Vania Perciani | UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA (original) (raw)
Papers by Vania Perciani
Kindlers Literatur Lexikon (KLL), 2020
O jogo, enquanto função significante, depreende sentido. No jogo transparece algo que ultrapassa ... more O jogo, enquanto função significante, depreende sentido. No jogo transparece algo que ultrapassa e transfigura as necessidades primordiais da vida, quer seja caráter físico, ou biológico; e confere um sentido, desenvolvimento e destino à ação. Todo jogo estabelece relação entre personagens e acontecimentos, como eles se movem e marcam o tempo e o espaço no qual são inseridos. O jogo - tomando de empréstimo o conceito de Divino, exposto no Evangelho de João - é a expressão de um verbo criando uma realidade autônoma; é também uma ponte entre o que se é percebido e entendido pelo sentidos e sua efabulação imaginária; uma ligação afetiva, simultaneamente séria e divertida, entre o reiterado objetivo e o imprevisível subjetivo, feitos, um e outro, presença, através de contínuas e progressivas decodificações, desconstruções e recriações do objeto pretexto para o jogo. O mito, o culto; a ciência; as relações sociais; a linguagem, as artes, os esportes - enfim: tudo que se imbui do motor criação, da despersonalização do ordinário para encarnação do extra-ordinário; do erigir um como que templo, têmeno, tempo que morde o próprio rabo e eterniza o instante, fulcro de passado e futuro cristalizado no agora do espaço espelho de si consigo, ou de si com o outro - isto, síntese - é o jogo.
este trabalho pretende convergir os pressupostos de O prazer do texto, de Roland Barthes, com os ... more este trabalho pretende convergir os pressupostos de O prazer do texto, de Roland Barthes, com os preceitos da Estética da Recepção. Barthes, ao logo do livro, considera sobre o prazer e a fruição provocados pelo texto e vivenciados pelo leitor durante o ato da leitura. Neste aspecto, é de grande importância a participação do leitor para a criação de uma e várias possibilidades significativas dentro do espaço aberto que é a obra literária, levando-o a preencher-lhe os espaços vazios oferecidos e fazendo-o questionar-se sobre a relação e o valor que a obra tem para consigo.
Introdução ao movimento histórico que levou a Semiologia a aprofundar-se, diversificar-se, fragme... more Introdução ao movimento histórico que levou a Semiologia a aprofundar-se, diversificar-se, fragmentar-se (até a contradizer-se), mantendo um diálogo constante e transformador com o estruturalismo enológico (Lévi-Strauss), a psicanálise (Lacan), a análise de estruturas literárias (formalistas russos, Propp), a filosofia (Derrida), o marxismo (Althusser), a teoria do texto (Sollers, Kristeva). Sendo linguagem questionando continuamente linguagem, assume duas ações específicas: a de derrubar antigas ideologias e dar forma a uma nova relação social do saber. A palavra se reveste de uma responsabilidade humana, histórica, filosófica e política. (Roland Barthes)
O presente trabalho é uma síntese elaborada a partir das práticas artísticas com diversas linguag... more O presente trabalho é uma síntese elaborada a partir das práticas artísticas com diversas linguagens e meios, ou seja: a multimídia e intermídia, práticas estas que vem de longa data e que sempre tomaram como centro de imantação a linguagem visual assim como trabalhos interdisciplinares de outros artistas. É também produto de uma reflexão sobre a teoria semiótica de Charles Peirce, que dá apoio à Teoria da tradução Intersemiótica. (Júlio Plaza)
A criação científica é uma atividade e uma instituição. Como atividade, designa o processo de inv... more A criação científica é uma atividade e uma instituição. Como atividade, designa o processo de investigação que leva o investigador a produzir a obra científica. Como uma instituição é uma estrutura constituída por três elementos: o sujeito, o objeto e o meio. (...) A atual metodologia da investigação. consagrando a unidade do saber investigar com o saber estudar, promove a uniformização das técnicas de trabalho, de molde a desimpedir o caminho da criação científica da pesada herança que o institucionalismo e improvisação impuseram à prática cientifica portuguesa. (Hamilton Costa)
Durante muito tempo, os folcloristas se defrontaram com o fato da semelhança entre os esquemas na... more Durante muito tempo, os folcloristas se defrontaram com o fato da semelhança entre os esquemas narrativos dos
povos mais diversos, entre os quais dificilmente se encontrariam vestígios de contato. (...) O método de análise das narrativas segundo as funções das personagens se revele útil também para os gêneros narrativos não só do folclore, mas também da literatura. Todavia, os métodos propostos neste volume antes do aparecimento do estruturalismo, bem como os métodos dos estruturalistas, que almejam o estudo objetivo e exato da literatura, possuem também seus limites de aplicação. Eles são possíveis e fecundos no caso de uma repetição em ampla escala. (...) Por mais que Propp fale no "irrepetível" e no "milagre" da grande obra literária, ao mesmo tempo ele vê uma relação íntima entre o folclore e a literatura, conforme se pode constatar, entre outros, no trabalho "Édipo à
luz do folclore” no qual as variantes folclóricas da estória são dadas justamente como um aos meios de comprovar o que há de comum entre a obra teatral e essas variantes. (...)
Em "O específico do folclore", ao mesmo tempo que insiste nesta especificidade, chega a afirmar: "... vemos que entre o folclore e a literatura não só existe íntima ligação, mas que o folclore, como tal, é um fenômeno de natureza literária. Ele é uma das formas da criação poética". Boris Shnaiderman.
A primeira parte deste volume dedica-se a analisar signos, divisão triádica básica, classes, noçõ... more A primeira parte deste volume dedica-se a analisar signos, divisão triádica básica, classes, noções de significado e interpretante, bem como as normas e a natureza das combinações dos signos em proposições e juízos. A segunda parte formula as questões filosóficas fundamentais em Peirce, expondo as bases do seu "Pragmatismo", e as razões do seu posterior "Pragmaticismo", fazendo uma resenha crítica do que o autor considerava as principais tendências filosóficas de seu tempo. A última parte trata de um breve ensaio, "Consciência e Linguagem", onde Peirce delineia uma "semiótica do homem", e de uma análise das obras de Berkeley, a qual apresenta questões relevantes à relação indivíduo-sociedade.
Os gregos criaram a grande arte trágica, um dos maiores feitos no campo do espírito, mas não dese... more Os gregos criaram a grande arte trágica, um dos maiores feitos no campo do espírito, mas não desenvolveram uma teoria do trágico que se ampliasse além da plasmação do trágico no drama e chegasse a envolver a concepção do mundo como um todo. São trabalhados conceitos como ; a culpa trágica; o sentido do acontecer trágico; o conflito trágico; além de serem desenvolvidas questões como: a cosmovisão trágica implica em um universo organizado ou absurdo?; o mistério do mundo pressupõe um sentido captável pelo entendimento humano?; existe resposta além do eco oco de um silêncio frio e impassível?
Anatol Rosenfeld.
Este trabalho busca mostrar como João Cabral de Melo Neto, conseguiu vencer, em sua obra, o silên... more Este trabalho busca mostrar como João Cabral de Melo Neto, conseguiu vencer, em sua obra, o silêncio que o ameaçava desde seus primeiros versos. A conquista de sua voz se dá quando o autor empreende uma volta ao passado, às origens da línguas e literaturas ibéricas num movimento diacrônico. Ele encontra formas capazes de resistir à contemporânea crise de linguagem, ao mesmo tempo que serve-se delas para a expressão de uma subjetividade ficcional extemporânea, busca de uma voz além da pessoa autor real cotidiana.
De todas as formas de vida neste planeta, apenas nós podemos plantar e semear os campos, compor m... more De todas as formas de vida neste planeta, apenas nós podemos plantar e semear os campos, compor música e poesia, buscar a verdade e a justiça, ensinar uma criança a ler e escrever - ou mesmo a rir e chorar. Em razão de nossa habilidade incomparável para imaginar novas realidades e concretizá-las através de tecnologias ainda mais avançadas, somos literalmente parceiros em nossa própria evolução. No entanto, esta mesma espécie maravilhosa parece dedicar-se a dar um fim não só a nossa evolução mas à grande maioria da vida no globo, ameaçando nosso planeta com a catástrofe ecológica ou a aniquilação nuclear.
Ao reunir evidências da arte, arqueologia, religião, ciências sociais, história e muitos outros campos de indagação em novos modelos que se adequam melhor aos elementos disponíveis, O Cálice e a Espada conta uma nova história de nossas origens culturais. Mostra que a guerra e a "guerra dos sexos" não são de ordem divina nem biológica. E oferece evidências de que um futuro melhor é possível — na verdade está firmemente enraizado no drama obsessivo daquilo que de
fato aconteceu em nosso passado.
O centro do pensamento de Roland Barthes: o problema da significação. Homo significans: o homem f... more O centro do pensamento de Roland Barthes: o problema da significação. Homo significans: o homem fabricador de signos, “liberdade que os homens têm de tornar as coisas significantes”, “o processo propriamente humano pelo qual os homens dão sentido às coisas”, eis o objeto essencial de suas pesquisas.
O artigo traça um perfil da virada que Machado de Assis promove no estilo e no conteúdo da sua ob... more O artigo traça um perfil da virada que Machado de
Assis promove no estilo e no conteúdo da sua obra a partir
da publicação de Memórias póstumas de Brás Cubas e de “O
alienista” no início da década de 1880. Aborda os temas da
loucura e da paixão na obra ficcional, nas crônicas e no teatro
do autor, mostrando como esta mudança na obra machadiana
pode ser inserida numa linhagem de autores identificados com
a chamada sátira menipeia.
UFES, Ruy Perini - Loucura e Paixão em Machado de Assis.
A produção literária de Machado de Assis é marcada pelo binômio literatura e filosofia. Nesta dis... more A produção literária de Machado de Assis é marcada pelo binômio literatura e filosofia. Nesta dissertação, mostramos que Quincas Borba é fruto da simbiose literário-filosófica.
A partir do cotejo desse romance com a metafísica da vontade de
Schopenhauer, observamos o rendimento estético da obra, menos como atenuante para as dores da vida do que como aspecto potencializado justamente pela entrega a especulações sobre o que fazemos sobre a terra.
XAVIER, Anderson da Costa. Machado de Assis e Arthur Schopenhauer: Literatura e filosofia em Quincas Borba.
"Nascido em Samósata (125 -181 d.c.), província romana da Síria, Luciano escreveu sua obra durant... more "Nascido em Samósata (125 -181 d.c.), província romana da Síria, Luciano escreveu sua obra durante o reinado de Marcus Aurelius, e fora reconhecido por dar continuidade a um gênero satírico criado por Menipo de Gadara, qual seja, o denominado diálogo satírico. Esse gênero híbrido caracterizava-se por mesclar harmoniosamente a comédia e o diálogo filosófico, gêneros absolutamente díspares, uma vez que o diálogo oriundo da tradição platônica era visto como uma
espécie de sermo nobilis, isto é, uma forma filosófico-discursiva sublime, ao passo em que a comédia era considerada um gênero inferior. (...)
Para além do caráter neutro e ataráxico do narrador, muitas das sátiras de Luciano buscavam extrapolar qualquer controle à fantasia e à imaginação na criação ficcional. Imperava nessas obras, tais
como em Uma História Verdadeira, um princípio de absoluta liberdade estética em relação ao princípio da verossimilhança. Talvez por essa razão, a obra de Luciano seja vista como a precursora antiga do
surrealismo e das histórias de ficção científica, narrando viagens à lua, encontros com extraterrestres e imagens de baleias aladas, entre outros. (...)
Certamente por ser um autor que cortejava a ficção do absurdo e a derrisão filosófica, Luciano jamais tenha sido levado a sério como filósofo. De fato, sua progênie é composta majoritariamente por autores adeptos de uma filosofia semificcional, como Thomas Morus e Erasmus, autores que privilegiavam o tema da loucura e da alucinação criativa. A proximidade com o delírio poético fora a tônica de todo o corpus lucianeum, e sua relação com a tradição filosófica pregressa, uma permanente derrisão. Para ele, todas as tentativas de fundar o
mundo sobre um fundamento filosófico deveriam ser derrotadas pelo riso. (...)
A educação moral luciânica, nesse sentido, ocorre pela via tragicômica, (...) o homem (...) passa por um processo de metamorfose cuja função é expor o próprio homem a sua estupidez,“oferecendo-lhe uma oportunidade rara de avaliar o mundo sob uma perspectiva privilegiada que é simultaneamente humana (pela razão) e animal (pelo suporte orgânico)”, conduzindo-nos a uma descrença ética quanto a valores consolidados acerca da superioridade da espécie humana. "
ALMEIDA, Ranieri Ribas de - A História como Ontologia do Mundo - Luciano de Samosata
A literatura menipeia não é feita para distrair o leitor: é parte vital da busca pessoal, de comp... more A literatura menipeia não é feita para distrair o leitor: é parte vital da busca pessoal, de compreensão, interpretação e interferência na existência. Não possui forma fixa. Amalgama-se e se desconstrói em todos os gêneros. Nela, há a presença do riso, do ridículo, da paródia e do grotesco.
Tais características são retomadas por Machado de Assis, reinaugurando-as em Memórias Póstumas de Brás Cubas. O leitor, nesta obra, não é implicitamente suposto enquanto espectador da narrativa de vida de Brás Cubas. Ele participa ativamente do espetáculo, espécie de personagem-leitor, experienciando junto ao "defunto autor" e toda a galeria de personagens que com ele contracena, uma existência de carnaval, banalização e acomodação irônica do ser indivíduo em sua existência medíocre e sem sentido.
Castro Rocha coloca o núcleo da mudança da poética machadiana - qual seja, o "controle da interpr... more Castro Rocha coloca o núcleo da mudança da poética machadiana - qual seja, o "controle da interpretação" - a partir de Memórias Póstumas de Brás Cubas. Trata-se de um afastamento do modelo narrativo monofônico para uma estética aberta, na qual se cobra o envolvimento do leitor na construção de hipóteses interpretativas.
Machado de Assis assume-se leitor da tradição cultural ocidental - não para eruditamente citá-la, ou enaltecê-la, mas para reescrevê-la, estabelecendo um diálogo entre: os paradigmas estéticos status quo, até então reconhecidos e assimilados; a circunvolução do eu narrativo - defunto autor - nas tramas da escritura de suas Memórias; e as conjecturas do leitor.
A crítica de Barthes talvez não se dirija tanto ao autor, mas a outra noção, de origem romântica... more A crítica de Barthes talvez não se dirija tanto ao autor, mas a outra noção, de origem romântica, por este conceito metaforizada: a de literatura como expressão de um eu pessoal circunscrito à sua realidade existencial objetiva.
Entendendo as proposições de Barthes a partir deste ângulo, podemos perceber seu ataque contundente a uma prática tradicional na Teoria Literária: interpretar a obra a partir das declarações, da biografia ou da psicologia do escritor.
Explicar um texto tendo como moderador o autor implica pensar, necessariamente, que palavras literalmente decodifiquem ideias; que intentar o ato criador se transfigure em deliberação premeditada à escrita; enfim, que "tudo já existe antes do tempo ser".
Na concepção barthesiana, a existência de sentido único, principal, é axioma autoritário. Haver muitos sentidos significa não haver um “sentido último”. Destrói-se, desta forma, o mediador - o crítico - entre leitor e obra. O leitor toma posse de sua leitura, e se re-estabelece "a verdade lúdica da escritura".
Esta nova entidade, mais que um personagem histórico, finito às suas relações e interpretações com o mundo no qual se insere, é um espaço aberto de possibilidades: “onde se inscrevem, sem que nenhuma se perca, todas as citações de que é feita uma escritura”.
O leitor, assim, se torna, ele mesmo, mediador entre si e a obra, e a ela confere coerência, verdade, unidade : “a unidade do texto não está em sua origem, mas no seu destino”.
"Dar um Autor a um texto é impor a esse texto um mecanismo de segurança, é dotá-lo de um signific... more "Dar um Autor a um texto é impor a esse texto um mecanismo de
segurança, é dotá-lo de um significado último, é fechar a escrita. Esta concepção convém perfeitamente à critica, que pretende então atribuir-se a tarefa importante de descobrir o Autor (ou as suas hipóstases: a sociedade, a história, a psique, a liberdade) sob a obra: encontrado o Autor, o texto é «explicado», o critico venceu; não há pois nada de espantoso no fato de, historicamente, o reino do Autor ter sido também o do Critico, nem no de a critica (ainda que nova) ser hoje abalada ao mesmo tempo que o Autor. (...)
Na escrita moderna, com efeito, tudo está por deslindar, mas nada está por decifrar; a literatura (mais valia dizer, a partir de agora, a escrita), ao recusar consignar ao texto (e ao mundo como texto) um «segredo», quer dizer, um sentido último, liberta uma atividade a que poderíamos chamar contra-teológica, propriamente revolucionária, pois recusar parar o sentido é, afinal,recusar Deus e as suas hipóstases, a razão, a ciência, a lei."
BARTHES, Roland - A Morte do Autor.
O jogo, enquanto função significante, depreende sentido. No jogo transparece algo que ultrapassa ... more O jogo, enquanto função significante, depreende sentido. No jogo transparece algo que ultrapassa e transfigura as necessidades primordiais da vida, quer seja caráter físico, ou biológico; e confere um sentido, desenvolvimento e destino à ação.
Todo jogo estabelece relação entre personagens e acontecimentos, como eles se movem e marcam o tempo e o espaço no qual são inseridos.
O jogo - tomando de empréstimo o conceito de Divino, exposto no Evangelho de João - é a expressão de um verbo criando uma realidade autônoma; é também uma ponte entre o que se é percebido e entendido pelo sentidos e sua efabulação imaginária; uma ligação afetiva, simultaneamente séria e divertida, entre o reiterado objetivo e o imprevisível subjetivo, feitos, um e outro, presença, através de contínuas e progressivas decodificações, desconstruções e recriações do objeto pretexto para o jogo.
O mito, o culto; a ciência; as relações sociais; a linguagem, as artes, os esportes - enfim: tudo que se imbui do motor criação, da despersonalização do ordinário para encarnação do extra-ordinário; do erigir um como que templo, têmeno, tempo que morde o próprio rabo e eterniza o instante, fulcro de passado e futuro cristalizado no agora do espaço espelho de si consigo, ou de si com o outro - isto, síntese - é o jogo.
Kindlers Literatur Lexikon (KLL), 2020
O jogo, enquanto função significante, depreende sentido. No jogo transparece algo que ultrapassa ... more O jogo, enquanto função significante, depreende sentido. No jogo transparece algo que ultrapassa e transfigura as necessidades primordiais da vida, quer seja caráter físico, ou biológico; e confere um sentido, desenvolvimento e destino à ação. Todo jogo estabelece relação entre personagens e acontecimentos, como eles se movem e marcam o tempo e o espaço no qual são inseridos. O jogo - tomando de empréstimo o conceito de Divino, exposto no Evangelho de João - é a expressão de um verbo criando uma realidade autônoma; é também uma ponte entre o que se é percebido e entendido pelo sentidos e sua efabulação imaginária; uma ligação afetiva, simultaneamente séria e divertida, entre o reiterado objetivo e o imprevisível subjetivo, feitos, um e outro, presença, através de contínuas e progressivas decodificações, desconstruções e recriações do objeto pretexto para o jogo. O mito, o culto; a ciência; as relações sociais; a linguagem, as artes, os esportes - enfim: tudo que se imbui do motor criação, da despersonalização do ordinário para encarnação do extra-ordinário; do erigir um como que templo, têmeno, tempo que morde o próprio rabo e eterniza o instante, fulcro de passado e futuro cristalizado no agora do espaço espelho de si consigo, ou de si com o outro - isto, síntese - é o jogo.
este trabalho pretende convergir os pressupostos de O prazer do texto, de Roland Barthes, com os ... more este trabalho pretende convergir os pressupostos de O prazer do texto, de Roland Barthes, com os preceitos da Estética da Recepção. Barthes, ao logo do livro, considera sobre o prazer e a fruição provocados pelo texto e vivenciados pelo leitor durante o ato da leitura. Neste aspecto, é de grande importância a participação do leitor para a criação de uma e várias possibilidades significativas dentro do espaço aberto que é a obra literária, levando-o a preencher-lhe os espaços vazios oferecidos e fazendo-o questionar-se sobre a relação e o valor que a obra tem para consigo.
Introdução ao movimento histórico que levou a Semiologia a aprofundar-se, diversificar-se, fragme... more Introdução ao movimento histórico que levou a Semiologia a aprofundar-se, diversificar-se, fragmentar-se (até a contradizer-se), mantendo um diálogo constante e transformador com o estruturalismo enológico (Lévi-Strauss), a psicanálise (Lacan), a análise de estruturas literárias (formalistas russos, Propp), a filosofia (Derrida), o marxismo (Althusser), a teoria do texto (Sollers, Kristeva). Sendo linguagem questionando continuamente linguagem, assume duas ações específicas: a de derrubar antigas ideologias e dar forma a uma nova relação social do saber. A palavra se reveste de uma responsabilidade humana, histórica, filosófica e política. (Roland Barthes)
O presente trabalho é uma síntese elaborada a partir das práticas artísticas com diversas linguag... more O presente trabalho é uma síntese elaborada a partir das práticas artísticas com diversas linguagens e meios, ou seja: a multimídia e intermídia, práticas estas que vem de longa data e que sempre tomaram como centro de imantação a linguagem visual assim como trabalhos interdisciplinares de outros artistas. É também produto de uma reflexão sobre a teoria semiótica de Charles Peirce, que dá apoio à Teoria da tradução Intersemiótica. (Júlio Plaza)
A criação científica é uma atividade e uma instituição. Como atividade, designa o processo de inv... more A criação científica é uma atividade e uma instituição. Como atividade, designa o processo de investigação que leva o investigador a produzir a obra científica. Como uma instituição é uma estrutura constituída por três elementos: o sujeito, o objeto e o meio. (...) A atual metodologia da investigação. consagrando a unidade do saber investigar com o saber estudar, promove a uniformização das técnicas de trabalho, de molde a desimpedir o caminho da criação científica da pesada herança que o institucionalismo e improvisação impuseram à prática cientifica portuguesa. (Hamilton Costa)
Durante muito tempo, os folcloristas se defrontaram com o fato da semelhança entre os esquemas na... more Durante muito tempo, os folcloristas se defrontaram com o fato da semelhança entre os esquemas narrativos dos
povos mais diversos, entre os quais dificilmente se encontrariam vestígios de contato. (...) O método de análise das narrativas segundo as funções das personagens se revele útil também para os gêneros narrativos não só do folclore, mas também da literatura. Todavia, os métodos propostos neste volume antes do aparecimento do estruturalismo, bem como os métodos dos estruturalistas, que almejam o estudo objetivo e exato da literatura, possuem também seus limites de aplicação. Eles são possíveis e fecundos no caso de uma repetição em ampla escala. (...) Por mais que Propp fale no "irrepetível" e no "milagre" da grande obra literária, ao mesmo tempo ele vê uma relação íntima entre o folclore e a literatura, conforme se pode constatar, entre outros, no trabalho "Édipo à
luz do folclore” no qual as variantes folclóricas da estória são dadas justamente como um aos meios de comprovar o que há de comum entre a obra teatral e essas variantes. (...)
Em "O específico do folclore", ao mesmo tempo que insiste nesta especificidade, chega a afirmar: "... vemos que entre o folclore e a literatura não só existe íntima ligação, mas que o folclore, como tal, é um fenômeno de natureza literária. Ele é uma das formas da criação poética". Boris Shnaiderman.
A primeira parte deste volume dedica-se a analisar signos, divisão triádica básica, classes, noçõ... more A primeira parte deste volume dedica-se a analisar signos, divisão triádica básica, classes, noções de significado e interpretante, bem como as normas e a natureza das combinações dos signos em proposições e juízos. A segunda parte formula as questões filosóficas fundamentais em Peirce, expondo as bases do seu "Pragmatismo", e as razões do seu posterior "Pragmaticismo", fazendo uma resenha crítica do que o autor considerava as principais tendências filosóficas de seu tempo. A última parte trata de um breve ensaio, "Consciência e Linguagem", onde Peirce delineia uma "semiótica do homem", e de uma análise das obras de Berkeley, a qual apresenta questões relevantes à relação indivíduo-sociedade.
Os gregos criaram a grande arte trágica, um dos maiores feitos no campo do espírito, mas não dese... more Os gregos criaram a grande arte trágica, um dos maiores feitos no campo do espírito, mas não desenvolveram uma teoria do trágico que se ampliasse além da plasmação do trágico no drama e chegasse a envolver a concepção do mundo como um todo. São trabalhados conceitos como ; a culpa trágica; o sentido do acontecer trágico; o conflito trágico; além de serem desenvolvidas questões como: a cosmovisão trágica implica em um universo organizado ou absurdo?; o mistério do mundo pressupõe um sentido captável pelo entendimento humano?; existe resposta além do eco oco de um silêncio frio e impassível?
Anatol Rosenfeld.
Este trabalho busca mostrar como João Cabral de Melo Neto, conseguiu vencer, em sua obra, o silên... more Este trabalho busca mostrar como João Cabral de Melo Neto, conseguiu vencer, em sua obra, o silêncio que o ameaçava desde seus primeiros versos. A conquista de sua voz se dá quando o autor empreende uma volta ao passado, às origens da línguas e literaturas ibéricas num movimento diacrônico. Ele encontra formas capazes de resistir à contemporânea crise de linguagem, ao mesmo tempo que serve-se delas para a expressão de uma subjetividade ficcional extemporânea, busca de uma voz além da pessoa autor real cotidiana.
De todas as formas de vida neste planeta, apenas nós podemos plantar e semear os campos, compor m... more De todas as formas de vida neste planeta, apenas nós podemos plantar e semear os campos, compor música e poesia, buscar a verdade e a justiça, ensinar uma criança a ler e escrever - ou mesmo a rir e chorar. Em razão de nossa habilidade incomparável para imaginar novas realidades e concretizá-las através de tecnologias ainda mais avançadas, somos literalmente parceiros em nossa própria evolução. No entanto, esta mesma espécie maravilhosa parece dedicar-se a dar um fim não só a nossa evolução mas à grande maioria da vida no globo, ameaçando nosso planeta com a catástrofe ecológica ou a aniquilação nuclear.
Ao reunir evidências da arte, arqueologia, religião, ciências sociais, história e muitos outros campos de indagação em novos modelos que se adequam melhor aos elementos disponíveis, O Cálice e a Espada conta uma nova história de nossas origens culturais. Mostra que a guerra e a "guerra dos sexos" não são de ordem divina nem biológica. E oferece evidências de que um futuro melhor é possível — na verdade está firmemente enraizado no drama obsessivo daquilo que de
fato aconteceu em nosso passado.
O centro do pensamento de Roland Barthes: o problema da significação. Homo significans: o homem f... more O centro do pensamento de Roland Barthes: o problema da significação. Homo significans: o homem fabricador de signos, “liberdade que os homens têm de tornar as coisas significantes”, “o processo propriamente humano pelo qual os homens dão sentido às coisas”, eis o objeto essencial de suas pesquisas.
O artigo traça um perfil da virada que Machado de Assis promove no estilo e no conteúdo da sua ob... more O artigo traça um perfil da virada que Machado de
Assis promove no estilo e no conteúdo da sua obra a partir
da publicação de Memórias póstumas de Brás Cubas e de “O
alienista” no início da década de 1880. Aborda os temas da
loucura e da paixão na obra ficcional, nas crônicas e no teatro
do autor, mostrando como esta mudança na obra machadiana
pode ser inserida numa linhagem de autores identificados com
a chamada sátira menipeia.
UFES, Ruy Perini - Loucura e Paixão em Machado de Assis.
A produção literária de Machado de Assis é marcada pelo binômio literatura e filosofia. Nesta dis... more A produção literária de Machado de Assis é marcada pelo binômio literatura e filosofia. Nesta dissertação, mostramos que Quincas Borba é fruto da simbiose literário-filosófica.
A partir do cotejo desse romance com a metafísica da vontade de
Schopenhauer, observamos o rendimento estético da obra, menos como atenuante para as dores da vida do que como aspecto potencializado justamente pela entrega a especulações sobre o que fazemos sobre a terra.
XAVIER, Anderson da Costa. Machado de Assis e Arthur Schopenhauer: Literatura e filosofia em Quincas Borba.
"Nascido em Samósata (125 -181 d.c.), província romana da Síria, Luciano escreveu sua obra durant... more "Nascido em Samósata (125 -181 d.c.), província romana da Síria, Luciano escreveu sua obra durante o reinado de Marcus Aurelius, e fora reconhecido por dar continuidade a um gênero satírico criado por Menipo de Gadara, qual seja, o denominado diálogo satírico. Esse gênero híbrido caracterizava-se por mesclar harmoniosamente a comédia e o diálogo filosófico, gêneros absolutamente díspares, uma vez que o diálogo oriundo da tradição platônica era visto como uma
espécie de sermo nobilis, isto é, uma forma filosófico-discursiva sublime, ao passo em que a comédia era considerada um gênero inferior. (...)
Para além do caráter neutro e ataráxico do narrador, muitas das sátiras de Luciano buscavam extrapolar qualquer controle à fantasia e à imaginação na criação ficcional. Imperava nessas obras, tais
como em Uma História Verdadeira, um princípio de absoluta liberdade estética em relação ao princípio da verossimilhança. Talvez por essa razão, a obra de Luciano seja vista como a precursora antiga do
surrealismo e das histórias de ficção científica, narrando viagens à lua, encontros com extraterrestres e imagens de baleias aladas, entre outros. (...)
Certamente por ser um autor que cortejava a ficção do absurdo e a derrisão filosófica, Luciano jamais tenha sido levado a sério como filósofo. De fato, sua progênie é composta majoritariamente por autores adeptos de uma filosofia semificcional, como Thomas Morus e Erasmus, autores que privilegiavam o tema da loucura e da alucinação criativa. A proximidade com o delírio poético fora a tônica de todo o corpus lucianeum, e sua relação com a tradição filosófica pregressa, uma permanente derrisão. Para ele, todas as tentativas de fundar o
mundo sobre um fundamento filosófico deveriam ser derrotadas pelo riso. (...)
A educação moral luciânica, nesse sentido, ocorre pela via tragicômica, (...) o homem (...) passa por um processo de metamorfose cuja função é expor o próprio homem a sua estupidez,“oferecendo-lhe uma oportunidade rara de avaliar o mundo sob uma perspectiva privilegiada que é simultaneamente humana (pela razão) e animal (pelo suporte orgânico)”, conduzindo-nos a uma descrença ética quanto a valores consolidados acerca da superioridade da espécie humana. "
ALMEIDA, Ranieri Ribas de - A História como Ontologia do Mundo - Luciano de Samosata
A literatura menipeia não é feita para distrair o leitor: é parte vital da busca pessoal, de comp... more A literatura menipeia não é feita para distrair o leitor: é parte vital da busca pessoal, de compreensão, interpretação e interferência na existência. Não possui forma fixa. Amalgama-se e se desconstrói em todos os gêneros. Nela, há a presença do riso, do ridículo, da paródia e do grotesco.
Tais características são retomadas por Machado de Assis, reinaugurando-as em Memórias Póstumas de Brás Cubas. O leitor, nesta obra, não é implicitamente suposto enquanto espectador da narrativa de vida de Brás Cubas. Ele participa ativamente do espetáculo, espécie de personagem-leitor, experienciando junto ao "defunto autor" e toda a galeria de personagens que com ele contracena, uma existência de carnaval, banalização e acomodação irônica do ser indivíduo em sua existência medíocre e sem sentido.
Castro Rocha coloca o núcleo da mudança da poética machadiana - qual seja, o "controle da interpr... more Castro Rocha coloca o núcleo da mudança da poética machadiana - qual seja, o "controle da interpretação" - a partir de Memórias Póstumas de Brás Cubas. Trata-se de um afastamento do modelo narrativo monofônico para uma estética aberta, na qual se cobra o envolvimento do leitor na construção de hipóteses interpretativas.
Machado de Assis assume-se leitor da tradição cultural ocidental - não para eruditamente citá-la, ou enaltecê-la, mas para reescrevê-la, estabelecendo um diálogo entre: os paradigmas estéticos status quo, até então reconhecidos e assimilados; a circunvolução do eu narrativo - defunto autor - nas tramas da escritura de suas Memórias; e as conjecturas do leitor.
A crítica de Barthes talvez não se dirija tanto ao autor, mas a outra noção, de origem romântica... more A crítica de Barthes talvez não se dirija tanto ao autor, mas a outra noção, de origem romântica, por este conceito metaforizada: a de literatura como expressão de um eu pessoal circunscrito à sua realidade existencial objetiva.
Entendendo as proposições de Barthes a partir deste ângulo, podemos perceber seu ataque contundente a uma prática tradicional na Teoria Literária: interpretar a obra a partir das declarações, da biografia ou da psicologia do escritor.
Explicar um texto tendo como moderador o autor implica pensar, necessariamente, que palavras literalmente decodifiquem ideias; que intentar o ato criador se transfigure em deliberação premeditada à escrita; enfim, que "tudo já existe antes do tempo ser".
Na concepção barthesiana, a existência de sentido único, principal, é axioma autoritário. Haver muitos sentidos significa não haver um “sentido último”. Destrói-se, desta forma, o mediador - o crítico - entre leitor e obra. O leitor toma posse de sua leitura, e se re-estabelece "a verdade lúdica da escritura".
Esta nova entidade, mais que um personagem histórico, finito às suas relações e interpretações com o mundo no qual se insere, é um espaço aberto de possibilidades: “onde se inscrevem, sem que nenhuma se perca, todas as citações de que é feita uma escritura”.
O leitor, assim, se torna, ele mesmo, mediador entre si e a obra, e a ela confere coerência, verdade, unidade : “a unidade do texto não está em sua origem, mas no seu destino”.
"Dar um Autor a um texto é impor a esse texto um mecanismo de segurança, é dotá-lo de um signific... more "Dar um Autor a um texto é impor a esse texto um mecanismo de
segurança, é dotá-lo de um significado último, é fechar a escrita. Esta concepção convém perfeitamente à critica, que pretende então atribuir-se a tarefa importante de descobrir o Autor (ou as suas hipóstases: a sociedade, a história, a psique, a liberdade) sob a obra: encontrado o Autor, o texto é «explicado», o critico venceu; não há pois nada de espantoso no fato de, historicamente, o reino do Autor ter sido também o do Critico, nem no de a critica (ainda que nova) ser hoje abalada ao mesmo tempo que o Autor. (...)
Na escrita moderna, com efeito, tudo está por deslindar, mas nada está por decifrar; a literatura (mais valia dizer, a partir de agora, a escrita), ao recusar consignar ao texto (e ao mundo como texto) um «segredo», quer dizer, um sentido último, liberta uma atividade a que poderíamos chamar contra-teológica, propriamente revolucionária, pois recusar parar o sentido é, afinal,recusar Deus e as suas hipóstases, a razão, a ciência, a lei."
BARTHES, Roland - A Morte do Autor.
O jogo, enquanto função significante, depreende sentido. No jogo transparece algo que ultrapassa ... more O jogo, enquanto função significante, depreende sentido. No jogo transparece algo que ultrapassa e transfigura as necessidades primordiais da vida, quer seja caráter físico, ou biológico; e confere um sentido, desenvolvimento e destino à ação.
Todo jogo estabelece relação entre personagens e acontecimentos, como eles se movem e marcam o tempo e o espaço no qual são inseridos.
O jogo - tomando de empréstimo o conceito de Divino, exposto no Evangelho de João - é a expressão de um verbo criando uma realidade autônoma; é também uma ponte entre o que se é percebido e entendido pelo sentidos e sua efabulação imaginária; uma ligação afetiva, simultaneamente séria e divertida, entre o reiterado objetivo e o imprevisível subjetivo, feitos, um e outro, presença, através de contínuas e progressivas decodificações, desconstruções e recriações do objeto pretexto para o jogo.
O mito, o culto; a ciência; as relações sociais; a linguagem, as artes, os esportes - enfim: tudo que se imbui do motor criação, da despersonalização do ordinário para encarnação do extra-ordinário; do erigir um como que templo, têmeno, tempo que morde o próprio rabo e eterniza o instante, fulcro de passado e futuro cristalizado no agora do espaço espelho de si consigo, ou de si com o outro - isto, síntese - é o jogo.