Tempos Sociais e o Mundo Contemporâneo - As crises, As Fases e as Ruturas (original) (raw)
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Crise, Transformações Sociais e Compressão Do Espaço-Tempo Na Contemporaneidade
Filosofia Contemporânea, 2019
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Fórum Social Mundial Biblioteca das Alternativas As tensões da modernidade
Nos últimos tempos, tenho observado com alguma perplexidade a forma como os direitos humanos se transformaram na linguagem da política progressista. De facto, durante muitos anos, após a Segunda Guerra Mundial, os direitos humanos foram parte integrante da política da Guerra Fria, e como tal foram considerados pela esquerda. Duplos critérios na avaliação das violações dos direitos humanos, complacência para com ditadores amigos, defesa do sacrifício dos direitos humanos em nome dos objectivos do desenvolvimento — tudo isto tornou os direitos humanos suspeitos enquanto guião emancipatório. Quer nos países centrais, quer em todo o mundo em desenvolvimento, as forças progressistas preferiram a linguagem da revolução e do socialismo para formular uma política emancipatória. E, no entanto, perante a crise aparentemente irreversível destes projectos de emancipação, essas mesmas forças progressistas recorrem hoje aos direitos humanos para reinventar a linguagem da emancipação. É como se os direitos humanos fossem invocados para preencher o vazio deixado pelo socialismo. Poderão realmente os direitos humanos preencher tal vazio? A minha resposta é um sim muito condicional. O meu objectivo neste trabalho é identificar as condições em que os direitos humanos podem ser colocados ao serviço de uma política progressista e emancipatória. Tal tarefa exige que sejam claramente entendidas as tensões dialécticas que informam a modernidade ocidental 1. A crise que hoje afecta estas tensões assinala, melhor que qualquer outra coisa, os problemas que a modernidade ocidental actualmente defronta. Em minha opinião, a política de direitos humanos deste final de século é um factor-chave para compreender tal crise. Identifico três tensões dialécticas. A primeira ocorre entre regulação social e 1 Noutro trabalho, analiso com mais detalhe as tensões dialécticas da modernidade ocidental (Santos, 1995)
O significado da crise da sociedade contemporanea
RESUMO O objetivo do artigo é trazer o debate de alguns autores sobre a crise atual da sociedade ocidental contemporânea, a partir de três questões que nos parecem discriminar parte considerável dos seus principais problemas: a autonomização da economia, a razão instrumental e a decadência cultural. Com a primeira e a segunda questão se acusam os riscos da separação da economia, da ciência e da técnica diante das necessidades da vida, e com a terceira se acusa nosso estado atual de impotência para responder a tais desafios. O objetivo é fomentar a discussão crítica desses problemas, que nos parecem questões incontornáveis no presente de nossas vidas. ABSTRACT The goal of this article is to present the debate of a few authors about the current crisis of contemporary Western society based on three questions that, in our view, can distinguish a considerable part of its main problems: the autonomization of the economy, the instrumental reason, and cultural decadence. With the first and second questions, the risks of a separation of economy, science and technique from the necessities of the world of life are denounced; with the third question, our current state of impotence to respond to such challenges is 1 Email: reinaldof@ffclrp.usp.br
Problemas Sociais Contemporâneos
2020
Social security system as a fundamental framework for modern States. Globalisation: naive and conspiracy theorists perspectives. The weakening of the nation-state and the expansion of globalised neoliberal capitalism.
Movimentos sociais na contemporaneidade
Revista Brasileira de Educação
O trabalho objetiva apresentar um panorama geral dos movimentos sociais da atualidade, com destaque para a América Latina, e apresentar um mapeamento de suas principais formas no Brasil. Nesse sentido, reflete sobre o caráter educativo de suas ações, tanto para seus participantes como para a sociedade em geral e para os órgãos públicos. A premissa básica é de que os movimentos sociais são fontes de inovação e matrizes geradoras de saber. Entretanto, como não se trata de um processo isolado, mas de caráter político-social, o trabalho analisa as articulações na rede de relações que os movimentos estabelecem na conjuntura política, econômica e sociocultural do país, para compreender os fatores que geram as aprendizagens e os valores da cultura política que vão sendo construídos. Destacam-se os movimentos que ocorrem nas áreas da educação formal e da educação não formal.
Adolescer na contemporaneidade: uma crise dentro da crise
Ágora: Estudos em Teoria Psicanalítica
Resumo: Há tempos, a psicanálise tem demonstrado as crises que marcam o mundo contemporâneo. O lugar claudicante do pai, a inconsistência do Outro e o imperativo de gozo são marcas do discurso capitalista atual. Diante desse cenário, outra crise ganha espaço nas discussões sobre clínica e sociedade. Trata-se da experiência da puberdade e das séries de respostas que se reúnem em torno do que é chamado de crise da adolescência. O presente artigo se propõe a identificar as especificidades tanto da puberdade quanto do momento histórico em que vivemos para assim colaborar com a discussão sobre o adolescer na sociedade contemporânea
2020
O conceito de crise é particularmente caro às Ciências Sociais. E é-o não apenas no domínio da ciência económica ou política, mas também da Sociologia, da História, da Antropologia, da Educação, da Geografia e da Comunicação. Se no campo da saúde, ela é entendida como uma perturbação momentânea, uma circunstância de anormalidade que afeta o funcionamento regular de um organismo, no campo social, para onde se transporta com o mesmo sentido, a crise também diz respeito a uma certa ideia de interrupção, de descontinuidade, de alteração – por vezes, abrupta – das condições de vida. A metáfora da crise, explica R. J. Holton, terá sido transposta para a reflexão sobre a sociedade como uma forma de perspetivar “as perceções de patologia social, de colapso social e de desorganização” (Holton, 1987, p. 504). É para o corpo social um fenómeno equivalente ao que fragiliza o corpo físico quando confrontado com a ameaça da enfermidade. Na sua vocação compreensiva, as Ciências Sociais têm colocado a noção de crise em perspetiva em quase todas as dimensões da vida. Ao procurarem explicar as dinâmicas sociais como processos sujeitos à mudança e à transformação, estas ciências têm desenvolvido a ideia de que as crises são, não apenas momentos de disrupção dos valores instituídos, mas também pontos de viragem histórica e civilizacional. A retórica da crise, que entra no campo das Ciências Sociais pelo prisma da Economia e pelos efeitos da quebra das lógicas de produção, comercialização e consumo, assim como pela identificação de episódios de instabilidade política e de conflitos, domina todo o discurso sobre a modernidade. As definições comuns identificam o conceito de crise como sinónimo de impasse, de perturbação, como contexto de perigo ou tensão, como fase de rutura em relação a hábitos ou crenças, ou ainda como carência ou escassez. Em todas estas declinações, a abordagem da crise oferece-se ao cientista social como um problema e como um desafio. Num ensaio publicado em 1976 na revista Communications, Edgar Morin sugeria que “a noção de crise se propagou no século XX por todos os horizontes da consciência contemporânea” (Morin, 1976, p. 149). Constatava então que não havia “domínio ou problema que não estivesse assombrado pela ideia de crise: o capitalismo, a sociedade, a família, os valores, a juventude, a ciência, o direito, a civilização, a humanidade” (Morin, 1976, p. 149). Pela ciência ou pelos média, a perspetiva da crise estende-se hoje à notícia da crise ambiental, da crise dos refugiados, da crise dos sistemas de informação, da crise de confiança, da crise da cultura e do pensamento. A perceção de que toda a experiência humana está sujeita à prova da crise tem no entendimento de que as próprias Ciências Sociais (e as Humanidades) são um ramo de conhecimento que também se descobre em situação crítica, por insuficiente reconhecimento público e dificuldades de financiamento. O debate sobre a crise (ou as crises) é, portanto, um debate atual que reclama da ciência um exercício permanente de reflexão. Cientes de que o que comanda o progresso é também o que instaura paradoxalmente novas precariedades, os cientistas sociais assumem hoje a responsabilidade de analisar os fatores que desencadeiam as crises, de avaliar os seus efeitos e de propor estratégias de governabilidade que, não resolvendo em definitivo a “origem da ameaça”, recomendam a sua incorporação como parte do processo de desenvolvimento. A problematização da crise não é um fim em si mesmo; é, antes a assunção necessária do imperativo de deslocação para diante. É por isso que as Ciências Sociais são, não apenas ciências úteis, mas também ciências emancipatórias e transformistas. Com esta convicção, reunimos neste volume um conjunto de leituras que apresentam a experiência da crise como uma experiência transversal. É esse o ponto de originalidade desta obra, que reúne contributos de vários membros da comunidade do Instituto de Ciências Sociais da Universidade do Minho. O tema da crise tem sido apresentado na produção científica em abordagens específicas da economia, da política, do jornalismo, da educação, da cultura. Neste livro, porém, juntamos a perspetiva de diferentes disciplinas, assumindo a multiplicidade do próprio conceito de crise. Num registo breve, cada capítulo é um convite à reflexão da diversidade de experiências e problemáticas sociais da crise. Assumida em título como uma noção plural, a noção de crise(s) é aqui encarada ora como fatalidade ora como oportunidade. Todos os capítulos se afinam pela mesma nota: a de que a crise é central à análise crítica das sociedades. Os 22 ensaios que compõem este volume situam esta problemática em contextos vários: na perspetiva histórica da saúde, na demografia, na economia, na comunicação, nas instituições, no ambiente, na tecnologia, na cultura, nas migrações, nos territórios, na educação e na ciência. Como todas as obras coletivas, Sociedade e crise(s) não esconde a heterogeneidade de estilos. E pelo momento que a Humanidade atravessa neste ano de 2020, também não é indiferente à crise sanitária provocada pela COVID-19. A pandemia não era propriamente o pretexto de partida para esta coletânea. No entanto, em quase todos os textos a referência à experiência extraordinária da situação epidemiológica tornou-se inevitável. Porque nela se acentuou o sintoma de todas as outras crises a cujos efeitos não escaparão as próximas gerações. Assinalando o 44º aniversário do Instituto de Ciências Sociais, a edição deste livro tem também um propósito celebrativo e de partilha do que somos enquanto comunidade científica. Que o leitor encontre nestas páginas razão bastante para um saber inquieto que nada tem de conformista.