Ebisteme: bissexualidade como epistemologia (original) (raw)

“A gente existe!”: ativismo e narrativas bissexuais em um coletivo monodissidente

Dissertação de mestrado, 2020

Este trabalho tem como objeto as construções discursivas da bissexualidade e seus usos políticos a partir de um coletivo de São Paulo composto por pessoas que se consideram bissexuais ou “monodissidentes”, isto é, dissidentes da lógica monossexual, de acordo com a qual a atração sexual é direcionada a apenas um gênero. A pesquisa foi realizada através de entrevistas semiestruturadas com 12 pessoas que participam do coletivo, além de observação participante em uma atividade presencial e análise de documentos publicados pelo coletivo. Foi constatado que parte do ativismo bi afasta-se de um “nós” LGBT, colocando-se como um “nós” monodissidente em contraste com um “eles” monossexual – que é tanto heterossexual quanto gay e lésbico. Adicionalmente, identificou-se que o ativismo do coletivo inclui políticas de reconhecimento, identitárias e de biolegitimidade. As ativistas reivindicam representatividade, por vezes se aproximando de estratégias assimilacionistas que buscam se aproximar de uma imagem de “boa bissexual”, afastando-se de estereótipos de promiscuidade e confusão. Entretanto, o coletivo se coloca a favor da diversidade de práticas sexuais e contrário a um policiamento das bissexualidades. Ele adota uma política de biolegitimidade na medida em que reivindica direitos às pessoas bissexuais afirmando a existência de um sofrimento que teria origem na bifobia e as vitimizaria. Por sua vez, nas narrativas individuais, as interlocutoras utilizam a noção de “descoberta da bissexualidade”. A ideia de “descoberta” evidencia uma visão essencialista da bissexualidade, contrariamente a uma ideia da sexualidade como processo ou posição política. Nessas narrativas, as interlocutoras constroem uma continuidade do “eu” bissexual, onde encontrar uma comunidade bissexual aparece como um fator fundamental para a construção e manutenção das subjetividades bissexuais.

Jornalismo e identidades coletivas : representações de lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e transgêneros no portal Mix Brasil

RESUMO: Este trabalho analisa as representações das identidades coletivas baseadas no gênero e na sexualidade no conteúdo jornalístico do portal Mix Brasil, site voltado para o público GLS. Utilizou-se o conceito de gênero na perspectiva do feminismo pós-estruturalista e da teoria queer. Discute-se: a construção social das identidades e da distinção masculino/feminino; a produção de categorias identitárias que leva, no Brasil contemporâneo, à definição de lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e transgêneros (LGBT), como sujeitos políticos do movimento social que se denomina a partir dessa sigla; a construção social das notícias e o papel do jornalismo na veiculação de categorias identitárias; e como essas identidades são representadas pela imprensa homossexual brasileira ao longo de sua história. Através da Análise de Conteúdo, analisam-se os textos jornalísticos veiculados no portal, num total de 172 matérias coletadas a partir da homepage do portal ao longo de três semanas e selecionados a partir da presença de marcadores de categorias identitárias. Os resultados permitem concluir que aparecem, no material estudado, as hierarquias de valor que marcam os processos políticos de construção das identidades. Predominam as representações de homossexuais, notadamente os masculinos, tanto no que diz à quantidade de matérias que os mencionam, quanto em relação ao destaque conferido a estas. ABSTRACT: This work analyzes the representations of collective sexual and gender identities in the journalism made by Mix Brasil, a Brazilian website directed towards gay men, lesbians and allies (in Portuguese, GLS). The concept of gender was applied from the perspective of poststructural feminism and queer theory. It discusses: the social construction of identities and the dichotomy masculine/feminine; the production of identity categories which leads, in contemporary Brazil, to the definition of lesbians, gay men, bisexuals, transexuals, transvestites and transgenders (LGBT) as the political subject of the social movement named after the referred initialism; the social construction of news and the role of journalism in conveying identity categories; and how these identities are represented by the Brazilian gay news media in the course of its history. Content Analysis was used for analyzing the news content of Mix Brasil, amounting a total of 172 texts collected from its homepage in a period of three weeks and selected according to the presence of sexual and gender identity markers. The results allow to conclude that the hierarchy of values that marks the production of these identities is present in the corpus. There was a predominance of representations of homosexuals, especially men, regarding both the number of occurrences and the prominence conferred to them.

Formação docente e diversidade de gênero no ensino superior: uma análise das matrizes curriculares

Research, Society and Development

O presente artigo tem a intenção de desmistificar algumas classificações que envolvam a diversidade de gênero no âmbito educacional superior. Para isso, foram analisadas as matrizes curriculares dos cursos de licenciatura em Pedagogia, Matemática, Biologia, História, Geografia, Educação Física, Física, Letras e Química da Universidade Federal de Jataí-Goiás. Procurou-se identificar se os referidos cursos têm incluído em suas disciplinas temas que provoquem a reflexão sobre diversidade de gênero. Com isso, o intuito desta pesquisa é o de revelar como a diversidade de gênero tem sido pautada nos cursos universitários apontados acima; ainda, se estão abrangendo os esclarecimentos de conceitos existentes nas classes LGBTTTs, que são: Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros. Para tanto, nos baseamos nas discussões de Tomaz Tadeu da Silva (1999), Jimena Furlani (2011) e Guacira Lopes Louro (2010), autores de referência na temática da diversidade. Esta pesquisa se...

Fronteiras e Travessias a influência de gênero e sexualidade na negociação subjetiva de homens bissexuais

A bissexualidade masculina frequentemente sofre com apagamentos e preconceitos que envolvem desde a sua não abordagem adequada nas esferas de discussão da sexualidade, até a sua assimilação a preconceitos como a promiscuidade, a infidelidade e a indecisão. Considerando este cenário, a presente pesquisa busca compreender como homens bissexuais negociam socialmente suas performances de sexualidade e gênero. Para tanto, foram realizadas oito entrevistas com homens que se identificaram como bissexuais cujo contato foi proporcionado através de aproximação realizada com uso de diferentes métodos, como a busca em aplicativos de encontro entre homens e reuniões de bissexuais em uma ONG LGBTQIA+ da capital paranaense. A pesquisa de campo ocorreu em Curitiba, sendo todos os entrevistados moradores ou nascidos na cidade. Ainda que não houvesse recortes de seleção relacionados a raça, classe e escolaridade, a margem estudada revelou um padrão uniforme de pertencimento a um grupo cultural com acesso à universidade e a um padrão econômico intermediário. As entrevistas foram gravadas através de videochamadas realizadas através de Skype, e foram realizadas através de método semiestruturado. Os resultados analisados apontam que, associados a uma perspectiva desconstrutivista queer, a bissexualidade masculina pode contribuir com performatividades que auxiliem na desconstrução de padrões heterossexistas e na ampliação da definição da sexualidade para além de categorias binárias.

Do "léxico gay" à Linguística Queer: desestabilizando a norma homossexual oculta nas Teorias Queer 1 From the "gay lexicon" to Queer Linguistics: Destabilizing the hidden homosexual norm in Queer Theories

Estudos Linguísticos, 2018

O presente artigo examina se, apesar de permitir maiores desconstruções e desnaturalizações das categorias de sexualidade que usamos hoje em dia, a Linguística Queer sofre de um dos problemas que afeta os Estudos Queer em geral: uma "norma homossexual oculta" (GUSTAVSON, 2009), ou priorização do estudo de homens gays. Embora a Linguística Queer tenha prestado maior atenção às performances discursivas de lésbicas, ainda há uma lacuna de pesquisas sobre performances de outras "orientações" sexuais e performances discursivas relacionadas a práticas sexuais que desestabilizam o binário heterossexual/homossexual. Portanto, pretende-se discutir alguns exemplos de estudos recentes realizados no campo da Linguística Queer que vão além da "norma oculta homossexual": um sobre performances de mulheres bissexuais e outro sobre performances de adeptos/as da prática de pegging. Palavras-chave: Linguística Queer; norma homossexual oculta; performatividade. Abstract This article examines whether Queer Linguistics, although it permits greater deconstruction and denaturalization of the sexuality categories we frequently use today, suffers from one of the issues that affects Queer Studies in general: a "hidden homosexual norm" (GUSTAVSON, 2009), or privileging of the study of gay men. Although Queer Linguistics has paid more attention to the discursive performances of lesbians, research on performances of other sexual "orientations" and on discursive performances related to sexual practices that destabilize the heterosexual/homosexual binary are still lacking. Therefore, we intend to discuss a few examples of recent studies realized in the field of Queer Linguistics that go beyond the "hidden homosexual norm": one study about performances of bisexual women and another about performances of people who engage in the practice of "pegging". Das Teorias Queer à Linguística Queer-as mesmas críticas se aplicam? Desde quando a Teoria Queer surgiu nos anos 1990, começou a espalhar-se ao redor do mundo, resultando em várias vertentes e variedades locais; por isso, hoje em dia podemos falar de Teorias Queer no plural. Essas teorias foram aplicadas a uma grande 1 Palestra proferida no 65° GEL na mesa redonda "Linguagens Queer: aproximações possíveis?".

Dissertação - FINAL.pdf

Buceta, cu, pau, seios, pele, olhos, bocas, mãos... roçar, penetrar, esfregar, esquentar... gozar no feminino! Esta dissertação se motiva pelo prazer... a partir do feminino! A intenção deste trabalho é analisar a Pornografia Feminista como uma prática e um instrumento político que movimenta a estrutura e o imaginário hierárquico e normativo diante da sexualidade feminina. A investigação será realizada através da análise das estruturas simbólicas nos papéis sociais e sexuais na nossa sociedade contemporânea que se refletem nos elementos de estética fílmica, produção, cenas, angulação, elenco, figurino, luz, cenário e roteirização. O trabalho se propõe a desvelar o que permeia os discursos normativos da Pornografia mainstream, criados sobre o prazer e o gozo que são representados em filmes. Dessa forma, movimentar os valores morais sobre a sexualidade relacionada ao feminino, pensando que ainda se mantêm hoje a lógica patriarcal, hetero-cisnormativa, branca e magra de organização social, através de uma produção pornográfica que contemple, ou ao menos experimente, a diversidade de representações e os desejos dos femininos. Assim, a proposta é que a Pornografia Feminista tem a potência de desmitificar os padrões culturalmente sedimentados, tentando borrar os limites de existência colocados na nossa sociedade para que a diferença se converta em discurso de poder e empoderamento das sujeitas através da movimentação e intersecção das categorias sexo, sexualidade, gênero, etnia, corporeidade, classe social e colonialidade. Os filmes analisados são: o curta “Authority” da coletânea “Dirty Diaries”, o longa-metragem “Cabaret Desire” produção da diretora Erika Lust, o filme produzido pela atriz performer pornô brasileira Juliana Dorneles, com “Amor com a Cidade”.

Sim, elas são bissexuais: representação de personagens bissexuais femininas nas telenovelas da Globo

Monografia, 2021

A presente pesquisa analisa a representação bissexual feminina na teledramaturgia da Rede Globo e os sentidos disponíveis para circulação sobre bissexualidade. Para tal, em um primeiro momento, é apresentado levantamento bibliográfico sobre estudos de gênero e sexualidade, com foco na teoria queer e um diálogo com as abordagens decoloniais das sexualidades no sul global, a crítica queer racializada. Visitamos as epistemologias bissexuais e as perspectivas acerca do monossexismo e do apagamento da bissexualidade, como o contrato epistêmico de Kenji Yoshino (2000) e as propostas subversivas de Shiri Eisner (2013). O aporte teórico sobre representação e identidade está fundamentado nos Estudos Culturais, especialmente em Hall (1997, 2016), no que diz respeito às vinculações entre cultura e mídia. Apresentamos a força da televisão e especialmente, das telenovelas no Brasil. Com as suas narrativas, as telenovelas não só tem caráter pedagógico como contribui para a formação da identidade nacional, seja através das suas narrativas, seja por meio das ações socioeducativas. Para discutir tais questões, consideramos Lopes (2003); Fechine et al. (2013), Fechine et al. (2019). Para delimitar o objeto de estudo, foi feito um mapeamento prévio de todos os personagens com práticas bissexuais nas telenovelas da Globo, sendo identificados 44 personagens em obras exibidas de 1979 a 2019. A partir disso, restringimos esta análise às personagens femininas - 15 dentro do universo mapeado, presentes em 13 novelas. Baseados nos princípios da Análise de Conteúdo de Bardin (2011), acompanhamos as cenas das personagens, disponíveis na plataforma Globoplay, consultamos o acervo do Memória Globo e outras fontes como jornais e revistas, para assim analisar como a sexualidade delas foi construída e apresentada aos telespectadores. Por fim, verificamos o reforço do apagamento bissexual em todas as representações e de estereótipos considerados negativos na maioria delas, mostrando que as telenovelas brasileiras ainda estão longe de cumprir um papel pedagógico na representação da bissexualidade e contribuir no combate à bifobia.