Da perda das ilusões à melancolia : um estudo psicanalítico em Balzac (original) (raw)

Melancolia: literatura

Matraga - Revista do Programa de Pós-Graduação em Letras da UERJ

Resenha do livro Melancolia, de Luiz Costa Lima, publicado em 2017.

A melancolia na literatura

Há muito em comum entre literatura e medicina. Ambas tem a ver, em última análise, com a condição humana; e nada é mais revelador da condição humana do que a doença. Quando a pessoa está doente, sobretudo quando está gravemente doente, caem suas máscaras, suas defesas, e ela se revela tal qual é. Mas esta é uma situação que precisa ser expressa através da palavra, e de novo, este é um elo comum. A literatura usa a palavra como instrumento estético; a medicina usa a palavra como forma de investigação, como meio de comunicação e também como terapia -a -talk therapy‖, que é a denominação dada pelos norteamericanos à psicoterapia. E as palavras têm peso: câncer, por exemplo. Uma das tarefas do médico é convencer o paciente que -câncer é uma palavra, não um veredicto‖, como diz em título de livro oncologista e professor da Universidade de Toronto, Robert

Reflexões Sobre Melancolia e Alegoria Em Walter Benjamin

2010

A alegoria e a melancolia sao dois conceitos fundamentais nas reflexoes do filosofo alemao Walter Benjamin. A busca da origem e do lugar do drama barroco na tradicao alema aparecem, sobretudo, no livro A Origem do Drama Barroco Alemao, escrito em 1928 e pensado como tese de livre-docencia. E interessante ressaltar que, ao mesmo tempo em que Benjamin problematiza a insuficiencia de varios conceitos e reflete sobre a melancolia, tambem sugere – no final da segunda parte do livro – que a Historia poderia ser concebida como drama tragico. Palavra-chave em sua filosofia, principalmente para a compreensao de seus escritos finais - suas teses sobre o conceito de Historia - a melancolia e o paradigma do principe no drama barroco. Partindo da melancolia alada dureniana, Benjamin leva suas reflexoes ao extremo, ao sugerir uma concepcao de Historia aberta, contrariando a historiografia dominante, de base positivista. A alegoria, contraparte da melancolia, aparece na terceira parte do livro den...

Entre Ilusões perdidas e paisagens tropicais: Balzac e sua quase aventura em terras tupiniquins.

ENTRE ILUSÕES PERDIDAS E PAISAGENS TROPICAIS BALZAC E SUA QUASE AVENTURA EM TERRAS TUPINIQUINS , 2019

"Cheguei ao fim da minha resignação. Penso deixar a França e levar meus ossos ao Brasil, num projeto louco, e que escolho por causa da sua loucura. Não quero mais suportar a existência que levo. Basta de trabalhos inúteis." Estas foram as palavras de Balzac em uma carta enviada à sua amada, a Condessa Hanska, no dia 03 de julho de 1840. Mas afinal, o que viria fazer Balzac em terras tropicais? Desta forma, este trabalho tem como objetivo propor algumas reflexões sobre a construção da imagem do Brasil, a partir do século XIX, com a troca de olhares entre o Novo e o Velho Mundo, buscando evidenciar o diálogo entre as ideais provenientes da Europa e o continente sul-americano.

Walter Benjamin e a Melancolia

Trataremos aqui da melancolia encerrada em um movimento cultural distinto, o Barroco. Mas é preciso lembrar que este tipo de delimitação, apesar de ser identificado como um lapso temporal específico, não corresponde apenas à história, mas revela uma idéia, o que deixa entrever o espaço para as manifestações plenas de barroquismo em outras épocas, como a nossa, e auxilia na justificativa da escolha deste tema como ponto de partida para a compreensão da subjetividade moderna. O Barroco inaugura uma idéia que ainda é a nossa, dividida entre o referencial cristão e helenista, onde, através da dimensão da culpa e do luto, temos presentificada nossa fragilidade. Em nós há a alegoria e a melancolia, esta para dizer que o mundo não tem sentido e aquela para dizer que só através dela conseguiremos ter acesso às coisas cuja exatidão nunca encontraremos. O homem barroco se faz de uma mescla da Idade Média e do Renascimento dos ideais Clássicos, e esta dicotomia, com todos os conflitos psicológicos, filosóficos, estéticos, políticos, que ocasiona, veio se desdobrando ao longo da modernidade. A melancolia é o sentimento que permeou esta marcha, interiorizando no sujeito a característica mais forte e aterrorizante do Barroco, a imanência. O ponto de partida para situar a melancolia no período barroco é o livro de Walter Benjamin, A Origem do Drama Barroco Alemão, cujo título original em alemão é Ursprung des Deutschen Trauerspiels, mas também chamado, principalmente por seus comentadores, de Trauerspielbuch, o livro do drama barroco, e com esta intenção seguiremos passo a passo o caminho percorrido por Benjamin para podermos acompanhar de perto a profundidade de seu pensamento tantas vezes obscuro e hermético.

Nota sobre as fabulações psicanalíticas de Louise Bourgeois

Trivium Estudos Interdisciplinares, 2011

No discurso lido por sua filha Anna na cerimônia de recebimento do prêmio Goethe da cidade de Frankfurt, Freud afirma que a psicanálise poderia "pôr em evidência novas correlações nesta obraprima de tecelagem que se desenvolve entre as predisposições pulsionais, as experiências vividas e as obras de um artista". 1 Entre esses três planos, para que seja possível tecer relações, pressupõe-se diferença, distância. Em contraponto, a artista francesa radicada nos Estados Unidos Louise Bourgeois dedicou grande parte de sua longa existência, interrompida em 2010 aos 98 anos, a misturá-los. Ao tentar tornar indiscerníveis vida e arte, ela se alinhava a uma importante preocupação das vanguardas da primeira metade do século XX, e tornavase, na década de 1980, um dos mais importantes nomes do chamado "novo subjetivismo" na arte contemporânea. A exposição de Louise Bourgeois O Retorno do Desejo Proibido, vista recentemente em São Paulo e no Rio de Janeiro, tem como eixo central a tese de que boa parte da produção da artista decorre diretamente de sua análise. A publicação, como parte do Catálogo desta exposição, de anotações variadas feitas ao longo de décadas com o título "Escritos Psicanalíticos", é o ato final desta mistura arte/vida. Este ato é tanto mais significativo por se realizar praticamente no momento de sua morte. Isso sugere que Louise se ausenta, sempre, de alguma maneira-como ela anota em 1957, "nós existimos principalmente por nossa ausência". 2

Considerações semióticas sobre a melancolia, em especial na literatura moderna e no cinema de Andrei Tarkovsky

Ao longo da história ocidental, o termo 'melancolia' assumiu diversos sentidos. Aplicamos esta palavra a estados de espírito, pessoas, paisagens, cenários, obras, fatos, objetos etc. 2 Mas o que há de comum ou o que permite esta disseminação de significados? De um lado, parece-nos que a melancolia é um sentimento entranhado na condição humana. De outro, porém, olhando os meandros históricos da noção, a melancolia parece ter uma história, uma história sem dúvida multifacetada, que percorre a medicina, a psicologia, a astrologia, a filosofia e as artes. Esta permissividade indica tanto ubiquidade quanto vagueza. Não parece promissor tentar encontrar algo assim como a 'essência' ou a 'definição' da melancolia, ao menos do ponto de vista da história das ideias. Talvez mais adequado seja tratar de seus rastros, suas intermitências, suas aparições, em suma, apresentar aspectos do "mapa" de seus intrincados e polimórficos signos. Por conta desta perspectiva, parece-me que a semiótica é o melhor método para rastrear tais signos (ícones, indícios, sintomas, símbolos etc.) referentes direta ou indiretamente à melancolia.

A Teoria da Melancolia em Walter Benjamin

A versão do taedium vitae na teoria da melancolia do século XVII barroco agrega elementos originários da antiguidade clássica do tratado aristotélico De divinatione Somnium através do Renascimento, em que a genialidade melancólica desses teoremas em torno da bílis negra (atra bilis) enriquece a teoria do dualismo fundamental da melancolia como manifestação, por um lado, da apatia, por outro, do dom divinatório que produz os religiosi contemplativi e aqueles que estão predestinados, por Saturno, ao sonho profético, entre os quais figuram mártires e príncipes. Palavras-chave: taedium vitae, acedia, saturno, religiosi contemplativi, profecia, spleen.