Pedro Thyago Ferreira | Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) (original) (raw)

Talks by Pedro Thyago Ferreira

Research paper thumbnail of Potência absoluta e ordenada em João Duns Scotus

Pretendo neste trabalho, a modo de ensaio, sistematizar alguns pontos do comentário de Scotus ao ... more Pretendo neste trabalho, a modo de ensaio, sistematizar alguns pontos do comentário de Scotus ao livro I, distinção 44, das Sentenças de Pedro Lombardo, com foco nas versões mais maduras da Ordinatio e da Reportatio. A minha exposição terá estas partes: na primeira, apresento um esquema geral de funcionamento das potências absoluta e ordenada; na segunda, aplico esse esquema ao caso de Deus, o legislador divino; na terceira, elucidam-se os tipos de leis que Deus tem sob o seu domínio; na quarta parte, mostra-se o uso por Scotus da distinção de potências ao tratar da possibilidade de salvação de Judas e do pecador ainda redimível. Por fim, respondo na conclusão se Scotus de fato adere ao modelo jurídico de compreensão das potências absoluta e ordenada.

Research paper thumbnail of Formaliter Ex Se, Principiative Per Intellectum Divinum. John Duns Scotus on the Possibility of the Divine Ideas

John Duns Scotus offers two grounds for the possibility of the divine ideas. The intrinsic-formal... more John Duns Scotus offers two grounds for the possibility of the divine ideas. The intrinsic-formal ground refers to the proper identity of an idea (formaliter ex se). So, a divine idea is possible because it is what it is. The causal-originative ground refers to God’s intellect which gives rise to ideas with their respective identities (principiative per intellectum divinum). So, a divine idea is possible because God’s intellect conceives it with a certain identity, instead of another. There is a long debate, mainly articulated by S. Knuuttila and C. Normore, about which ground is more important: while the former stresses the intrinsic-formal ground, the latter stresses the causal-originative one. I intend to develop here a view about Scotus’ modal account of divine ideas which is closer to Normore.

Research paper thumbnail of A Causa Primeira como intelligens: o papel do Intelecto Divino nas volições divinas ad extra segundo João Duns Scotus

Baseando-nos principalmente em Ordinatio, livro I, distinções 35, 36 e 38 e em Reportatio, livro... more Baseando-nos principalmente em Ordinatio, livro I, distinções 35, 36 e 38 e em
Reportatio, livro I, distinções 36 e 38, pretendemos apresentar brevemente a doutrina scotista sobre as ideias divinas e sobre o conhecimento divino acerca da existência extramental das criaturas para esclarecer o papel do Intelecto Divino no ato da criação e, por extensão, nas volições divinas direcionadas às criaturas, as quais doravante chamaremos de volições divinas ad extra. Esta comunicação dividir-se-á em três partes. Começaremos apresentando a definição scotista de ideia divina. Depois, descreveremos o conhecimento divino acerca da existência extramental das criaturas. Em seguida, elucidaremos o papel do Intelecto Divino nas volições divinas ad extra. Finalmente, apresentaremos uma breve conclusão

Research paper thumbnail of A subsistência da alma humana e das partes corpóreas em Tomas de Aquino

Tomás de Aquino é, em linhas gerais, um aristotélico cristão. Esta etiqueta clarifica-se se anali... more Tomás de Aquino é, em linhas gerais, um aristotélico cristão. Esta etiqueta clarifica-se se analisarmos o seu posicionamento acerca da natureza da alma humana. Enquanto aristotélico, defenderá que ela é a forma substancial do corpo. Enquanto cristão, defenderá
que ela é subsistente e incorruptível, isto é, que ela, respectivamente, não depende do corpo para existir e não se corrompe devido à dissolução do composto do qual faz parte.
Em Suma Teológica, livro I, questão 75, artigo 2, resposta à primeira objeção, Tomás mostrará que a subsistência é atribuível a dois tipos de coisas: primeiro, às coisas com natureza completa, ou seja, aos compostos; segundo, às coisas sem natureza completa, ou seja, às partes dos compostos. Interessante notar que no conjunto das coisas subsistentes sem natureza completa encontram-se a alma humana e as partes corpóreas, mas não as formas acidentais e as formas substanciais diferentes da alma humana. Disto, Tomás conclui que a alma humana e as partes corpóreas são partes do composto dotadas de subsistência.
Todavia, esta solução não explica o motivo da atribuição da subsistência a uma parte do composto e, ademais, incorre em um segundo problema: a aparente atribuição do mesmo sentido de subsistência à alma e às partes corpóreas. Brevemente, o segundo problema expressa-se assim: Tomás defende que a subsistência da alma é condição suficiente para provar a sua incorruptibilidade, mas que a subsistência das partes corpóreas não é condição suficiente para provar a incorruptibilidade destas. Assim, faz-se necessário distinguir os significados que a subsistência assume quando aplicada à alma e quando aplicada às partes corpóreas.
Portanto, esta comunicação procurará responder a duas perguntas: De que modo se pode atribuir a subsistência às partes de um composto? Há diferença no significado do termo subsistência quando aplicado à alma humana e quando aplicado às partes corpóreas? Nossa exposição dividir-se-á em duas partes: inicialmente, trataremos da alma e das partes corpóreas como substratos de faculdades e de operações; em seguida, trataremos delas como subsistentes e responderemos às perguntas apresentadas.

Research paper thumbnail of A alma humana como hoc aliquid e substância em Tomás de Aquino

Tomás de Aquino define a alma humana como a forma substancial do corpo humano potencialmente vivo... more Tomás de Aquino define a alma humana como a forma substancial do corpo humano potencialmente vivo, ou seja, como princípio de atualização da matéria, sendo responsável por torná-la uma substância da espécie humana e por conferir-lhe as faculdades e operações correspondentes a esta espécie. Todavia, a psicologia tomista apresenta vários elementos obscuros. Dentre eles, destaca-se a classificação da alma como substância e hoc aliquid.
Por um lado, o termo substância refere-se sobretudo aos compostos hilemórficos. Assim, um cão, uma pedra e uma rosa são chamados de substâncias, mas a alma sensitiva do
cão, a forma substancial da pedra e a alma vegetativa da rosa não são assim designados. Por outro, o termo hoc aliquid é a versão latina da expressão aristotélica tóde ti e possui diversas
traduções: este algo, algo determinado, alguma coisa, um certo isto ou algo designado. Comumente, hoc aliquid é referido aos compostos e não às suas partes. Assim, um cão, uma
pedra e uma rosa são chamados de hoc aliquid, mas a alma sensitiva do cão, a forma substancial da pedra e a alma vegetativa da rosa não são assim denominados.
Ora, se a alma humana é parte de um composto, como poderia ser chamada de substância e hoc aliquid? Isto não conduziria levaria a pensar que a alma tem o mesmo estatuto de um composto e não mais o estatuto de uma forma substancial?
O objetivo de nossa comunicação será, portanto, entender a estratégia subjacente à classificação dada por Tomás à alma
humana. Defendemos que ela remonta a Aristóteles e, por isso, nossa exposição terá duas partes: na primeira, trataremos dos significados de substância e hoc aliquid em Aristóteles; na segunda, trataremos dos significados destes termos em Tomás.

Research paper thumbnail of A Causa Primeira como volens: a Vontade Divina como fonte da contingência em João Duns Scotus

No quarto capítulo do Tratado sobre o Primeiro Princípio, João Duns Scotus defende que a Causa Pr... more No quarto capítulo do Tratado sobre o Primeiro Princípio, João Duns Scotus defende que a Causa Primeira é intelligens e volens, ou seja, dotada de intelecto e vontade, mediante cinco argumentos. Interessa-nos aqui o terceiro deles, endereçado ao Necessitarismo Greco-Árabe. Brevemente, o necessitarismo atribuído a Aristóteles, Avicena e Averróis afirma que Deus causa de modo necessário e considera as causas segundas naturais suscetíveis a impedimentos e as vontades criadas como os fundamentos da contingência do mundo. Em suma, ele endossa que a contingência se dá nos entes quanto às causas segundas, mas a sua necessidade quanto à Causa Primeira.
Para Scotus, entretanto, a contingência só é devidamente explicada caso seu fundamento seja transferido do modo de causação das causas segundas para o modo de causação da Causa Primeira. Por isso, segundo a nossa hipótese, seu argumento considera a liberdade da Causa Primeira como condição necessária e suficiente para a existência contingente dos efeitos e a sua produção contingente pelas causas segundas.
Nesta comunicação, pretendemos reconstruir este famoso argumento scotista, elucidando elementos que nos parecem nele implícitos. Para tanto, começaremos examinando a primeira parte do argumento, onde se supõe a existência contingente dos efeitos e a sua produção contingente pelas causas segundas. Em seguida, examinaremos

Research paper thumbnail of Partes Subsistentes. A subsistência da alma humana e das partes corpóreas em Tomás de Aquino

Para Tomás de Aquino, a alma humana é uma forma substancial capaz de subsistir por si, ou seja, d... more Para Tomás de Aquino, a alma humana é uma forma substancial capaz de subsistir por si, ou seja, de existir por si e não por causa de outro. Todavia, isto traz dificuldades ao seu pensamento. Geralmente, a subsistência é atribuída aos compostos hilemórficos e não às suas partes. Assim, se a alma humana é parte de um composto, ou seja, é a sua forma substancial, então não poderá subsistir por si. Para evitar esta conclusão, Tomás defende que a subsistência se atribui a dois grupos: (a) às coisas com natureza completa, ou seja, aos compostos; (b) às coisas sem natureza completa, ou seja, às partes corpóreas dos compostos. Ora, se a alma humana não tem natureza completa, então ela será subsistente no sentido (b).
Nesta resposta, parece-se atribuir o mesmo nível de subsistência à alma humana e às partes corpóreas. Entretanto, há um problema nesta solução: a subsistência consiste na capacidade de existir por si, de modo que as propriedades da subsistência e da existência separada parecem estar intimamente relacionadas. Contudo, a alma e as partes corpóreas não parecem satisfazer o mesmo nível de subsistência, pois a alma continua existindo quando separada do corpo e as partes corpóreas deixam de existir quando separadas do composto.
Nesta comunicação, procuraremos responder a duas perguntas: a subsistência possui o mesmo sentido quando atribuída à alma humana e às partes corpóreas? A subsistência e a existência separada estão sempre relacionadas?

Research paper thumbnail of Forma substancial subsistente: a alma humana como horizonte e confim em Tomás de Aquino

Para Tomás de Aquino, alma humana é fronteira (horizon) e limite (confinium) entre o mundo espiri... more Para Tomás de Aquino, alma humana é fronteira (horizon) e limite (confinium) entre o mundo espiritual e o corporal: ela é substância intelectual inferior, se olhada a partir de Deus (via descendente), e forma substancial superior, se vista a partir dos corpos materiais (via ascendente). Contudo, ambas as vias têm o mesmo peso explicativo? Qual o sentido daquelas duas caracterizações? Para responder a isto, dialogaremos com Bernardo Carlos Bazán e Massimiliano Lenzi, a fim de demonstrar que (a) as duas vias têm pesos diferentes e são complementares; (b) as duas caracterizações podem ser entendidas e resumidas pela definição forma substancial subsistente; (c) ser fronteira e limite é, para Tomás, o mesmo que ser forma substancial subsistente.

Research paper thumbnail of Há falácia de conteúdo no argumento tomista da universalidade do objeto?

No Comentário às Sentenças, Tomás de Aquino elenca três argumentos para provar a imaterialidade d... more No Comentário às Sentenças, Tomás de Aquino elenca três argumentos para provar a imaterialidade do intelecto humano: (a) o argumento da universalidade do âmbito: se o intelecto conhece todas as naturezas materiais e a matéria limita esta capacidade, então o intelecto deve ser imaterial; (b) o argumento da universalidade do objeto: se o intelecto conhece o universal e este é aquilo que é desprovido de materialidade, então o intelecto é imaterial; (c) o argumento do autoconhecimento: se o intelecto conhece a si mesmo e a materialidade impede este acesso, então o intelecto é imaterial. Por meio deles, o Aquinate pretende demonstrar a subsistência e a incorruptibilidade da alma racional.

Especialmente nos dois primeiros argumentos vai-se do conteúdo do intelecto para a sua natureza sem que fique claro o que possibilita tal passagem. Para Robert Pasnau e Joseph Novak, por exemplo, Tomás relaciona, sem justificativa, a individualidade ou universalidade enquanto propriedades representadas pelo pensamento e pelas formas intencionais com a materialidade ou imaterialidade enquanto propriedades intrínsecas do pensamento e das formas intencionais. Assim, o fato de o intelecto conhecer universalmente e de a espécie inteligível representar o universal seria condição necessária e suficiente para que eles sejam imateriais; igualmente, o fato de os sentidos conhecerem individualmente e de a espécie sensível representar o individual seria condição necessária e suficiente para que eles sejam materiais. Grosso modo, seria como raciocinar do seguinte modo: se eu penso na cor azul, então o meu pensamento é azul. Tal raciocínio foi batizado por Pasnau como falácia de conteúdo.

O crucial desta falácia está na ausência de razões para relacionar diretamente natureza intencional e natureza real. Fosse encontrado este vínculo, o argumento adquire consistência. Haveria em Tomás esta premissa intermediária? Esta será a pergunta à qual procuraremos responder através da análise do argumento da universalidade do objeto. Seguiremos o seguinte caminho: primeiro, reconstruiremos os passos da prova, sem preocupação com sua validade formal; depois, apresentaremos as críticas de Pasnau e Novak; por fim, apresentaremos e avaliaremos algumas respostas possíveis às suas críticas.

Book Reviews by Pedro Thyago Ferreira

Research paper thumbnail of MCCLUSKEY, C. Thomas Aquinas on Moral Wrongdoing. Cambridge: Cambridge University Press, 2017, 198 p.

Translatio. Caderno de resenhas do GT História da Filosofia Medieval e a Recepção da Filosofia Antiga, 2018

É comum que o problema do mal desperte grande interesse filosófico. Geralmente, ele é analisado s... more É comum que o problema do mal desperte grande interesse filosófico. Geralmente, ele é analisado sob dois pontos de vista: (a) a investigação sobre a natureza do mal; (b) a conciliação entre a existência do mal e a de Deus. Colleen McCluskey, em Thomas Aquinas on Moral Wrongdoing, deseja ir além dessas alternativas. Ela não pretende investigar o que é o erro ou o mal, mas, antes, entender o que é o agir errado e por que ele ocorre segundo o pensamento de Tomás de Aquino. Para a autora, Tomás procura desvendar a natureza e a causa do fenômeno do agir errado (wrongdoing) através de duas teses, a saber, da metafísica da bondade (visão privativa do mal) e, fundamentalmente, da natureza do homem e de suas ações (psicologia moral). Sua hipótese consiste em endossar que a filosofia moral tomista é útil para o entendimento e a avaliação dos dilemas éticos atuais. Com efeito, a filosofia moral tomista levaria à compreensão não só das causas por detrás das ações imorais, mas também dos remédios necessários para evitá-las. Nas palavras de McCluskey: “entender a fonte original do agir errado ajuda-nos a determinar respostas apropriadas às ações” (p. 176)

Research paper thumbnail of FITZPATRICK, A. Thomas Aquinas on Bodily Identity. Oxford: Oxford University Press, 2017, 224 p.

Translatio. Caderno de resenhas do GT História da Filosofia Medieval e a Recepção da Filosofia Antiga, 2017

Qual é a raiz da identidade pessoal e de sua continuidade ao longo do tempo? Seria a alma? Ou a m... more Qual é a raiz da identidade pessoal e de sua continuidade ao longo do tempo? Seria a alma? Ou a matéria? Tais questionamentos foram analisados pelos teólogos medievais a partir da discussão sobre a identidade entre o corpo mortal e o ressurreto. Dentre eles, destaca-se Tomás de Aquino, proponente da controversa doutrina da unicidade da forma substancial. Antonia Fitzpatrick, em Thomas Aquinas on Bodily Identity, investiga o importante papel da matéria/corpo na identidade pessoal, opondo-se a autores medievais e contemporâneos que, ao interpretar a doutrina tomista da unicidade da forma substancial, põem na alma todo o peso da individuação e da continuidade pessoal

Research paper thumbnail of AMERINI, F. Tommaso d’Aquino e l’intenzionalità. Pisa: Edizioni ETS, 2013, 223 p. (Coleção Philosophica, volume 117, série Viola)

Translatio. Caderno de resenhas do GT História da Filosofia Medieval e a Recepção da Filosofia Antiga, 2016

Há disputas acaloradas entre os medievalistas acerca do papel da intencionalidade na epistemologi... more Há disputas acaloradas entre os medievalistas acerca do papel da
intencionalidade na epistemologia tomista. Para alguns, a intencionalidade é condição necessária e suficiente para que haja conhecimento. As formas intencionais são intrinsecamente representativas (e, logo, cognoscíveis) e, por isso, só podem ser encontradas nos sentidos e no intelecto. Para outros, a intencionalidade possui um papel subalterno, pois a condição necessária e suficiente para o conhecimento é a imaterialidade. As formas intencionais se
tornam representativas e cognoscíveis quando unidas a substratos imateriais, ou seja, a faculdades cognitivas. Fabrizio Amerini está entre os defensores do papel crucial da imaterialidade na epistemologia do Aquinate (pp. 73-74). Mesmo assim, admite que a intencionalidade permanece como tema importante e exaustivamente retomado no "corpus thomisticum". Por isso, "Tommaso d’Aquino e l’intenzionalità" terá como objetivo investigar a teoria do conhecimento de Tomás de Aquino sob este aspecto.

Thesis Chapters by Pedro Thyago Ferreira

Research paper thumbnail of The Controversy Between Divine Arbitrariness and Divine Reasonability in John Duns Scotus

The present PhD thesis attempts to take a position in the face of two different interpretations g... more The present PhD thesis attempts to take a position in the face of two different interpretations given to God’s dealings with the creatures in John Duns Scotus (ca. 1265-1308). The first one, represented in particular by A. Wolter, states that Scotus’ God is a free, omnipotent and reasonable creator who is pleased to act towards the creatures in those ways fitting to them. The second one, represented in particular by T. Williams, states that Scotus’ God is a free, omnipotent and arbitrary creator who is pleased to act towards the creatures in any way He wants. For the purpose of taking position with respect to these readings, we firstly examine what are the will, the divine omnipotence and the divine freedom in Scotus. Then we investigate some elements that apparently function in his works as guidelines for how God, through His omnipotence/freedom, ought to act towards the creatures. Our reading joins forces with the defenders of divine arbitrariness and argues that the elements at stake have an unrestrictive or permissive, rather than a restrictive or prescriptive, role. With respect to the non-contradiction and essential goodness, we endorse that even if there is an essential goodness which marks the essential superiority of one creaturely being over another, this does not limit the options available to God for dealing with those essentially good creaturely beings, since He can turn upside down the creaturely order of essential perfection. With respect to the divine justice, we endorse that even if there is a justice which marks the obligation of God to fulfill His own demands, this does not limit the options available to God for dealing with the demands of the creaturely beings, since He can justly disregard, either in a persistent or in an occasional manner, their demands.

Research paper thumbnail of Forma Substancial Subsistente e Intelectual. A Natureza da Alma Humana em Tomás de Aquino

Esta dissertação investigará a relação entre a doutrina da subsistência da alma humana e a doutri... more Esta dissertação investigará a relação entre a doutrina da subsistência da alma humana e a doutrina da alma humana enquanto ato do corpo nas obras de Tomás de Aquino (1225-1274) com o seguinte objetivo: seria contraditório atribuir um modo de ser subsistente a uma parte de um composto hilemórfico? Em uma caracterização preliminar, a subsistência aplica-se às entidades dotadas de natureza completa, ou seja, às substâncias primeiras. A função de atualizar o corpo, por sua vez, aplica-se às entidades dependentes de um substrato de inerência, ou seja, às formas substanciais materiais. Através dos argumentos da imaterialidade do intelecto, no entanto, Tomás defenderá, em certos momentos, que a alma humana é uma forma substancial que não depende por completo da matéria (uma forma substancial subsistente) e, em outros, que ela é uma entidade subsistente e intelectual que se une ao corpo como sua forma (uma substância intelectual inferior). A presente dissertação demonstrará que esta visão se baseia em quatro teses, a saber: (a) as designações substância e substância intelectual são termos analógicos; (b) a subsistência pode ser atribuída às partes de uma substância primeira, isto é, às partes corpóreas e à forma substancial; (c) a subsistência é um modo de ser que pode ocorrer em formas com essência material ou imaterial; (d) a completude existencial (subsistência) e a completude essencial (natureza completa) podem ocorrer separadas. A título de hipótese, a dissertação propõe que estas quatro ideias, por sua vez, baseiam-se em duas visões implicitamente presentes no pensamento tomista: a primeira afirma que os seres humanos são horizonte/fronteira entre o mundo espiritual e o corpóreo; a segunda afirma que as almas humanas são horizonte/fronteira entre as substâncias intelectuais e as formas substanciais materiais.

Papers by Pedro Thyago Ferreira

Research paper thumbnail of The Human Soul as Hoc Aliquid and as Substance in Thomas Aquinas

Dois Pontos, 2021

Thomas Aquinas defines the human soul with the same words of Aristotle: it is the substantial for... more Thomas Aquinas defines the human soul with the same words of Aristotle: it is the substantial form of a human body potentially alive. However, one of the problems of the Thomistic psychology, according to D. Abel, consists in classifying the human soul by means of terms that are commonly used to name hylomorphic compounds, namely, substance and hoc aliquid. If the human soul is part of a hylomorphic compound, how could it be named as substance and hoc aliquid? The aim of this paper is to show the strategy that underlies this classification used by Aquinas. We suggest that it dates back to Aristotle when he attributes different meanings to the words substance and hoc aliquid. Aquinas' novelty consists in expanding this semantic field by introducing a meaning that refers exclusively to the human soul, that is, the peculiar sense.

Research paper thumbnail of A subsistência por si da alma humana e das partes corpóreas em Tomás de Aquino

Analytica: Revista de Filosofia, 2019

Tomás de Aquino defende que a alma e as partes corpóreas humanas são subsistentes por si, levando... more Tomás de Aquino defende que a alma e as partes corpóreas humanas são subsistentes por si, levando a duas dificuldades. Primeiro, algo é classificado como subsistente por si quando não existe enquanto parte constituinte de uma substância. Assim, a subsistência por si refere-se às substâncias e não às suas partes. Segundo, Tomás defende que a subsistência por si da alma humana permite inferir a sua incorruptibilidade, mas que a subsistência por si das partes corpóreas não permite semelhante conclusão. Assim, dever-se-ia distinguir os significados de ‘subsistência por si’ quando aplicada à alma humana e às partes corpóreas. O presente artigo, portanto, discute estes problemas mediante duas perguntas: (1) Pode-se atribuir a subsistência por si às partes de uma substância? (2) Há diferença no significado da noção de subsistência por si quando aplicada à alma humana e às partes corpóreas?

Research paper thumbnail of A alma humana como hoc aliquid e como substância em Tomás de Aquino

Dois Pontos, 2021

Tomás de Aquino define a alma humana de maneira semelhante a Aristóteles: ela é a forma substanci... more Tomás de Aquino define a alma humana de maneira semelhante a Aristóteles: ela é a forma substancial do corpo humano potencialmente vivo. Todavia, um dos problemas da psicologia tomista consiste, de acordo com D. Abel, em classificar a alma humana por meio de termos comumente utilizados para nomear os compostos hilemórficos, a saber, substância e hoc aliquid. Se a alma humana é parte de um composto, como poderia ser chamada de substância e de hoc aliquid? O objetivo deste artigo consiste em mostrar qual é a estratégia subjacente a esta classificação utilizada por Tomás. Sugerimos que ela remonta a Aristóteles quando ele atribui diferentes significados aos termos substância e hoc aliquid. A novidade de Tomás está em expandir este campo semântico, introduzindo um significado que se aplica exclusivamente à alma humana, a saber, o sentido peculiar.

Research paper thumbnail of Forma substancial subsistente: a alma humana como horizonte e confim em Tomás de Aquino

Revista do Seminário dos Alunos do PPGLM/UFRJ Revista de Filosofia, 2017

Resumo: Para Tomás de Aquino, alma humana é fronteira (horizon) e limite (confinium) entre o mund... more Resumo: Para Tomás de Aquino, alma humana é fronteira (horizon) e limite (confinium) entre o mundo espiritual e o corporal: ela é substância intelectual inferior, se olhada a partir de Deus (via descendente), e forma substancial superior, se vista a partir dos corpos materiais (via ascendente). Contudo, ambas as vias têm o mesmo peso explicativo? Qual o sentido daquelas duas caracterizações? Para responder a isto, dialogaremos com Bernardo Carlos Bazán e Massimiliano Lenzi, a fim de demonstrar que (a) as duas vias têm pesos diferentes e são complementares; (b) as duas caracterizações podem ser entendidas e resumidas pela definição forma substancial subsistente; (c) ser fronteira e limite é, para Tomás, o mesmo que ser forma substancial subsistente. Palavras-chave: Tomás de Aquino. Alma humana. Fronteira. Limite. Forma substancial subsistente.
Abstract: For Thomas Aquinas, the human soul is the frontier (horizon) and the limit (confinium) between the spiritual and the material world: it is an inferior intellectual substance, from God"s point of view (top-down way); and a superior substantial form, from the point of view of material bodies (bottom-up way). However, both ways have the same priority? What"s the meaning of both characterizations? For answering that, we will dialogue with Bernardo Carlos Bazán and Massimiliano Lenzi and demonstrate that (a) both views have different priorities and are complementary; (b) both characterizations can be understood and synthesized by the definition subsistent substantial form; (c) being frontier and limit is, for Aquinas, the same as being a subsistent substantial form.

Conference Presentations by Pedro Thyago Ferreira

Research paper thumbnail of Formaliter Ex Se, Principiative Per Intellectum Divinum: John Duns Scotus on the Possibility of the Divine Ideas

Apresentação realizada no 7th Colloquium on Logic and Metaphysics in the Later Middle Ages

Research paper thumbnail of Potência absoluta e ordenada em João Duns Scotus

Apresentação realizada no Ciclo de Palestra sobre Filosofia Medieval

Research paper thumbnail of Potência absoluta e ordenada em João Duns Scotus

Pretendo neste trabalho, a modo de ensaio, sistematizar alguns pontos do comentário de Scotus ao ... more Pretendo neste trabalho, a modo de ensaio, sistematizar alguns pontos do comentário de Scotus ao livro I, distinção 44, das Sentenças de Pedro Lombardo, com foco nas versões mais maduras da Ordinatio e da Reportatio. A minha exposição terá estas partes: na primeira, apresento um esquema geral de funcionamento das potências absoluta e ordenada; na segunda, aplico esse esquema ao caso de Deus, o legislador divino; na terceira, elucidam-se os tipos de leis que Deus tem sob o seu domínio; na quarta parte, mostra-se o uso por Scotus da distinção de potências ao tratar da possibilidade de salvação de Judas e do pecador ainda redimível. Por fim, respondo na conclusão se Scotus de fato adere ao modelo jurídico de compreensão das potências absoluta e ordenada.

Research paper thumbnail of Formaliter Ex Se, Principiative Per Intellectum Divinum. John Duns Scotus on the Possibility of the Divine Ideas

John Duns Scotus offers two grounds for the possibility of the divine ideas. The intrinsic-formal... more John Duns Scotus offers two grounds for the possibility of the divine ideas. The intrinsic-formal ground refers to the proper identity of an idea (formaliter ex se). So, a divine idea is possible because it is what it is. The causal-originative ground refers to God’s intellect which gives rise to ideas with their respective identities (principiative per intellectum divinum). So, a divine idea is possible because God’s intellect conceives it with a certain identity, instead of another. There is a long debate, mainly articulated by S. Knuuttila and C. Normore, about which ground is more important: while the former stresses the intrinsic-formal ground, the latter stresses the causal-originative one. I intend to develop here a view about Scotus’ modal account of divine ideas which is closer to Normore.

Research paper thumbnail of A Causa Primeira como intelligens: o papel do Intelecto Divino nas volições divinas ad extra segundo João Duns Scotus

Baseando-nos principalmente em Ordinatio, livro I, distinções 35, 36 e 38 e em Reportatio, livro... more Baseando-nos principalmente em Ordinatio, livro I, distinções 35, 36 e 38 e em
Reportatio, livro I, distinções 36 e 38, pretendemos apresentar brevemente a doutrina scotista sobre as ideias divinas e sobre o conhecimento divino acerca da existência extramental das criaturas para esclarecer o papel do Intelecto Divino no ato da criação e, por extensão, nas volições divinas direcionadas às criaturas, as quais doravante chamaremos de volições divinas ad extra. Esta comunicação dividir-se-á em três partes. Começaremos apresentando a definição scotista de ideia divina. Depois, descreveremos o conhecimento divino acerca da existência extramental das criaturas. Em seguida, elucidaremos o papel do Intelecto Divino nas volições divinas ad extra. Finalmente, apresentaremos uma breve conclusão

Research paper thumbnail of A subsistência da alma humana e das partes corpóreas em Tomas de Aquino

Tomás de Aquino é, em linhas gerais, um aristotélico cristão. Esta etiqueta clarifica-se se anali... more Tomás de Aquino é, em linhas gerais, um aristotélico cristão. Esta etiqueta clarifica-se se analisarmos o seu posicionamento acerca da natureza da alma humana. Enquanto aristotélico, defenderá que ela é a forma substancial do corpo. Enquanto cristão, defenderá
que ela é subsistente e incorruptível, isto é, que ela, respectivamente, não depende do corpo para existir e não se corrompe devido à dissolução do composto do qual faz parte.
Em Suma Teológica, livro I, questão 75, artigo 2, resposta à primeira objeção, Tomás mostrará que a subsistência é atribuível a dois tipos de coisas: primeiro, às coisas com natureza completa, ou seja, aos compostos; segundo, às coisas sem natureza completa, ou seja, às partes dos compostos. Interessante notar que no conjunto das coisas subsistentes sem natureza completa encontram-se a alma humana e as partes corpóreas, mas não as formas acidentais e as formas substanciais diferentes da alma humana. Disto, Tomás conclui que a alma humana e as partes corpóreas são partes do composto dotadas de subsistência.
Todavia, esta solução não explica o motivo da atribuição da subsistência a uma parte do composto e, ademais, incorre em um segundo problema: a aparente atribuição do mesmo sentido de subsistência à alma e às partes corpóreas. Brevemente, o segundo problema expressa-se assim: Tomás defende que a subsistência da alma é condição suficiente para provar a sua incorruptibilidade, mas que a subsistência das partes corpóreas não é condição suficiente para provar a incorruptibilidade destas. Assim, faz-se necessário distinguir os significados que a subsistência assume quando aplicada à alma e quando aplicada às partes corpóreas.
Portanto, esta comunicação procurará responder a duas perguntas: De que modo se pode atribuir a subsistência às partes de um composto? Há diferença no significado do termo subsistência quando aplicado à alma humana e quando aplicado às partes corpóreas? Nossa exposição dividir-se-á em duas partes: inicialmente, trataremos da alma e das partes corpóreas como substratos de faculdades e de operações; em seguida, trataremos delas como subsistentes e responderemos às perguntas apresentadas.

Research paper thumbnail of A alma humana como hoc aliquid e substância em Tomás de Aquino

Tomás de Aquino define a alma humana como a forma substancial do corpo humano potencialmente vivo... more Tomás de Aquino define a alma humana como a forma substancial do corpo humano potencialmente vivo, ou seja, como princípio de atualização da matéria, sendo responsável por torná-la uma substância da espécie humana e por conferir-lhe as faculdades e operações correspondentes a esta espécie. Todavia, a psicologia tomista apresenta vários elementos obscuros. Dentre eles, destaca-se a classificação da alma como substância e hoc aliquid.
Por um lado, o termo substância refere-se sobretudo aos compostos hilemórficos. Assim, um cão, uma pedra e uma rosa são chamados de substâncias, mas a alma sensitiva do
cão, a forma substancial da pedra e a alma vegetativa da rosa não são assim designados. Por outro, o termo hoc aliquid é a versão latina da expressão aristotélica tóde ti e possui diversas
traduções: este algo, algo determinado, alguma coisa, um certo isto ou algo designado. Comumente, hoc aliquid é referido aos compostos e não às suas partes. Assim, um cão, uma
pedra e uma rosa são chamados de hoc aliquid, mas a alma sensitiva do cão, a forma substancial da pedra e a alma vegetativa da rosa não são assim denominados.
Ora, se a alma humana é parte de um composto, como poderia ser chamada de substância e hoc aliquid? Isto não conduziria levaria a pensar que a alma tem o mesmo estatuto de um composto e não mais o estatuto de uma forma substancial?
O objetivo de nossa comunicação será, portanto, entender a estratégia subjacente à classificação dada por Tomás à alma
humana. Defendemos que ela remonta a Aristóteles e, por isso, nossa exposição terá duas partes: na primeira, trataremos dos significados de substância e hoc aliquid em Aristóteles; na segunda, trataremos dos significados destes termos em Tomás.

Research paper thumbnail of A Causa Primeira como volens: a Vontade Divina como fonte da contingência em João Duns Scotus

No quarto capítulo do Tratado sobre o Primeiro Princípio, João Duns Scotus defende que a Causa Pr... more No quarto capítulo do Tratado sobre o Primeiro Princípio, João Duns Scotus defende que a Causa Primeira é intelligens e volens, ou seja, dotada de intelecto e vontade, mediante cinco argumentos. Interessa-nos aqui o terceiro deles, endereçado ao Necessitarismo Greco-Árabe. Brevemente, o necessitarismo atribuído a Aristóteles, Avicena e Averróis afirma que Deus causa de modo necessário e considera as causas segundas naturais suscetíveis a impedimentos e as vontades criadas como os fundamentos da contingência do mundo. Em suma, ele endossa que a contingência se dá nos entes quanto às causas segundas, mas a sua necessidade quanto à Causa Primeira.
Para Scotus, entretanto, a contingência só é devidamente explicada caso seu fundamento seja transferido do modo de causação das causas segundas para o modo de causação da Causa Primeira. Por isso, segundo a nossa hipótese, seu argumento considera a liberdade da Causa Primeira como condição necessária e suficiente para a existência contingente dos efeitos e a sua produção contingente pelas causas segundas.
Nesta comunicação, pretendemos reconstruir este famoso argumento scotista, elucidando elementos que nos parecem nele implícitos. Para tanto, começaremos examinando a primeira parte do argumento, onde se supõe a existência contingente dos efeitos e a sua produção contingente pelas causas segundas. Em seguida, examinaremos

Research paper thumbnail of Partes Subsistentes. A subsistência da alma humana e das partes corpóreas em Tomás de Aquino

Para Tomás de Aquino, a alma humana é uma forma substancial capaz de subsistir por si, ou seja, d... more Para Tomás de Aquino, a alma humana é uma forma substancial capaz de subsistir por si, ou seja, de existir por si e não por causa de outro. Todavia, isto traz dificuldades ao seu pensamento. Geralmente, a subsistência é atribuída aos compostos hilemórficos e não às suas partes. Assim, se a alma humana é parte de um composto, ou seja, é a sua forma substancial, então não poderá subsistir por si. Para evitar esta conclusão, Tomás defende que a subsistência se atribui a dois grupos: (a) às coisas com natureza completa, ou seja, aos compostos; (b) às coisas sem natureza completa, ou seja, às partes corpóreas dos compostos. Ora, se a alma humana não tem natureza completa, então ela será subsistente no sentido (b).
Nesta resposta, parece-se atribuir o mesmo nível de subsistência à alma humana e às partes corpóreas. Entretanto, há um problema nesta solução: a subsistência consiste na capacidade de existir por si, de modo que as propriedades da subsistência e da existência separada parecem estar intimamente relacionadas. Contudo, a alma e as partes corpóreas não parecem satisfazer o mesmo nível de subsistência, pois a alma continua existindo quando separada do corpo e as partes corpóreas deixam de existir quando separadas do composto.
Nesta comunicação, procuraremos responder a duas perguntas: a subsistência possui o mesmo sentido quando atribuída à alma humana e às partes corpóreas? A subsistência e a existência separada estão sempre relacionadas?

Research paper thumbnail of Forma substancial subsistente: a alma humana como horizonte e confim em Tomás de Aquino

Para Tomás de Aquino, alma humana é fronteira (horizon) e limite (confinium) entre o mundo espiri... more Para Tomás de Aquino, alma humana é fronteira (horizon) e limite (confinium) entre o mundo espiritual e o corporal: ela é substância intelectual inferior, se olhada a partir de Deus (via descendente), e forma substancial superior, se vista a partir dos corpos materiais (via ascendente). Contudo, ambas as vias têm o mesmo peso explicativo? Qual o sentido daquelas duas caracterizações? Para responder a isto, dialogaremos com Bernardo Carlos Bazán e Massimiliano Lenzi, a fim de demonstrar que (a) as duas vias têm pesos diferentes e são complementares; (b) as duas caracterizações podem ser entendidas e resumidas pela definição forma substancial subsistente; (c) ser fronteira e limite é, para Tomás, o mesmo que ser forma substancial subsistente.

Research paper thumbnail of Há falácia de conteúdo no argumento tomista da universalidade do objeto?

No Comentário às Sentenças, Tomás de Aquino elenca três argumentos para provar a imaterialidade d... more No Comentário às Sentenças, Tomás de Aquino elenca três argumentos para provar a imaterialidade do intelecto humano: (a) o argumento da universalidade do âmbito: se o intelecto conhece todas as naturezas materiais e a matéria limita esta capacidade, então o intelecto deve ser imaterial; (b) o argumento da universalidade do objeto: se o intelecto conhece o universal e este é aquilo que é desprovido de materialidade, então o intelecto é imaterial; (c) o argumento do autoconhecimento: se o intelecto conhece a si mesmo e a materialidade impede este acesso, então o intelecto é imaterial. Por meio deles, o Aquinate pretende demonstrar a subsistência e a incorruptibilidade da alma racional.

Especialmente nos dois primeiros argumentos vai-se do conteúdo do intelecto para a sua natureza sem que fique claro o que possibilita tal passagem. Para Robert Pasnau e Joseph Novak, por exemplo, Tomás relaciona, sem justificativa, a individualidade ou universalidade enquanto propriedades representadas pelo pensamento e pelas formas intencionais com a materialidade ou imaterialidade enquanto propriedades intrínsecas do pensamento e das formas intencionais. Assim, o fato de o intelecto conhecer universalmente e de a espécie inteligível representar o universal seria condição necessária e suficiente para que eles sejam imateriais; igualmente, o fato de os sentidos conhecerem individualmente e de a espécie sensível representar o individual seria condição necessária e suficiente para que eles sejam materiais. Grosso modo, seria como raciocinar do seguinte modo: se eu penso na cor azul, então o meu pensamento é azul. Tal raciocínio foi batizado por Pasnau como falácia de conteúdo.

O crucial desta falácia está na ausência de razões para relacionar diretamente natureza intencional e natureza real. Fosse encontrado este vínculo, o argumento adquire consistência. Haveria em Tomás esta premissa intermediária? Esta será a pergunta à qual procuraremos responder através da análise do argumento da universalidade do objeto. Seguiremos o seguinte caminho: primeiro, reconstruiremos os passos da prova, sem preocupação com sua validade formal; depois, apresentaremos as críticas de Pasnau e Novak; por fim, apresentaremos e avaliaremos algumas respostas possíveis às suas críticas.

Research paper thumbnail of MCCLUSKEY, C. Thomas Aquinas on Moral Wrongdoing. Cambridge: Cambridge University Press, 2017, 198 p.

Translatio. Caderno de resenhas do GT História da Filosofia Medieval e a Recepção da Filosofia Antiga, 2018

É comum que o problema do mal desperte grande interesse filosófico. Geralmente, ele é analisado s... more É comum que o problema do mal desperte grande interesse filosófico. Geralmente, ele é analisado sob dois pontos de vista: (a) a investigação sobre a natureza do mal; (b) a conciliação entre a existência do mal e a de Deus. Colleen McCluskey, em Thomas Aquinas on Moral Wrongdoing, deseja ir além dessas alternativas. Ela não pretende investigar o que é o erro ou o mal, mas, antes, entender o que é o agir errado e por que ele ocorre segundo o pensamento de Tomás de Aquino. Para a autora, Tomás procura desvendar a natureza e a causa do fenômeno do agir errado (wrongdoing) através de duas teses, a saber, da metafísica da bondade (visão privativa do mal) e, fundamentalmente, da natureza do homem e de suas ações (psicologia moral). Sua hipótese consiste em endossar que a filosofia moral tomista é útil para o entendimento e a avaliação dos dilemas éticos atuais. Com efeito, a filosofia moral tomista levaria à compreensão não só das causas por detrás das ações imorais, mas também dos remédios necessários para evitá-las. Nas palavras de McCluskey: “entender a fonte original do agir errado ajuda-nos a determinar respostas apropriadas às ações” (p. 176)

Research paper thumbnail of FITZPATRICK, A. Thomas Aquinas on Bodily Identity. Oxford: Oxford University Press, 2017, 224 p.

Translatio. Caderno de resenhas do GT História da Filosofia Medieval e a Recepção da Filosofia Antiga, 2017

Qual é a raiz da identidade pessoal e de sua continuidade ao longo do tempo? Seria a alma? Ou a m... more Qual é a raiz da identidade pessoal e de sua continuidade ao longo do tempo? Seria a alma? Ou a matéria? Tais questionamentos foram analisados pelos teólogos medievais a partir da discussão sobre a identidade entre o corpo mortal e o ressurreto. Dentre eles, destaca-se Tomás de Aquino, proponente da controversa doutrina da unicidade da forma substancial. Antonia Fitzpatrick, em Thomas Aquinas on Bodily Identity, investiga o importante papel da matéria/corpo na identidade pessoal, opondo-se a autores medievais e contemporâneos que, ao interpretar a doutrina tomista da unicidade da forma substancial, põem na alma todo o peso da individuação e da continuidade pessoal

Research paper thumbnail of AMERINI, F. Tommaso d’Aquino e l’intenzionalità. Pisa: Edizioni ETS, 2013, 223 p. (Coleção Philosophica, volume 117, série Viola)

Translatio. Caderno de resenhas do GT História da Filosofia Medieval e a Recepção da Filosofia Antiga, 2016

Há disputas acaloradas entre os medievalistas acerca do papel da intencionalidade na epistemologi... more Há disputas acaloradas entre os medievalistas acerca do papel da
intencionalidade na epistemologia tomista. Para alguns, a intencionalidade é condição necessária e suficiente para que haja conhecimento. As formas intencionais são intrinsecamente representativas (e, logo, cognoscíveis) e, por isso, só podem ser encontradas nos sentidos e no intelecto. Para outros, a intencionalidade possui um papel subalterno, pois a condição necessária e suficiente para o conhecimento é a imaterialidade. As formas intencionais se
tornam representativas e cognoscíveis quando unidas a substratos imateriais, ou seja, a faculdades cognitivas. Fabrizio Amerini está entre os defensores do papel crucial da imaterialidade na epistemologia do Aquinate (pp. 73-74). Mesmo assim, admite que a intencionalidade permanece como tema importante e exaustivamente retomado no "corpus thomisticum". Por isso, "Tommaso d’Aquino e l’intenzionalità" terá como objetivo investigar a teoria do conhecimento de Tomás de Aquino sob este aspecto.

Research paper thumbnail of The Controversy Between Divine Arbitrariness and Divine Reasonability in John Duns Scotus

The present PhD thesis attempts to take a position in the face of two different interpretations g... more The present PhD thesis attempts to take a position in the face of two different interpretations given to God’s dealings with the creatures in John Duns Scotus (ca. 1265-1308). The first one, represented in particular by A. Wolter, states that Scotus’ God is a free, omnipotent and reasonable creator who is pleased to act towards the creatures in those ways fitting to them. The second one, represented in particular by T. Williams, states that Scotus’ God is a free, omnipotent and arbitrary creator who is pleased to act towards the creatures in any way He wants. For the purpose of taking position with respect to these readings, we firstly examine what are the will, the divine omnipotence and the divine freedom in Scotus. Then we investigate some elements that apparently function in his works as guidelines for how God, through His omnipotence/freedom, ought to act towards the creatures. Our reading joins forces with the defenders of divine arbitrariness and argues that the elements at stake have an unrestrictive or permissive, rather than a restrictive or prescriptive, role. With respect to the non-contradiction and essential goodness, we endorse that even if there is an essential goodness which marks the essential superiority of one creaturely being over another, this does not limit the options available to God for dealing with those essentially good creaturely beings, since He can turn upside down the creaturely order of essential perfection. With respect to the divine justice, we endorse that even if there is a justice which marks the obligation of God to fulfill His own demands, this does not limit the options available to God for dealing with the demands of the creaturely beings, since He can justly disregard, either in a persistent or in an occasional manner, their demands.

Research paper thumbnail of Forma Substancial Subsistente e Intelectual. A Natureza da Alma Humana em Tomás de Aquino

Esta dissertação investigará a relação entre a doutrina da subsistência da alma humana e a doutri... more Esta dissertação investigará a relação entre a doutrina da subsistência da alma humana e a doutrina da alma humana enquanto ato do corpo nas obras de Tomás de Aquino (1225-1274) com o seguinte objetivo: seria contraditório atribuir um modo de ser subsistente a uma parte de um composto hilemórfico? Em uma caracterização preliminar, a subsistência aplica-se às entidades dotadas de natureza completa, ou seja, às substâncias primeiras. A função de atualizar o corpo, por sua vez, aplica-se às entidades dependentes de um substrato de inerência, ou seja, às formas substanciais materiais. Através dos argumentos da imaterialidade do intelecto, no entanto, Tomás defenderá, em certos momentos, que a alma humana é uma forma substancial que não depende por completo da matéria (uma forma substancial subsistente) e, em outros, que ela é uma entidade subsistente e intelectual que se une ao corpo como sua forma (uma substância intelectual inferior). A presente dissertação demonstrará que esta visão se baseia em quatro teses, a saber: (a) as designações substância e substância intelectual são termos analógicos; (b) a subsistência pode ser atribuída às partes de uma substância primeira, isto é, às partes corpóreas e à forma substancial; (c) a subsistência é um modo de ser que pode ocorrer em formas com essência material ou imaterial; (d) a completude existencial (subsistência) e a completude essencial (natureza completa) podem ocorrer separadas. A título de hipótese, a dissertação propõe que estas quatro ideias, por sua vez, baseiam-se em duas visões implicitamente presentes no pensamento tomista: a primeira afirma que os seres humanos são horizonte/fronteira entre o mundo espiritual e o corpóreo; a segunda afirma que as almas humanas são horizonte/fronteira entre as substâncias intelectuais e as formas substanciais materiais.

Research paper thumbnail of The Human Soul as Hoc Aliquid and as Substance in Thomas Aquinas

Dois Pontos, 2021

Thomas Aquinas defines the human soul with the same words of Aristotle: it is the substantial for... more Thomas Aquinas defines the human soul with the same words of Aristotle: it is the substantial form of a human body potentially alive. However, one of the problems of the Thomistic psychology, according to D. Abel, consists in classifying the human soul by means of terms that are commonly used to name hylomorphic compounds, namely, substance and hoc aliquid. If the human soul is part of a hylomorphic compound, how could it be named as substance and hoc aliquid? The aim of this paper is to show the strategy that underlies this classification used by Aquinas. We suggest that it dates back to Aristotle when he attributes different meanings to the words substance and hoc aliquid. Aquinas' novelty consists in expanding this semantic field by introducing a meaning that refers exclusively to the human soul, that is, the peculiar sense.

Research paper thumbnail of A subsistência por si da alma humana e das partes corpóreas em Tomás de Aquino

Analytica: Revista de Filosofia, 2019

Tomás de Aquino defende que a alma e as partes corpóreas humanas são subsistentes por si, levando... more Tomás de Aquino defende que a alma e as partes corpóreas humanas são subsistentes por si, levando a duas dificuldades. Primeiro, algo é classificado como subsistente por si quando não existe enquanto parte constituinte de uma substância. Assim, a subsistência por si refere-se às substâncias e não às suas partes. Segundo, Tomás defende que a subsistência por si da alma humana permite inferir a sua incorruptibilidade, mas que a subsistência por si das partes corpóreas não permite semelhante conclusão. Assim, dever-se-ia distinguir os significados de ‘subsistência por si’ quando aplicada à alma humana e às partes corpóreas. O presente artigo, portanto, discute estes problemas mediante duas perguntas: (1) Pode-se atribuir a subsistência por si às partes de uma substância? (2) Há diferença no significado da noção de subsistência por si quando aplicada à alma humana e às partes corpóreas?

Research paper thumbnail of A alma humana como hoc aliquid e como substância em Tomás de Aquino

Dois Pontos, 2021

Tomás de Aquino define a alma humana de maneira semelhante a Aristóteles: ela é a forma substanci... more Tomás de Aquino define a alma humana de maneira semelhante a Aristóteles: ela é a forma substancial do corpo humano potencialmente vivo. Todavia, um dos problemas da psicologia tomista consiste, de acordo com D. Abel, em classificar a alma humana por meio de termos comumente utilizados para nomear os compostos hilemórficos, a saber, substância e hoc aliquid. Se a alma humana é parte de um composto, como poderia ser chamada de substância e de hoc aliquid? O objetivo deste artigo consiste em mostrar qual é a estratégia subjacente a esta classificação utilizada por Tomás. Sugerimos que ela remonta a Aristóteles quando ele atribui diferentes significados aos termos substância e hoc aliquid. A novidade de Tomás está em expandir este campo semântico, introduzindo um significado que se aplica exclusivamente à alma humana, a saber, o sentido peculiar.

Research paper thumbnail of Forma substancial subsistente: a alma humana como horizonte e confim em Tomás de Aquino

Revista do Seminário dos Alunos do PPGLM/UFRJ Revista de Filosofia, 2017

Resumo: Para Tomás de Aquino, alma humana é fronteira (horizon) e limite (confinium) entre o mund... more Resumo: Para Tomás de Aquino, alma humana é fronteira (horizon) e limite (confinium) entre o mundo espiritual e o corporal: ela é substância intelectual inferior, se olhada a partir de Deus (via descendente), e forma substancial superior, se vista a partir dos corpos materiais (via ascendente). Contudo, ambas as vias têm o mesmo peso explicativo? Qual o sentido daquelas duas caracterizações? Para responder a isto, dialogaremos com Bernardo Carlos Bazán e Massimiliano Lenzi, a fim de demonstrar que (a) as duas vias têm pesos diferentes e são complementares; (b) as duas caracterizações podem ser entendidas e resumidas pela definição forma substancial subsistente; (c) ser fronteira e limite é, para Tomás, o mesmo que ser forma substancial subsistente. Palavras-chave: Tomás de Aquino. Alma humana. Fronteira. Limite. Forma substancial subsistente.
Abstract: For Thomas Aquinas, the human soul is the frontier (horizon) and the limit (confinium) between the spiritual and the material world: it is an inferior intellectual substance, from God"s point of view (top-down way); and a superior substantial form, from the point of view of material bodies (bottom-up way). However, both ways have the same priority? What"s the meaning of both characterizations? For answering that, we will dialogue with Bernardo Carlos Bazán and Massimiliano Lenzi and demonstrate that (a) both views have different priorities and are complementary; (b) both characterizations can be understood and synthesized by the definition subsistent substantial form; (c) being frontier and limit is, for Aquinas, the same as being a subsistent substantial form.

Research paper thumbnail of Formaliter Ex Se, Principiative Per Intellectum Divinum: John Duns Scotus on the Possibility of the Divine Ideas

Apresentação realizada no 7th Colloquium on Logic and Metaphysics in the Later Middle Ages

Research paper thumbnail of Potência absoluta e ordenada em João Duns Scotus

Apresentação realizada no Ciclo de Palestra sobre Filosofia Medieval

Research paper thumbnail of Causação divina mediata ou imediata? As definições filosófica e teológica de onipotência segundo João Duns Scotus

João Duns Scotus discorre sobre a definição de onipotência e sobre se ela é racionalmente demonst... more João Duns Scotus discorre sobre a definição de onipotência e sobre se ela é racionalmente demonstrável em seus três comentários à distinção 42 do primeiro livro das Sentenças de Pedro Lombardo e na sétima questão do Quodlibet. Durante a sua exposição, Scotus destaca a tensão existente entre a filosofia aristotélico-árabe e a teologia cristã no tocante a estes dois assuntos. Grosso modo, enquanto a onipotência é demonstrável quando definida à luz da filosofia aristotélico-árabe (a qual se pode chamar de definição filosófica de onipotência), ela é um artigo de fé quando definida à luz da teologia cristã (a qual se pode chamar de definição teológica de onipotência).
Nossa apresentação cumpre um papel simples, mas imprescindível para compreender a onipotência na história da filosofia, mais especificamente, no pensamento de Scotus. Percorreremos a sua complexa discussão acerca da definição e demonstrabilidade da onipotência para expor clara e didaticamente os pressupostos que conduzem a filosofia aristotélico-árabe e a teologia cristã a diferentes definições de onipotência e para elucidar a tensão existente entre ambas.

Research paper thumbnail of A abertura sincrônica da vontade aos opostos em João Duns Scotus

Actas del Congreso Latinoamericano de Filosofía Medieval: Respondiendo a los retos del Siglo XXI desde la Filosofía Medieval, 2021

João Duns Scotus afirma que a vontade é um poder racional, ou seja, um poder que não só está aber... more João Duns Scotus afirma que a vontade é um poder racional, ou seja, um poder que não só está aberto a alternativas opostas de ação e não é determinado por circunstâncias externas para uma delas (a indeterminação por suficiência superabundante), mas que também determina a si mesmo para uma destas alternativas (a autodeterminação).
Todavia, Scotus também atribui à vontade uma abertura sincrônica a alternativas opostas: não é suficiente que a vontade esteja aberta a alternativas opostas de ação em um instante anterior àquele no qual determina a si mesma para uma delas (a contingência diacrônica), é também necessário que ela permaneça aberta a estas alternativas no exato instante em que determina a si mesma (a contingência sincrônica).
Nossa comunicação pretende apresentar os elementos principais da doutrina scotista da contingencia sincrônica. Mais concretamente, investigaremos como Scotus explica a contingência das volições sem recorrer a diferentes instantes temporais.