Senso-comum como política de Estado: “mulher” e “família” na política pública anti-gênero e a nova gramática dos direitos humanos no governo de Jair Bolsonaro (original) (raw)

“Família” e a nova gramática dos Direitos Humanos no governo de Jair Bolsonaro (2019-2021)

Mecila Working Paper Series, 2023

Este trabalho pretende oferecer evidências de como usos estratégicos da categoria “família” pelo Estado podem funcionar como ferramentas na construção de uma abordagem conservadora dos Direitos Humanos, redesenhando a convivialidade e ao mesmo tempo apagando discursivamente desigualdades ao tratar problemas sociais como questões meramente morais. Para fazer isso, o trabalho analisa o caso do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos entre os anos de 2019 e 2021, durante o governo de extrema direita de Jair Bolsonaro no Brasil, por meio de uma análise do uso do YouTube pelo ministério junto a um exame de inspiração etnográfica da documentação e legislação disponível em seus canais digitais oficiais no período. As análises são apresentadas em duas seções: (i) a primeira abre o debate teórico refletindo sobre as relações e tensões entre “família” e Estado enquanto uma disputa acerca de como a convivialidade é regulada, num sentido amplo, ressaltando algumas características da categoria “família” nas políticas públicas que podem ter contribuído com o fenômeno analisado; (ii) a segunda seção parte do exame de documentos para discutir como a inserção da categoria “família” no discurso sobre políticas públicas do dito ministério embasou uma disputa própria sobre o sentido de “Direitos Humanos”. Essa segunda seção reflete, ainda, sobre como o foco na “família” parece ser parte de uma tática efetiva para materializar a política anti-Gênero de forma a apagar institucionalmente desigualdades que as políticas públicas de Direitos Humanos buscariam, em tese, atenuar ou resolver.

A antipolítica de gênero no governo Bolsonaro e suas dinâmicas de violência

Revista de Estudios Brasileños, 2020

As ofensivas do governo brasileiro em relação ao debate sobre gênero e sexualidades têm sido uma constante desde a última campanha presidencial. Neste estudo, analisamos discursos sustentados por seus representantes que centralizam as discussões num ponto comum e investiga-se como se tem dado a repercussão prática desses discursos, que foram postos como importantes eixos de um entendimento ideológico partidário específico. De acordo com a perspectiva crítica introduzida pela teoria queer, busca-se traçar um breve panorama, na conjuntura internacional, da percepção do Brasil a respeito de pautas ligadas à igualdade de gênero e à diversidade, assim como abordar a questão a nível nacional, entendendo-a a partir de uma relação indissociável com as dinâmicas de violência.

Transversalidade de gênero em política pública

Revista Estudos Feministas, 2021

Resumo: Analises de politicas de igualdade de genero habitam as fronteiras entre dois campos do conhecimento cientifico: estudos feministas e politica publica. Buscando convergir as contribuicoes desses dois campos, debatemos o conceito de transversalidade de genero em politica publica neste ensaio teorico. Para isso, estabelecemos conexoes entre eles e o conceito de enquadramento de politica publica. Como resultado, definimos transversalidade de genero como um processo de incorporacao de perspectivas feministas no enquadramento de politicas publicas, tanto na construcao do problema publico, quanto na definicao do curso da acao publica. Identificamos que esse processo se materializa no desenvolvimento de condicoes institucionais, propiciando a aderencia das politicas as agendas politicas feministas.

Movimento de mulheres e estado: ambiguidades da incorporação de gênero nas políticas públicas em Londrina

2001

Dissertação (mestrado) - Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Filosofia e Ciências Humanas. Programa de Pós-Graduação em Sociologia PolíticaNesta pesquisa procura-se analisar a dinâmica do processo de introdução de gênero nas políticas públicas, no contexto de Londrina. Para tanto, parte-se do estudo da relação entre seus principais atores, o movimento de mulheres e as "novas institucionalidades estatais" e de como esses/as atores/atrizes articulam a perspectiva de gênero em suas práticas coletivas. Em suas práticas, os/as atores/atrizes podem sempre construir novos significados para as categorias que operam, buscando lhe dar maior instrumentalidade em seus cotidianos. O esforço empreendido na análise foi de captar como a utilização da linguagem de gênero está relacionada, ou não, à busca pelo empoderamento das mulheres e por mudanças nas relações de poder fundadas no gênero, de forma a questionar e combater a subordinação feminina. Nesta direção, há muitos li...