O racismo na infância e a infância do racismo: vida e rastros de uma criança negra (original) (raw)

“Eu queria ser branco”: reflexões que transbordam as linhas de existência da criança negra

Simbiótica. Revista Eletrônica, 2015

Resumo: Este artigo tem como proposta refletir sobre a maneira como as crianças negras presentes no espaço escolar estão experienciando seus processos de constituição identitários, a partir da fala de um aluno negro que sonha em ser branco. Entende que a escola é um importante espaço de formação do sujeito e procura mostrar também como os discursos produzidos e legitimados pelas ideologias racistas do século XIX influenciaram e influenciam o reconhecimento simbólico do sujeito negro na sociedade brasileira. Para isso, busca dialogar com autores como Schwarcz (1993), Gomes (2007) Paixão (2006), Moura (1988), Munanga (1999), Ramos (1943), Hasenbalg (1992) e Freyre (1933), entre outros que vêm contribuindo para o aprofundamento e melhor compreensão da questão etnicorracial da desigualdade brasileira na educação e na sociedade. Finalmente, o artigo aponta para a necessidade da escola e da sociedade de criar espaços de diálogos e mecanismos potentes para mudar as 1 Essa é a fala de um menino negro de 7 anos ao ser questionado sobre qual seria o seu sonho. Na escola em que ele estuda-no 2º ano das séries iniciais do Ensino Fundamental-, estava-se trabalhando com um projeto institucional que abordava a literatura africana e afro-brasileira. Após a leitura de uma história sobre o sonho de alguns animais, a professora perguntou aos alunos qual era o sonho deles. Com a voz bem baixa e com os olhos voltados para o chão, esse menino disse que o seu sonho era "ser branco".

Bárbara e Francisca: um estudo sociojurídico da criança e da infância negra

HUMANIDADES & INOVAÇÃO, 2023

Este artigo analisa três registros judiciais de duas meninas escravizadas – Bárbara e Francisca –, radicadas na Vila de Ribeirão Preto no final do século XIX, que foram seviciadas por seus senhores e buscaram abrigo no sistema de polícia e de justiça de sua época. Estuda-se aqui o uso imoderado dos corpos escravizados pela elite agrária e os reflexos deste ato no ambiente judicial. A análise desvenda a maneira pela qual os escravizados eram coisificados no campo do direito civil, mas respondiam penalmente quando praticavam crimes. Bárbara e Francisca, por serem crianças e meninas vítimas nos processos, acabaram por ser invisibilizadas pelo sistema jurídico e social. Este artigo insere-se no campo teórico da história jurídico-social de crianças e utiliza-se da metodologia arqueogenealógica na perspectiva das pesquisas cunhadas por Michel Foucault de Antologia de Existências.

A Dor Do Inocente: Implicações Do Racismo Para a Criança Negra

2021

Em tempos de discussoes sobre a obrigatoriedade ou nao do psicologo nas escolas, nossas experiencias no campo da Educacao e da Psicologia nos levaram a produzir esta reflexao sobre o racismo e seus efeitos, sobretudo, as consequencias sobre o processo de formacao identitaria, aproveitamento/rendimento escolar e processos de adoecimento. Somos uma nacao que se construiu tendo a escravidao como base do sistema economico e ordenamento social. As consequencias deste sistema ainda se fazem sentir, como chagas abertas em um corpo doente. O racismo, a exclusao, a discriminacao e o preconceito sao males que precisamos combater diariamente. A Psicologia Clinica tem funcao essencial no processo de restituir a saude mental das vitimas do racismo. A Psicologia Social devera atuar como orientadora das praticas pedagogicas sadias e acolhedoras, que tornem o ambiente escolar prazeroso para todas as criancas. Ha muito que fazer para erradicar o racismo da nossa sociedade. Para este artigo, revisam...

REIS, D. dos S. Infâncias negras: desafios e perspectivas antirracistas na educação infantil paraibana. In: SILVA, Otavio Henrique Ferreira da (Org.). Infâncias, Educação Infantil e relações étnico-raciais: possibilidades e desafios nos 20 anos da Lei 10.639/03. Petrolina: IFSertãoPE, 2024. p. 65-76

Infâncias, Educação Infantil e Relações Étnico-raciais: Possibilidades de desafios nos 20 anos da Lei 10.639/2003, 2024

©2024 E-BOOK TODOS OS DIREITOS RESERVADOS Os capítulos, materiais publicados, a revisão textual e normativas (ABNT), são de inteira responsabilidade de seus autores. Direito autoral do texto © 2024 Os autores Direito autoral da edição © 2024 Editora IFSertãoPE Publicação de acesso aberto por Editora IFSertãoPE. É permitida a reprodução parcial ou total desta obra, desde que citada a fonte e autoria. SUMÁRIO Em defesa da educação infantil contra-adultocêntica e contracolonialista: apresentando um instrumento pedagógico e de luta. Otavio Henrique Ferreira da Silva 7 Criança(s) e infância (s) e educação das relações étnico-raciais: duas décadas da Lei 10.639/03 Itinerários teóricos e metodológicos de uma pesquisa sobre as questões étnicas e "raciais" no contexto da Educação Infantil Christian Muleka Mwewa; Alex Sander da Silva Das experiências de racismo à educação antirracista... O que nos dizem 12 educadoras infantis do município de Teixeiras-MG?

GRITOS SEM PALAVRAS: RESISTÊNCIAS DAS CRIANÇAS PEQUENININHAS NEGRAS FRENTE AO RACISMO

The present article aims to understand, from the theoretical assumptions of Childhood Sociology, and studies of Social Sciences connected to racial relations in Brazil, the violence of the process of racialization over the construction of peer cultures. It is a research with an ethnographic approach carried out with three-year-old tiny young children in an Early Childhood Center at the metropolitan region of Campinas. The results point out that for the investigated institution, there is a reproduction of prejudices related to the racial category and to the legitimacy of social hierarchies that legitimize the inequalities. The results also indicate how the tiny young black children perceive the racism present on the pedagogies adopted by the teachers, and make it explicit, by means of different languages, the non-acceptance of the frameworks that pin them down in subordinate positions in the society

Expressão do racismo na infância – O efeito da composição étnica da escola

A evolução da expressão do preconceito ao longo da infância, contra crianças de minorias desvalorizadas, apresenta a forma de um U invertido (com um pico por volta dos sete anos), fenómeno que é atribuído ao desenvolvimento cognitivo das crianças nessa idade. Contudo, estudos recentes atestam o papel moderador de variáveis contextuais (ex.: presença vs. ausência do investigador) neste comportamento. O objectivo deste estudo foi o de estudar uma instância contextual que, de acordo com as teorias das relações intergrupais, poderá influenciar a expressão de preconceito pelas crianças da maioria – a composição étnica da escola. Utilizando dados de 280 crianças brancas, com idades entre os cinco e os dez anos, que frequentam escolas com quatro tipos de composição étnica (<10%; 10 a 39%; 40 a 60%; e >60% de crianças negras), observámos que a composição étnica da escola tem efeitos na expressão de preconceito, bem como que, nalguns contextos, as crianças com menos de sete anos não expressam enviesamento intergrupal.

O Olhar Do Outro No Meu Olhar: Racismo e Formação Da Identidade De Crianças Negras

Bahia Análise & Dados

Este estudo tem por objetivo refletir sobre a influência do racismo na formação da identidade da criança negra, aqui, especificamente, da criança preta. Essa temática toma corpo diante das muitas matérias jornalísticas denunciando ações de violência cotidiana dirigidas às pessoas negras. Esse é um trabalho com foco em dados bibliográficos, em que se envereda pela literatura que atravessa os temas em foco, tais como; construção da identidade; construção histórico-social do racismo, em destaque o racismo estrutural, a formação da identidade infantil e a identidade da criança negra. Nesse contexto, foi destacado que o processo histórico e cultural definiu uma identidade negra aversiva aos indivíduos, os sujeitos compuseram seu arsenal comportamental com contingências que legitimam a raça dominante, branca, eurocêntrica e masculina. Tomando por base uma identidade que passam por processos que buscam aproximação da identidade grupal e individual que enalteçam as características fenotípic...

Infâncias (In) Visibilizadas: Reflexões Sobre a Criança Negra Na História De Vilhena-Ro

Revista Ibero-Americana de Humanidades, Ciências e Educação

Esse trabalho busca promover a visibilidade da criança negra no cotidiano da história da Educação de Vilhena — RO, entre os anos de 1960 a 1980. Sabe-se que na história, as crianças não receberam a visibilidade merecida por seus papeis sociais, culturais, e nesse contexto, as crianças negras são praticamente ainda mais invisibilizadas. Poucos registros contam com a presença de crianças não brancas durante o processo de colonização e migração de Vilhena, como se não houvesse a presença de povos de diferentes etnias. A história contada é branca, sem pretos, pardos, sem os povos originários da floresta. Como se trata de uma pesquisa que também envolve o tema da diversidade cultural, essa investigação busca contribuir para a discussão de ruptura do modelo eurocêntrico na educação e sucessivamente na análise histórica e social da participação do afrodescendente na construção de uma educação multicultural na escola brasileira. A execução metodológica no âmbito da Nova História Cultural (N...

O Currículo Para a Primeira Infância e Identidade Racial Da Criança e Negra

Nuances: estudos sobre Educação

A cor para as crianças e negras tem se constituído em um elemento de exclusão, desde a creche. As pesquisas nos permitem inferir que ainda são poucas escolas que oportunizam práticas pedagógicas que ofertam elementos para que as crianças e negras construam positivamente a sua identidade, tendo orgulho do seu pertencimento racial. Mas, as poucas propostas pedagógicas e intervenções dos pesquisadores que têm assumido esse papel desestabilizando a colonialidade do saber têm fortalecido as formas de as crianças vivenciarem a questão racial. Nesse sentido, esse artigo tem como objetivo apontar alguns caminhos que podem favorecer a construção da identidade das crianças e negras no ambiente da creche. Elucidamos que o termo raça, nessa pesquisa, é compreendido como uma construção social, política e cultural fruto de relações sociais desiguais de poder. Dessa maneira, partimos do princípio que as propostas educacionais precisam trazer para a sua centralidade a diferença possibilitando que ...

O Estigma Da Raça: Crianças Negras, Educação Básica e Racismo

Resumo: Este artigo apresenta um fragmento do trabalho de pesquisa que abrange a Dissertação de Mestrado em Ciências Sociais, no biênio 2011/2012, na Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB). Trata-se de um estudo etnográfico que investiga o significado da cultura negra no contexto escolar da Escola Montezuma, localizada em Cachoeira, Estado da Bahia, ou, como os estudantes representam a cultura negra nesse contexto e suas relações com o mundo negro e africano. A compreensão das determinações materiais e históricas da desigualdade racial, em nosso País, e as possibilidades de superação das mesmas tomará corpo nessa comunicação ao se entrelaçarem com as temáticas raça e educação. Discutem-se estudos sobre relações raciais, identidade negra e representação de raça a partir de narrativas etnográficas elaboradas na interlocução com os grupos pesquisados. Esses extratos etnográficos referem aspectos do trabalho de campo em tal contexto, a partir da escolha metodológica de seguir...