Histórias de vitimação e seus significados (original) (raw)

Histórias de perdas e danos: sem concessões

Arquivo Maaravi: Revista Digital de Estudos Judaicos da UFMG

Resenha a: CARVALHO, Ana Cecília. Os mesmos e os outros: o livro dos ex. Belo Horizonte: Quixote-Do Editoras Associadas, 2017. 191 p.

Histórias de sangue e dor

2009

O presente estudo tem como objetivo uma escrita da história do modo com que os habitantes da região Sudoeste do Paraná se confrontaram e foram tratados por um segmento do serviço público, nesse caso, o judiciário, tendo em vista seus conflitos e seus reclames por justiça. Dessa forma, através das figurações desses pequenos agricultores no poder judiciário visualizamos os diversos atos de violência em que estiveram envolvidos. Assim busca-se considerar os exercícios de poder envolvidos em torno do estabelecimento do direito de punir em uma sociedade em nascimento. O corpus documental utilizado constituiu-se de processos criminais executados pela Comarca de Clevelândia, interior do Paraná, entre 1909 e 1939. O referencial teórico fundamentou-se nas reflexões de Michel Foucault sobre o controle social envolvendo aspectos como a governamentalidade, a disciplina, o direito e a punição. Nas narrações extraídas de processos-crime buscou-se compreender os fragmentos de vidas ali presentes e do modo como se confrontaram com o aparelho judiciário. Assim sendo buscamos analisar e compreender as diversas formas com que os homens através de seus atos agiram de forma violenta e em que medida essa violência pode ser compreendida como o momento, muitas vezes, decisivo de relações intersubjetivas de uma determinada organização social. Dessa maneira, a relação entre uma aparelhagem judiciária que estava se organizando e uma violência que se constituía em uma rede de relações sociais, revelaram a produção dos estigmas sociais e da criminalização efetivada por um sistema judiciário frágil em sua estrutura e displicente em relação aos reclames dos pequenos agricultores pobres que habitavam a região.

Narrar o trauma: a questão dos testemunhos de catástrofes históricas

Psicologia Clínica, 2008

O trabalho propõe uma reflexão sobre algumas das características do gesto testemunhal enfatizando as aporias que o marcam. Partindo da idéia de que o testemunho de certo modo só existe sob o signo de seu colapso e de sua impossibilidade, o texto enfatiza os dilemas nascidos da confluência entre a tarefa individual da narrativa do trauma e de sua componente coletiva. Nas "catástrofes históricas", como nos genocídios ou nas perseguições violentas em massa de determinadas parcelas da população, a memória do trauma é sempre uma busca de compromisso entre o trabalho de memória individual e outro construído pela sociedade. O testemunho é analisado como parte de uma complexa "política da memória".

Histórias de vida: marcas do trauma em narrativas de sobreviventes da Shoah

Arquivo Maaravi: Revista Digital de Estudos Judaicos da UFMG

Neste artigo, as narrativas de judeus sobreviventes do Holocausto são analisadas em sua estruturação textual, tendo como viés a compreensão psicológica das dificuldades de elaboração de vivências traumáticas. Considerando a desestruturação psíquica decorrente dos sucessivos traumas sofridos, notamos o déficit da capacidade aperceptiva durante o choque advindo das situações de violência e trauma. Em nosso entender, faz-se necessário reestimular essa capacidade a fim de auxiliar na reelaboração e reestruturação do psiquismo. Baseados em revisões de literatura, bem como em entrevistas levadas a cabo em nossa pesquisa de campo desdobrada em estudos de caso junto a sobreviventes, apresentamos algumas marcas nas narrativas de sobreviventes do Holocausto características dos traumas rememorados. A estruturação textual e a pontuação são alguns dos recursos que evidenciam essas marcas e o gradativo avanço na enunciação das dores rememoradas.

Uma história de trauma A history of trauma

2020

O autor faz um passeio pelo campo dos estudos sobre o trauma, campo inaugurado, a seu ver, pelos trabalhos de Cathy Caruth, identificando divergências importantes entre os autores que se dedicaram ao tema, como a própria Caruth, Ruth Leys, Giorgio Agamben, Bessel van der Kolk, Primo Levi e Robert Antelme. Delineando suas próprias posições, o autor insiste em um desejo geral de testemunhar, toma como exemplos textos de Marguerite Duras, o "Arrebatamento de Lol V. Stein", e de Robert Antelme, "A Espécie Humana", e conclui que tanto Duras como Antelme confirmam, em seus livros, a primazia de uma decisão ética de testemunhar, ou via ficção, ou via documentário.

Testemunho em narrativas sobre violência

ALCEU

O objetivo do estudo é refletir sobre o papel do testemunho na construção narrativa de personagens em noticiários criminais. No texto propõe-se um diálogo entre a forma como os personagens são construídos e a maneira como o público produz sentidos aos crimes exibidos em dois telejornais. O texto parte de uma discussão teórica sobre jornalismo, confissão e testemunho. Após a apresentação dos telejornais e do público, ancora-se nos resultados de uma análise de conteúdos realizada em 80 edições nos noticiários criminais Balanço Geral e Tribuna da Massa, ambos veiculados em Curitiba (PR), e em um estudo de recepção produzido a partir de entrevistas em profundidade com 18 telespectadores desses programas. Entre os resultados observa-se a personificação das fontes oficiais, a substituição de testemunhas oculares por tecnologias de vigilância e a ascensão de um tipo especial de personagem, o familiar, aspectos que contribuem para o engajamento do público.

O Passado De “Marcados”: Trauma e Etnocídio Yanomam

Gavagai - Revista Interdisciplinar de Humanidades

Resumo: O objetivo deste ensaio é examinar a constelação que emerge do passado que as fotografias de Cláudia Andujar carregam. Para isso, uma primeira escala acontece justamente no contexto das epidemias que os Yanomami encararam entre as décadas de 1970 e 1980, como testemunhado por Davi Kopenawa. Tentaremos observar, nos escritos de Kopenawa, qual é sua narração e perspectiva do contexto que Andujar presenciou, atuou e fotografou. A segunda escala é a de um distanciamento maior, e junto com Eduardo Viveiros de Castro e Pierre Clastres gostaríamos de pensar, através da ideia de etnocídio, como as epidemias fazem parte e repetem uma experiência maior e mais antiga da relação entre Estado (brasileiro) e populações indígenas, marcada. O terceiro e último ponto analisará justamente essa ideia de um passado em continuum, de uma repetição constante da colonização, através de sua própria temporalidade, como colocado tanto por Kopenawa como por outro líder indígena, Ailton Krenak. Daí, tentaremos criar o nexo entre a ideia de trauma, as fotografias de Andujar e a experiência de colonização que é, nessa concepção, uma experiência de etnocídio.

Adultos com experiências precoces de vitimação e resiliência

2016

The literature corroborates that certain individuals can integrate or adjust to a positive and normative form in the societies in which they live, despite highly adverse experiences occurred at an early age potentiate a significantly different route. This study, of a qualitative character, has as a main purpose to analyze and characterize the way of life of adults who experienced early forms of victimization in the family context, trying to identify the factors that contributed to their psychosocial adjustment. To do this, we used a semi-structured interview, designed to that end, which was administered to 10 participants aged between 19 and 41 years (M = 26.1, SD = 8) selected from privileged informants that identified them as being resilient. The content of the interviews was analyzed through grounded analysis. The results showed that participants during the course of the victimization process developed similar behavioral characteristics (e.g., isolation, low self-esteem, anger, a...