em virtude de problemas metodológicos observados na maioria dos estudos.

O sistema de histocompatibilidade nas esquizofrenias

Arquivos de Neuro-Psiquiatria, 1982

Várias doenças com um importante componente autoimune e com frequente ocorrência familiar mostraram uma correlação estatisticamente significante com determinados antígenos de histocompatibilidade (HLA = human leucocyte antigens). Esta correlação também foi encontrada entre os HLA e algumas doenças psiquiátricas. No entanto, os resultados de diversos autores têm sido contraditórios. No presente estudo, as frequências de 31 HLA foram investigadas em 100 pacientes esquizofrênicos e em 472 controles da população alemã. A frequência do HLA-B27 estava significantemente aumentada no grupo total de pacientes e nos subgrupos de pacientes paranóides, crônicos, de prognóstico desfavorável e em pacientes com adoecimento precoce. Nestes últimos três grupos encontrou-se também um aumento na frequência do HLA-A9. A combinação A9-B27 foi detectada em 0,63% dos controles e em 7% dos pacientes. Destes pacientes 85,7% eram esquizofrênicos paranóides crônicos com características prognósticas desfavoráv...

Cognição social, modo default e psicopatologia

Objetivos: discutir a relação entre alterações de conectividade entre estruturas da rede default observadas em estudos de neuroimagem e o aparecimento de sintomas psicopatológicos com viés cognitivo social na depressão, ansiedade e esquizofrenia. Método: revisão narrativa de artigos. Resultados: maior ou menor conectividade de estruturas cerebrais em repouso podem comprometer a formação de representações mentais sociais, produzindo sintomas psicopatológicos. Conclusão: o estudo por imagem da conectividade cerebral no repouso é uma ferramenta útil para a compreensão da formação de vários sintomas psiquiátricos. Palavras chave: psicopatologia, conectividade cerebral, cognição, cognição social.

Social cognition in schizophrenia: focus on theory of mind abilities. Cognição social na esquizofrenia: foco em habilidades teoria da mente.

"Theory of mind" is the term used to designate human abilities to infer the state of mind or intentions of others. Such abilities are part of a major group of cognitive capabilities specifically related to social behavior, known as social cognition. Schizophrenia is a mental disorder that usually consists of severe social functioning. There are many studies available on the relations between disorders of theory of mind abilities and schizophrenia symptoms. Many authors believe that schizophrenia symptoms might be directly understood by focusing on some changes in Theory of Mind abilities. Other authors claim that such changes observed in schizophrenic patients are the result of their general cognitive impairment. There are still few studies related to the impact of the use of antipsychotics on social cognition and Theory of Mind abilities, which present methodological problems. Keywords: Cognition, schizophrenia, psychotic disorders.

Schizotypy, “Theory of Mind” abilities and vulnerability to psychosis: a systematic review. Esquizotipia, habilidades "Teoria da Mente" e vulnerabilidade à psicose:uma revisão sistemática.

Revista de Psiquiatria Clínica, 2009

"Background: The ability of inferring mental states of others (also named “Theory of Mind” or “ToM” abilitiy) has been developed due an evolution pressure exerted by progressively more complex societies and it might be impaired in schizophrenia and in schizotypal individuals. Such impairment might explain the occurrence of psychotic symptoms in these individuals. Objective: To review critically the literature on possible alterations of ToM processing in individuals with schizotypy or subsyndromal psychotic symptoms. Methods: We performed a search on MedLine database for articles published in English or Portuguese between 1990 and 2008, using the phrase“Schizotypal Personality Disorder[MeSH] AND “Theory of Mind” OR “Mentalising”. Results: Fifteen manuscripts have been selected, which used diverse experimental designs and instruments to evaluate schizotypal traits, vulnerability to psychosis and ToM abilities. Discussion: The reviewed articles aimed to establish relationships between vulnerability to psychosis and alterations in ToM processing. Some articles also approached the trait or state dependence character of ToM impairments. The great majority of the selected manuscripts suggested that individuals who scored high in schizotypy scales, as well as schizophrenic relatives, do show problems in ToM processing (which suggests a trait dependence character). However, these results should be interpreted carefully due to methodological problems seen in the majority of the studies. Keywords: Schizotypy, cognition, Theory of Mind."

Psicopatologia diferencial do contato: esquizoides e autistas

Fundamentos de clínica fenomenológica, 2022

A partir da década de 1950, o olhar para os cuidados que devem ser tomados no desenvolvimento da criança sofreu um impacto importante. Um dos autores-chave desse processo, Bowlby (1951), descreve os efeitos negativos da privação materna no desenvolvimento infantil. Suas observações são consideradas revolucionárias para os cuidados destinados às crianças institucionalizadas, assim como para o início de um novo modo de observar o desenvolvimento: um processo que precisa ser cuidado para que o adulto possa atingir com plenitude suas potencialidades. Concomitante com um olhar mais cuidadoso para o desenvolvimento infantil normal, surge o interesse pela psicopatologia nessa fase da vida. A psiquiatria da infância e da adolescência, que praticamente não existia como uma disciplina, constituiu suas primeiras cadeiras nos anos 1950 nos Estados Unidos e na Europa. Os estudos de Bowlby e o surgimento da Psiquiatria da Infância e Adolescência como uma disciplina marcam o início de um processo de ampliação do olhar para as peculiaridades do desenvolvimento infantil e seus pontos de vulnerabilidade. Junto aos primeiros passos da Psiquiatria da Infância e Adolescência, surge, na psiquiatria como um todo, a partir da década de 1970, a procura por diagnósticos psiquiátricos padronizados e com algum grau de evidência. Essa tendência proporcionou o aparecimento dos critérios diagnósticos como o Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais (DSM) e a Classificação Internacional de Doenças (CID-10). Tal movimento iniciou-se focado no estudo da população adulta e, na sequência, foi seguido pelos psiquiatras da infância e da adolescência. A apresentação de critérios diagnósticos para quadros

O que a Analise do Comportamento tem a dizer sobre a esquizofrenia

Este trabalho buscou analisar as publicações científicas sobre a esquizofrenia pela ótica da Análise do Comportamento nos últimos três anos no Brasil. A esquizofrenia é ainda um dos transtornos mentais que mais intriga cientistas de diversas áreas de conhecimento, incluindo psicólogos que atuam na área da saúde mental. Por isso, cabe analisar a maneira como os analistas do comportamento vêm trabalhando com a temática. Para tanto, abordou-se aspectos inerentes à construção histórica do conceito de esquizofrenia, bem como as tendências investigativas mais recentes sobre o assunto, tanto do ponto de vista médico neuropsiquiátrico quanto do ponto de vista da psicologia, em especial da Análise do Comportamento. Nesse sentido, o presente trabalho buscou definir o transtorno a partir do ponto de vista médico e psicológico, além de esclarecer sobre os conceitos mais relevantes para sua compreensão na Análise do comportamento, tais como conceitos de comportamento operante e respondente, comportamento verbal, desamparo aprendido, inibição latente, controle aversivo, operações estabelecedoras e função do comportamento, a partir do que postula o Behaviorismo Radical de B.F. Skinner. A metodologia utilizada para a realização da pesquisa foi a de estudo bibliográfico e a pesquisa documental para a coleta de dados. Para a análise de dados utilizouse a abordagem quantitativa e qualitativa da análise de conteúdo temático-categorial. Foram levantados 7 artigos em importantes periódicos de publicações da Análise do Comportamento entre os anos de 2010 e 2012. Os resultados indicam que a produção científica sobre esquizofrenia sob a ótica analítico-comportamental no Brasil baseiam-se em revisões bibliográficas e/ou estudos experimentais com pacientes institucionalizados e visam o uso dos princípios da análise comportamental na modificação de comportamentos inadaptados de pessoas com esquizofrenia, mas sem inovações ou descobertas significativas desde a década de 1950, quando os primeiros estudos da AC no tratamento de esquizofrênicos começaram.

O estigma atribuído pelos psiquiatras aos indivíduos com esquizofrenia

Rev Psiq Clín, 2011

Contexto: A literatura acerca da maneira como a população geral estigmatiza indivíduos com distúrbios mentais aumentou consideravelmente nas últimas décadas. Mas a dúvida sobre se os psiquiatras também estigmatizam seus pacientes ainda permanece. Objetivo: O presente estudo visou avaliar as atitudes de psiquiatras brasileiros em relação aos indivíduos com esquizofrenia. Métodos: Dos cerca de 6.000 participantes do Congresso Brasileiro de Psiquiatria em 2009, 1.414 psiquiatras concordaram em participar do estudo. Entrevistas face a face foram realizadas utilizando um questionário que avaliava o estigma em três dimensões: estereótipos, distância social e preconceito, todas relacionadas a alguém com esquizofrenia. Opinião sobre medicações psicotrópicas e tolerância aos efeitos colaterais também foram avaliadas. Dados sociodemográficos e profissionais foram coletados. Resultados: Psiquiatras brasileiros tenderam a estereotipar negativamente pessoas com esquizofrenia. Estereótipos negativos correlacionaram-se com uma melhor opinião sobre medicações psicotrópicas e com maior tolerância a efeitos colaterais. Idade maior correlacionou-se com estereótipos positivos e com menor preconceito. Conclusão: Os psiquiatras estigmatizam indivíduos com esquizofrenia e possivelmente têm certa dificuldade em admitir esse fato. Campanhas antiestigma para profissionais de saúde mental devem ser promovidas.

O ps�quico e o social numa perspectiva metapsicol�gica: o conceito de identifica��o em freud

Psicologia Teoria E Pesquisa, 2007

RESUMO-Neste artigo, o conceito metapsicológico de identificação é simultaneamente apreendido como sustentação dos mecanismos de inserção do sujeito no grupo-na cultura-e como fator fundamental para a superação do conflito edipiano, bem como para a compreensão da constituição do eu. Sugere-se que a identificação permite compreender o psíquico e o social como instâncias do sujeito e que, por isso, não devem ser pensadas isoladamente. Isso também indica o estatuto metapsicológico que o social adquire na teoria psicanalítica freudiana. Toma-se como material principal das análises empreendidas, o ensaio de Freud de 1921 intitulado Psicologia de Grupo e Análise do Ego.