Diadorim, Hermógenes e os antigos: homens da raça de ferro no sertão (original) (raw)
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Diadorim, Hermógenes e os antigos: homens da raça de ferro no sertão – Lorena Lopes
Topoi. Revista de História, 2019
O presente artigo aborda o diálogo que a obra de João Guimarães Rosa estabelece entre seus jagunços e a tradição grega. Para tanto, este texto busca discutir de que maneira a caracterização de alguns dos guerreiros do sertão, especialmente Hermógenes e Diadorim, pode não somente nos fazer encontrar Homero no sertão, como atualizar nesse mesmo ambiente a Linhagem de Ferro de Trabalhos e dias de Hesíodo, explorando a maneira como a tradição se mantém viva. Faz-se, para tanto, uma análise textual desses personagens em Grande sertão: veredas (1956) bem como dos homens da raça de ferro na poesia hesiódica.
Diadorim: sereia silenciosa e silenciada do sertão
ANAIS DO XXVII SEMINÁRIO BRASILEIRO DE CRÍTICA LITERÁRIA XXVI SEMINÁRIO DE CRÍTICA DO RIO GRANDE DO SUL
De todos, menos vi Diadorim: ele era o em silêncios. Ao de que triste; e como eu ia poder levar em altos aquela tristeza? Aí -eu quis: feito a correnteza. Daí, não quis, não, de repentemente. Desde que eu era o chefe, assim eu via Diadorim de mim mais apartado. Quieto; muito quieto é que a gente chama o amor: como em quieto as coisas chamam a gente. (ROSA, 2001, p. 662) Há silêncio em Diadorim. O jagunço bonito e valente, travessia e margem de Riobaldo, mais olha do que fala, mais cala do que mostra, mais se transfigura do que propriamente se esconde. As palavras de Diadorim são sempre poucas, mas nunca poucos os seus significados. Diadorim escreve com os olhos tudo o que o coração orgulhoso -e ingênuo -de Riobaldo não o permite ler. Entre as palavras, nas pausas, na respiração que se atravessa... Eis Diadorim. Nos olhos de mar, no sabão de coco com que se banha, na cabeça que se ergue para acompanhar o vôo do manoelzinho-da-crôa... Eis a mulher. É no silêncio que o ser feminino se esconde, no entanto, é no silêncio que ele significa. Diadorim silencia a mulher para legitimar a violência. Mas a violência não é masculina: apesar de se travestir, é fruto do ódio, que não tem sexo. A mulher silenciada não desaparece. Ela se movimenta no silêncio. Riobaldo, diante das "calças de vaqueiro, em couro de veado macho, curtido com aroeira-brava e campestre" (ROSA, 2001, p 241) e da "tortacruz das cartucheiras" (ROSA, 2001, p 822), apenas enxerga; esquece de escutar.
Diadorim: biopolítica e gênero na metafísica do Sertão
Revista Estudos Feministas, 2013
Diadorim é a emblemática personagem da obra de Guimarães Rosa, avatar da donzela guerreira, símbolo de uma forte renúncia, que podemos afirmar feminista, aquela que se faz na negação do feminino para viver na liberdade do além-do-sexo. A análise de tal personagem permite avaliar a relação entre corpo e poder como fundamento da história conhecida da dominação de gênero. O objetivo deste trabalho é uma leitura feminista que permita investigar a dupla banda da sexualidade que envolve a figura de Diadorim. Homem e vivo enquanto vestido, mulher e morta no advento de sua nudez, Diadorim fará parte de uma história arquetípica, do topos da mulher/morta. Essa mulher morta é, assim, também a "mera vida" ou a "vida nua" que comparece na análise biopolítica contemporânea. O cruzamento de feminismo e biopolítica é o método de leitura dessa obra. Ele nos fará ver que a função da textualidade no patriarcado é tanto gozar sobre o corpo morto de uma mulher quanto devolvêla à sua suposta natureza doméstica e antipolítica. Palavras-chave Palavras-chave Palavras-chave Palavras-chave Palavras-chave: feminismo; Diadorim; biopolítica; Sertão.
Entre o Diabo e Diadorim: psicanálise e gênero em Grande sertão: veredas
RESUMO: Neste trabalho, partimos das duas questões que assolam o narrador Riobaldo, em Grande sertão: veredas, isto é, a existência do Diabo e o amor por seu amigo Diadorim, para discutir como o pulsional e a presença do inconsciente, ao dividirem o sujeito, promovem uma espécie de despossessão identitária, um descentramento em relação às formas narrativas do eu. A partir disso, fomos levados a confrontar os sofrimentos de determinação excessiva-a que Riobaldo se prende-com as experiências produtivas de indeterminação, que Diadorim personifica, ao operar como causa de desejo para o narrador, fazendo vacilar sua gramática identitária habitual em meio ao regime de heterossexualidade compulsória da jagunçagem. Assinalamos na direção de algo do pulsional que aponta para um fundo de indeterminação a corroer as tentativas de determinação normativa de identidades. PALAVRAS-CHAVE: gênero; identidade; desejo; inconsciente. Abstract: In this work, we discuss the two questions that haunt the narrator Riobaldo, in Grande sertão: veredas, which are: the existence of the devil and the protagonist's feelings for his friend Diadorim, in order to show how the drive and the presence of the unconscious, dividing the subject, promote a species of identitarian dispossession, a de-centering in relation to the narrative forms of the I/ego. Later, we confront the suffering from excessive determination-which Riobaldo incarnates-with productive experiences of indetermination that Diadorim personifies, as he operates as cause of desire to the narrator, so as to vacillate his habitual identitary grammar, amidst the compulsory heterosexuality regime of the jagunçagem. Henceforth, we point in the direction of something in the drive that marks a background of indetermination that erodes all attempts to determine identities normatively. Resumen: En este trabajo, partimos de las dos cuestiones que destrozan el narrador Riobaldo, en Grande sertão: veredas, a saber, la existencia del demonio y el amor del protagonista por su amigo Diadorim, para discutir como la pulsión y la presencia del inconsciente, por dividir el sujeto, generan una desposesión identitaria, un descentramiento con relación a las formas narrativas del yo. A partir de eso, confrontamos los sufrimientos de determinación excesiva-que Riobaldo encarna-con las experiencias productivas de indeterminación, que Diadorim personifica, por operar como causa de deseo para el narrador, haciendo vacilar su gramática identitaria habitual, en medio del régimen de heterosexualidad compulsoria de la jagunçagem. Concluimos en la dirección de algo de la pulsión que apunta para un fondo de indeterminación a corroer las tentativas de determinación normativa de identidades.
Diadorim, Palas Atena sertaneja
Das Questões, 2018
Resumo: Este artigo procura mostrar que a caracterização da personagem Diadorim, de Guimarães Rosa, evoca, em diferentes passos do romance "Grande sertão: veredas", a tradição literária sobre Palas Atena. Entre os elementos de comparação, incluo: (i) questões de origem e filiação; (ii) olhos glaucos ou verdes; (iii) símiles de pássaros, chuva, rios e neblina; (iv) analogia entre Atena e Ares, de um lado, e Diadorim e Hermógenes, de outro, no que tange à condução da guerra. O paralelo entre Diadorim e Atena é uma manifestação do processo mais geral de mitificação do Sertão na literatura brasileira, objeto de algumas considerações ao final do texto. Palavras-chave: Diadorim, Guimarães Rosa, Palas Atena, Sertão. Deusas. Abstract: In this paper I examine passages concerning the character Diadorim, from The Devil to Pay in the Backlands, in light of the literary tradition on Pallas Athena. I dwell on the following elements of comparison: (i) questions regarding origins and paternity; (ii) green or flashing eyes; (iii) bird, rain, river, and fog similes; (iv) the analogy between Arthena and Ares on the one hand, and Diadorim and Hermogenes on the other, with regards to warfare. I further argue that the parallel between Diadorim and Athena instantiates a more general process through which the “Sertão” is represented mythically in Brazilian literature. Keywords: Diadorim, Guimarães Rosa, Pallas Athena, Sertão, Goddesses.
Crítica do silêncio temático em Grande sertão: veredas -- uma leitura de Diadorim
Revista Mídia e Cotidiano (UFF), 2020
Este artigo tem como objetivo discutir a ausência dos temas de gênero e da abjeção em Grande sertão: veredas (1956), de João Guimarães Rosa (1908-1967), por parte da crítica jornalística brasileira, com destaque especial à figura de Diadorim. Essa discussão ratifica a perspectiva de Silviano Santiago (2017) ao afirmar que o Grande sertão foi domesticado pelo pensamento conservador tanto acadêmico quanto jornalístico. Com uma metodologia de pesquisa bibliográfica e de arquivo de jornais, o artigo conclui que o não enfrentamento destas questões produz empobrecimento crítico. Palavras-chave: Jornalismo. Literatura. Diadorim. Gênero. Guimarães Rosa.
Latim, moinhos e cavaleiros andantes
Classica - Revista Brasileira de Estudos Clássicos
O texto procura identificar e analisar os equívocos dos principais tipos de argumentos que o latim sempre recebeu de seus defensores humanistas e, ao mesmo tempo, mostrar que argumentos deveriam ser utilizados para explicar as razões que há para estudar-se a língua de Roma com o moderno embasamento linguístico.
DIADORIM, UM FANTASMA DE NOSSO TEMPO: APARIÇÕES E ATUALIDADE EM GRANDE SERTÃO VEREDAS
Revista Ambivalências , 2022
Este artigo propõe uma leitura de Diadorim – Menino, vestido de jagunço, que se apresenta em toda a sua vida relatada como um bravo guerreiro, mas que se revela, enquanto morto, em um corpo de mulher – como uma imagem inapreensível do Grande sertão: veredas (1956), romance de João Guimarães. Nosso objetivo é investigar as noções de imago movente e aparição como fórmula criativa que permitiu a elaboração estética da personagem pelo autor. Gesto que contribui para a reminiscência da personagem tanto na obra (no quadro ficcional) quanto no tempo (na cultura, nas releituras e transcriações artísticas como HQs, cinema, teatro etc.). A noção de imago movente acompanha o procedimento metodológico da imagem carregada de força e vida própria, pensada numa corrente teórica que compreende a imagem enquanto movimento: Walter Benjamin (2009; 2012), Hans Belting (2011) e Didi-Huberman (1998; 2013; 2015). Verificamos com essa leitura, que questões polêmicas do nosso tempo se interconectam com temáticas do romance, atualizando, assim, a obra e ampliando o seu circuito de sentidos em um constante movimento de mudança e preservação. This article proposes a reading of Diadorim – Boy, dressed as a jagunço, who presents himself throughout his reported life as a brave warrior, but who reveals himself, while dead, in a woman’s body – as an elusive image of the Devil to Pay in the Backlands (1956), novel by João Guimarães. Our objective is to investigate the notions of moving imago and apparition as a creative formula that allowed the aesthetic elaboration of the character by the author. A gesture that contributes to the reminiscence of the character both in the work (in the fictional context) and in time (in culture, in reinterpretations and artistic transcreations such as comics, cinema, theater, etc.). The notion of moving imago accompanies the methodological procedure of the image charged with strength and life of its own, thought of in a theoretical current that understands the image as movement: Walter Benjamin (2009; 2012), Hans Belting (2011) and Didi -Huberman (1998; 2013; 2015). With this reading, we verified that controversial issues of our time are interconnected with themes from the novel, thus updating the work and expanding its circuit of meanings in a constant movement of change and preservation.
Compós, 2021
The novel "The Devil to Pay in the Backlands"" by João Guimarães Rosa, tells a story of fear and attraction, wonderment and fascination. During the crossing of the São Francisco river, Riobaldo, the protagonist-reciter, experiences an act of transformation of an iniciatic fashion (BOLLE, 2005). We will discuss the character Diadorim as a medium of such a crossing through a transgender perspective: a boy, dressed as a herdsman, with imense green eyes. By the means of an approximative stance, we identify in Diadorim the figure of enchantment and repulse, distinctive feelings that lead Riobaldo to challenge his own sexuality, which, for instance, is marked by the "regime of sexual difference" (PRECIADO, 2020). The notion of a dialectical image (BENJAMIN, 2009) is the prism through which we investigate the clash between the beautiful and terrible faces of Diadorim, and which allows us to identify, upon the notion of crossing, the elements for a reading based on a trans paradigm.
Elomar: o trovador "erudito" do sertão
Itinerarios Revista De Literatura, 1998
Este trabalho dedica-se a apresentar Elomar Figueira de Mello, cantador e violeiro do sertão da Bahia e sua trajetória na música. Homem culto e arcaico, fecundo pesquisador do Nordeste e da cultura brasileira, arquiteto-urbanista de formação e criador de bodes, Elomar é um dos referenciais da produção cultural nordestina. Apreciado no meio intelectual e musical, optou, porém, por se isolar da cidade, preferindo compor suas antífonas, ou cantar as sagas de donzelas e cavaleiros medievais.