Leituras feministas de Merleau-Ponty: do corpo à identidade (original) (raw)

O CORPO COMO “TEXTO-VIVO”: a noção de corpo-próprio de Merleau-Ponty em interface com a obra Mulheres de cinzas, de Mia Couto

O pensamento fenomenológico de Merleau-Ponty sofre influência do mandamento husserliano de retorno “às coisas mesmas”. Ele ressalta a importância da percepção em um contato pré-reflexivo com o mundo. Essa atividade perceptiva nos dá o corpo-próprio em sua imbricação com o mundo-da-vida. Esse corpo-próprio é motricidade, espacialidade, temporalidade, expressão e linguagem. Graças à linguagem, o corpo-próprio se expressa criativamente na literatura, na qual o expresso não se separa da expressão. O objetivo deste trabalho é buscar uma interface entre a filosofia de Merleau-Ponty, partindo do conceito de corpo-próprio, e a literatura de Mia Couto, especificamente na obra Mulheres de cinzas, para elaborar uma poética do corpo, a partir do “corpo do poeta” e do “poeta do corpo” em sua coexistência simultânea. É dessa coexistência que emerge para nós o corpo como “textovivo”.

O corpo em perspectiva – reflexões sobre os primeiros escritos de Merleau-Ponty

Resumo: neste artigo, pretendo mostrar como Merleau-Ponty parte da fenomenologia husserliana sem com isso se restringir às suas linhas. Isso se deve, em larga medida, a uma incorporação dos trabalhos gestaltistas contemporâneos ao filósofo, além de uma análise original do trabalho de Husserl via uma tradição que pretende pensar o concreto. Começaremos traçando a definição merleau-pontyana da fenomenologia e sua necessidade de resgatar um "mundo vivido" para depois entrarmos na discussão com os gestaltistas. Com isso em mãos, podemos vislumbrar como sua leitura de Husserl é rearticulada, levando-o a pensar num sujeito da percepção em termos corporais.

O Corpo Em Perspectiva – Reflexões Fenomenológicas Sobre Os Primeiros Escritos De Merleau-Ponty

Philósophos - Revista de Filosofia, 2010

Resumo: neste artigo, pretendo mostrar como Merleau-Ponty parte da fenomenologia husserliana sem com isso se restringir às suas linhas. Isso se deve, em larga medida, a uma incorporação dos trabalhos gestaltistas contemporâneos ao filósofo, além de uma análise original do trabalho de Husserl via uma tradição que pretende pensar o concreto. Começaremos traçando a definição merleau-pontyana da fenomenologia e sua necessidade de resgatar um "mundo vivido" para depois entrarmos na discussão com os gestaltistas. Com isso em mãos, podemos vislumbrar como sua leitura de Husserl é rearticulada, levando-o a pensar num sujeito da percepção em termos corporais.

O corpo como expressão e linguagem em Merleau-Ponty

Estudos de Psicologia (Natal), 2003

Nosso artigo discorre sobre a importância da noção de corpo na filosofia de Merleau-Ponty. Essencialmente presente nas manifestações intersubjetivas, o corpo encarna a possibilidade de compreensão dos gestos e das palavras, assinalando o caráter corpóreo da significação, cuja apreensão está na reciprocidade de comportamentos vividos na dimensão social. Desenvolvemos também seu conceito de linguagem falada; segundo Merleau-Ponty, o sentido da linguagem expressiva teria sido expropriado da palavra pelas concepções empirista e idealista, fundadas na dicotomia cartesiana. Merleau-Ponty observa uma imanência do sentido na palavra, apontando que a compreensão da linguagem remonta à análise de seu movimento expressivo originário: o gesto. O caráter fundador da linguagem mostra-se nas relações ambíguas entre fala e pensamento, sentido e palavra, significante e significado. Esta ambigüidade, presente em todas as formas de linguagem, constitui a natureza do fenômeno expressivo, revelando a ab...

Judith Butler leitora de Merleau-Ponty: Por uma crítica ao corpo com ser sexuado

Princípios: Revista de Filosofia (UFRN), 2020

Between Merleau-Ponty and Butler, we will evaluate how productive the derivations of phenomenology are to gender performances. From Merleau-Ponty, if the body is the vehicle of personal experiences, it is through sexuality that we are cohabiting with others. Sexuality is presupposed in every atmosphere of life. However, says Butler, Merleau-Ponty reiterates the hypothesis of a heteronormative, unincorporated essence that underlies behavior. Guided by sexual difference, Merleau-Ponty ignores how gendered constructions are supported by the fact that bodies conform civilizational situations. Therefore, it is about questioning the shaping of the body in normative genders. We need to broaden perspectives on how bodies dramatize cultural signs. Only then will we see genders as intentional, performative and non-referential acts. Such performances give rise to an optics where alternative identities play a critical role in the face of masculinist sanctions.

Corpo, percepção e conhecimento em Merleau-Ponty

Com base nos estudos da ciência da sua época, Merleau-Ponty interroga a respeito das análises sobre o sistema nervoso e os postulados clássicos sobre a condução do impulso elétrico, sobre o circuito reflexo, envolvendo estimulação e reação, sobre o campo perceptivo e sobre a questão da localização cerebral, sendo insuficiente a correspondência pontual, própria da tradição atomista, entre o excitante, o mapa cerebral e a reação. Essa revisão conduz a uma nova compreensão da percepção que se aproxima das ciências cognitivas contemporâneas. Este artigo, fruto de um estudo teórico sobre a fenomenologia de Merleau-Ponty, tem como objetivo apresentar essa revisão conceitual sobre a percepção, o diálogo com a arte e a ciência, configurando noções e conceitos em torno de uma fenomenologia do conhecimento.

PARA ALÉM DO CORPO-OBJETO E DA REPRESENTAÇÃO INTELECTUAL: como Merleau-Ponty redescobre o corpo como veículo da existência

Resumo: Este ensaio analisa as objeções elaboradas por Merleau-Ponty ao que ele chama de " paradigma cartesiano de pensamento " , ou seja, a separação entre alma e corpo. Concentrando-nos nos dois primeiros capítulos da primeira parte da Fenomenologia da Percepção, trata-se de identificar, nas críticas dirigidas à fisiologia mecanicista e à psicologia subjetiva, como o filósofo delega ao corpo sensível um novo estatuto filosófico, colocando-o como principal veículo da existência, ao mesmo tempo em que redescobre a experiência pré-objetiva.

Corpo, conhecimento e perspectiva: a fenomenologia de Maurice Merleau-Ponty e o perspectivismo ameríndio

Espaço Ameríndio, 2007

GUILHERME ORLANDINI HEURICH 2 UFRGS RESUMO: Este artigo procura traçar um paralelo entre a fenomenologia de Maurice Merleau-Ponty e o perspectivismo ameríndio, principalmente no que tange à relação entre corpo e conhecimento. A influência de Merleau-Ponty na Antropologia resultou em estudos que enfocam a centralidade do corpo em processos cotidianos de socialização, os quais são fundamentais na experiência de conhecimento do mundo. O mundo que conhecemos é o mundo experienciado pela percepção, a qual está no corpo. Nas relações intersubjetivas, a possibilidade de ampliação do conhecimento -alargamento da razão -está fundamentada na idéia de um mundo que emerge da imbricação entre a minha perspectiva e a do outro. A possibilidade de compreensão envolve a referência a um mundo compartilhado mutuamente. Nas sociedades indígenas, podemos dizer que, na esfera intra-humana, as relações intersubjetivas apontam para processos de socialização fundamentados em corpos que estão referenciados a um mundo compartilhado. Por outro lado, a teoria do perspectivismo ameríndio ressalta que, na relação com ordens extra-humanas do cosmos -animais, espíritos, divindades -os corpos apontam para mundos distintos. A noção ampliada de "condição humana", que assemelha "a gente" aos animais, espíritos e divindades, possibilita a compreensão desses múltiplos mundos. Esta compreensão somente ocorre através da capacidade de um corpo adotar os modos de ser e agir desses Outros e, dessa maneira, ascender a um Outro ponto de vista. Aqui, diferentemente da fenomenologia de Merleau-Ponty, não há uma imbricação das perspectivas, na medida em que estas precisam ser mantidas em sua diferença. Isto é, o conhecimento de ordens extra-humanas visa subjetivar outras perspectivas tendo sempre como horizonte a manutenção da perspectiva humana. ABSTRACT: This article aims to establish a parallel of comparison between Merleau-Ponty's phenomenology and amerindian perspectivism, mainly on body and knowledge relations. Merleau-Ponty's influence on anthropology resulted in studies concerning body's centrality in socialization processes, which are fundamental in our knowledge experience of the world. The world we know is the world experienced through body's perception. In our intersubjective relations, the possibility of knwowledge expansion -reason enlargement -emerges through the intense relation of the other's perspective with mine. Thus, the possibility of intersubjective comprehension envolve the reference to a world mutually shared. In indigenous societies, we