Francisco Miguel | Universidade Estadual de Campinas (original) (raw)
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Jornal da Noite - RTC 07/10/2017
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Articles by Francisco Miguel
Sexualities, 2023
In this article, the result of ethnographic research on the LGBT community over the last five yea... more In this article, the result of ethnographic research on the LGBT community over the last five years in Mozambique, I will deal theoretically with a hegemonic elite discourse alleging tolerance of homosexuality in this country. I will review previous scholarly works on this theme and analyze the recurrence of this discourse among certain elite groups, such as local activists, journalists, and politicians. I conclude that this discourse is reminiscent of the Lusotropicalist myth transformed into a new kind of homonationalism and that it explicitly reverberates in the current political strategies of LGBT activism in Mozambique.
Revista de Antropologia (USP), 2023
The article investigates, historiographically and ethnographically, three large-circulation Mozam... more The article investigates, historiographically and ethnographically, three large-circulation Mozambican newspapers published between 1975 and 2007 in order to understand how the media used to address the homosexuality since independence. Based on the theoretical approach provided by the Anthropology of the Media, firstly it contextualizes the debate related to homosexuality in other African countries' press, secondly it provides a historical background of the discussion in the Mozambican media. Chronologically it approaches the main themes developed by the country's press regarding sexual and gender dissidence. As conclusion, by publicizing the homosexuality of foreigners and not engaging in hate speech, the local media reinforced the idea of the exogeny of homosexuality in Africa and, unlike other neighboring African nations, contributed to produce an environment of tolerance towards the theme in Mozambique.
Sociologia e Antropologia, 2021
A partir de pesquisa etnográfica realizada nos últimos anos no sul de Moçambique, o presente arti... more A partir de pesquisa etnográfica realizada nos últimos anos no sul de Moçambique, o presente artigo responde antropologicamente à pergunta colocada por um telespectador moçambicano sobre o porquê da
inexistência de sujeitos homossexuais em contextos rurais locais. O argumento central aqui apresentado é de que ainda que o desejo (homo)erótico preceda e prescinda da linguagem, a constituição de um sujeito propriamente homossexual não. Logo, as cidades oferecerão não apenas um ambiente propício para a vivência de experiências eróticas e identitárias desse sujeito, mas também a episteme necessária para que ele se constitua como tal.
Afro-Ásia, 2021
A partir de pesquisa etnográfica e documental, o artigo apresenta uma genealogia do movimento LGB... more A partir de pesquisa etnográfica e documental, o artigo apresenta uma genealogia do movimento LGBT moçambicano desde sua origem até os dias atuais. Nesse sentido, ele aborda as primeiras festas homossexuais; o primeiro jornal do movimento; a institucionalização do movimento na organização “LAMBDA”; e a relação desta última com o Estado moçambicano. Dois são os argumentos aqui apresentados: respondendo aos debates sobre os discursos de exogenia da homossexualidade em África, argumento que a história do movimento LGBT local é uma das razões pelas quais faz sentido para o senso comum, em Moçambique, atribuir a “homossexualidade” aos estrangeiros, aos brancos e à cidade. Em segundo lugar, o artigo busca se contrapor aos africanistas que enfatizam a homofobia no continente, demonstrando a particular ambiguidade que há na relação do Estado Moçambicano com o movimento LGBT local.
MANA, 2021
Maríyarapáxjis é um neologismo (proveniente da expressão portuguesa maria- -rapaz) encontrado na ... more Maríyarapáxjis é um neologismo (proveniente da expressão portuguesa maria- -rapaz) encontrado na língua materna de meus interlocutores moçambicanos (a língua changana) para dar conta, entre outros, de homens que a princípio demonstram certa afeminação, mas que nas últimas décadas passou também a nomear os homossexuais. Apesar de analisar outros vocábulos, escolho-o como título deste artigo porque, além de ser uma das palavras mais ouvidas no sul do país para nomear esses sujeitos, ela parece ser o epítome de uma série de processos históricos de institucionalização das homossexualidades masculinas nas classes populares do sul de Moçambique. O presente artigo, fruto de investigação etnográfica e linguística, busca analisar o léxico das línguas changana e portuguesa dentro do campo semântico da homossexualidade no sul de Moçambique e colocá-las em diálogo com as teorias feministas africanas.
Cadernos de Estudos Africanos, 2020
O presente artigo busca compreender o processo de "institucionalização” (Douglas, 2007) da homoss... more O presente artigo busca compreender o processo de "institucionalização” (Douglas, 2007) da homossexualidade em Moçambique, a partir do caso etnográfico do programa radiofônico Café Púrpura, patrocinado pela LambdaMoz – a maior organização LGBT do país – e transmitido em cadeia nacional no segundo semestre de 2018. Ao analisar cinco de seus episódios, chegamos à conclusão que o movimento LGBT moçambicano busca não somente institucionalizar a homossexualidade através de discursos, símbolos e valores, mas o faz a partir de uma perspectiva política específica, qual seja, uma política de “base” de não confrontação violenta contra a sociedade mais ampla. Nesse sentido, os dados conduzem à reflexão sobre uma importante categoria nativa na semântica homossexual local, a “tolerância”.
Anuário Antropológico, 2021
Revista Brasileira de História, 2021
No presente artigo, fruto de pesquisa histórica e etnográfica, apresento alguns arquivos coloniai... more No presente artigo, fruto de pesquisa histórica e etnográfica, apresento alguns arquivos coloniais portugueses e estrangeiros no que concerne à vida (homo)sexual pretérita dos homens do sul de Moçambique. Ao trazer tais dados, que vão desde a literatura de viagem até os boletins
oficiais da Província, argumento pela escassez de registros sobre o homoerotismo na história colonial de Moçambique até o século XX. Ao analisar os casamentos entre homens moçambicanos nas minas
sul-africanas, e os processos – até agora inéditos – sobre a penalização das práticas homossexuais no período tardo-colonial em Moçambique, argumento que o silêncio sobre a sexualidade, atribuído aos bantus desta região, pode ser também efeito do pudor do colonizador português, ainda que tenha sido ele o instaurador, naquele território, de uma nova categoria: a “homossexualidade”.
Contexto Internacional, 2020
The current paper is an ethnographic study of an international cooperation project between an int... more The current paper is an ethnographic study of an international cooperation project between an international organisation for the fight against the HIV/AIDS epidemic and the organisation LAMBDA, the largest LGBT NGO in Mozambique. The objectives of this paper are, firstly, to demonstrate how due to the international flow of financial resources attached to certain concepts and agendas, these projects end up somehow institutionalising a homosexuality project in Mozambique, in addition to reviving potentially neo-colonial practices. It also seeks to demonstrate how external bureaucratic practices can clash with local cultural practices, in what has been called 'NGOisation. '
Anuário Antropológico, 2020
Pretendemos, neste artigo, abordar os processos de construção de masculinidades no arquipélago de... more Pretendemos, neste artigo, abordar os processos de construção de masculinidades no arquipélago de Cabo Verde tomando como via de acesso as relações afetivas hétero e homossexuais. Partindo da afirmação que está no título, ouvida com frequência tanto por mulheres heterossexuais quanto por homens gays, buscaremos demonstrar como os caminhos pelos quais a masculinidade se constrói nesta sociedade coloca as relações afetivas em um limiar delicado e permeado por símbolos negativos quando expressas por essas mulheres heterossexuais e homens gays: do não público, do não romântico, do não íntimo e do quase exclusivamente sexual. A partir dos dados etnográficos aqui analisados, desenvolvemos dois argumentos centrais para pensar masculinidades: 1) que o modus operandus dos homens com os gays não passa somente pela noção de vergonha, mas por um ethos masculino mais geral; 2) que não é suficiente pensar o papel do homem apenas como cônjuge, mas também como irmão e, principalmente, filho.
Enfoques, 2016
A partir de pesquisa etnográfica realizada no arquipélago de Cabo Verde, o presente ensaio tem po... more A partir de pesquisa etnográfica realizada no arquipélago de Cabo Verde, o presente ensaio tem por objetivo refletir sobre as convergências e divergências das teorias antropológicas sobre gênero e sexualidade, no que elas auxiliam à análise dos dados sobre a (homo)sexualidade masculina e o movimento LGBT. O objetivo aqui é conciliar uma perspectiva de modelos típico-ideais de sexualidade masculina em Cabo Verde, com a teoria da performatividade queer e os estudos teóricos e etnográficos da etnologia africana para se chegar a uma síntese possível. Ao fim, pretende-se demonstrar como os debates teóricos reverberam nos movimentos LGBT no continente e as críticas nativas às ideias deles remanescentes.
Revista de Antropología Social, 2016
En este artículo se aborda el fenómeno caboverdiano de “mandar bocas” (lanzar pullas). Específica... more En este artículo se aborda el fenómeno caboverdiano de “mandar bocas” (lanzar pullas). Específicamente me centro en las “bocas enviadas” por los hombres contra otros hombres en la ciudad de Mindelo y que, desde una primera lectura analítica, se pueden clasificar rápidamente como insultos “homófobos”. Voy a argumentar, sin embargo, que esta no es la única interpretación posible del fenómeno y que las pullas que se lanzan son una fase de un cortejo homoerótico entre los chicos caboverdianos, aunque impregnado de signos machistas.
ACENO, 2016
Neste artigo, pretendo apresentar um quadro das noções de gênero e identidade sexual em Cabo Verd... more Neste artigo, pretendo apresentar um quadro das noções de gênero e identidade sexual em Cabo Verde, suas estabilidades e tensões, a partir da perspectiva privilegiada dos sujeitos homossexuais daquele país. Nesse sentido, a categoria êmica " hipocrisia " apareceu recorrentemente nos discursos dos sujeitos homossexuais pesquisados. Esta categoria de acusação parece denunciar ao mesmo tempo um silenciamento da sociedade mais ampla e uma contradição entre moralidades e práticas operantes em Cabo Verde no tema da homossexualidade. Meu argumento é que mais do que uma simples crítica moral dos sujeitos homossexuais aos seus compatriotas e a sua sociedade em geral, a categoria pode nomear uma perspectiva do sistema de gênero cabo-verdiano de relativa estabilidade, que chamei de " Sistema Hipocrisia " .
história, histórias, 2015
A partir de pesquisa arquivística e etnográfica, o presente artigo tem por objetivo contar uma hi... more A partir de pesquisa arquivística e etnográfica, o presente artigo tem por objetivo contar uma história da homossexualidade masculina no arquipélago de Cabo Verde, África. Neste intento, analiso os registros etnográficos sobre homossexualidade no continente africano, a documentação produzida pela Santa Inquisição sobre o arquipélago e, por fim, a memória oral dos homossexuais cabo-verdianos registrada nas últimas quatro décadas. Defendo que os dados aqui trazidos corroboram com a tese de que o homoerotismo não é novo e nem exógeno no continente africano.
Vibrant, Jun 30, 2015
This article explores the universe of affective relations in Cabo Verde, especially those aspects... more This article explores the universe of affective relations in Cabo Verde, especially those aspects related to conjugality and sexuality. Our interest begins with the demands for same-sex marriage made by a gay Cabo Verdean association and the ethnographic data on the gay marriage issue when it was debated by homosexual militants in Mindelo (São Vicente Island). These facts will be analyzed in the context of conjugal arrangements and heterosexual sexuality in the country. We argue that analyzing the debate on gay marriage and broadening the discussion to understand how affective relationships are lived between men and women in the archipelago, it is necessary to reflect not only on the dynamics of local affections, but especially how the circulation of discourses and values within global social movements impinges on the situation in Cabo Verde.
Anuário Antropológico, Aug 2014
Este artigo pretende analisar etnograficamente a narrativa explorada pela exposição britânica “Se... more Este artigo pretende analisar etnograficamente a narrativa explorada pela exposição britânica “Sexy Nature” quando em exibição em Paris. A partir do enfoque privilegiado de que esta exposição é um agente político ativo em um processo em curso de tentativa de naturalização de certas práticas sexuais e identidades (entre elas, a homossexualidade), descrevo e analiso as estratégias narrativas da exposição que, na busca de exibir a diversidade sexual do mundo não humano, se alterna entre a antropomorfização dos não humanos e a zoomorfização dos humanos. Assim e ao mesmo tempo, a exposição se propõe a deslocar certos signos de gênero para incluí-los no amplo escopo da “natureza”. Por último, concluo defendendo que, se por um lado são eficientes na ontologia naturalista, por outro, tais estratégias estão acompanhadas de eventuais riscos políticos em um processo que se convencionou chamar slippery slope.
Dissertations by Francisco Miguel
MIGUEL, Francisco. Maríyarapáxjis: Silêncio, exogenia e tolerância nos processos de institucional... more MIGUEL, Francisco. Maríyarapáxjis: Silêncio, exogenia e tolerância nos processos de institucionalização das homossexualidades masculinas no sul de Moçambique. Tese de Doutorado. Programa de Pós-graduação em Antropologia Social. Universidade de Brasília. 362p.
“Maríyarapáxjis” é um neologismo (proveniente da expressão portuguesa “maria-rapaz”) encontrado na língua materna de meus interlocutores (a língua changana) para dar conta de sujeitos que a princípio demonstram certa efeminação, mas que nas últimas décadas passou também a nomear os homossexuais. Escolho-a como título desta tese porque além de ser uma das palavras mais ouvidas no sul do país para nomear esses sujeitos, ela parece ser o epítome de uma série de processos históricos de institucionalização das homossexualidades masculinas nas classes populares do sul de Moçambique. Para chegar até ela, o trabalho se inicia por uma investigação sobre registros históricos acerca do homoerotismo em Moçambique, seja nos arquivos coloniais seja a partir dos relatos de interlocutores mais velhos. Posteriormente, o trabalho se dirige para dois agentes fundamentais de institucionalização da homossexualidade no período pós-colonial, quais sejam, a mídia impressa e o movimento LGBT moçambicanos. Na terceira e última parte da tese, apresenta-se uma etnografia que busca compreender processos de institucionalização da homossexualidade não apenas contemporâneos à própria pesquisa, mas levados a cabo por outros agentes sociais, tais como a família, a religião e os próprios sujeitos que, em seus corpos, articulam sexualidades e gêneros distintos daqueles que a eles foram projetados quando a este mundo vieram – e por vezes distintos também das epistemes oferecidas pelo movimento LGBT. No percurso da tese, três categorias-chave serão recorrentes: “exogenia”, “silêncio” e “tolerância”. Assim, os dados aqui trazidos demonstram como tais categorias perpassam os processos de institucionalização da homossexualidade no sul de Moçambique, além de complexificar diversas outras questões que dizem respeito aos debates com a etnologia africana, com as teorias antropológicas de gênero e sexualidade e com as políticas nacionais e globais sobre os corpos.
"This thesis aims to contribute in efforts to build an Anthropology of (Homo)sexuality in Cabo Ve... more "This thesis aims to contribute in efforts to build an Anthropology of (Homo)sexuality in Cabo Verde, Africa. Focusing the (homo)socialiability, the gay movement and homoerotic experiences of men in the city of Mindelo, this ethnographic research in conjunction with the Creoles aims to question not only the homosexual life of the Creoles and its repercussions, but also pay attention to the emerging local LGBT movement. The perspectives and practices of the Creole men, gay and non-gay, contribute not only to understand their points of view, as to understand another cultural experience of drafting a universal phenomenon as homoeroticism. I argue that if the homoeroticism and the LGBT movement have their global dilemmas, they bump the specific semantics of this Atlantic archipelago, producing what I have called a "Hypocrisy System", permeated by silences and contradictions.
Key-words: Cape Verde; Mindelo; Homosexuality; LGBT movement
"
Books by Francisco Miguel
Editora Prismas, 2016
"Levam má bô" significa leva-me contigo na variante mindelense da língua crioula cabo-verdiana. É... more "Levam má bô" significa leva-me contigo na variante mindelense da língua crioula cabo-verdiana. É no momento em que os rapazes, que aqui são chamados de não gays, dizem aos sujeitos gays "levam má bô!", convidando-os ao ato sexual, que todo um sistema de gênero e de sexualidade se revela em suas próprias sutilezas e contradições.
Fruto de uma pesquisa etnográfica de um mês e meio nas ilhas de Santiago e São Vicente de Cabo Verde com militantes e não militantes LGBT locais, este trabalho é uma primeira incursão de pesquisa do autor não somente em África como no tema do gênero e da sexualidade. A pouca bibliografia nacional e internacional encontrada sobre homossexualidade neste continente estimula a publicação deste livro pioneiro no Brasil.
A obra tem por intenção organizar, atualizar e divulgar para um público mais amplo as ideias originalmente publicadas na dissertação de mestrado de Francisco Miguel, no curso de Antropologia Social da Universidade de Brasília. Dissertação premiada em 2015 pelo concurso de Dissertações e Teses da UnB e indicada ao Prêmio ANPOCS faz-se conveniente agora sua publicação.
Espera-se que este livro possibilite um compartilhamento maior de conhecimentos sobre as múltiplas experiências de sexualidades possíveis, desmistificando o terror e o preconceito que muitas vezes as acompanham. Convidamos o leitor nesta instigante incursão pelo universo homoerótico masculino de Cabo Verde.
Sexualities, 2023
In this article, the result of ethnographic research on the LGBT community over the last five yea... more In this article, the result of ethnographic research on the LGBT community over the last five years in Mozambique, I will deal theoretically with a hegemonic elite discourse alleging tolerance of homosexuality in this country. I will review previous scholarly works on this theme and analyze the recurrence of this discourse among certain elite groups, such as local activists, journalists, and politicians. I conclude that this discourse is reminiscent of the Lusotropicalist myth transformed into a new kind of homonationalism and that it explicitly reverberates in the current political strategies of LGBT activism in Mozambique.
Revista de Antropologia (USP), 2023
The article investigates, historiographically and ethnographically, three large-circulation Mozam... more The article investigates, historiographically and ethnographically, three large-circulation Mozambican newspapers published between 1975 and 2007 in order to understand how the media used to address the homosexuality since independence. Based on the theoretical approach provided by the Anthropology of the Media, firstly it contextualizes the debate related to homosexuality in other African countries' press, secondly it provides a historical background of the discussion in the Mozambican media. Chronologically it approaches the main themes developed by the country's press regarding sexual and gender dissidence. As conclusion, by publicizing the homosexuality of foreigners and not engaging in hate speech, the local media reinforced the idea of the exogeny of homosexuality in Africa and, unlike other neighboring African nations, contributed to produce an environment of tolerance towards the theme in Mozambique.
Sociologia e Antropologia, 2021
A partir de pesquisa etnográfica realizada nos últimos anos no sul de Moçambique, o presente arti... more A partir de pesquisa etnográfica realizada nos últimos anos no sul de Moçambique, o presente artigo responde antropologicamente à pergunta colocada por um telespectador moçambicano sobre o porquê da
inexistência de sujeitos homossexuais em contextos rurais locais. O argumento central aqui apresentado é de que ainda que o desejo (homo)erótico preceda e prescinda da linguagem, a constituição de um sujeito propriamente homossexual não. Logo, as cidades oferecerão não apenas um ambiente propício para a vivência de experiências eróticas e identitárias desse sujeito, mas também a episteme necessária para que ele se constitua como tal.
Afro-Ásia, 2021
A partir de pesquisa etnográfica e documental, o artigo apresenta uma genealogia do movimento LGB... more A partir de pesquisa etnográfica e documental, o artigo apresenta uma genealogia do movimento LGBT moçambicano desde sua origem até os dias atuais. Nesse sentido, ele aborda as primeiras festas homossexuais; o primeiro jornal do movimento; a institucionalização do movimento na organização “LAMBDA”; e a relação desta última com o Estado moçambicano. Dois são os argumentos aqui apresentados: respondendo aos debates sobre os discursos de exogenia da homossexualidade em África, argumento que a história do movimento LGBT local é uma das razões pelas quais faz sentido para o senso comum, em Moçambique, atribuir a “homossexualidade” aos estrangeiros, aos brancos e à cidade. Em segundo lugar, o artigo busca se contrapor aos africanistas que enfatizam a homofobia no continente, demonstrando a particular ambiguidade que há na relação do Estado Moçambicano com o movimento LGBT local.
MANA, 2021
Maríyarapáxjis é um neologismo (proveniente da expressão portuguesa maria- -rapaz) encontrado na ... more Maríyarapáxjis é um neologismo (proveniente da expressão portuguesa maria- -rapaz) encontrado na língua materna de meus interlocutores moçambicanos (a língua changana) para dar conta, entre outros, de homens que a princípio demonstram certa afeminação, mas que nas últimas décadas passou também a nomear os homossexuais. Apesar de analisar outros vocábulos, escolho-o como título deste artigo porque, além de ser uma das palavras mais ouvidas no sul do país para nomear esses sujeitos, ela parece ser o epítome de uma série de processos históricos de institucionalização das homossexualidades masculinas nas classes populares do sul de Moçambique. O presente artigo, fruto de investigação etnográfica e linguística, busca analisar o léxico das línguas changana e portuguesa dentro do campo semântico da homossexualidade no sul de Moçambique e colocá-las em diálogo com as teorias feministas africanas.
Cadernos de Estudos Africanos, 2020
O presente artigo busca compreender o processo de "institucionalização” (Douglas, 2007) da homoss... more O presente artigo busca compreender o processo de "institucionalização” (Douglas, 2007) da homossexualidade em Moçambique, a partir do caso etnográfico do programa radiofônico Café Púrpura, patrocinado pela LambdaMoz – a maior organização LGBT do país – e transmitido em cadeia nacional no segundo semestre de 2018. Ao analisar cinco de seus episódios, chegamos à conclusão que o movimento LGBT moçambicano busca não somente institucionalizar a homossexualidade através de discursos, símbolos e valores, mas o faz a partir de uma perspectiva política específica, qual seja, uma política de “base” de não confrontação violenta contra a sociedade mais ampla. Nesse sentido, os dados conduzem à reflexão sobre uma importante categoria nativa na semântica homossexual local, a “tolerância”.
Anuário Antropológico, 2021
Revista Brasileira de História, 2021
No presente artigo, fruto de pesquisa histórica e etnográfica, apresento alguns arquivos coloniai... more No presente artigo, fruto de pesquisa histórica e etnográfica, apresento alguns arquivos coloniais portugueses e estrangeiros no que concerne à vida (homo)sexual pretérita dos homens do sul de Moçambique. Ao trazer tais dados, que vão desde a literatura de viagem até os boletins
oficiais da Província, argumento pela escassez de registros sobre o homoerotismo na história colonial de Moçambique até o século XX. Ao analisar os casamentos entre homens moçambicanos nas minas
sul-africanas, e os processos – até agora inéditos – sobre a penalização das práticas homossexuais no período tardo-colonial em Moçambique, argumento que o silêncio sobre a sexualidade, atribuído aos bantus desta região, pode ser também efeito do pudor do colonizador português, ainda que tenha sido ele o instaurador, naquele território, de uma nova categoria: a “homossexualidade”.
Contexto Internacional, 2020
The current paper is an ethnographic study of an international cooperation project between an int... more The current paper is an ethnographic study of an international cooperation project between an international organisation for the fight against the HIV/AIDS epidemic and the organisation LAMBDA, the largest LGBT NGO in Mozambique. The objectives of this paper are, firstly, to demonstrate how due to the international flow of financial resources attached to certain concepts and agendas, these projects end up somehow institutionalising a homosexuality project in Mozambique, in addition to reviving potentially neo-colonial practices. It also seeks to demonstrate how external bureaucratic practices can clash with local cultural practices, in what has been called 'NGOisation. '
Anuário Antropológico, 2020
Pretendemos, neste artigo, abordar os processos de construção de masculinidades no arquipélago de... more Pretendemos, neste artigo, abordar os processos de construção de masculinidades no arquipélago de Cabo Verde tomando como via de acesso as relações afetivas hétero e homossexuais. Partindo da afirmação que está no título, ouvida com frequência tanto por mulheres heterossexuais quanto por homens gays, buscaremos demonstrar como os caminhos pelos quais a masculinidade se constrói nesta sociedade coloca as relações afetivas em um limiar delicado e permeado por símbolos negativos quando expressas por essas mulheres heterossexuais e homens gays: do não público, do não romântico, do não íntimo e do quase exclusivamente sexual. A partir dos dados etnográficos aqui analisados, desenvolvemos dois argumentos centrais para pensar masculinidades: 1) que o modus operandus dos homens com os gays não passa somente pela noção de vergonha, mas por um ethos masculino mais geral; 2) que não é suficiente pensar o papel do homem apenas como cônjuge, mas também como irmão e, principalmente, filho.
Enfoques, 2016
A partir de pesquisa etnográfica realizada no arquipélago de Cabo Verde, o presente ensaio tem po... more A partir de pesquisa etnográfica realizada no arquipélago de Cabo Verde, o presente ensaio tem por objetivo refletir sobre as convergências e divergências das teorias antropológicas sobre gênero e sexualidade, no que elas auxiliam à análise dos dados sobre a (homo)sexualidade masculina e o movimento LGBT. O objetivo aqui é conciliar uma perspectiva de modelos típico-ideais de sexualidade masculina em Cabo Verde, com a teoria da performatividade queer e os estudos teóricos e etnográficos da etnologia africana para se chegar a uma síntese possível. Ao fim, pretende-se demonstrar como os debates teóricos reverberam nos movimentos LGBT no continente e as críticas nativas às ideias deles remanescentes.
Revista de Antropología Social, 2016
En este artículo se aborda el fenómeno caboverdiano de “mandar bocas” (lanzar pullas). Específica... more En este artículo se aborda el fenómeno caboverdiano de “mandar bocas” (lanzar pullas). Específicamente me centro en las “bocas enviadas” por los hombres contra otros hombres en la ciudad de Mindelo y que, desde una primera lectura analítica, se pueden clasificar rápidamente como insultos “homófobos”. Voy a argumentar, sin embargo, que esta no es la única interpretación posible del fenómeno y que las pullas que se lanzan son una fase de un cortejo homoerótico entre los chicos caboverdianos, aunque impregnado de signos machistas.
ACENO, 2016
Neste artigo, pretendo apresentar um quadro das noções de gênero e identidade sexual em Cabo Verd... more Neste artigo, pretendo apresentar um quadro das noções de gênero e identidade sexual em Cabo Verde, suas estabilidades e tensões, a partir da perspectiva privilegiada dos sujeitos homossexuais daquele país. Nesse sentido, a categoria êmica " hipocrisia " apareceu recorrentemente nos discursos dos sujeitos homossexuais pesquisados. Esta categoria de acusação parece denunciar ao mesmo tempo um silenciamento da sociedade mais ampla e uma contradição entre moralidades e práticas operantes em Cabo Verde no tema da homossexualidade. Meu argumento é que mais do que uma simples crítica moral dos sujeitos homossexuais aos seus compatriotas e a sua sociedade em geral, a categoria pode nomear uma perspectiva do sistema de gênero cabo-verdiano de relativa estabilidade, que chamei de " Sistema Hipocrisia " .
história, histórias, 2015
A partir de pesquisa arquivística e etnográfica, o presente artigo tem por objetivo contar uma hi... more A partir de pesquisa arquivística e etnográfica, o presente artigo tem por objetivo contar uma história da homossexualidade masculina no arquipélago de Cabo Verde, África. Neste intento, analiso os registros etnográficos sobre homossexualidade no continente africano, a documentação produzida pela Santa Inquisição sobre o arquipélago e, por fim, a memória oral dos homossexuais cabo-verdianos registrada nas últimas quatro décadas. Defendo que os dados aqui trazidos corroboram com a tese de que o homoerotismo não é novo e nem exógeno no continente africano.
Vibrant, Jun 30, 2015
This article explores the universe of affective relations in Cabo Verde, especially those aspects... more This article explores the universe of affective relations in Cabo Verde, especially those aspects related to conjugality and sexuality. Our interest begins with the demands for same-sex marriage made by a gay Cabo Verdean association and the ethnographic data on the gay marriage issue when it was debated by homosexual militants in Mindelo (São Vicente Island). These facts will be analyzed in the context of conjugal arrangements and heterosexual sexuality in the country. We argue that analyzing the debate on gay marriage and broadening the discussion to understand how affective relationships are lived between men and women in the archipelago, it is necessary to reflect not only on the dynamics of local affections, but especially how the circulation of discourses and values within global social movements impinges on the situation in Cabo Verde.
Anuário Antropológico, Aug 2014
Este artigo pretende analisar etnograficamente a narrativa explorada pela exposição britânica “Se... more Este artigo pretende analisar etnograficamente a narrativa explorada pela exposição britânica “Sexy Nature” quando em exibição em Paris. A partir do enfoque privilegiado de que esta exposição é um agente político ativo em um processo em curso de tentativa de naturalização de certas práticas sexuais e identidades (entre elas, a homossexualidade), descrevo e analiso as estratégias narrativas da exposição que, na busca de exibir a diversidade sexual do mundo não humano, se alterna entre a antropomorfização dos não humanos e a zoomorfização dos humanos. Assim e ao mesmo tempo, a exposição se propõe a deslocar certos signos de gênero para incluí-los no amplo escopo da “natureza”. Por último, concluo defendendo que, se por um lado são eficientes na ontologia naturalista, por outro, tais estratégias estão acompanhadas de eventuais riscos políticos em um processo que se convencionou chamar slippery slope.
MIGUEL, Francisco. Maríyarapáxjis: Silêncio, exogenia e tolerância nos processos de institucional... more MIGUEL, Francisco. Maríyarapáxjis: Silêncio, exogenia e tolerância nos processos de institucionalização das homossexualidades masculinas no sul de Moçambique. Tese de Doutorado. Programa de Pós-graduação em Antropologia Social. Universidade de Brasília. 362p.
“Maríyarapáxjis” é um neologismo (proveniente da expressão portuguesa “maria-rapaz”) encontrado na língua materna de meus interlocutores (a língua changana) para dar conta de sujeitos que a princípio demonstram certa efeminação, mas que nas últimas décadas passou também a nomear os homossexuais. Escolho-a como título desta tese porque além de ser uma das palavras mais ouvidas no sul do país para nomear esses sujeitos, ela parece ser o epítome de uma série de processos históricos de institucionalização das homossexualidades masculinas nas classes populares do sul de Moçambique. Para chegar até ela, o trabalho se inicia por uma investigação sobre registros históricos acerca do homoerotismo em Moçambique, seja nos arquivos coloniais seja a partir dos relatos de interlocutores mais velhos. Posteriormente, o trabalho se dirige para dois agentes fundamentais de institucionalização da homossexualidade no período pós-colonial, quais sejam, a mídia impressa e o movimento LGBT moçambicanos. Na terceira e última parte da tese, apresenta-se uma etnografia que busca compreender processos de institucionalização da homossexualidade não apenas contemporâneos à própria pesquisa, mas levados a cabo por outros agentes sociais, tais como a família, a religião e os próprios sujeitos que, em seus corpos, articulam sexualidades e gêneros distintos daqueles que a eles foram projetados quando a este mundo vieram – e por vezes distintos também das epistemes oferecidas pelo movimento LGBT. No percurso da tese, três categorias-chave serão recorrentes: “exogenia”, “silêncio” e “tolerância”. Assim, os dados aqui trazidos demonstram como tais categorias perpassam os processos de institucionalização da homossexualidade no sul de Moçambique, além de complexificar diversas outras questões que dizem respeito aos debates com a etnologia africana, com as teorias antropológicas de gênero e sexualidade e com as políticas nacionais e globais sobre os corpos.
"This thesis aims to contribute in efforts to build an Anthropology of (Homo)sexuality in Cabo Ve... more "This thesis aims to contribute in efforts to build an Anthropology of (Homo)sexuality in Cabo Verde, Africa. Focusing the (homo)socialiability, the gay movement and homoerotic experiences of men in the city of Mindelo, this ethnographic research in conjunction with the Creoles aims to question not only the homosexual life of the Creoles and its repercussions, but also pay attention to the emerging local LGBT movement. The perspectives and practices of the Creole men, gay and non-gay, contribute not only to understand their points of view, as to understand another cultural experience of drafting a universal phenomenon as homoeroticism. I argue that if the homoeroticism and the LGBT movement have their global dilemmas, they bump the specific semantics of this Atlantic archipelago, producing what I have called a "Hypocrisy System", permeated by silences and contradictions.
Key-words: Cape Verde; Mindelo; Homosexuality; LGBT movement
"
Editora Prismas, 2016
"Levam má bô" significa leva-me contigo na variante mindelense da língua crioula cabo-verdiana. É... more "Levam má bô" significa leva-me contigo na variante mindelense da língua crioula cabo-verdiana. É no momento em que os rapazes, que aqui são chamados de não gays, dizem aos sujeitos gays "levam má bô!", convidando-os ao ato sexual, que todo um sistema de gênero e de sexualidade se revela em suas próprias sutilezas e contradições.
Fruto de uma pesquisa etnográfica de um mês e meio nas ilhas de Santiago e São Vicente de Cabo Verde com militantes e não militantes LGBT locais, este trabalho é uma primeira incursão de pesquisa do autor não somente em África como no tema do gênero e da sexualidade. A pouca bibliografia nacional e internacional encontrada sobre homossexualidade neste continente estimula a publicação deste livro pioneiro no Brasil.
A obra tem por intenção organizar, atualizar e divulgar para um público mais amplo as ideias originalmente publicadas na dissertação de mestrado de Francisco Miguel, no curso de Antropologia Social da Universidade de Brasília. Dissertação premiada em 2015 pelo concurso de Dissertações e Teses da UnB e indicada ao Prêmio ANPOCS faz-se conveniente agora sua publicação.
Espera-se que este livro possibilite um compartilhamento maior de conhecimentos sobre as múltiplas experiências de sexualidades possíveis, desmistificando o terror e o preconceito que muitas vezes as acompanham. Convidamos o leitor nesta instigante incursão pelo universo homoerótico masculino de Cabo Verde.
A etnografia africanista foi fundamental na formulação da Antropologia Política clássica. Mas o s... more A etnografia africanista foi fundamental na formulação da Antropologia Política clássica. Mas o seu enquadramento teórico ainda daria conta das relações de poder contemporâneas (por vezes conflituosas), no que tange os marcadores de gênero e sexualidade (dissidentes) no continente? Como são operadas as políticas contemporâneas sobre os corpos e os desejos eróticos em África e quais ferramentas teóricas estão disponíveis para lidarmos com esses novos (ou nem tão novos) conflitos sociais? O objetivo do curso é refletir sobre essas e outras questões à luz das teorias africanistas e africanas sobre poder, em intersecção com o campo de gênero e sexualidade. Na primeira unidade, revisitaremos criticamente as formulações sobre o poder em África a partir, principalmente, do estrutural-funcionalismo britânico e sul-africano, que enfatizaram um certo conservadorismo cultural e político da estrutura linhageira no continente. Para uma possível fuga a esse enquadramento, iremos refletir, na segunda unidade, sobre dois temas sociológicos clássicos – “continuidade” e “mudança” – a partir das experiências políticas africanas “tradicionais” e pós-coloniais. Na terceira unidade, redireciona-se o olhar sobre o poder, agora em intersecção com as questões de gênero. Iremos focar particularmente nas políticas para e por mulheres (e agência micropolítica); mas também na conformação da masculinidade dita “tradicional” e como o poder masculino teria entrado em “crise”. Na quarta unidade, para introduzir a questão queer, nos debruçaremos primeiro sobre a obra de Achille Mbembe, particularmente para a compreensão do conceito de necropolítica (e sua eficácia na análise das políticas nacionais anti-LGBT) e sua observação de que o continente, no que tange a sexualidade, estaria passando nas últimas décadas por uma “revolução silenciosa”. Na quinta e última unidade, procederemos ao exame de seis monografias etnográficas recém-publicadas, cujo tema ou abordagem queer se intersecciona com poder, linguagem, capitalismo, neoliberalismo, pós-colonialismo, geopolítica, mercado, prostituição, migração, ativismo, entre outros.
O presente curso visa discutir os estudos de gênero e sexualidade no continente africano em um am... more O presente curso visa discutir os estudos de gênero e sexualidade no continente africano em um amplo espectro de temas. Para tanto, a ideia da primeira unidade é estabelecer as principais premissas e os enquadramentos analíticos que nos conduzirão por toda a disciplina. Nesse sentido, precisaremos definir, a partir da etnologia africana e africanista, a unidade de análise “África”, e conceitos como “gênero” e “sexualidade”. Na unidade seguinte, pretende-se investigar uma genealogia dos estudos antropológicos e historiográficos de gênero e sexualidade em África, apontando seus avanços, mas também suas limitações, inclusive teórico-metodológicas. Na terceira unidade, busca-se discutir alguns temas recorrentes na etnografia africana dentro do campo do gênero/sexualidade (como domesticidade, amor, prostituição e religiosidade). Na quarta unidade, o curso privilegiará o debate sobre o conceito de “agência”, particularmente no debate entre teoria queer e as críticas apresentadas pela antropóloga paquistanesa Saba Mahmood. Nesta unidade ainda serão discutidos alguns textos de intelectuais feministas propriamente africanas. Na quinta unidade, o curso discute as identidades de gênero, antigas e recentes, verificadas no continente. Aqui privilegia-se dois temas contemporâneos: a crise da masculinidade em África e a emergência das identidades trans e intersexuais. Na sexta unidade, o curso se volta para a discussão das sexualidades dissidentes ou não hegemônicas, privilegiando as homossexualidades e bissexualidades tal como se apresentam em solo africano. Na última unidade, o curso finaliza discutindo polêmicas contemporâneas geradas pela globalização das pautas de gênero e sexualidade em África (tais como o casamento gay, a clirectomia, a cooperação internacional para o combate à AIDS e o refúgio LGBT).
Global Encyclopedia of Lesbian, Gay, Bisexual, Transgender, and Queer (LGBTQ) History, 2019
Escritas partilhadas: parcerias em produções etnográficas realizadas em contextos africanos, Sep 13, 2023
O presente capítulo consiste em entrevistas que realizamos entre nós, à distância, a respeito de ... more O presente capítulo consiste em entrevistas que realizamos entre nós, à distância, a respeito de nossas trajetórias pessoais e acadêmicas, nossos dados de campo e nossas percepções sobre a disciplina antropológica. Além de compartilharmos dilemas geracionais de nossos tempos37, compartilhamos também o interesse pela mesma temática de pesquisa e muitas vezes os mesmos interlocutores. Atendendo à proposta do livro, Nelson e Francisco, jovens doutores que somos, o primeiro moçambicano e o segundo brasileiro, buscaremos aqui refletir “os diálogos que as trajetórias de pesquisa nos proporcionaram, desde as conexões com nossos/as interlocutores/as de pesquisa, das amizades que construímos, até os diálogos acadêmicos e/ou políticos que construímos em meio às sociedades ou grupos aos quais nos dedicamos a compreender”, conforme as organizadoras dessa coletânea sugeriram na chamada-convite para a publicação. Com base nessa proposta, fizemos perguntas um ao outro, que aqui compartilhamos em formato de diálogo. Nesse sentido, esperamos, com a publicação desta conversa, não apenas fazer um certo registro histórico do momento em que vivemos, mas também colaborar na divulgação de algumas pesquisas ainda inéditas a grande parte das pessoas interessadas em questões de gênero e sexualidade, principalmente em contextos africanos. Sem mais, convidamos o leitor e a leitora a embarcar nessa conversa.
Since the establishment of Anglophone queer African studies in the 1990s, numerous outstanding et... more Since the establishment of Anglophone queer African studies in the 1990s, numerous outstanding ethnographies have been conducted in Africa by both African and non-African researchers. From this extensive pool of data collected over the past thirty years, two aspects frequently emerge among research: that the African continent is characterized by both the nativist discourse of the exogeny of sexual dissidence and the widespread silence on the subject. Leveraging the ethnographic experience with queer issues in two Lusophone African countries and an extensive literature review, Miguel offers a comprehensive overview of this field and presents some original insights on these topics.
Vibrant, 2015
This article explores the universe of affective relations in Cabo Verde, especially those aspects... more This article explores the universe of affective relations in Cabo Verde, especially those aspects related to conjugality and sexuality. Our interest begins with the demands for same-sex marriage made by a gay Cabo Verdean association and the ethnographic data on the gay marriage issue when it was debated by homosexual militants in Mindelo (São Vicente Island). These facts will be analyzed in the context of conjugal arrangements and heterosexual sexuality in the country. We argue that analyzing the debate on gay marriage and broadening the discussion to understand how affective relationships are lived between men and women in the archipelago, it is necessary to reflect not only on the dynamics of local affections, but especially how the circulation of discourses and values within global social movements impinges on the situation in Cabo Verde.