A morte e a valorização do intelectual (original) (raw)
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Relíquias da existência de um intelectual
Intelligere
Este artigo tem como mote localizar panoramicamente aspectos da trajetória de vida do jornalista Júlio de Mesquita Filho, proprietário do jornal “O Estado de São Paulo”, a partir de discurso proferido quando foi paraninfo de uma turma do curso de direito da Universidade de São Paulo em 1948 e um depoimento autobiográfico escrito na década de 1960. Os escritos aqui postos em análise fazem um esforço de reconstituição do itinerário intelectual e existencial do personagem, situando as questões que o mobilizaram mais intensamente. Esses enunciados constituem documentos necessários para a compreensão de como o sujeito que desejou tomar parte do debate intelectual em torno da consolidação da República brasileira e os modelos de sociedade adequados compreendia a si mesmo e seus propósitos. Para a intepretação das fontes e estabelecer as balizas de aclimatação, três noções centrais são caras, ainda que não evidenciadas textualmente: “estar no mundo” (Dasein), conceito desenvolvido por Paul ...
A (des)valorização intelectual do estudante da EJA
Sociologias Plurais
Este estudo apresenta uma discussão sobre as relações de autoestima do estudante da Educação de Jovens e Adultos, numa perspectiva de desvalorização intelectual, sobre um contexto sócio-histórico desigual. Resultado da pesquisa em campo numa escola da rede municipal de Curitiba no ano de 2018 movida pela disciplina de Estágio em Docência no Ensino Fundamental do curso de Pedagogia da Universidade Federal do Paraná. Desta forma, visa perceber o perfil do estudante da EJA enquanto um sujeito excluído socialmente do espaço escolar, e que decide, numa prática de liberação retornar à escola. Por conseguinte, convidar a/o leitora/o à reflexão sobre a desvalorização intelectual discente nas suas relações com a leitura e escrita. E neste sentido, compreender como a valorização destes estudantes dialoga com a ética docente e sua prática escolar.
A glorificação da morte como modo de vida
2016
Esse artigo discute as bases intelectuais da glorificação do autossacrifício tal como aparece nas técnicas kamikaze e, mais recentemente, nas ondas de atentados suicidas ocorridos no Líbano na década de 1980. Em ambos os casos, o anseio pela destruição está baseado em uma rejeição radical da ideia caracteristicamente moderna de que todas as vidas humanas se equivalem em matéria de dignidade, independentemente das aspirações e realizações individuais. Essa rejeição, cuja origem remonta ao pensamento filosófico alemão do séc. XIX, ganhou porta-vozes respeitáveis no período entre guerras, os quais buscavam restaurar o elevado padrão de moralidade que, segundo acreditavam, o projeto civilizatório moderno havia aviltado ao valorizar a mediocridade da vida burguesa, isto é, ao conferir dignidade a um modo de vida que se resume à preocupação com os comezinhos afazeres cotidianos, relegando a um plano secundário o compromisso com "ideais mais nobres" e com as "raízes" nacionais e culturais de um "povo".
O lugar do intelectual na cena literária contemporânea
Há uma década o campo literário brasileiro tem observado uma crescente proliferação de obras literárias assinadas por autores não pertencentes aos centros hegemônicos de saber. Desde a publicação de Cidade de Deus, de Paulo Lins, em 1997, uma série de autores trilharam um caminho semelhante ao preconizado por Lins, romperam a silenciosa posição de objeto, para, em seu lugar, figurarem como enunciadores do próprio discurso. Ferréz, autor residente na favela do Capão Redondo, na periferia de São Paulo, decerto é o exemplo mais bem sucedido deste empenho em estruturar um discurso a partir do próprio referencial, formando uma compreensão das fraturas marginalizadas da sociedade fora dos espaços centrais de saber e poder. O êxito de Ferréz deve ser medido não apenas na expressiva vendagem de seus livros, fator que revela o alcance de seu discurso, mas, principalmente, em sua contribuição na formação de um grupo de autores da periferia, a chamada Literatura Marginal. No prefácio da coletânea Literatura marginal: talentos da escrita periférica, publicação que reúne alguns dos principais textos publicados nos três números especiais da revista Caros Amigos destinada à produção literária marginal, Ferréz exemplifica qual a principal característica do grupo: "A Literatura Marginal, sempre é bom frisar, é uma literatura feita por minorias, sejam elas raciais ou socioeconômicas. Literatura feita à margem dos núcleos tradicionais do saber e da grande cultura nacional, isto é, de grande poder aquisitivo" 1 . Nesta definição, a Literatura Marginal surge como um discurso de rasura da fala hegemônica, estruturando não apenas uma proposta literária contrária, mas, antes de tudo, negando-a. A Literatura Marginal busca assumir o status de voz unívoca da periferia, silenciando assim qualquer outro discurso que busca investigar/representar as margens, como afirma Ferréz: "Não somos os retrato, pelo contrário, mudamos o foco e tiramos nós mesmos a nossa foto" 2 .
Morte e intelectualidade na obra de Jean-Claude Bernardet
Fênix - Revista de História e Estudos Culturais
O objetivo deste artigo é mapear as construções de Jean-Claude Bernardet, em relação ao intelectual e sua ação sobre a sociedade, tendo por ponto de chegada um estudo do filme Antes do fim (2017), protagonizado pelo crítico e ator. Para tanto, realizamos um mapeamento teórico das construções sobre a intelectualidade e suas relações com o povo, com ênfase aos escritos de Bernardet dos anos 1960/70. Num segundo passo, trazemos uma leitura alegórica (Ismail Xavier) do filme Antes do fim (2017), dimensionando interpretações do presente, em particular do suicídio do intelectual, a partir de reflexos de debates dos anos 1960/70. Sob os ecos do contexto do impeachment de Dilma Rousseff e do impacto do governo Temer, o filme analisado reenfatiza a crise dos projetos anteriores de intelectualidade, à luz da consciência do envelhecimento por parte do intelectual.
Ágora : revista de divulgação científica, 2019
RESUMO: Qualquer procedimento médico, terapêutico ou interventivo sobre o paciente deve estar voltado à preservação da dignidade da pessoa humana submetida aos instrumentos de manutenção vital. Tratamentos terapêuticos altamente invasivos podem não representar solução adequada ao futuro da restauração física do paciente. Em muitos casos, mesmo após a utilização de vários instrumentos para restauração da capacidade física e mental do paciente terminal, a situação apresentada não justifica a continuidade da utilização dos meios terapêuticos invasivos. Projetos pioneiros no Brasil vêm estabelecendo a implementação de políticas públicas de saúde denominadas de cuidados paliativos. A proposta é garantir a terminalidade da vida com qualidade, livre da dor e em ambiente que respeite a autonomia do paciente. Essa determinação pela não sujeição a tratamentos de prolongamento da vida e da dor, pode ser manifestada em instrumento denominado de diretivas antecipadas de vontade. O modelo, por representar a interrupção ou suspensão dos procedimentos e terapêuticas médicas, permite que a doença siga seu curso normal o que resultará na morte do paciente.
A apropriação discursiva da morte pelo leitor
Você não compreende a morte, só aprende a aceitá-la." (Joseph Campbell) [p. 149] O discurso é uma rede de efeitos de sentidos que vai sendo traçada em meio a suspensões e retomadas. Não se consegue ver onde tudo começou ou vaticinar o seu final. É tentadora a tarefa de medi-lo do início ao fim. Talvez fosse bom tomá-lo como coisa apartada que tem começo e final, uma coisa inteira que posso olhar de longe, de perto, mais de longe, talvez tão de longe que possa usufruir da ilusão de controle sobre ela. Talvez, se fosse possível. Mas não é assim que o discurso se deixa apreender.