Diadorim: biopolítica e gênero na metafísica do Sertão (original) (raw)

Entre o Diabo e Diadorim: psicanálise e gênero em Grande sertão: veredas

RESUMO: Neste trabalho, partimos das duas questões que assolam o narrador Riobaldo, em Grande sertão: veredas, isto é, a existência do Diabo e o amor por seu amigo Diadorim, para discutir como o pulsional e a presença do inconsciente, ao dividirem o sujeito, promovem uma espécie de despossessão identitária, um descentramento em relação às formas narrativas do eu. A partir disso, fomos levados a confrontar os sofrimentos de determinação excessiva-a que Riobaldo se prende-com as experiências produtivas de indeterminação, que Diadorim personifica, ao operar como causa de desejo para o narrador, fazendo vacilar sua gramática identitária habitual em meio ao regime de heterossexualidade compulsória da jagunçagem. Assinalamos na direção de algo do pulsional que aponta para um fundo de indeterminação a corroer as tentativas de determinação normativa de identidades. PALAVRAS-CHAVE: gênero; identidade; desejo; inconsciente. Abstract: In this work, we discuss the two questions that haunt the narrator Riobaldo, in Grande sertão: veredas, which are: the existence of the devil and the protagonist's feelings for his friend Diadorim, in order to show how the drive and the presence of the unconscious, dividing the subject, promote a species of identitarian dispossession, a de-centering in relation to the narrative forms of the I/ego. Later, we confront the suffering from excessive determination-which Riobaldo incarnates-with productive experiences of indetermination that Diadorim personifies, as he operates as cause of desire to the narrator, so as to vacillate his habitual identitary grammar, amidst the compulsory heterosexuality regime of the jagunçagem. Henceforth, we point in the direction of something in the drive that marks a background of indetermination that erodes all attempts to determine identities normatively. Resumen: En este trabajo, partimos de las dos cuestiones que destrozan el narrador Riobaldo, en Grande sertão: veredas, a saber, la existencia del demonio y el amor del protagonista por su amigo Diadorim, para discutir como la pulsión y la presencia del inconsciente, por dividir el sujeto, generan una desposesión identitaria, un descentramiento con relación a las formas narrativas del yo. A partir de eso, confrontamos los sufrimientos de determinación excesiva-que Riobaldo encarna-con las experiencias productivas de indeterminación, que Diadorim personifica, por operar como causa de deseo para el narrador, haciendo vacilar su gramática identitaria habitual, en medio del régimen de heterosexualidad compulsoria de la jagunçagem. Concluimos en la dirección de algo de la pulsión que apunta para un fondo de indeterminación a corroer las tentativas de determinación normativa de identidades.

Diadorim: sereia silenciosa e silenciada do sertão

ANAIS DO XXVII SEMINÁRIO BRASILEIRO DE CRÍTICA LITERÁRIA XXVI SEMINÁRIO DE CRÍTICA DO RIO GRANDE DO SUL

De todos, menos vi Diadorim: ele era o em silêncios. Ao de que triste; e como eu ia poder levar em altos aquela tristeza? Aí -eu quis: feito a correnteza. Daí, não quis, não, de repentemente. Desde que eu era o chefe, assim eu via Diadorim de mim mais apartado. Quieto; muito quieto é que a gente chama o amor: como em quieto as coisas chamam a gente. (ROSA, 2001, p. 662) Há silêncio em Diadorim. O jagunço bonito e valente, travessia e margem de Riobaldo, mais olha do que fala, mais cala do que mostra, mais se transfigura do que propriamente se esconde. As palavras de Diadorim são sempre poucas, mas nunca poucos os seus significados. Diadorim escreve com os olhos tudo o que o coração orgulhoso -e ingênuo -de Riobaldo não o permite ler. Entre as palavras, nas pausas, na respiração que se atravessa... Eis Diadorim. Nos olhos de mar, no sabão de coco com que se banha, na cabeça que se ergue para acompanhar o vôo do manoelzinho-da-crôa... Eis a mulher. É no silêncio que o ser feminino se esconde, no entanto, é no silêncio que ele significa. Diadorim silencia a mulher para legitimar a violência. Mas a violência não é masculina: apesar de se travestir, é fruto do ódio, que não tem sexo. A mulher silenciada não desaparece. Ela se movimenta no silêncio. Riobaldo, diante das "calças de vaqueiro, em couro de veado macho, curtido com aroeira-brava e campestre" (ROSA, 2001, p 241) e da "tortacruz das cartucheiras" (ROSA, 2001, p 822), apenas enxerga; esquece de escutar.

Diadorim, formação (educação) e dialética do sujeito em Grande Sertão: Veredas

Revista Eletrônica de Educação, 2018

…o ensaio é mais dinâmico do que o pensamento tradicional, por causa da tensão entre a exposição e o exposto (ADORNO, 2003, p. 44). Resumo O presente artigo pretende analisar o percurso de Diadorim, reconhecendo-o como expressão da formação dialética do sujeito. Para alcançar este objetivo apontamos a centralidade de Diadorim (Reinaldo) nas ações de Riobaldo, discutindo a relação de amizade entre eles. A complexidade da relação entre iguais (dois jagunços) e entre desiguais (homem e mulher) sugere a diferença (o amor entre os dois). Diadorim, por fim, estabelece a dialética que a formação subjetiva exige diante das distintas situações com as quais o sujeito se defronta na vida.

Diadorim, Hermógenes e os antigos: homens da raça de ferro no sertão

TOPOI, 2019

RESUMO O presente artigo aborda o diálogo que a obra de João Guimarães Rosa estabelece entre seus jagunços e a tradição grega. Para tanto, este texto busca discutir de que maneira a caracteri-zação de alguns dos guerreiros do sertão, especialmente Hermógenes e Diadorim, pode não somente nos fazer encontrar Homero no sertão, como atualizar nesse mesmo ambiente a Linhagem de Ferro de Trabalhos e dias de Hesíodo, explorando a maneira como a tradição se mantém viva. Faz-se, para tanto, uma análise textual desses personagens em Grande sertão: veredas (1956) bem como dos homens da raça de ferro na poesia hesiódica. Palavras-chave: Linhagem de Ferro; sertão rosiano; justiça; guerra; morte. Diadorim, Hermógenes, and the ancients: men of lineage in the backlands ABSTRACT Th is essay seeks to develop the dialogue of Guimarães Rosa's warriors with the epic tradition. In order to do so, this text discusses how the characterization of some of his characters, especially Hermógenes and Diadorim, could not only transpose Homer into the backlands but also the men of the Iron Lineage of Works and days by Hesiod exploring a way by which the tradition is kept alive. We aim to explore such a dialogue, through a textual analysis of Th e devil to pay in the backlands (1956) as well as of the ancient poem.

Diadorim Trans? Performance, gênero e sexualidade em Grande Sertão: Veredas

O trabalho problematiza questões de gênero e sexualidade em Grande Sertão: Veredas, argumentando em favor não apenas da possibilidade de leitura homoerótica da obra de Guimarães Rosa, mas também da interpretação de Diadorim enquanto personagem que confunde essas categorias (gênero e sexualidade) a partir de uma performance trans e de uma afetividade homossexual. Argumenta-se que o corpo nu de Diadorim não pode ser lido enquanto confissão de sua verdadeira identidade de gênero, haja vista que nesse momento da narrativa o corpo está morto e a personagem já não pode disputar com o narrador sobre a interpretação de sua identidade.

DIADORIM-MENINO: Transgeneridade e imagem mitopoética em Grande Sertão: Veredas

Revista Iluminuras (UFRGS), 2022

Resumo O romance Grande sertão: veredas, de João Guimarães Rosa, é uma história de medo e atração, assombro e fascínio. Na travessia do rio São Francisco, Riobaldo, o narradorprotagonista, passa por um ato de transformação de caráter iniciático (Bolle, 2005). Discutiremos a personagem Diadorim enquanto o médium dessa travessia por meio de uma abordagem transgênero: Menino, vestido de boiadeiro, com imensos olhos verdes. Mediante uma postura aproximativa, identificamos em Diadorim a figura do encantamento e da repulsa, sentimentos distintos que conduzem Riobaldo ao confrontamento de sua própria sexualidade que é, por sinal, marcada pelo "regime da diferença sexual" (Preciado, 2020). A noção de imagem dialética (Benjamin, 2009) é o prisma pelo qual investigamos o embate entre as faces bela e terrível de Diadorim e que nos permitiu identificar, com a noção de travessia, elementos para uma leitura baseada num paradigma trans. Palavras-Chave: Diadorim. Transgênero. Grande sertão: veredas. Imagem dialética.

Crítica do silêncio temático em Grande sertão: veredas -- uma leitura de Diadorim

Revista Mídia e Cotidiano (UFF), 2020

Este artigo tem como objetivo discutir a ausência dos temas de gênero e da abjeção em Grande sertão: veredas (1956), de João Guimarães Rosa (1908-1967), por parte da crítica jornalística brasileira, com destaque especial à figura de Diadorim. Essa discussão ratifica a perspectiva de Silviano Santiago (2017) ao afirmar que o Grande sertão foi domesticado pelo pensamento conservador tanto acadêmico quanto jornalístico. Com uma metodologia de pesquisa bibliográfica e de arquivo de jornais, o artigo conclui que o não enfrentamento destas questões produz empobrecimento crítico. Palavras-chave: Jornalismo. Literatura. Diadorim. Gênero. Guimarães Rosa.

Diadorim, Hermógenes e os antigos: homens da raça de ferro no sertão – Lorena Lopes

Topoi. Revista de História, 2019

O presente artigo aborda o diálogo que a obra de João Guimarães Rosa estabelece entre seus jagunços e a tradição grega. Para tanto, este texto busca discutir de que maneira a caracterização de alguns dos guerreiros do sertão, especialmente Hermógenes e Diadorim, pode não somente nos fazer encontrar Homero no sertão, como atualizar nesse mesmo ambiente a Linhagem de Ferro de Trabalhos e dias de Hesíodo, explorando a maneira como a tradição se mantém viva. Faz-se, para tanto, uma análise textual desses personagens em Grande sertão: veredas (1956) bem como dos homens da raça de ferro na poesia hesiódica.

“Diadorim sou eu” e o problema biográfico de Guimarães Rosa

Remate de Males, 2021

Este artigo tem como objetivo problematizar a expressão “O Diadorim do Grande sertão sou eu”, dita por João Guimarães Rosa (1908-1967) a Afonso Arinos e registrada por Josué Montello, assim como busca circunscrever o problema biográfico do autor mineiro. O texto fundamenta-se na discussão de “crítica biográfica” (SOUZA, 2020) para fazer a leitura do campo biográfico e da personagem Diadorim. A conclusão aponta para a possibilidade de relacionar fato e ficção à pesquisa e à grande carência de estudos biográficos sobre o autor mineiro.