Flavia Trocoli - Academia.edu (original) (raw)

Papers by Flavia Trocoli

Research paper thumbnail of Administrador,+the+sisters+...carolina+alfaro+PDFA-Duplex

Research paper thumbnail of Impossibilidade e Impotência: Trajetórias Da Representação Em Clarice Lispector

Revista Letras, 2004

A barata, em A paixão segundo G.H., 1964, e Macabéa, em A hora da estrela, 1977, são a ênfase rad... more A barata, em A paixão segundo G.H., 1964, e Macabéa, em A hora da estrela, 1977, são a ênfase radical naquilo que resiste à captura pela palavra e provocam efeitos distintos na escritura dos textos. Atrelando linguagem, alteridade e subjetividade, o ensaio analisa comparativamente a função que a palavra assume em cada uma das obras mencionadas. Função que remete à possibilidade ou à impossibilidade de representação do real e a uma possível melancolização daí decorrente. Em A paixão segundo G.H., a narradora-protagonista depara-se com a impossibilidade de representação. Impossibilidade que, através da configuração de uma verdadeira poética da fragmentação, ganha uma dimensão de revelação e libertação. Em A hora da estrela, diante da personagem que não pode se tornar sujeito da enunciação e que nem por isso vincula-se integralmente ao biológico, a palavra torna-se impotente e, no entanto, é impossível calar. A fragmentação e a contradição tornam-se uma ética que, no entanto, não imped...

Research paper thumbnail of Sob as flores - Hélène Cixous reescreve inscrições apagadas de Proust, de Freud

Alea: Estudos Neolatinos

Resumo A narradora de Ève s’évade - la ruine et la vie, 2009, de Hélène Cixous, está diante do en... more Resumo A narradora de Ève s’évade - la ruine et la vie, 2009, de Hélène Cixous, está diante do envelhecimento e dos últimos tempos de vida de sua mãe Ève. Nas primeiras páginas, escutamos as vozes de Dante, Montaigne e Ève e chegamos à voz do sonho que não tarda a nos levar à viagem em que Freud, fugindo do nazismo, vai a Londres para “morrer em liberdade”. Neste breve ensaio, nos demoraremos nos modos de citação, cifração e decifração de cenas proustianas, no centro do palco, e de cenas freudianas, em volta do palco, pela escrita de Cixous. Buscaremos mostrar como essas cenas, lidas e relidas, se transformam, como as chamaremos livremente, em palavras-valise - omifiée/Omification, bergotter, rêvasion - e realizam o desejo de transformar a morte em literatura, desejo que acontece na transformação libertadora da palavra, que, entre cenas literárias e psicanalíticas, conjuga outros tempos, modos e vozes.

Research paper thumbnail of A autobiografia e o diário como feridas na lógica da representação literária

Revista Criação & Crítica

Este artigo propõe pensar três momentos do trabalho de construção da escrita em Marguerite Duras,... more Este artigo propõe pensar três momentos do trabalho de construção da escrita em Marguerite Duras, em Nuno Ramos e em Vera Lins, como inseparável de um trabalho simultâneo de destruição, reencenando a relação tensa entre obra e não-obra, em que a escrita estaria justamente no intervalo entre o já escrito e o por escrever. Os textos aqui analisados não estão integralmente ao lado da literatura, pelo contrário, eles mostram como são afetados por aquilo que, a princípio, deveria ser seu fora: a autobiografia e o diário. Tensão que não deixa de ser, para dizer com Jacques Derrida, uma paixão da literatura.

Research paper thumbnail of Literatura e psicanálise: de uma relação que não fosse de aplicação

Se o inconsciente e um leitor e se Freud fez um ato sem precedentes de transformar narrativas lit... more Se o inconsciente e um leitor e se Freud fez um ato sem precedentes de transformar narrativas literarias em teoria, como quer Shoshana Felman, e ainda em Freud que podemos delinear, pelo menos, dois modos de relacionar a literatura e a psicanalise, a saber: a literatura como modo de formalizacao da teoria psicanalitica (da tragedia ao complexo ou do efeito de estranho no conto ao conceito de estranho no ensaio), a psicanalise aplicada a vida e a obra do autor (Dostoievski). No tocante a complexa relacao, nem Freud escapou a tentacao da explicacao. Freud, leitor de romances do seculo XIX, escreveu casos; Lacan, leitor de Mallarme, James Joyce e Marguerite Duras, forjou um estilo em que literatura e psicanalise estao em relacao de heterogeneidade e de disjuncao.

Research paper thumbnail of Kafka, um poeta da "prosa miúda

Revista Terceira Margem, 2013

Em "Catorze contos exemplares", Modesto Carone nos deixa saber que, em um intervalo de seis meses... more Em "Catorze contos exemplares", Modesto Carone nos deixa saber que, em um intervalo de seis meses, Franz Kafka se recolheu na minúscula casa da rua dos Alquimistas, em Praga, para dedicar-se à escrita, longe da repartição e da casa paterna. Nesse conjunto de casinhas, que lembram imediatamente aquelas dos contos de fada, alquimistas da Idade Média travavam uma luta de vida e morte para transformar chumbo em ouro. Para aqueles que desesperavam do êxito, a saída era se atirar no precipício que se abria nos fundos daquelas portas baixas e estreitas. É nesse cenário que Kafka escreverá aquilo que ele chamou de "prosa miúda". Após tal designação, Kafka afirma duas vezes a seu editor, Kurt Wolff, que "O veredicto" se confunde com um po

Research paper thumbnail of A hora da estrela – história de aflição e aflição das formas

O artigo busca atraves da analise de algumas cenas e procedimentos de A hora da estrela , 1977, d... more O artigo busca atraves da analise de algumas cenas e procedimentos de A hora da estrela , 1977, de Clarice Lispector, revisitar alguns aspectos formais – romanesco, autobiografico, ensaistico, dramatico – para a suspensao dos nomes, o perguntar e a falta de resposta. Formas que nao deveriam permitir nenhum enunciado generalizante, consensual, pois sao elas que engendram e sao engendradas por uma moca nordestina que, em sua existencia rala, foi vista pelo narrador numa rua do Rio de Janeiro. Talvez a maior crueldade do livro esteja neste ponto: fazer perguntas, as mais agudas, nao salva Macabea do pior que, no fim do livro, nao poderia ser mais concreto: a sarjeta. E o pior, tambem ele, ou sobretudo ele, nao deixa de exigir uma forma.

Research paper thumbnail of Ver Antígone em (quase) toda mulher: Ruth Klüger e Emma Zunz

Este ensaio propoe uma leitura das ressonâncias da tragedia Antigone, de Sofocles, tal como inter... more Este ensaio propoe uma leitura das ressonâncias da tragedia Antigone, de Sofocles, tal como interpretada por Jacques Lacan, no relato autobiografico de Ruth Kluger e na acao da personagem Emma Zunz, do conto homonimo de Jorge Luis Borges. Destaco e analiso, primeiro, a diferenca entre um desejo de morte da personagem sofocliana e um luto efetuado pela sobrevivente da Shoah e, em seguida, a homologia entre Antigone e Emma Zunz em relacao a um desejo mortifero e a uma impossibilidade de luto, isto e, de separacao dos mortos. Resume : Cet essai propose une lecture des resonances de la tragedie d’Antigone, de Sophocle, tel qu’elle est interpretee par Jacques Lacan, dans le recit autobiographique de Ruth Kluger et dans l’action de Emma Zunz, personnage de la nouvelle homonyme de Jorge Luis Borges. La difference entre un desir de mort de Antigone et le deuil accompli de Kluger sera ici analyser, ainsi que l’homologie entre Antigone et Emma Zunz en ce qui concerne leur desir mortel et leur...

Research paper thumbnail of Notas Breves Sobre a Infância Nos Contos De Clarice Lispector

Educativa, 2015

Resumo: este texto parte do pressuposto segundo o qual se le um texto sempre em relacao a outro, ... more Resumo: este texto parte do pressuposto segundo o qual se le um texto sempre em relacao a outro, implicita ou explicitamente, e propoe-se a indicar caminhos para pensar os modos de representacao da infância em alguns textos de Clarice Lispector. Dessa proposta, apreende-se que a infância em Lispector sempre se desvia da idealizacao e da moral instituida e, seguindo esta vertente afastada de toda simplificacao, mostrarei tambem que, tambem ao escrever para criancas, a autora coloca em cena sofisticados procedimentos narrativos. Palavras-Chave: Clarice Lispector; Infância; Literatura Infantil.

Research paper thumbnail of O Despertar Da Primavera: Pelos Desfiladeiros Da Sexualidade

Spring awakening, by Frank Wedekind, written in 1890, drew Freud’s and Lacan’s attention, both ha... more Spring awakening, by Frank Wedekind, written in 1890, drew Freud’s and Lacan’s attention, both having dedicated themselves to investigate it, leaving theoretical possibilities that open ways for dialogues between the literary aspect of dramaturgy and psychoanalytical theory. The characters Melchior, Moritz and Wendla show their subjectivities in different discursive forms at the specific moment of their lives in which the passage from childhood to adulthood occurs. The advent of sexuality in dreams and daydreams is presented as the main thread of the plot and the object of this research work, in relation to the destinies of the protagonists.

Research paper thumbnail of Literatura e psicanálise: de uma relação que não fosse de aplicação

Se o inconsciente e um leitor e se Freud fez um ato sem precedentes de transformar narrativas lit... more Se o inconsciente e um leitor e se Freud fez um ato sem precedentes de transformar narrativas literarias em teoria, como quer Shoshana Felman, e ainda em Freud que podemos delinear, pelo menos, dois modos de relacionar a literatura e a psicanalise, a saber: a literatura como modo de formalizacao da teoria psicanalitica (da tragedia ao complexo ou do efeito de estranho no conto ao conceito de estranho no ensaio), a psicanalise aplicada a vida e a obra do autor (Dostoievski). No tocante a complexa relacao, nem Freud escapou a tentacao da explicacao. Freud, leitor de romances do seculo XIX, escreveu casos; Lacan, leitor de Mallarme, James Joyce e Marguerite Duras, forjou um estilo em que literatura e psicanalise estao em relacao de heterogeneidade e de disjuncao.

Research paper thumbnail of Apresentação: Kafka, um poeta da "prosa miúda

Em “Catorze contos exemplares”, Modesto Carone nos deixa saber que, em um intervalo de seis meses... more Em “Catorze contos exemplares”, Modesto Carone nos deixa saber que, em um intervalo de seis meses, Franz Kafka se recolheu na minuscula casa da rua dos Alquimistas, em Praga, para dedicar-se a escrita, longe da reparticao e da casa paterna. Nesse conjunto de casinhas, que lembram imediatamente aquelas dos contos de fada, alquimistas da Idade Media travavam uma luta de vida e morte para transformar chumbo em ouro. Para aqueles que desesperavam do exito, a saida era se atirar no precipicio que se abria nos fundos daquelas portas baixas e estreitas. E nesse cenario que Kafka escrevera aquilo que ele chamou de “prosa miuda”.

Research paper thumbnail of Clarice Lispector, Hélène Cixous, e a Miopia como Procedimento

Research paper thumbnail of Ver Antígone em (quase) toda mulher: Ruth Klüger e Emma Zunz

Revista Terceira Margem, 2013

Research paper thumbnail of Insistir no Eu, destronar o Eu, passar à literatura: movimentos da obra de Hélène Cixous

Alea: Estudos Neolatinos

Resumo Jacques Derrida, ao delinear as paixões de que padece a literatura, formula: “Não há essên... more Resumo Jacques Derrida, ao delinear as paixões de que padece a literatura, formula: “Não há essência nem substância da literatura: a literatura não é, não existe, não se demora na identidade de uma natureza.” Lendo fragmentos extraídos da obra de Hélène Cixous, colocarei à prova essa proposição para pensar se o insistir no Eu, sem conferir uma identidade a ele, o destrona de seus atributos, fazendo dele, como das próprias obras, um “objeto literário não identificável.” Como se “a linguagem fosse escutada pela primeira vez”, tanto o Eu quanto a escrita são figurados através de sobreposições e apagamentos de traços históricos e autobiográficos que fundam um lugar de terror e, ao mesmo tempo, de ressurreição, o que se poderia chamar de passagem à literatura. E não seria esse entrelaçamento entre a linguagem escutada pela primeira vez, evento e realidade psíquica aquilo que Derrida chamou de “hiperrealismo ficcional”?

Research paper thumbnail of O Despertar Da Primavera: Pelos Desfiladeiros Da Sexualidade

Revista Graphos, Apr 7, 2011

Research paper thumbnail of Nuno e a linguagem das coisas abandonadas

Remate de Males

Gostaríamos de ressaltar o quanto as ficções participam de uma estrutura de verdade, o quanto o d... more Gostaríamos de ressaltar o quanto as ficções participam de uma estrutura de verdade, o quanto o discurso que constrói a verdade reflete – especula – o seu antípoda de uma forma que não é propriamente crítica. No fundo, talvez esta seja uma forma de dizer que tanto ciência quanto literatura se constróem através de linguagem, e que ambas estão necessariamente atadas à dimensão do simbólico, à necessidade de mediação, de duplos e de fantasmas que afastam o grande e insuportável real, e assim criam a possibilidade de registrá-lo e referi-lo. A literatura, talvez, e a literatura de Nuno Ramos, certamente, diferentemente da ciência mostra o efeito da barra que, separando significante e significado, enunciação e enunciado, faz com que todas as junções se tornem precárias, provisórias, díspares em sua unidade estilhaçada.

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Revista Letras, 2004

A barata, em A paixão segundo G.H., 1964, e Macabéa, em A hora da estrela, 1977, são a ênfase rad... more A barata, em A paixão segundo G.H., 1964, e Macabéa, em A hora da estrela, 1977, são a ênfase radical naquilo que resiste à captura pela palavra e provocam efeitos distintos na escritura dos textos. Atrelando linguagem, alteridade e subjetividade, o ensaio analisa comparativamente a função que a palavra assume em cada uma das obras mencionadas. Função que remete à possibilidade ou à impossibilidade de representação do real e a uma possível melancolização daí decorrente. Em A paixão segundo G.H., a narradora-protagonista depara-se com a impossibilidade de representação. Impossibilidade que, através da configuração de uma verdadeira poética da fragmentação, ganha uma dimensão de revelação e libertação. Em A hora da estrela, diante da personagem que não pode se tornar sujeito da enunciação e que nem por isso vincula-se integralmente ao biológico, a palavra torna-se impotente e, no entanto, é impossível calar. A fragmentação e a contradição tornam-se uma ética que, no entanto, não imped...

Research paper thumbnail of Sob as flores - Hélène Cixous reescreve inscrições apagadas de Proust, de Freud

Alea: Estudos Neolatinos

Resumo A narradora de Ève s’évade - la ruine et la vie, 2009, de Hélène Cixous, está diante do en... more Resumo A narradora de Ève s’évade - la ruine et la vie, 2009, de Hélène Cixous, está diante do envelhecimento e dos últimos tempos de vida de sua mãe Ève. Nas primeiras páginas, escutamos as vozes de Dante, Montaigne e Ève e chegamos à voz do sonho que não tarda a nos levar à viagem em que Freud, fugindo do nazismo, vai a Londres para “morrer em liberdade”. Neste breve ensaio, nos demoraremos nos modos de citação, cifração e decifração de cenas proustianas, no centro do palco, e de cenas freudianas, em volta do palco, pela escrita de Cixous. Buscaremos mostrar como essas cenas, lidas e relidas, se transformam, como as chamaremos livremente, em palavras-valise - omifiée/Omification, bergotter, rêvasion - e realizam o desejo de transformar a morte em literatura, desejo que acontece na transformação libertadora da palavra, que, entre cenas literárias e psicanalíticas, conjuga outros tempos, modos e vozes.

Research paper thumbnail of A autobiografia e o diário como feridas na lógica da representação literária

Revista Criação & Crítica

Este artigo propõe pensar três momentos do trabalho de construção da escrita em Marguerite Duras,... more Este artigo propõe pensar três momentos do trabalho de construção da escrita em Marguerite Duras, em Nuno Ramos e em Vera Lins, como inseparável de um trabalho simultâneo de destruição, reencenando a relação tensa entre obra e não-obra, em que a escrita estaria justamente no intervalo entre o já escrito e o por escrever. Os textos aqui analisados não estão integralmente ao lado da literatura, pelo contrário, eles mostram como são afetados por aquilo que, a princípio, deveria ser seu fora: a autobiografia e o diário. Tensão que não deixa de ser, para dizer com Jacques Derrida, uma paixão da literatura.

Research paper thumbnail of Literatura e psicanálise: de uma relação que não fosse de aplicação

Se o inconsciente e um leitor e se Freud fez um ato sem precedentes de transformar narrativas lit... more Se o inconsciente e um leitor e se Freud fez um ato sem precedentes de transformar narrativas literarias em teoria, como quer Shoshana Felman, e ainda em Freud que podemos delinear, pelo menos, dois modos de relacionar a literatura e a psicanalise, a saber: a literatura como modo de formalizacao da teoria psicanalitica (da tragedia ao complexo ou do efeito de estranho no conto ao conceito de estranho no ensaio), a psicanalise aplicada a vida e a obra do autor (Dostoievski). No tocante a complexa relacao, nem Freud escapou a tentacao da explicacao. Freud, leitor de romances do seculo XIX, escreveu casos; Lacan, leitor de Mallarme, James Joyce e Marguerite Duras, forjou um estilo em que literatura e psicanalise estao em relacao de heterogeneidade e de disjuncao.

Research paper thumbnail of Kafka, um poeta da "prosa miúda

Revista Terceira Margem, 2013

Em "Catorze contos exemplares", Modesto Carone nos deixa saber que, em um intervalo de seis meses... more Em "Catorze contos exemplares", Modesto Carone nos deixa saber que, em um intervalo de seis meses, Franz Kafka se recolheu na minúscula casa da rua dos Alquimistas, em Praga, para dedicar-se à escrita, longe da repartição e da casa paterna. Nesse conjunto de casinhas, que lembram imediatamente aquelas dos contos de fada, alquimistas da Idade Média travavam uma luta de vida e morte para transformar chumbo em ouro. Para aqueles que desesperavam do êxito, a saída era se atirar no precipício que se abria nos fundos daquelas portas baixas e estreitas. É nesse cenário que Kafka escreverá aquilo que ele chamou de "prosa miúda". Após tal designação, Kafka afirma duas vezes a seu editor, Kurt Wolff, que "O veredicto" se confunde com um po

Research paper thumbnail of A hora da estrela – história de aflição e aflição das formas

O artigo busca atraves da analise de algumas cenas e procedimentos de A hora da estrela , 1977, d... more O artigo busca atraves da analise de algumas cenas e procedimentos de A hora da estrela , 1977, de Clarice Lispector, revisitar alguns aspectos formais – romanesco, autobiografico, ensaistico, dramatico – para a suspensao dos nomes, o perguntar e a falta de resposta. Formas que nao deveriam permitir nenhum enunciado generalizante, consensual, pois sao elas que engendram e sao engendradas por uma moca nordestina que, em sua existencia rala, foi vista pelo narrador numa rua do Rio de Janeiro. Talvez a maior crueldade do livro esteja neste ponto: fazer perguntas, as mais agudas, nao salva Macabea do pior que, no fim do livro, nao poderia ser mais concreto: a sarjeta. E o pior, tambem ele, ou sobretudo ele, nao deixa de exigir uma forma.

Research paper thumbnail of Ver Antígone em (quase) toda mulher: Ruth Klüger e Emma Zunz

Este ensaio propoe uma leitura das ressonâncias da tragedia Antigone, de Sofocles, tal como inter... more Este ensaio propoe uma leitura das ressonâncias da tragedia Antigone, de Sofocles, tal como interpretada por Jacques Lacan, no relato autobiografico de Ruth Kluger e na acao da personagem Emma Zunz, do conto homonimo de Jorge Luis Borges. Destaco e analiso, primeiro, a diferenca entre um desejo de morte da personagem sofocliana e um luto efetuado pela sobrevivente da Shoah e, em seguida, a homologia entre Antigone e Emma Zunz em relacao a um desejo mortifero e a uma impossibilidade de luto, isto e, de separacao dos mortos. Resume : Cet essai propose une lecture des resonances de la tragedie d’Antigone, de Sophocle, tel qu’elle est interpretee par Jacques Lacan, dans le recit autobiographique de Ruth Kluger et dans l’action de Emma Zunz, personnage de la nouvelle homonyme de Jorge Luis Borges. La difference entre un desir de mort de Antigone et le deuil accompli de Kluger sera ici analyser, ainsi que l’homologie entre Antigone et Emma Zunz en ce qui concerne leur desir mortel et leur...

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Educativa, 2015

Resumo: este texto parte do pressuposto segundo o qual se le um texto sempre em relacao a outro, ... more Resumo: este texto parte do pressuposto segundo o qual se le um texto sempre em relacao a outro, implicita ou explicitamente, e propoe-se a indicar caminhos para pensar os modos de representacao da infância em alguns textos de Clarice Lispector. Dessa proposta, apreende-se que a infância em Lispector sempre se desvia da idealizacao e da moral instituida e, seguindo esta vertente afastada de toda simplificacao, mostrarei tambem que, tambem ao escrever para criancas, a autora coloca em cena sofisticados procedimentos narrativos. Palavras-Chave: Clarice Lispector; Infância; Literatura Infantil.

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Spring awakening, by Frank Wedekind, written in 1890, drew Freud’s and Lacan’s attention, both ha... more Spring awakening, by Frank Wedekind, written in 1890, drew Freud’s and Lacan’s attention, both having dedicated themselves to investigate it, leaving theoretical possibilities that open ways for dialogues between the literary aspect of dramaturgy and psychoanalytical theory. The characters Melchior, Moritz and Wendla show their subjectivities in different discursive forms at the specific moment of their lives in which the passage from childhood to adulthood occurs. The advent of sexuality in dreams and daydreams is presented as the main thread of the plot and the object of this research work, in relation to the destinies of the protagonists.

Research paper thumbnail of Literatura e psicanálise: de uma relação que não fosse de aplicação

Se o inconsciente e um leitor e se Freud fez um ato sem precedentes de transformar narrativas lit... more Se o inconsciente e um leitor e se Freud fez um ato sem precedentes de transformar narrativas literarias em teoria, como quer Shoshana Felman, e ainda em Freud que podemos delinear, pelo menos, dois modos de relacionar a literatura e a psicanalise, a saber: a literatura como modo de formalizacao da teoria psicanalitica (da tragedia ao complexo ou do efeito de estranho no conto ao conceito de estranho no ensaio), a psicanalise aplicada a vida e a obra do autor (Dostoievski). No tocante a complexa relacao, nem Freud escapou a tentacao da explicacao. Freud, leitor de romances do seculo XIX, escreveu casos; Lacan, leitor de Mallarme, James Joyce e Marguerite Duras, forjou um estilo em que literatura e psicanalise estao em relacao de heterogeneidade e de disjuncao.

Research paper thumbnail of Apresentação: Kafka, um poeta da "prosa miúda

Em “Catorze contos exemplares”, Modesto Carone nos deixa saber que, em um intervalo de seis meses... more Em “Catorze contos exemplares”, Modesto Carone nos deixa saber que, em um intervalo de seis meses, Franz Kafka se recolheu na minuscula casa da rua dos Alquimistas, em Praga, para dedicar-se a escrita, longe da reparticao e da casa paterna. Nesse conjunto de casinhas, que lembram imediatamente aquelas dos contos de fada, alquimistas da Idade Media travavam uma luta de vida e morte para transformar chumbo em ouro. Para aqueles que desesperavam do exito, a saida era se atirar no precipicio que se abria nos fundos daquelas portas baixas e estreitas. E nesse cenario que Kafka escrevera aquilo que ele chamou de “prosa miuda”.

Research paper thumbnail of Clarice Lispector, Hélène Cixous, e a Miopia como Procedimento

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Revista Terceira Margem, 2013

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Alea: Estudos Neolatinos

Resumo Jacques Derrida, ao delinear as paixões de que padece a literatura, formula: “Não há essên... more Resumo Jacques Derrida, ao delinear as paixões de que padece a literatura, formula: “Não há essência nem substância da literatura: a literatura não é, não existe, não se demora na identidade de uma natureza.” Lendo fragmentos extraídos da obra de Hélène Cixous, colocarei à prova essa proposição para pensar se o insistir no Eu, sem conferir uma identidade a ele, o destrona de seus atributos, fazendo dele, como das próprias obras, um “objeto literário não identificável.” Como se “a linguagem fosse escutada pela primeira vez”, tanto o Eu quanto a escrita são figurados através de sobreposições e apagamentos de traços históricos e autobiográficos que fundam um lugar de terror e, ao mesmo tempo, de ressurreição, o que se poderia chamar de passagem à literatura. E não seria esse entrelaçamento entre a linguagem escutada pela primeira vez, evento e realidade psíquica aquilo que Derrida chamou de “hiperrealismo ficcional”?

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Revista Graphos, Apr 7, 2011

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Remate de Males

Gostaríamos de ressaltar o quanto as ficções participam de uma estrutura de verdade, o quanto o d... more Gostaríamos de ressaltar o quanto as ficções participam de uma estrutura de verdade, o quanto o discurso que constrói a verdade reflete – especula – o seu antípoda de uma forma que não é propriamente crítica. No fundo, talvez esta seja uma forma de dizer que tanto ciência quanto literatura se constróem através de linguagem, e que ambas estão necessariamente atadas à dimensão do simbólico, à necessidade de mediação, de duplos e de fantasmas que afastam o grande e insuportável real, e assim criam a possibilidade de registrá-lo e referi-lo. A literatura, talvez, e a literatura de Nuno Ramos, certamente, diferentemente da ciência mostra o efeito da barra que, separando significante e significado, enunciação e enunciado, faz com que todas as junções se tornem precárias, provisórias, díspares em sua unidade estilhaçada.