Os Limites Dos Autossacrifícios Segundo Montaigne (original) (raw)

MONTAIGNE: O ENSAIO COMO AUTORRETRATO

O que se pretende aqui é investigar e comentar, a partir das determinações relativas ao estilo ensaístico, que espécie de "eu" ou de voz narrativa atravessa os ensaios de Montaigne.

Autodomínio em Sócrates e Nietzsche

2023

A pesquisa visou tratar de um fenômeno que, a partir da visão de Nietzsche, teria eclodido na Antiguidade com Sócrates. Trata-se do fenômeno da razão em oposição ao desejo. A chave de leitura para o entendimento da crítica nietzscheana se fundamenta a partir do termo autodomínio (enkráteia), que significa dominar a si mesmo no que tange às paixões e os apetites. Este domínio, que foi promovido por Sócrates, parece surgir de uma espécie de tirania, na qual a razão se coloca como única instância possível do conhecimento verdadeiro, e os instintos do próprio corpo somente perturbariam a alma em sua ascensão para a verdade.

Montaigne, leitor de si próprio

i Embora bastante longínquas no tempo, amiúde algumas leituras determinam percursos estranhos no esforço por comentar de forma escrita as outras mais recentes. É sabida a má fama dos comentários desde que George Steiner ousou comentar contra os comentadores atuais das universidades. Mas também parece-me ainda atinada a frase de André Gide: "Permanecemos sempre em débito com Montaigne (...) Cada qual respiga nele o que mais lhe apetece e que não raro é o que outro menosprezou. Nenhum autor será mais facilmente invocado sem perigo de traição..." (MoNtAiGNE, 1953, p. 31). Não se trata, porém, de negar a possibilidade da crítica, mas de esclarecer que o exíguo recorte dos Essais que pretendo comentar procura ilustrar um certo percurso tramado pelo acaso das velhas e novas leituras que se suscitaram sobre os Ensaios de Michel de Montaigne. Nesse sentido, redirecionando velhas e novas leituras, é que funcionaram os conceitos tecidos por Luiz Costa Lima em Limites da Voz (cuja primeira edição data de 1993, sendo a segunda revisada de 2005) e em um artigo posterior intitulado "Montaigne: a história sem ornatos" (2006), que retoma a tese daquele livro e aprofunda um dos seus filões analíticos. De maneira particular, esses textos do ensaísta brasileiro estimulam a polêmica e entrecruzam seus fios com um debate teórico mais abrangente, desenvolvido sobre as problemáticas do estatuto do sujeito moderno, o surgimento da literatura,

Os Limites Da Racionalidade: Auto-Engano E Acrasia

Disputatio, 2010

In this paper I argue that ordinary cases of self-deception and akrasia derive from the phenomenon of motivated irrationality. According to the “motivational” account, self-deception is typically induced by the influence that desires and emotions exert upon our cognitive faculties, and thereby upon the process of belief formation. Crucially, I show that this hypothesis is consistent with the empirical research carried out by social psychologists, and that it avoids a number of paradoxes which undermine the “intentionalist” account. But motivated irrationality also seems to account for most cases of akrasia, insofar as desires are equally liable to affect the evaluative judgments through which we assess feasible options. This analysis thus set the premises for a unified account of irrationality.

Os limites da auto-análise

2006

Por que a vida das grandes personalidades literárias ou dos grandes intelectuais gera tanto fascínio? Podemos especular que o deslumbramento resulte de certa curiosidade em desvendar o segredo da genialidade. Muitas vezes as biografias e autobiografias guardam um pouco desse caráter, de revelação daquilo que acreditamos ser "a" diferença, a especificidade que faz, por exemplo, Pierre Bourdieu ser "Pierre Bourdieu", o cientista social mais citado do mundo e um dos autores mais (re)conhecidos hoje no campo das Ciências Sociais. Mas como para desencorajar os leitores ávidos pelos segredos e fatos curiosos, Bourdieu abre seu Esboço de auto-análise com uma epígrafe receosa: "Isto não é uma autobiografia". Essa declaração é ao mesmo tempo um guia de leitura e uma advertência contra as interpretações a que o texto pode conduzir. O que se busca, ao contrário, é a análise, ou mais propriamente uma auto-análise, o que significa tomar como último objeto de reflexão sua trajetória e com isso objetivar a si mesmo como autor para compreender-se a partir de seus próprios conceitos. Mas por que tomou a si mesmo como objeto, Bourdieu não deixa claro. Talvez pela mesma razão porque se escrevem autobiografias: elas correspondem à necessidade subjetiva de retrospecto, de revisão, de síntese dos que chegam ao fim e olham para trás. Coerente com sua crítica à ilusão biográfica 1 , reafirmou mais uma vez seu compromisso e gosto pela pesquisa sociológica, tornando o livro, nas palavras de Sérgio Miceli, "a resposta veemente a um roteiro quase típico-ideal de perguntas, que permitiriam deslindar a história social de um autor" (MICELI, 2005, p. 8).

ESCRITA DE SI: UMA ILUSÃO AUTOBIOGRÁFICA

Este artigo realiza uma discussão em torno da escrita de si, tal como é apresentada em Michel Foucault, e da autobiografia, conforme é apontado por Philippe Lejeune, buscando evidenciar suas aproximações, limites e conflitos conceituais no que concerne às pesquisas autobiográficas na modernidade. Realiza-se então uma discussão em torno da Escrita de Si em seu aspecto mais geral e a seguir em seus aspectos mais específicos, que seja a sua concepção no universo greco-romano e no universo cristão. Em seguida apontamos para uma reflexão sobre a autobiografia na modernidade, evidenciando suas conceituações e características. Para então apontarmos para uma leitura particular a respeito da relação estabelecida entre a escrita de si e a autobiografia. De modo que o artigo interrompe as discussões apontando para os equívocos e os riscos em se aproximar em uma modernidade, a perspectiva de Escrita de Si de Foucault da abordagem de Autobiografia de Lejeune.

Ceticismo e tolerância em Montaigne

Montaigne's skepticism in the practical and moral realms is characterized by the lack of criteria or rules of conduct so that one could attain a general pattern of behavior or tradition. The period in which he lived was propitious to reinforce the following scenario: the religious wars in France and all over Europe and the discovery of the peoples in the New World were fundamental factors for the growth of philosophical doubts regarding individual behavior and organized society. Nevertheless, Montaigne denounces the cruelties committed in his time, whether among the indigenous people or between Catholics and Protestants, and often argues in favor of freedom of conscience and opinion. In this paper I will show that Montaigne's Philosophy, despite his skepticism, is susceptible to a general idea of tolerance that traspasses different peoples and individuals, even though the concept of tolerance is not systematized in his writings and such a defense seems incompatible with a certain kind of skepticism.

Princípios Da Autoeducaçãoe Fenomenologiao Exemplo Deautodesenvolvimento De Goethe

Poiésis, 2014

Resumo Este artigo apresenta uma análise fenomenológica da autoeducação. A educação é processo de interação, diálogo e intersubjetividade. A autoeducação é processo de transformação de si mesmo (intra-ação), monólogo e intrasubjetividade. A autoeducação apresenta dois princípios fundamentais: o da recursividade e o da unicidade. Educador e educando são simultaneamente ativos no sujeito que se autoeduca. Cada sujeito pode ter um objeto, um modo e um motivo específicos para sua autoeducação. O estudo analisa como foi o processo de autoeducação de Goethe. A natureza era o tema de sua autoeducação, uma fenomenologia instruidora dos sentidos e da cognição foi o seu modo e o motivo era a busca da essência das coisas. Chega-se à conclusão de que o ponto principal do sentido da autoeducação é a criação de sentido a partir da esfera significante, que dá significado e coesão ao existir.

Autoficção - Interstícios Libertários da Dramaturgia

Repertório

Trataremos da autoficção na composição de dramaturgias contemporâneas como algo inerente à liberdade criadora, apostando no relato sobre si como espécie de caminho para a compreensão de si e ação no mundo, o qual depende de níveis de ficcionalização para gerar acordos que construam uma nova realidade. É disso que precisamos sempre: um mergulho – se possível abissal – em nossa realidade para reinventá-la como ato ético via expressividades singulares, que estão no bojo de nosso território estético. Estabeleceremos um diálogo entre a perspectiva de teatro horizontal (JACOPINI, 2018), a teoria da pulsão de ficção (SPERBER, 2009) e postulados sobre dramaturgia em campo expandido (SÁNCHEZ, 2010 e QUILICI, 2014), enxergando a expansão do campo como uma possibilidade de trabalho sobre si mesmo nas criações contemporâneas, numa tentativa de reconexão com o mundo, numa espécie de expurgo da realidade exterior, no empenho de reconstruí-la.What do you want to do ?New mailCopy What do you want ...