“Musealizar o império colonial português: arqueologia de um fracasso (1870-1976)”, em Sombras do Império. Belém, projetos, hesitações e inércia: 1941-1972, coord. de João Paulo Martins, Lisboa, Tinta-da-China, 2023, p. 55-79. (original) (raw)

"Colonialismo, modernismo e agência: burocracia e obras públicas no colonialismo tardio português", Ler História, 85, 2024, pp. 119-142.

O artigo analisa o lastro histórico da burocracia respeitante à construção de obras públicas nas antigas colónias africanas sob domínio português. Concentrando-se em particular no colonialismo tardio do país, visa problematizar a leitura que justifica a excecionalidade da arquitetura construída nestes territórios, sem paralelo na metrópole, com a putativa menor agência do poder central na sua concretização. Para o efeito, examina-se a legislação sobre: a) a orgânica dos serviços de obras públicas coloniais e a sua aplicação a uma colónia em particular (Moçambique); b) a evolução do setor de obras públicas coloniais na administração central; e c) a adjudicação, avaliação e fiscalização de obras públicas. Cruzando-a com documentação de arquivo, comprova-se a ampla interferência do Ministério das Colónias/do Ultramar na supervisão de projetos de arquitetura pública, contribui-se para a reinterpretação da coexistência entre colonialismo e arquitetura moderna e propõem-se pistas para investigações futuras. EN: The article analyses the bureaucracy in constructing public works in the former African colonies under Portuguese rule and its historical background. Focusing on the country’s late colonialism, it problematises the interpretation that justifies the exceptionality of the architecture built in these territories, unparalleled in the metropolis, with the purported lesser agency of central power in its implementation. To this end, legislation is examined on: a) the organisation of colonial public works services and its application to a particular colony (Mozambique); b) the evolution of the colonial public works sector in the central administration; and c) the awarding, evaluation and supervision of public works. By cross-referencing it with archival documentation, the extensive interference of the Ministry of Colonies/Overseas Territories in the supervision of public architecture projects is proven, a contribution is made to the reinterpretation of the coexistence between colonialism and modern architecture, and avenues for future research are proposed.

“A fotografia na obra de Mendes Correia (1888-1960): Modos de representar, diferenciar e classificar da ‘antropologia colonial’”, 2014, In F. Lowndes Vicente (org.), O Império da Visão: Fotografia no contexto colonial português (1860-1960). Lisboa: Edições 70. P. 45-66.

O Império da Visão: Fotografia no contexto colonial português (1860-1960) , 2014

No presente capítulo irei explorar o papel que a fotografia teve enquanto elemento de documentação de trabalhos de teor antropológico e, por vezes, como instrumento auxiliar de algumas práticas antropológicas da primeira metade do século XX. A partir da obra de Mendes Correia, antropólogo e arqueólogo, formado em medicina pela Escola Médico-Cirúrgica do Porto e mentor da Escola de Antropologia do Porto, analisarei o modo como a fotografia foi utilizada em artigos científicos que se debruçavam sobre o império e como foram retratados alguns indivíduos que se encontravam sob a administração colonial portuguesa. Mostrarei como a fotografia foi sempre solicitada no âmbito das suas pesquisas e esteve presente nos vários contextos de trabalho em que se envolveu: nas sessões da SPAE; nas aulas práticas da cadeira de Antropologia da FCUP; no âmbito dos estudos de antropologia criminal; no CEEP; nas missões antropológicas e em duas das suas obras principais – Timor Português (1944a) e Raças de Império (1943). No caso deste segundo livro analisarei a obra, em geral, e as fotografias que dele fazem parte, sobretudo as que se referem ao âmbito colonial, em particular. Como veremos no final, as fotografias relacionadas com a obra de Mendes Correia eram tomadas à partida como relevantes, uma vez que ilustrariam o “real”, tomado amiúde como estando a desaparecer. As fotografias captariam o “real” e registá-lo-iam para conhecimento futuro. Tal procedimento, baseado no já referido princípio de que “to see is to know”, virá contudo a denunciar as limitações de algumas práticas antropológicas e, por outro lado, a expor as indeterminações e as dificuldades suscitadas no contexto do colonialismo português.

Simulação e dissimulação do império colonial português em Belém, Lisboa (1940/2020): a secção colonial e o jardim botânico tropical

Anais do Museu Histórico Nacional, 2021

The Jardim Botânico Tropical - JBT (Tropical Botanical Garden), located in Belém, Lisbon, resembles an archaeological station with several layers uncovered, but in horizontal plane. There, it is possible to distinguish heritage traces from the 17th until the 20th Century, namely the “remains” of the colonial section of the Portuguese World Exhibition, the great propaganda event of the Portuguese New State held during the Second World War. Although the JBT was under the dependence of the Tropical Research Institute between the 1980s and 2015 and has afterwards been part of the University of Lisbon, these institutions have not promoted a public reflection on its colonial history and legacy. This article proposes a critical approach of that space based on the analysis of the (dis)simulation processes of the last Portuguese empire that have occurred and still occur there, uncovering in particular the 1940 historical layer. Keywords Colonial garden; Colonial Agriculture Museum; Colonial exhibition; “Human zoo”; Portugal. Resumo O Jardim Botânico Tropical (JBT), situado em Belém, Lisboa, assemelha-se a uma estação arqueológica com várias camadas a descoberto, mas em plano horizontal. Ali é possível distinguir vestígios patrimoniais dos séculos XVII ao XX, entre os quais "restos" da secção colonial da Exposição do Mundo Português, o grande evento de propaganda do Estado Novo português realizado em plena Segunda Guerra Mundial. Embora o JBT tenha estado sob a dependência do Instituto de Investigação Científica Tropical entre a década de 1980 e 2015, e desde então faça parte da Universidade de Lisboa, estas instituições não promoveram uma reflexão pública sobre a sua história e legado coloniais. Este artigo propõe uma abordagem crítica daquele espaço baseada na análise dos processos de simulação e dissimulação do último império português que ali ocorreram e ainda ocorrem, descortinando, em particular, a camada histórica de 1940. Palavras-chave Jardim Colonial; Museu Agrícola Colonial; Exposição colonial; “Zoo humano”; Portugal.

Clara Moura Soares (2016), "A Coleção de arte do Conde do Ameal: o leilão de 1921 e as aquisições do Estado Português para os Museus Nacionais" in Coleções de Arte em Portugal e no Brasil nos séculos XIX e XX. Modos de ver e exibir em Brasil e Portugal, Rio de Janeiro, Rio Books, pp. 89-105

Histórias da Arte em Coleções: Modos de ver e exibir em Brasil e Portugal : Rio Book's -1a. Edição 2016 222p. Formato 16 x 23 cm ISBN 978-85-94970-07-7 ORGANIZADORES MARIZE MALTA | MARIA JOÃO NETO | ANA CAVALCANTI EMERSON DIONISIO DE OLIVEIRA | MARIA DE FÁTIMA MORETHY COUTO Resumo: O político conimbricense João Maria Correia Aires de Campos (1847-1920), que viria a ser o 1º Conde do Ameal (1901), foi detentor de uma das mais importantes coleções privadas de arte do país, sobretudo de pinturas, porcelanas e faianças, nacionais e estrangeiras. Boa parte das obras que reuniu ao longo da vida foi leiloada em 1921, um ano após a sua morte. Esse evento deu lugar à dispersão da coleção, mas, também, criou oportunidades para que alguns museus portugueses pudessem ver enriquecidos os seus acervos. Quem foi Aires de Campos? Como constituiu a sua coleção? Quais os seus gostos artísticos? Que relações estabeleceu com os mercados de arte nacional e internacional? Em que circunstâncias e de que modo se processou o leilão Ameal? São questões para as quais procuraremos dar resposta ao longo do trabalho que a seguir apresentamos.

Bastos, C. 2013. Das Viagens Científicas aos Manuais de Colonos: a Sociedade de Geografia e o conhecimento de África. In CEAP e IICT, eds., O Colonialismo Português: novos rumos da historiografia dos PALOP. Porto: Húmus, pp. 321-346

Direcção gráfica: António Modesto Foto da capa: A passagem do Rio Coruba!. Guiné. Documentário fotográfico da viagem à Guiné do Ministro das Colónias, 1941. nCT -Álbum fotográfico, CEHU, n.o 6, ft. 86. Das viagens científicas aos manuais de colonos: a Sociedade de Geografia e o conhecimento de África 1 CRISTIANA BASTOS' 1. Pessimismo e optimismo na década de 1870: a viragem para África Quem ha dez annos fallasse n'uma travessia realisada no sul d'Africa, feita por portuguezes, ainda mesmo nas condições em que querem a realizasse Serpa Pinto, e asseverasse que ella se efectuaria, ou não seria acreditado, ou por menos não seria attendido, tão profundo era o indifferentismo do publico por esse transcedente problema africano, que a Portugal mais do que a ninguem toca resolver. As c%nias eram para o estado e para o publico um pezo insuportavel. Diz--se até que houvera mais que um ministro que pensara em vendei-as todas ou algumas julgando-as como um fardo pezado que só servia para incommodar a metropole, vivendo como vivia, socegada e feliz n'essa lerda pachorra propria das sociedades decadentes e decrépitas .