Susana O Dias | Universidade Estadual de Campinas (original) (raw)
Papers by Susana O Dias
Diagnostico: imagens e palavras de divulgacao cientifica das mudancas climaticas estao doentes. S... more Diagnostico: imagens e palavras de divulgacao cientifica das mudancas climaticas estao doentes. Sintomas? Pele, tecidos e membranas normais, sem qualquer lesao, enrijecidas, o que ocasiona forte separacao entre interno e externo, dentro e fora, sujeito e objeto, impedindo fluxos, contagios. Visao nitida, sem manchas, nem distorcoes ou embasamentos, que indicam reducao da potencia ficcional e visao ja dada, sustentada pela busca da verdade. Musculos rigidos que garantem uma perfeita sustentacao e deslocamento repetido de significacoes calcificadas na estrutura ossea de imagens e palavras. Coracao ritmado, sem alteracoes nas pulsacoes-sensacoes, que se mantem constantes entre 70 a 80 por pixel/caracteres, produzindo funcionamentos repetidos de um tempo linear e homogeneo. Vias aereas com atividade esperada, em que o ar memoria entra continuamente, sendo aquecido e filtrado, e tornado eternamente presente nas trocas gasosas que deixam reter apenas os bons representantes e expulsam os m...
Ciência e Cultura, 2003
A perenidade de uma manifestação artística depende de registros emocionais, alguns presentes some... more A perenidade de uma manifestação artística depende de registros emocionais, alguns presentes somente na memória humana. Essa é uma dificuldade enfrentada pela dança, o que a torna uma arte efêmera. Foi essa especificidade ea ausência de registros materiais ...
S empre voltar a Espinosa! Diante da tristeza esmagadora que faz metástase por todos os lugares, ... more S empre voltar a Espinosa! Diante da tristeza esmagadora que faz metástase por todos os lugares, só nos cabe fazer um elogio ao alegrar. Só nos cabe fazer cintilar a vida mais intensamente. Afirmar esse sentimento de que a vida é pura modulação de luz. Dali que não há vida de um lado e cinema do outro. Apenas uma vida cinematográfica. Então perceber que os sentimentos e afetos que se tem por alguém, seja este humano ou não, inevitavelmente, implicam uma espessura cinematográfica. Cinema abrindo uma dimensão mais do que humana nas relações humanas. Cinema nos ajudando a lembrar que nunca se tratou de você e de mim, e
Revista InComunidade, 2021
Este texto nasce de uma inquietação que me acompanha: as árvores nunca inspiraram efetivamente a ... more Este texto nasce de uma inquietação que me acompanha: as árvores nunca inspiraram efetivamente a criação de uma imagem do pensamento1. Uma percepção que surge da leitura do capítulo dedicado à árvore e ao rizoma, dos filósofos Gilles Deleuze e Félix Guattari, ali na obra Mil Platôs (1995), em que os autores fazem uma defesa do rizoma e apresentam como os sistemas arborecentes, sejam na filosofia, na linguística, na biologia e em outras áreas, se tornaram sinônimo de hierarquias, homogeneizações, dicotomias, unificações e dominações.
Mas os próprios autores advertem: “… é uma questão de saber se a botânica, em sua especificidade, não seria inteiramente rizomórfica” (1995, p. 15). E é essa busca que movimenta esta escrita: um esforço inicial de dar a ver, escutar e sentir que as árvores já são inteiramente rizomórficas. Um desejo de honrar as árvores, celebrar e defender seus modos de existir, espalhar possibilidades de afetar e contagiar as pessoas nesse sentido. Esse é o convite aqui. E digo que este é um esforço inicial, não apenas porque este texto é um breve exercício, mas porque a busca por intensificar a existências das árvores e, também, a busca por instaurar outras existências para o pensamento apoiada por estes seres fabulosos, precisa ser de muitos, com muitos. Conecto-me, assim, ao que propõe o filósofo Étienne Souriau, que pensa que só existimos fazendo existir outras existências pois, ao fazer existir, fazemos existir novas dimensões de nós mesmos (Lapoujade, 2017).
Revista Digital do LAV , 2023
Um caminhar multiespécies: mesas de trabalho como modos de habitar artes, educações e comunicaçõe... more Um caminhar multiespécies: mesas de trabalho como modos de habitar artes, educações e comunicações diante do Antropoceno A multispecies walk: working tables as ways of inhabiting arts, education and communications in the face of the Anthropocene Un caminar multiespecie: las mesas de trabajo como modos de habitar las artes, la educación y la comunicación ante el Antropoceno
Educação & Realidade, 2023
O que as alianças com as árvores podem ativar em experiências de ensino diante do Antropoceno? P... more O que as alianças com as árvores podem ativar em experiências de ensino diante do Antropoceno? Partindo dessa pergunta, analisa-se
encontros entre biologias e artes nas práticas da disciplina “Arte, ciência e
tecnologia”. Mobilizado pelo conceito de “espécies companheiras” de Haraway (2021) e em diálogos com obras de artistas, autores da educação e filosofia, este texto se interessa por pensar no que acontece entre as relações
materiais e os regimes de signos envolvidos em exercícios que resultaram
em dois livros-objeto criados na disciplina: Floresta de Luz e Floresta². As
árvores convocam as pessoas a pensarem o ensino como um laboratório-ateliê de perceber-fazer floresta e a darem atenção às fabulações que brotam
pelas frestas, entre biologias e artes.
Revista digital FILHA, 2022
El Antropoceno es un concepto que necesita ser problematizado desde diferentes perspectivas. Esto... more El Antropoceno es un concepto que necesita ser problematizado desde diferentes perspectivas. Esto porque, si vamos a tener un “tiempo de catástrofes”, como lo define Stengers (2015) necesitamos reflexionar sobre cómo vamos a pensar y caracterizar la destrucción y cómo actuar de cara a eso. En este artículo elijo pensar el Antropoceno con materiales y prácticas artísticas, considerándolos lugares privilegiados para la creación de nuevas formas de atención a la Tierra. Busco escribir con obras que permitan “percibir-hacer bosque” (Dias, 2020) es decir, que dejen la mera denuncia y el deseo de convencer a la población y que reinventen la relación con los desastres, traigan nuevas formas de pensar las potencialidades de los encuentros con los pueblos indígenas y las ciencias climáticas, así como problematizar la pérdida del cosmos (Lawrence, 1990). Las artes emergen como un lugar no para la mera expresión de opiniones o subjetividad de los artistas, sino como un espacio de experimentación sin precedentes de las relaciones con la Tierra desde perspectivas más allá del horizonte humano.
Ciência e Cultura, 2009
Fatal error: XSL transformation failed. in /home/scielo/www/htdocs/ class.XSLTransformerPHP5.php ... more Fatal error: XSL transformation failed. in /home/scielo/www/htdocs/ class.XSLTransformerPHP5.php on line 40
… Seminário Nacional de …, 2009
Fotografia, divulgação científica, pós-estruturalismo Resumo Fotografias, palavras, dados, jogos ... more Fotografia, divulgação científica, pós-estruturalismo Resumo Fotografias, palavras, dados, jogos e outros autores propondo outros entendimentos e pesquisas no que comumente se denomina divulgação científica, investindo no movimento de produção de sentido nas superfícies, acompanhando a filosofia de Deleuze. Fotografias de intervenções do projeto Biotecnologias de rua. Fotoquaselances em transversos, transfigurações, transgressões. Potência do trans. Trans-formações que ressoam em nossas formas de pensar nas/ com/pelas imagens-biotecnologias. Escritaspesquisas a pretender uma potência de levar as ciências para além: dos seus limites; do que está dado; das fixações identitárias; das lógicas de oposição e exclusão.
Conexões: Deleuze e Cosmopolíticas e Ecologias Radicais e Nova Terra e…, 2019
“Experiências de Arvorecer” é um livro-floresta que compartilha diferentes experiências de conexã... more “Experiências de Arvorecer” é um livro-floresta que compartilha diferentes experiências de conexão com a Terra a partir de saberes originários, artísticos e científicos. Para criar este livro nos reunimos em oficinas virtuais durante um dos períodos críticos da pandemia que nos assola. A cada encontro, a floresta nos chamava a dançar, cantar, meditar, bordar, fotografar, brincar, rir, desenhar, pintar, escrever e sonhar. A floresta nos lembrava da potência de viver juntos e de compartilhar nossas práticas e saberes em prol da criação de algo coletivo que afirme a vida. Floresta é chamado que não tem fim. Quando chega, toma tudo de uma alegria que cresce continua e vagarosamente, plena de entusiasmo de existir e de exuberância contagiante. Este livro é parte do movimento de fazer escuta a esse chamado, um chamado que os povos ameríndios e africanos nunca esqueceram de ouvir, e que aqui tivemos o privilégio de entrar em relação com a participação da comunidade tupi-guarani da aldeia Awa Porungawa Dju, e acessando e conectando diferentes ancestralidades de todos os participantes. Com este livro aprendemos que a proteção das florestas depende de nossa amizade com as plantas, animais, com o ar, os rios e a terra, depende de percebermos a floresta que vive em nós e, também, a floresta que podemos nos tornar e que precisamos aprender a fazer e proliferar por diferentes gestos, materiais e modos de existir. Dar expressão sensível a esse movimento, fazer da floresta uma causa comum entre nós, nos fez buscar e acolher palavras, imagens e sons que não apenas querem honrar essas florestas, mas que desejam criar uma língua capaz de guardar e proteger seus mistérios.
ClimaCom, 2020
Este trabalho diz de um pensamento em que o problema é menos comunicar algo já dado, pronto e aca... more Este trabalho diz de um pensamento em que o problema é menos comunicar algo já dado, pronto e acabado e mais entrar em comunicação com um mundo todo vivo. Trata-se do chamado vital a ensaiar uma escuta aos devires (Deleuze, 1997; 2006), pois que o antropocentrismo ainda é um funcionamento triste que nos move a produzir em lógicas demasiado humanas, recognitivas, modernas, em que somente nos encontramos e identificamos com nós mesmos. Para pensar em outros modos de existência (Souriau, 2017) dos sistemas comunicantes, propomos fazer da escrita um meio vital de aprendizagem do que podem as alianças com as florestas por senti-las como intercessores fundamentais diante das mudanças climáticas, das catástrofes socioambientais, do Antropoceno, de Gaia... E isso passa por dar a perceber que comunicar tem menos a ver com um dizer sobre a floresta, e mais com um perceber-fazer floresta por outros modos de existência sensíveis, modos de existência fotográficos, fílmicos, pictóricos, de escrita etc.. Numa floresta não há lugar para um pensamento em torno de uma matéria inerte e estéril, antes a floresta reivindica os mil gestos necessários para nos tornarmos dignos do papel-tela (papel-jornal, papel-revista, papel-tela-pintura, papel-tela-do-cinema, papel-multimídia...) como uma matéria viva, ativa e criativa. Serão as composições com práticas e materiais que movem nossos fazeres no grupo de pesquisa multiTÃO-e nos coletivos que compomos em eventos, exposições, oficinas e nas disciplinas do mestrado em Divulgação Científica e Cultural do Labjor-Unicamp-, e que têm a revista ClimaCom como espaço-tempo privilegiado de experimentação, que permitirão desdobrar estas breves ideias. A revista resulta de uma tentativa de tornar a divulgação científica e cultural um gesto coletivo de investigação, criação e atenção à vida de imagens, palavras e sons. E isso diz respeito a um corpo a corpo com a matéria papel e à sua transformação em um material rico, complexo e perturbador das lógicas dominantes, onde nos percebemos materiais entre materiais, ferramentas entre ferramentas. Uma busca por afirmar uma lucidez alegre capaz de vigorizar a potência comunicante de uma "anarquia ecológica" (Stengers, 2018), onde não têm lugar as separações e hierarquias entre mundos, humanos e papéis, as oposições entre matéria-espírito, humano-não-humano, sujeito-objeto e teoria-prática. PALAVRAS-CHAVE: Sistemas comunicantes. Floresta. Antropoceno. Devir. Materialidade. http://climacom.mudancasclimaticas.net.br/susana-dias-florestas/
Texto para exposição Pedra_Planta de Sylvia Furegatti na Casa de Eva, Campinas, SP., 2019
As folhas das plantas dão a sentir o mistério da vida na Terra. Não apenas a vida dos indivíduos ... more As folhas das plantas dão a sentir o mistério da vida na Terra. Não apenas a vida dos indivíduos a que pertencem, mas a vida de todo o reino vegetal e de toda a biosfera (Coccia, 2018). Cada folha traz em si todas as outras folhas, cada planta todas as outras plantas, cada reino todos os outros reinos, seja vegetal, animal ou mineral. Percepções fractais que emergem dos gestos da artista Sylvia Furegatti, que brotam dos modos como usa e pensa o desenho, a fotografia e a montagem. Os desenhos feitos nas folhas de aloe vera e espada de São Jorge expõem outras plantas colhidas de seus arquivos de imagens catalogadas pela botânica. Desenhos que não seguem as linhas de parentesco, descendência e filiação que tradicionalmente movem tanto a biologia como a antropologia, antes abrem as plantas, o arquivo, a botânica e os humanos para relações não previamente programadas, interrogando os roteiros Ocidentais modernos.
ClimaCom, 2018
“Diálogos do Antropoceno” chegou como uma proposta que reclama não uma atenção aos tempos que já ... more “Diálogos do Antropoceno” chegou como uma proposta que reclama não uma atenção aos tempos que já estão aí, a uma crise que já está dada, a uma época já nomeada. Por isso não se tratam de diálogos habituais “sobre” ou “no” Antropoceno, mas antes diálogos “do” Antropoceno, mas um “do” que acolhe mil pertencimentos anômalos e precários, sempre por fazer, sempre inacabados. Daí que o convite tenha sido feito a artistas, coletivos, pesquisadores e filósofos para povoar as seções Artes, Laboratório-Ateliê e Coluna Assinada deste dossiê que não tornaram o Antropoceno um slogan para seus trabalhos, e que cujo em comum (entre eles e os demais artigos e ensaios) exigirá de mim e dos possíveis leitores um exercício de criar relações imprevistas e abertas. Exercício que aqui compartilho para que sigam sendo esboçadas. http://climacom.mudancasclimaticas.net.br/?page_id=10022
ClimaCom, 2017
¿Cómo continuar delante de la finitud? ¿Cómo hacer potente nuestra relación con las aguas? Hay al... more ¿Cómo continuar delante de la finitud? ¿Cómo hacer potente nuestra relación con las aguas? Hay algo en nosotros que nos fuerza a mantener vivas esas preguntas y hacer de esta escritura no un mero relato o descripción de estados de cosas vividos durante el encuentro-acción “(a)mares e ri(s)os infinitos” – que concebimos y realizamos en 2015 en Campinas-Brasil durante una de las mayores sequias que el sudeste del país ya ha enfrentado –, mas un hacerse digno de aquello a lo que somos llamados constantemente en nuestros gestos de investigación y creación: llevar a serio lo que puede ser pensar por el medio de las cosas-seres del mundo, por el medio y entre (Deleuze; Guattari, 1995) las aguas, es decir, no encarar las aguas, los ríos y los mares desde las configuraciones tristes que se dibujan en las dicotomías sujeto-objeto, teoría-practica y realidad-ficción y que llevan lo humano a la experiencia de finitud y de desconexión con la Tierra. Pensar por el medio y entre de las aguas exige un arriesgarse a hacerlas compañeras de escritura, dejarse afectar por ellas, encararlas como medios, encararlas por el medio y al mismo tiempo no aislarlas de los medios que dependen para seguir existiendo (Stengers, 2017).
ComCiencia, 2017
Aprender com os rios que não é possível recuperar uma condição original, mas fazer da nascença co... more Aprender com os rios que não é possível recuperar uma condição original, mas fazer da nascença constante nosso modo metamórfico de viver e pensar, que não é possível reaver um território existencial que se encontraria pressuposto desde o início, nem regenerar seu caráter supostamente real e verdadeiro, mas seguir proliferando modos de existência particulares que desafiam qualquer modelo de verdade e resistam a qualquer vontade de julgamento.
É com essa pergunta que Peter Pelbart nos apresenta Deligny e suas experiências-limite. Uma pergu... more É com essa pergunta que Peter Pelbart nos apresenta Deligny e suas experiências-limite. Uma
pergunta que mobiliza uma filiação impossível. Uma genealogia ficcional. Uma familiaridade
delirante. Uma natureza criada. Uma inteligência artificial. Uma ancestralidade que se faz devir.
Um tempo emaranhado. E tudo isso é extremamente contagiante para se pensar... para se pensar
muitas coisas... e que aqui escolhemos pensar a divulgação científica. Porque um dos problemas
da divulgação é o aprisionamento àquilo que se definiu como sendo, ao mesmo tempo, sua
origem e destino, seu passado e futuro – ciências e educação-comunicação. E se fôssemos
descendentes das aranhas? Neste artigo, buscamos por uma escrita que repouse levemente nas
dobras de corpos aberrantes, iluminando e adensando o que surge nas zonas de vizinhanças, nas
alianças desautorizadas, nas porosidades escavadas nas linguagens, nos rasgos das peles
identitárias. Convocaremos corpos-imagens-sons-palavras da literatura, artes, arquitetura,
antropologia, música, filosofia e... para realizar uma operação sensível: dar um corpo à
divulgação científica e às mudanças climáticas. Dar um corpo envolveria um desprender-se das
ecologias já dadas em busca de expressar as virtualidades futurísticas de ciências-educaçõescomunicações.
O funcionamento das imagens, palavras e sons na comunicação faz parte do problema da impotência e... more O funcionamento das imagens, palavras e sons na comunicação faz parte do problema da impotência e
da expropriação das forças criativas do humano que precisamos enfrentar com as mudanças climáticas.
Ao reforçar a percepção de que imagens, palavras e sons são apenas descrições e representações de um
mundo que está fora delas, as mídias estão implicadas na gravidade das alterações ambientais e das
violentas lógicas que atravessam as relações dos humanos com a Terra, com as coisas-seres do mundo.
Para interferir nesse contexto a partir de uma outra política da comunicação, a Sub-rede Divulgação
Científica e Mudanças Climáticas, da Rede CLIMA, pesquisa experimentos interativos que visam explorar
as potencialidades da comunicação com as mudanças climáticas enquanto uma questão vital. Trata-se de
pensar como imagens, palavras e sons podem dar ao humano a mais intensa potência de existir através
de novos modos de dizer, escrever e pensar.
O que podem as imagens com o mar? Que desmesura da gramática audiovisual é preciso atingir para s... more O que podem as imagens com o mar? Que desmesura da gramática audiovisual é preciso
atingir para ser digno do mar, para estar à altura da vida? Neste artigo tomamos o mar como
material de encontro entre ciências, artes e filosofias para inundar as configurações
dominantes do humano na divulgação das mudanças climáticas. Há-mares que se amarram
nos milímetros, imagens-palavras-sons que insistem na medida como esquadrinhamento de
condições existentes, reconhecimento de cenários passados e captura de futuros. Mar-metrado
por miliondas? O mar revolta. Um humano obsessivamente colocado como justa medida de
todas as coisas. Não seria preciso a-mar e desmedir as medidas? Variar (d)as medidas?
Enlouquecer coordenadas para além dos limites possíveis já dados que impedem a afirmação
de ciências errantes. Ser tomado pelo mar, deixar-se invadir por vagas e marulhos, arrebentar
com tentativas de homogeneizar e equivaler medidas. Insistir em medir, mas de outros modos,
como o Sol é medido pelas plantas, o vento é medido pelo mar, as presas medidas pelos
morcegos... Proliferar vida nas medidas e com elas. Explorar o gesto de medir como
capacidade de afetar e ser afetado (Stengers), como pick-up (Deleuze & Parnet, 1998). Captar
e pegar ondas para criar com a língua um campo ondulatório no qual podemos experimentar
um humano desvinculado das investidas finalistas, em que palavras, imagens e sons doam-se
ao mar, lançam-se como oferendas e convocam um medir que arrasta ciências, artes e
comunicações para devires imprevisíveis, onde afetos marítimos vazam interesses pela vida.
Lá onde o humano fracassa diante de forças indomáveis, selvagens, turbulentas, diante de
outras resoluções, cores, escalas e ritmos, diante das desmesuras do inumano.
A proposta que apresentamos deseja criar entrelaçamentos que permitam habitar de uma outra forma ... more A proposta que apresentamos deseja criar entrelaçamentos que permitam habitar de uma outra forma o mundo e os arquivos. Uma escrita-pesquisa que mapeará as linhas (seus movimentos, desenhos e configurações) que atravessam a constituição de arquivos na contemporaneidade, focalizando a aposta das biotecnologias (perfis genéticos que se pretendem o último arquivo, corpos inventariados e transformados em bancos de dados). Na medida em que, além do corpo, as próprias palavras, imagens e sons também se tornam arquivos, a partir do diagnóstico proposto, interessa-nos também pensar as potências das experimentações com o arquivismo - produzidas na interface entre filosofia, artes, ciências e comunicação - de afetar as relações entre vida, política e escrita. Para tanto, propomos adensar o pensamento sobre o arquivismo com a antropologia das linhas, de Tim Ingold; com filósofos pós-estruturalistas como Gilles Deleuze, Félix Guattari, Jacques Derrida, Michel Foucault e Jacques Rancière; e investigar experimentações com arquivos feitas por artistas contemporâneos como DJ Spook (arquivos sonoros) e Rosângela Rennó (arquivos fotográficos). Possibilidades de pensamento que não recusam, não se opõem, nem denunciam os arquivos. Também não aderem a eles. Promovem dentro deles um esvaziamento vital da política arquivista, transformando-a em problema e, ao mesmo tempo, objeto de experimentação.
Diagnostico: imagens e palavras de divulgacao cientifica das mudancas climaticas estao doentes. S... more Diagnostico: imagens e palavras de divulgacao cientifica das mudancas climaticas estao doentes. Sintomas? Pele, tecidos e membranas normais, sem qualquer lesao, enrijecidas, o que ocasiona forte separacao entre interno e externo, dentro e fora, sujeito e objeto, impedindo fluxos, contagios. Visao nitida, sem manchas, nem distorcoes ou embasamentos, que indicam reducao da potencia ficcional e visao ja dada, sustentada pela busca da verdade. Musculos rigidos que garantem uma perfeita sustentacao e deslocamento repetido de significacoes calcificadas na estrutura ossea de imagens e palavras. Coracao ritmado, sem alteracoes nas pulsacoes-sensacoes, que se mantem constantes entre 70 a 80 por pixel/caracteres, produzindo funcionamentos repetidos de um tempo linear e homogeneo. Vias aereas com atividade esperada, em que o ar memoria entra continuamente, sendo aquecido e filtrado, e tornado eternamente presente nas trocas gasosas que deixam reter apenas os bons representantes e expulsam os m...
Ciência e Cultura, 2003
A perenidade de uma manifestação artística depende de registros emocionais, alguns presentes some... more A perenidade de uma manifestação artística depende de registros emocionais, alguns presentes somente na memória humana. Essa é uma dificuldade enfrentada pela dança, o que a torna uma arte efêmera. Foi essa especificidade ea ausência de registros materiais ...
S empre voltar a Espinosa! Diante da tristeza esmagadora que faz metástase por todos os lugares, ... more S empre voltar a Espinosa! Diante da tristeza esmagadora que faz metástase por todos os lugares, só nos cabe fazer um elogio ao alegrar. Só nos cabe fazer cintilar a vida mais intensamente. Afirmar esse sentimento de que a vida é pura modulação de luz. Dali que não há vida de um lado e cinema do outro. Apenas uma vida cinematográfica. Então perceber que os sentimentos e afetos que se tem por alguém, seja este humano ou não, inevitavelmente, implicam uma espessura cinematográfica. Cinema abrindo uma dimensão mais do que humana nas relações humanas. Cinema nos ajudando a lembrar que nunca se tratou de você e de mim, e
Revista InComunidade, 2021
Este texto nasce de uma inquietação que me acompanha: as árvores nunca inspiraram efetivamente a ... more Este texto nasce de uma inquietação que me acompanha: as árvores nunca inspiraram efetivamente a criação de uma imagem do pensamento1. Uma percepção que surge da leitura do capítulo dedicado à árvore e ao rizoma, dos filósofos Gilles Deleuze e Félix Guattari, ali na obra Mil Platôs (1995), em que os autores fazem uma defesa do rizoma e apresentam como os sistemas arborecentes, sejam na filosofia, na linguística, na biologia e em outras áreas, se tornaram sinônimo de hierarquias, homogeneizações, dicotomias, unificações e dominações.
Mas os próprios autores advertem: “… é uma questão de saber se a botânica, em sua especificidade, não seria inteiramente rizomórfica” (1995, p. 15). E é essa busca que movimenta esta escrita: um esforço inicial de dar a ver, escutar e sentir que as árvores já são inteiramente rizomórficas. Um desejo de honrar as árvores, celebrar e defender seus modos de existir, espalhar possibilidades de afetar e contagiar as pessoas nesse sentido. Esse é o convite aqui. E digo que este é um esforço inicial, não apenas porque este texto é um breve exercício, mas porque a busca por intensificar a existências das árvores e, também, a busca por instaurar outras existências para o pensamento apoiada por estes seres fabulosos, precisa ser de muitos, com muitos. Conecto-me, assim, ao que propõe o filósofo Étienne Souriau, que pensa que só existimos fazendo existir outras existências pois, ao fazer existir, fazemos existir novas dimensões de nós mesmos (Lapoujade, 2017).
Revista Digital do LAV , 2023
Um caminhar multiespécies: mesas de trabalho como modos de habitar artes, educações e comunicaçõe... more Um caminhar multiespécies: mesas de trabalho como modos de habitar artes, educações e comunicações diante do Antropoceno A multispecies walk: working tables as ways of inhabiting arts, education and communications in the face of the Anthropocene Un caminar multiespecie: las mesas de trabajo como modos de habitar las artes, la educación y la comunicación ante el Antropoceno
Educação & Realidade, 2023
O que as alianças com as árvores podem ativar em experiências de ensino diante do Antropoceno? P... more O que as alianças com as árvores podem ativar em experiências de ensino diante do Antropoceno? Partindo dessa pergunta, analisa-se
encontros entre biologias e artes nas práticas da disciplina “Arte, ciência e
tecnologia”. Mobilizado pelo conceito de “espécies companheiras” de Haraway (2021) e em diálogos com obras de artistas, autores da educação e filosofia, este texto se interessa por pensar no que acontece entre as relações
materiais e os regimes de signos envolvidos em exercícios que resultaram
em dois livros-objeto criados na disciplina: Floresta de Luz e Floresta². As
árvores convocam as pessoas a pensarem o ensino como um laboratório-ateliê de perceber-fazer floresta e a darem atenção às fabulações que brotam
pelas frestas, entre biologias e artes.
Revista digital FILHA, 2022
El Antropoceno es un concepto que necesita ser problematizado desde diferentes perspectivas. Esto... more El Antropoceno es un concepto que necesita ser problematizado desde diferentes perspectivas. Esto porque, si vamos a tener un “tiempo de catástrofes”, como lo define Stengers (2015) necesitamos reflexionar sobre cómo vamos a pensar y caracterizar la destrucción y cómo actuar de cara a eso. En este artículo elijo pensar el Antropoceno con materiales y prácticas artísticas, considerándolos lugares privilegiados para la creación de nuevas formas de atención a la Tierra. Busco escribir con obras que permitan “percibir-hacer bosque” (Dias, 2020) es decir, que dejen la mera denuncia y el deseo de convencer a la población y que reinventen la relación con los desastres, traigan nuevas formas de pensar las potencialidades de los encuentros con los pueblos indígenas y las ciencias climáticas, así como problematizar la pérdida del cosmos (Lawrence, 1990). Las artes emergen como un lugar no para la mera expresión de opiniones o subjetividad de los artistas, sino como un espacio de experimentación sin precedentes de las relaciones con la Tierra desde perspectivas más allá del horizonte humano.
Ciência e Cultura, 2009
Fatal error: XSL transformation failed. in /home/scielo/www/htdocs/ class.XSLTransformerPHP5.php ... more Fatal error: XSL transformation failed. in /home/scielo/www/htdocs/ class.XSLTransformerPHP5.php on line 40
… Seminário Nacional de …, 2009
Fotografia, divulgação científica, pós-estruturalismo Resumo Fotografias, palavras, dados, jogos ... more Fotografia, divulgação científica, pós-estruturalismo Resumo Fotografias, palavras, dados, jogos e outros autores propondo outros entendimentos e pesquisas no que comumente se denomina divulgação científica, investindo no movimento de produção de sentido nas superfícies, acompanhando a filosofia de Deleuze. Fotografias de intervenções do projeto Biotecnologias de rua. Fotoquaselances em transversos, transfigurações, transgressões. Potência do trans. Trans-formações que ressoam em nossas formas de pensar nas/ com/pelas imagens-biotecnologias. Escritaspesquisas a pretender uma potência de levar as ciências para além: dos seus limites; do que está dado; das fixações identitárias; das lógicas de oposição e exclusão.
Conexões: Deleuze e Cosmopolíticas e Ecologias Radicais e Nova Terra e…, 2019
“Experiências de Arvorecer” é um livro-floresta que compartilha diferentes experiências de conexã... more “Experiências de Arvorecer” é um livro-floresta que compartilha diferentes experiências de conexão com a Terra a partir de saberes originários, artísticos e científicos. Para criar este livro nos reunimos em oficinas virtuais durante um dos períodos críticos da pandemia que nos assola. A cada encontro, a floresta nos chamava a dançar, cantar, meditar, bordar, fotografar, brincar, rir, desenhar, pintar, escrever e sonhar. A floresta nos lembrava da potência de viver juntos e de compartilhar nossas práticas e saberes em prol da criação de algo coletivo que afirme a vida. Floresta é chamado que não tem fim. Quando chega, toma tudo de uma alegria que cresce continua e vagarosamente, plena de entusiasmo de existir e de exuberância contagiante. Este livro é parte do movimento de fazer escuta a esse chamado, um chamado que os povos ameríndios e africanos nunca esqueceram de ouvir, e que aqui tivemos o privilégio de entrar em relação com a participação da comunidade tupi-guarani da aldeia Awa Porungawa Dju, e acessando e conectando diferentes ancestralidades de todos os participantes. Com este livro aprendemos que a proteção das florestas depende de nossa amizade com as plantas, animais, com o ar, os rios e a terra, depende de percebermos a floresta que vive em nós e, também, a floresta que podemos nos tornar e que precisamos aprender a fazer e proliferar por diferentes gestos, materiais e modos de existir. Dar expressão sensível a esse movimento, fazer da floresta uma causa comum entre nós, nos fez buscar e acolher palavras, imagens e sons que não apenas querem honrar essas florestas, mas que desejam criar uma língua capaz de guardar e proteger seus mistérios.
ClimaCom, 2020
Este trabalho diz de um pensamento em que o problema é menos comunicar algo já dado, pronto e aca... more Este trabalho diz de um pensamento em que o problema é menos comunicar algo já dado, pronto e acabado e mais entrar em comunicação com um mundo todo vivo. Trata-se do chamado vital a ensaiar uma escuta aos devires (Deleuze, 1997; 2006), pois que o antropocentrismo ainda é um funcionamento triste que nos move a produzir em lógicas demasiado humanas, recognitivas, modernas, em que somente nos encontramos e identificamos com nós mesmos. Para pensar em outros modos de existência (Souriau, 2017) dos sistemas comunicantes, propomos fazer da escrita um meio vital de aprendizagem do que podem as alianças com as florestas por senti-las como intercessores fundamentais diante das mudanças climáticas, das catástrofes socioambientais, do Antropoceno, de Gaia... E isso passa por dar a perceber que comunicar tem menos a ver com um dizer sobre a floresta, e mais com um perceber-fazer floresta por outros modos de existência sensíveis, modos de existência fotográficos, fílmicos, pictóricos, de escrita etc.. Numa floresta não há lugar para um pensamento em torno de uma matéria inerte e estéril, antes a floresta reivindica os mil gestos necessários para nos tornarmos dignos do papel-tela (papel-jornal, papel-revista, papel-tela-pintura, papel-tela-do-cinema, papel-multimídia...) como uma matéria viva, ativa e criativa. Serão as composições com práticas e materiais que movem nossos fazeres no grupo de pesquisa multiTÃO-e nos coletivos que compomos em eventos, exposições, oficinas e nas disciplinas do mestrado em Divulgação Científica e Cultural do Labjor-Unicamp-, e que têm a revista ClimaCom como espaço-tempo privilegiado de experimentação, que permitirão desdobrar estas breves ideias. A revista resulta de uma tentativa de tornar a divulgação científica e cultural um gesto coletivo de investigação, criação e atenção à vida de imagens, palavras e sons. E isso diz respeito a um corpo a corpo com a matéria papel e à sua transformação em um material rico, complexo e perturbador das lógicas dominantes, onde nos percebemos materiais entre materiais, ferramentas entre ferramentas. Uma busca por afirmar uma lucidez alegre capaz de vigorizar a potência comunicante de uma "anarquia ecológica" (Stengers, 2018), onde não têm lugar as separações e hierarquias entre mundos, humanos e papéis, as oposições entre matéria-espírito, humano-não-humano, sujeito-objeto e teoria-prática. PALAVRAS-CHAVE: Sistemas comunicantes. Floresta. Antropoceno. Devir. Materialidade. http://climacom.mudancasclimaticas.net.br/susana-dias-florestas/
Texto para exposição Pedra_Planta de Sylvia Furegatti na Casa de Eva, Campinas, SP., 2019
As folhas das plantas dão a sentir o mistério da vida na Terra. Não apenas a vida dos indivíduos ... more As folhas das plantas dão a sentir o mistério da vida na Terra. Não apenas a vida dos indivíduos a que pertencem, mas a vida de todo o reino vegetal e de toda a biosfera (Coccia, 2018). Cada folha traz em si todas as outras folhas, cada planta todas as outras plantas, cada reino todos os outros reinos, seja vegetal, animal ou mineral. Percepções fractais que emergem dos gestos da artista Sylvia Furegatti, que brotam dos modos como usa e pensa o desenho, a fotografia e a montagem. Os desenhos feitos nas folhas de aloe vera e espada de São Jorge expõem outras plantas colhidas de seus arquivos de imagens catalogadas pela botânica. Desenhos que não seguem as linhas de parentesco, descendência e filiação que tradicionalmente movem tanto a biologia como a antropologia, antes abrem as plantas, o arquivo, a botânica e os humanos para relações não previamente programadas, interrogando os roteiros Ocidentais modernos.
ClimaCom, 2018
“Diálogos do Antropoceno” chegou como uma proposta que reclama não uma atenção aos tempos que já ... more “Diálogos do Antropoceno” chegou como uma proposta que reclama não uma atenção aos tempos que já estão aí, a uma crise que já está dada, a uma época já nomeada. Por isso não se tratam de diálogos habituais “sobre” ou “no” Antropoceno, mas antes diálogos “do” Antropoceno, mas um “do” que acolhe mil pertencimentos anômalos e precários, sempre por fazer, sempre inacabados. Daí que o convite tenha sido feito a artistas, coletivos, pesquisadores e filósofos para povoar as seções Artes, Laboratório-Ateliê e Coluna Assinada deste dossiê que não tornaram o Antropoceno um slogan para seus trabalhos, e que cujo em comum (entre eles e os demais artigos e ensaios) exigirá de mim e dos possíveis leitores um exercício de criar relações imprevistas e abertas. Exercício que aqui compartilho para que sigam sendo esboçadas. http://climacom.mudancasclimaticas.net.br/?page_id=10022
ClimaCom, 2017
¿Cómo continuar delante de la finitud? ¿Cómo hacer potente nuestra relación con las aguas? Hay al... more ¿Cómo continuar delante de la finitud? ¿Cómo hacer potente nuestra relación con las aguas? Hay algo en nosotros que nos fuerza a mantener vivas esas preguntas y hacer de esta escritura no un mero relato o descripción de estados de cosas vividos durante el encuentro-acción “(a)mares e ri(s)os infinitos” – que concebimos y realizamos en 2015 en Campinas-Brasil durante una de las mayores sequias que el sudeste del país ya ha enfrentado –, mas un hacerse digno de aquello a lo que somos llamados constantemente en nuestros gestos de investigación y creación: llevar a serio lo que puede ser pensar por el medio de las cosas-seres del mundo, por el medio y entre (Deleuze; Guattari, 1995) las aguas, es decir, no encarar las aguas, los ríos y los mares desde las configuraciones tristes que se dibujan en las dicotomías sujeto-objeto, teoría-practica y realidad-ficción y que llevan lo humano a la experiencia de finitud y de desconexión con la Tierra. Pensar por el medio y entre de las aguas exige un arriesgarse a hacerlas compañeras de escritura, dejarse afectar por ellas, encararlas como medios, encararlas por el medio y al mismo tiempo no aislarlas de los medios que dependen para seguir existiendo (Stengers, 2017).
ComCiencia, 2017
Aprender com os rios que não é possível recuperar uma condição original, mas fazer da nascença co... more Aprender com os rios que não é possível recuperar uma condição original, mas fazer da nascença constante nosso modo metamórfico de viver e pensar, que não é possível reaver um território existencial que se encontraria pressuposto desde o início, nem regenerar seu caráter supostamente real e verdadeiro, mas seguir proliferando modos de existência particulares que desafiam qualquer modelo de verdade e resistam a qualquer vontade de julgamento.
É com essa pergunta que Peter Pelbart nos apresenta Deligny e suas experiências-limite. Uma pergu... more É com essa pergunta que Peter Pelbart nos apresenta Deligny e suas experiências-limite. Uma
pergunta que mobiliza uma filiação impossível. Uma genealogia ficcional. Uma familiaridade
delirante. Uma natureza criada. Uma inteligência artificial. Uma ancestralidade que se faz devir.
Um tempo emaranhado. E tudo isso é extremamente contagiante para se pensar... para se pensar
muitas coisas... e que aqui escolhemos pensar a divulgação científica. Porque um dos problemas
da divulgação é o aprisionamento àquilo que se definiu como sendo, ao mesmo tempo, sua
origem e destino, seu passado e futuro – ciências e educação-comunicação. E se fôssemos
descendentes das aranhas? Neste artigo, buscamos por uma escrita que repouse levemente nas
dobras de corpos aberrantes, iluminando e adensando o que surge nas zonas de vizinhanças, nas
alianças desautorizadas, nas porosidades escavadas nas linguagens, nos rasgos das peles
identitárias. Convocaremos corpos-imagens-sons-palavras da literatura, artes, arquitetura,
antropologia, música, filosofia e... para realizar uma operação sensível: dar um corpo à
divulgação científica e às mudanças climáticas. Dar um corpo envolveria um desprender-se das
ecologias já dadas em busca de expressar as virtualidades futurísticas de ciências-educaçõescomunicações.
O funcionamento das imagens, palavras e sons na comunicação faz parte do problema da impotência e... more O funcionamento das imagens, palavras e sons na comunicação faz parte do problema da impotência e
da expropriação das forças criativas do humano que precisamos enfrentar com as mudanças climáticas.
Ao reforçar a percepção de que imagens, palavras e sons são apenas descrições e representações de um
mundo que está fora delas, as mídias estão implicadas na gravidade das alterações ambientais e das
violentas lógicas que atravessam as relações dos humanos com a Terra, com as coisas-seres do mundo.
Para interferir nesse contexto a partir de uma outra política da comunicação, a Sub-rede Divulgação
Científica e Mudanças Climáticas, da Rede CLIMA, pesquisa experimentos interativos que visam explorar
as potencialidades da comunicação com as mudanças climáticas enquanto uma questão vital. Trata-se de
pensar como imagens, palavras e sons podem dar ao humano a mais intensa potência de existir através
de novos modos de dizer, escrever e pensar.
O que podem as imagens com o mar? Que desmesura da gramática audiovisual é preciso atingir para s... more O que podem as imagens com o mar? Que desmesura da gramática audiovisual é preciso
atingir para ser digno do mar, para estar à altura da vida? Neste artigo tomamos o mar como
material de encontro entre ciências, artes e filosofias para inundar as configurações
dominantes do humano na divulgação das mudanças climáticas. Há-mares que se amarram
nos milímetros, imagens-palavras-sons que insistem na medida como esquadrinhamento de
condições existentes, reconhecimento de cenários passados e captura de futuros. Mar-metrado
por miliondas? O mar revolta. Um humano obsessivamente colocado como justa medida de
todas as coisas. Não seria preciso a-mar e desmedir as medidas? Variar (d)as medidas?
Enlouquecer coordenadas para além dos limites possíveis já dados que impedem a afirmação
de ciências errantes. Ser tomado pelo mar, deixar-se invadir por vagas e marulhos, arrebentar
com tentativas de homogeneizar e equivaler medidas. Insistir em medir, mas de outros modos,
como o Sol é medido pelas plantas, o vento é medido pelo mar, as presas medidas pelos
morcegos... Proliferar vida nas medidas e com elas. Explorar o gesto de medir como
capacidade de afetar e ser afetado (Stengers), como pick-up (Deleuze & Parnet, 1998). Captar
e pegar ondas para criar com a língua um campo ondulatório no qual podemos experimentar
um humano desvinculado das investidas finalistas, em que palavras, imagens e sons doam-se
ao mar, lançam-se como oferendas e convocam um medir que arrasta ciências, artes e
comunicações para devires imprevisíveis, onde afetos marítimos vazam interesses pela vida.
Lá onde o humano fracassa diante de forças indomáveis, selvagens, turbulentas, diante de
outras resoluções, cores, escalas e ritmos, diante das desmesuras do inumano.
A proposta que apresentamos deseja criar entrelaçamentos que permitam habitar de uma outra forma ... more A proposta que apresentamos deseja criar entrelaçamentos que permitam habitar de uma outra forma o mundo e os arquivos. Uma escrita-pesquisa que mapeará as linhas (seus movimentos, desenhos e configurações) que atravessam a constituição de arquivos na contemporaneidade, focalizando a aposta das biotecnologias (perfis genéticos que se pretendem o último arquivo, corpos inventariados e transformados em bancos de dados). Na medida em que, além do corpo, as próprias palavras, imagens e sons também se tornam arquivos, a partir do diagnóstico proposto, interessa-nos também pensar as potências das experimentações com o arquivismo - produzidas na interface entre filosofia, artes, ciências e comunicação - de afetar as relações entre vida, política e escrita. Para tanto, propomos adensar o pensamento sobre o arquivismo com a antropologia das linhas, de Tim Ingold; com filósofos pós-estruturalistas como Gilles Deleuze, Félix Guattari, Jacques Derrida, Michel Foucault e Jacques Rancière; e investigar experimentações com arquivos feitas por artistas contemporâneos como DJ Spook (arquivos sonoros) e Rosângela Rennó (arquivos fotográficos). Possibilidades de pensamento que não recusam, não se opõem, nem denunciam os arquivos. Também não aderem a eles. Promovem dentro deles um esvaziamento vital da política arquivista, transformando-a em problema e, ao mesmo tempo, objeto de experimentação.
Editora BCCL-Unicamp, 2019
uma disciplina, alguns encontros, muitas florestas… este fotolivro reúne pequenos exercícios de e... more uma disciplina, alguns encontros, muitas florestas… este fotolivro reúne pequenos exercícios de estar junto, de viver junto, em 100 fragmentos de textos articulados a 100 fragmentos de imagens criadas pelos convidados e participantes da disciplina “Arte, ciência e tecnologia”, do mestrado em Divulgação Científica e Cultural, oferecido pelo Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor) e Instituto de Estudos da Linguagem (IEL), da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), no segundo semestre de 2019. Fragmentos gerados nas relações entre as vidas que fulguram em uma floresta urbana, uma casa de cultura de matriz africana, um laboratório de pesquisas agrícolas, uma praça e uma sala de aula. Nossa busca é dar existência à potência da comunicação quando pensada em parceria com as florestas. Experimentar a ideia de que uma floresta é um estar/viver junto – entre pessoas, imagens, palavras, sons, forças, seres, coisas, mundos – que não existia antes e que abre em nós uma clareira alegre. Uma ideia que reclama de nós um redobrar as potências afirmativas, ao mesmo tempo, do livro, da fotografia e da floresta.
agradecemos às comunidades de humanos e não-humanos e aos lugares que nos acolheram e tornaram possíveis estas criações: Comunidade Jongo Dito Ribeiro e Casa de Cultura Fazenda Roseira, Fundação José Pedro de Oliveira e Mata Santa Genebra, Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Praça da Paz e Labjor-Unicamp.
Ciências, culturas e tecnologias: divulgações plurais, 2019
RESUMO: A comunicação das mudanças climáticas vive o seu limite. Criar um corpo para este problem... more RESUMO: A comunicação das mudanças climáticas vive o seu limite. Criar um corpo para este problema é a busca deste texto. Algo que sentimos que só pode ser feito com a problematização do que pode a escrita em meio à gramática e regimes perceptivos dominantes, em que o humano é obsessivamente colocado como justa medida de todas as coisas. Para criar este combate e convocar as potências de uma escrita-limite escolhemos lidar com a entrevista com um climatologista que produzimos para a Revista ClimaCom e que foi editada com a
série de imagens “Marmetria”, de Fernanda Pestana. Tomamos o mar como material de encontro entre ciências, artes e filosofias, reserva de multiplicidades, conexões e mistérios infinitos, para inundar as configurações dominantes do humano na divulgação das mudanças climáticas e proliferar vida nas políticas comunicacionais.
ABSTRACT: Climate change communication is at its limit. The aim of this text is to create a body for this problem. We feel that this can only be done with the problematization of what writing can do in the midst of the
dominant grammar and perceptual regimes, in which the human is obsessively placed as the right measure of all things. To create this combat we chose to deal with a climatologist’s interview that we produced for ClimaCom Journal edited with the “Marmetria” series of images produced by the visual artist Fernanda Pestana. We take
the sea as a material of encounter between sciences, arts and philosophies - reserve of infinite multiplicities, connections and mysteries - to flood the all too human configurations of the climate change communication.
Des-loucar-se, 2018
“Todo livro reclama uma vida. Uma vida que diz dos mil gestos que envolvem o tornar-se digno do c... more “Todo livro reclama uma vida. Uma vida que diz dos mil gestos que envolvem o tornar-se digno do chamado a escrever. Que diz da necessidade de exercitarmos a escrita como arte de pedir licença para escutar uma vida em nascença constante, fugidia, desloucada. E se as faíscas lançadas atiçam desejos além de nós – “… Como escrever se entregando às forças frágeis e inumanas que habitam a cidade? Como escrever por dentro da chuva, do vento…” (Textualidades babélicas e Tecendo, 2016) – é porque escrever é um gesto de irromper-se e deixar-se habitar pela turbulência e instabilidade constante dos mundos (…). Escrever não como quem explora as oportunidades, mas como quem responde a um chamado cósmico e sabe que há uma dimensão ética em sermos dignos do que nos acontece. Um chamado cósmico não pede soluções – como se a nós coubesse somente o gesto de dar respostas aos problemas já postos – mas sim honrar o problema: a saber, aqui, o de escrever(-se). O chamado não termina com o livro, pois há que se seguir abrindo uma escuta para pluridirecionalidade do chamado, porque se trata de um convite a uma escuta de si, uma escuta da cidade, do corpo, da Terra, uma escuta da vontade de vida que está tristemente subjugada pelas “nossas” intencionalidades reelaboradas incessantemente pelo capitalismo. Não se pode “perder a chamada” – “Não podia perder tempo, era hora de brilhar!” – e, para isso, é preciso seguir “desloucando-se”, “perder o controle”, “sabotar tempos”, jogar “Tudo ao mar”. Deixar-se ali onde “areias do vento, esfregam em olhos”, onde “O ar ria” e “Venta. Verde e cinza”. Para, só assim, “experimentar a condição vulnerável de nossos corpos”, perceber “o lençol como espaço nômade”, atingir “as intimidades dos seres”, alegrar-se com as “cidades que eu costurei entre nuvens”, sentir que “são as imagens que dançam e se encontram”. E alguém pode perguntar: “Então vai ser como sonhar?”, “e todos os sons juntos falavam ao mesmo tempo”: “Uí-ó Trrrrrrrééééééé”, será como “uma entrega para os mundos”, “Podia ser muitas coisas. Podia criar muitas coisas”, “Os caminhos eu guardo comigo”, “Não pude evitar as mudanças!”.
E “nós”?
(ar)ris
cam
(n) inhos
ou outros
pousos”
Livro completo para download: http://climacom.mudancasclimaticas.net.br/?page_id=4402
Biotecnologias e regulações: Desafios contemporâneos (EDITORA UFMG), 2018
A proposta deste texto é investigar a constituição de arquivos na contemporaneidade, focalizando ... more A proposta deste texto é investigar a constituição de arquivos na contemporaneidade, focalizando a aposta das biotecnologias efetivamente afetada por seus materiais de pesquisa - dentre eles, obras artísticas de Rosângela Rennó, Paul Miller (aka DJ
Spooky that Subliminal Kid) e Kodwo Eshun propomos uma escrita que problematize o arquivismo e as biotecnologias, deixando de restringi-los unicamente às tecnociências (polo a ser denunciado, criticado e condenado como culpado) e preferindo não contrastá-las às artes (polo a ser exaltado enquanto salvação e redenção), desestabilizando o julgamento moralizante a partir do qual tecnociências e artes tendem a ser fixadas e hierarquizadas nessa identificação.
O que interessa aqui é uma exploração especulativa de bandos de experimentações vitais que abrem... more O que interessa aqui é uma exploração especulativa de bandos
de experimentações vitais que abrem com as ciências
variações infinitas. Todo um campo inédito de vizinhanças,
de inter-esses, de relações móveis e parciais que nos faz vibrar
junto com as ciências, mas não só... em prol da invenção de novos
problemas, da proliferação de novos modos de existência. Um reaprender a dar atenção às ciências que não as recuse de antemão,
que suspenda esse hábito e recuse, por sua vez, qualquer investida
dominante, normativa, hierárquica e de julgamento, que impeça
de pensar as ciências emaranhadas a diversas práticas, multiplicadas
em meio a ambientes perigosos, contaminadas com lógicas dissensuais e aberrantes. Essas novas possibilidades de estar junto, de estar presente, de se conectar e interagir passam por um abrir de composições-pensamentos sensíveis a um tom menor (filmes, ensaios fotográficos, performances, escritas etc.), um modo de aparecerem
acontecimentos cósmicos, que articulam o que antes gerava separação
e guerra, celebrando uma pertença frágil e precária.
https://vimeo.com/292308770 15 min40 cor HD Sempre voltar a Espinosa! Diante da tristeza esmaga... more https://vimeo.com/292308770
15 min40
cor
HD
Sempre voltar a Espinosa! Diante da tristeza esmagadora que
faz metástase por todos os lugares, só nos cabe fazer um elogio
ao alegrar. Só nos cabe fazer cintilar a vida mais intensamente.
Afirmar esse sentimento de que a vida é pura modulação de luz.
Dali que não há vida de um lado e cinema do outro. Apenas uma
vida cinematográfica. Então perceber que os sentimentos e afetos
que se tem por alguém, seja este humano ou não, inevitavelmente,
implicam uma espessura cinematográfica. Cinema abrindo uma
dimensão mais do que humana nas relações humanas. Cinema
nos ajudando a lembrar que nunca se tratou de você e de mim, e
sim do que se passa entre nós. Por vezes temos que dar expressão
a um sentimento de gratidão. Talvez “Cintilações” não seja mais
do que isso, uma dádiva de gratidão, que no cinema e através das
imagens atinge uma dimensão impessoal. Um filme dedicado a
um amigo, uma gratidão que devém cósmica. “Cintilações”, um
filme muito pequeno, um gesto despretensioso, onde talvez possa-
mos aprender com um velho amigo que não somos mais do que
as faíscas entre uma modulação de luz e outra. Uma coisa é certa.
Ele é um summum de cintilações. Longa vida para o querido Luiz
Orlandi! Longa vida ao alegrar, como imanência e proliferação
dos encontros, como indiscernibilidade entre uma vida intensiva,
uma vida filosófica e uma vida cinematográfica; como abertura de
contínuos afetivos e, sobretudo, como radicalidade ética de quem
faz o movimento de ser pensamento em ato. Um elogio ao alegrar
que abre nas imagens uma dimensão cósmica e impessoal, que nos
lembra de tudo aquilo que não tem preço e que nos faz perseverar
no que há de mais vivo e potente em nos mesmos. Como o pró-
prio Orlandi diz: “o simples fato de ficar alegre uma tarde por estar
pensando diferentemente”.
Revista Experimentart 92 Ano 3 – n. 5 – jul./dez. 2017 – ISSN 2526-7736
Elas, as nuvens, como nosso campo crítico e problemático nos obrigam a ganhar uma leveza que favo... more Elas, as nuvens, como nosso campo crítico e problemático nos obrigam a ganhar uma leveza que favoreça o encontro de heterogêneos. Encontros que ao mesmo tempo povoam e abrem um arquivo, ou o conjunto de entradas por onde podemos ganhar uma maior intimidade com elas, como sua força de transmutação.
Uma certa fadiga imobiliza as imagens ao mesmo tempo em que as ensurdece. Perguntamo-nos, então, ... more Uma certa fadiga imobiliza as imagens ao mesmo tempo em que as ensurdece. Perguntamo-nos, então, como tocar o futuro, como tornar seu murmúrio tangível. Entendemos as imagens como complexos energéticos vibratórios e apostamos em acolhê-las em caixas-laboratórios abertos e desmontáveis que possam catalizar novos encontros e retornar-lhes uma certa vitalidade, uma certa alegria ressonante que pede o transe para dançar de novo, para entre sonoridades e visualidades poder cantar futuros mais uma vez. Convidamos músicos para dizerem de seus processos criativos e fazerem de recipientes de laboratório instrumentos sonoros, preparando e extraindo sons nunca ouvidos, músicas que se precipitam do encontro entre bocas e tubos de ensaio, desprendem-se entre mãos e balões volumétricos, medem-se entre viola e béquer… O encontro afirma que não há uma solução musical homogênea e consensual a ser buscada, não se trata de repetir a ladainha das mudanças climáticas e seus efeitos sobre a humanidade, nem de criar uma espécie de música das ciências climáticas que embale nossos medos, ou muito menos fazer dela o ritmo que cadencia nossas marchas e mobilizações pelo clima, mas antes de perceber que não existe uma partitura pronta e pré-determinada para tocar ciências, climas, humanos e futuros. Convocamos a potência germinadora da música para produzir com as ciências uma alquimia que faz mergulhar as imagens em relações prismáticas e de manipulação. Aqui, entendemos por manipulação a arte do dispor-se que os químicos do século XVIII praticavam, na qual se faz possível tirar proveito, deixar-se afetar pela propensão das coisas-seres para dobrar e compor com o que elas têm a dar, com o que seus corpos podem. Imagens compondo um método e protocolo de experimentação dissonante, em que justamente não sabemos o que elas podem e por isso elas conseguem vibrar e estar vivas, chamando e tocando futuros: problemas, materiais, métodos e resultados se dispõem como modos de testar as potencialidades de encontros imprevisíveis. Não saber, mas intuir que é só na criação de escutas que outros futuros podem emergir. Há uma propensão das imagens à vida que nos obriga a ensaiar a divulgação como montagem audiovisual onde transes fazem das imagens emaranhados e atmosferas afetivas que, entre correntezas de sonoridades improváveis, transmutam a fadiga em esgotamento efetivo, eximindo-as da extinção. Um laboratório de vida livre cujo problema é abrir e intensificar possibilidades de vibração na e com as imagens, de fazer da divulgação uma caixa aberta, abandonada, por onde as imagens passam ressoando nas suas paredes-membranas móveis e seguem, e proliferam vida fora, intensificadas pelo timbre da ciência, da música, da alquimia que entre elas murmura. Resta-nos acolher o fervilhar de toda uma invenção ainda não existente que se faz entre as maneiras de tocar ciências-instrumentos-climas-futuros-imagens e os modos como a composição audiovisual cria escutas para tais sonoridades, fazendo borbulhar um universo de relações (respiros) em formação, que não se sabe em quê vai dar.
Ficha técnica
Direção e roteiro
Susana Dias
Entrevistados
Adriel Job (Percussionista, sonoplasta e arranjador)
Fred Jorge (DJ e cantor)
João Arruda (Violeiro, produtor e sonhador)
Marta Catunda (Compositora, educadora e pesquisadora)
Entrevistadoras
Carolina Rodrigues
Tatiana Plens
Captação
Cristiane Delfina
Susana Dias
Oscar Guarin
Sebastian Wiedemann
Montagem
Oscar Guarin
Susana Dias
Sebastian Wiedemann
Som e finalização
Sebastian Wiedemann
Este vídeo faz parte de um movimento com a obra “Caixa de futuro”, <http://climacom.mudancasclimaticas.net/?p=3350> concebida por Fernanda Pestana, Susana Dias e Cristiane Delfina como um laboratório aberto e desmontável, que propôs um encontro com os entrevistados.
Realização
Grupo multiTÃO-prolifer-artes sub-vertendo ciências, comunicações e educações (CNPq)
Sub-rede Divulgação Científica e Mudanças Climáticas
Rede Brasileira de Pesquisas sobre Mudanças Climáticas Globais (Rede CLIMA),
Coordenada pelo Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Projetos: CNPq No. 550022/2014-7, CNPq No. 458257/2013-3 e FINEP No. 01.13.0353.00.
ClimaCom Cultura Científica – Pesquisa, Jornalismo e Arte
“O que é afetar-se pelos rios?”. Pergunta aberta-em-vídeo num desdobrar infinito. Sem respostas, ... more “O que é afetar-se pelos rios?”. Pergunta aberta-em-vídeo num desdobrar infinito. Sem respostas, antes um proliferar lento e sinuoso em novas perguntas. “O que é afetar?”. “O que é um rio?”. Chove nos limites em infinitas direções. Uma catástrofe atinge o abatimento que recai sobre imagens, palavras e sons, estraçalhando a opinião, arrastando as metáforas e lavando a interpretação. Olhos d’água não veem, jorram! A câmera se nega a capturar, chove, vaza, segue o encontro das águas, segue rios de mãos, de corpos que, por serem chuva, são também papéis, tintas, tesouras, cores, linhas, luzes. Seguir rios, criar com eles. Encontro de curvar-serpentear as imagens num montar-modelar-modular. Desacelerações que são a vida mesma dos rios, dos corpos, das ruas, que são a vida mesma das imagens! Compor rios vivos, decompor rios vistos. Compostos audiovisuais feitos ri(s)os, abrindo fendas nos hábitos perceptivos e deixando brotar afetos d’água turbulentos entre artes e ciências, cascatas de continuidades descontínuas. “Pode uma imagem se afogar?”. E o cosmos sussurra: faz das minhas lágrimas alegria! Surgem rios nunca vistos, que não foram previstos, nem pré-concebidos. Fotografias de satélite inundadas por rios voadores instauram novas relações entre superfícies e velocidades, desdobram rios e céus e restituem a percepção de que o céu também é rio, de que o rio também é céu. Imagens – de satélite -, imagens a é r e a s! Nascem rios que convocam a eficácia precária de um navegar errante, que só pode acontecer em barquinhos de papel. Um navegar-movimento-de-câmera inventando novas coordenadas. Uma montagem que, entre o satélite que se diz óptico e a mão que se diz háptica, cria diagramas impossíveis que tentam modelar qualiquantitativamente o vazar infindavel dos rios, o devir mar dos rios. “O que é se afetar?”. “O que é um rio?”. No meio, só conseguir rir em tentar, entre imagens, ser rio, medir o que sempre nos escapa. A vida-rio nos escapa, embora uma iminência faça com que nos perguntemos: “Pode um rio se afogar? Como continuar diante da finitude? Como tornar potentes nossas relações com as águas?”. Sem resposta, só um vídeo-pergunta; vazar vazar com o rio, perder-se em seu curvar, nas suas sinuosidades. Entre visualidades e sonoridades, aprender a montar como quem carrega um rio dentro. Não saberemos o que é um rio, mas talvez, abraçando a catástrofe de nossa percepção, tenhamos sentido sua intensidade. (a)amares e ri(s)os infinitos. Um pequeno gesto, uma pergunta, olho d’água que chega ao mar e que, talvez, quem sabe, nos prepare para continuar…
Este vídeo é uma composição com outros preparos e ensaios que aconteceram durante o encontro-ação “(a)mares e ri(s)os infinitos” <http://climacom.mudancasclimaticas.net/?p=3388> em Campinas, nos dias 1 e 2 de outubro de 2015. O rio foi a curva-mestra de todo o evento. Iniciamos assistindo ao filme “Ouvir o Rio: uma escultura sonora de Cildo Meireles”, em que Marcela Lordy nos dá a conhecer o processo de criação de “Rio:Oir”, obra que abre escutas ao longo do corpo-mundo para as potências sonoras das águas, que podem ser ouvidas em tantos cantos: no canto das águas, no canto das bocas… Com a artista plástica Fernanda Pestana, realizamos a oficina de criação coletiva de um Livro-ri(s)o que gargalhava os limites do fotográfico e documental na relação com a pintura. Na companhia do geógrafo da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Salvador Carpi Júnior, e de moradores da região, nos dispusemos nas bordas do Ribeirão Anhumas para conhecer seus problemas (poluição, erosão…), bem como ouvir as experiências singulares de quem tem um rio em seu quintal. Com Alejandro Meitin e Silvina Babich, da organização artística-ambiental “Ala Plástica”, de La Plata (Argentina), conhecemos uma fabulosa proposta de práticas de pesquisa e criação que colocam numa mesma mesa de trabalho artes e ciências. E, em busca de ensaiar relações poéticas com a água que resistam à finitude, terminamos o evento com uma oficina de produção de lanternas com o artista visual de Belém do Pará, Armando Queiroz, e de preparo do corpo com a dançarina Hellen Audrey, para o cortejo “Rios de Luz”. O cortejo saiu do Largo do Pará, região central de Campinas, em direção à Avenida Anchieta, por onde passava o Córrego Tanquinho, hoje embaixo de grandes avenidas. Desejos de dar uma existência poética aos rios soterrados e afirmar que os rios somos nós, as relações que inventamos e nossa capacidade de cuidar e manter acesas as pequenas centelhas de vida. Um dispor os corpos em outras velocidades e afetos na cidade de Campinas. Um abraçar um mar sem fim de novas relações possíveis quando nos deixamos inundar pela vida.
Rios e risos de agradecimentos aos artistas convidados e a todos que conosco estiveram.
Leia também: “Arte, ciência, filosofia: encontros potentes com a catástrofe”, entrevista sobre o evento com o cineasta e pesquisador Sebastian Wiedemann.
http://climacom.mudancasclimaticas.net/?p=4186
Há risco e catástrofe. Há uma impermanência, uma porosidade que avizinha cidades e florestas; fal... more Há risco e catástrofe. Há uma impermanência, uma porosidade que avizinha cidades e florestas; falas e seres-coisas sonoros em pregnâncias impensadas. Um violento grito sai da letra muda: o que podem as imagens diante da floresta que desaparece? “Devoções e devorações infinitas…”. Uma ânsia de destruição bastante distinta. De-compor é sempre recombinar a matéria de expressão. Proposta que chove nos limites deste vídeo, em que um encontro/entrevista com o filósofo e sociólogo Bruno Latour é canibalizado por uma floresta de sensações sonoras e visuais. Se não há como escapar das imagens, se somos imagens entre imagens, elas precisam escapar a nós. Fugir ao olho e ouvido demasiado humanos que as aprisionam. Devastar os clichês que cultivam sentidos enraizados. Cultivar, compor, sem raiz, sem homogeneizar, apenas um brotar, disponibilizar. Na disjunção entre imagens e sons, inventar uma zona crítica como emergência e nascença, onde cidades e florestas são gradientes de um emaranhado cosmopolítico em infindável variação. Na relação entre imagens-seres-coisas, inventar um intervalo ficcional, uma fenda-ruína que traz uma lembrança de um futuro-floresta. Ali onde as imagens são arrebentações de forças, multiplicação de sentidos… Ali onde a floresta torna-se pura potência de vida, de conexão entre-reinos, florestas de povos, povos de florestas, corpos-chão-da-floresta. Há risco e catástrofe. Há rio e riso. Há entre-reinos, como um envelopar sem aprisionar, como um partilhar diferencial.
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Estes projetos abrem vários campos problemáticos que vão da pergunta por ontologias outras ao ten... more Estes projetos abrem vários campos problemáticos que vão da pergunta por ontologias outras ao tensionamento do que pode a pesquisa dentro da Universidade, quando esta se pergunta por um efetivo corpo a corpo com o mundo, por processos de imediação, onde o humano como potência de acontecimento se experimente a si mesmo de modos impensados e que implicam, sem lugar a dúvida, sua abertura a novas práticas que o tirem do seu hábito de humano demasiado humano. Um fazer corpo com ecologias de práticas experimentais que nos ajudem a lembrar da potência do humano antes deste se saber humano, que nos ajudem a reativar a nossa potência de composição e compostagem com o mundo.
Proponemos hacer una primera aproximación desde las imágenes en movimiento para pensar la proposi... more Proponemos hacer una primera aproximación desde las imágenes en movimiento para pensar la proposición que da nombre a este posible encuentro. Comenzar por los filmes “A film, Reclaimed” de Ana Vaz y Tristan Bera (2015, 19min) y “Entre-Vidas: Bruno Latour” de nuestra propia autoría (2015, 7min). La proposición – deseo de alianza – que aquí nos convoca trae implícita la triste herencia que nos ha dejado la modernidad, un habito por dividir como nos recuerda Stengers, consecuencia de lo que Whitehead llama bifurcación de la naturaleza y que ha alimentado nuestra creencia de que estamos solos en el mundo, de que el solipsismo es el único modo posible de estar en el mundo. Queremos resistir a esta herencia de las luces con ecologías de prácticas que afirman que no estamos solos y que, antes que estar en el mundo, estos tiempos catastróficos nos imponen estar con los mundos. Para quien nunca perdió una intimidad y conexión efectiva con el mundo como el pueblo indígena Yanomani, el cielo se puede caer – como nos dice Davi Kopenawa – justamente porque nosotros, los blancos, nos sentimos ajenos al cielo y a todas las posibles relaciones que de él se desprenden. Infinitas líneas por donde la vida prolifera, fuerzas anímicas que se agencian con las nubes, pero también con la lluvia, la selva, el rio, los cantos y el propio pensamiento. Este aliarse con las nubes es un aliarse con todo aquello que no deja caer lo vivo, disponiéndose como superficie de contacto e intersección para que lo vivo continúe en movimiento. Una alianza que ocurre como posibilidad constructiva de los más impensados encuentros multiespecies y de la emergencia de modos de existencia, donde lo humano se abre a una cierta liviandad, transmutabilidad y multirelacionalidad, haciendo de la potencia de pensar un gesto menor y pluri-ontologico – entre artes, ciencias y filosofías –. Una invitación a estar a cielo abierto, sin miedo a que el cielo se caiga.
ClimaCom, 2018
"A VII edição do Seminário Conexões Deleuze, da qual este dossiê é um desdobramento, esteve marca... more "A VII edição do Seminário Conexões Deleuze, da qual este dossiê é um desdobramento, esteve marcada por uma propensão ao risco, à experimentação e à aventura. Uma procura por tempos extra-ordinários que nos violentassem e nos abrissem a radicalidades onde pudéssemos mergulhar no processo infindável que é o mundo como pura relacionalidade diferencial. Isto é, um apelo à composição de Novas Terras e impensadas Cosmopolíticas. Um chamado primordial e impessoal pela vida, por fazer dela não uma codificação representacional entre sujeitos e objetos que afirmem uma bifurcação da natureza como diria Whitehead, mas sim o fluxo que passa e vaza pelos mais diversos meios na imanência de uma experiência pura, onde nossa precária posição - humana - nunca está fora e, pelo contrário, vacilante, varia, se esgota, se desmorona, se transforma, se faz matéria aberta de, e para o mundo, se faz material de mundos porvir. Este foi o intuito que tivemos ao propor as Imediações Aberrantes, todo um delírio movente de razões trashumantes, um experimento em estar junto, em abrir os corpos para o cosmos, em nos tornarmos guardiões do acontecimento, em fazer do qualquer-um, um operador anônimo que intensifica e abre feixes de vida. O mundo como uma cosmogênese constante, como uma ecologia radical onde o humano não é mais do que um catalisador de fluxos energéticos impessoais. Ecologias que se fazem radicais pois saturam todos os poros, pois fazem dos corpos puros estados de possessão, puros canais para escritas de mundo."
Catástrofe, crise, desaparecimento, extinção, ameaça, medos, riscos, descrença, colapso, desastre... more Catástrofe, crise, desaparecimento, extinção, ameaça, medos, riscos, descrença, colapso, desastres. Com a intensificação da ocorrência de eventos extremos e alterações climáticas, vivemos a disseminação
de enunciados niilistas marcados pelo fim e pela vontade de nada, trazendo novo fôlego para o velho catastrofismo. Proliferam distopias em torno de uma ausência de futuro à qual estaríamos condenados.
A sensação de que “não há saída”, por vezes, coloca-nos diante da impotência do pensamento para avaliar situações que se tornaram impensáveis em relação ao modo com o qual estamos habituados
a lidar com o tempo, o humano, a natureza, o corpo, o espaço, a cultura, a tecnologia, a política… A contemporaneidade lança-nos o desafio do enfrentamento da extinção de espécies animais e vegetais,
da erosão do solo, da elevação do nível da água, das modificações extremas de ambientes e paisagens, do colapso dos recursos hídricos, mas também e, conjuntamente, do desaparecimento, erosão e colapso
das existências singulares, humanas e não humanas, aí implicadas, problematizando os modos de pensar a preservação e a conservação, a gestão pública, e as reinvindicações por visibilidade e justiça que nos
chegam de todas as partes. Diante de tantos desaparecimentos afirma-se a urgência ética, estética e política da criação de outros pensamentos, narrativas, conceitos, imagens, práticas, ações, fabulações,
ficções-científicas, especulações… Como podemos fazer aparecer outros modos de existência nas situações
de contingência? A partir de quais lógicas de funcionamento a comunicação, as ciências, as tecnologias, a filosofia e as artes têm feito aparecer os desaparecimentos em seus bancos de dados, coleções, museus, patrimônios, catálogos, acervos, inventários, pesquisas e escritas? Diante da obsessão contemporânea com a criação de arquivos e seus movimentos de coleta, identificação, codificação e documentação, como fazer durar o acontecimento? Como tornar possível a extração de forças de vida dos arquivos? Para
dar corpo e consistência a outros modos de dizer, escrever, ver e escutar o “Desaparecimento”, tema desta terceira edição da revista ClimaCom Cultura Científica – Pesquisa, Jornalismo e Arte, apresentamos
duas entrevistas, com a filósofa belga Isabelle Stengers e o filósofo e sociólogo francês Bruno Latour, e uma série instigante de produções artísticas e de artigos de pesquisadores brasileiros e também da
Austrália, Catalunha e Colômbia que põem em jogo as multidimensões do desaparecimento implicadas nas mudanças climáticas. Não se trata apenas do que desaparece nesse complexo e mutante cenário,
mas de como o pensamento e a sensibilidade tomam para si o desaparecimento para fazer dele a ocasião de incontáveis e surpreendentes aparições.
“Para a revista ClimaCom e o grupo multiTÃO este dossiê implicou um esforço maior, pois nosso ca... more “Para a revista ClimaCom e o grupo multiTÃO este dossiê implicou um esforço maior, pois nosso campo problemático desde sempre tem estado atravessado pelas potências expressivas da imagem, pelos planos de composição que estas abrem. Uma abertura onde é difícil dizer quando começa uma escrita por e com imagens e quando processos imagéticos se escrevem e inscrevem entre meios diversos. Ao mesmo tempo a imagem na sua equivocidade e polissemia se dá a perceber não só como materialidade visual e sonora, mas também como conceito, como potência abstrata de pensamento. É nesse sentido que, mais do que nunca, as seções de pesquisa e arte da revista estão tão próximas. Toda uma política da escrita também é convocada na hora de estarmos à altura de uma Cosmopolítica da Imagem. Filósofos, antropólogos, cineastas, compositores, arquitectos, todos inventando escritas entre imagens. Imagens que violentam nossos sentidos e faculdades. Imagens-canais, imagens-fluxos, imagens-portais que se fazem atratores do cosmos. Toda uma ecologia, uma imagem do pensamento que se diz muitas, que se abandona a si mesma, que se faz resto, que de tanto ser fendida se diz nascença, rebrilho de vida desmedida. A imagem, e portanto uma prática das e com as imagens, é sempre um chamado à fuga. Uma cosmopolítica é um ato fugitivo. Talvez o que há de mais miserável em nossa humanidade é nossa vontade de propriedade e, com esta, de poder. Achamos que somos donos e senhores. Achamos que somos donos do mundo e que com a imagem o podemos conter, o podemos medir. Propriedade como o outro nome da representação. E é por isso que resistimos a esta versão empobrecida do que pode a imagem, versão da comunicação e do capital e insistimos em sua potência de sempre ser de menos. Sempre algo escapa, sempre algo foge, sempre o mundo nos escapa”.
Abrir o humano à incerteza. Esse desafio, que atravessa as mudanças climáticas de modo sintomátic... more Abrir o humano à incerteza. Esse desafio, que atravessa as mudanças climáticas de modo sintomático, mas que sobretudo é ahistórico e inerente ao homem como operar acontecimental, é o que move os artistas, filósofos e pesquisadores que contribuíram para este sétimo dossiê da ClimaCom. Tal abertura aparece em filmes, esculturas, instalações, fotografias, desenhos, animações, artigos, ensaios como a condição de possibilidade para escaparmos ao tristemente previsível, a tudo aquilo que sufoca o fluxo metamórfico, frágil e incerto da vida. Uma urgente necessidade de lidar com uma incerteza que não é passageira, mas que se efetua como nutriente indispensável de vida e criação. Uma necessidade irrefutável que exige a invenção permanente de modos de combate e de composição com a incerteza e não contra ela, forçando à variação contínua dos modos de pensar e agir, cujos (anti)-métodos justo habitam a incerteza como plano primordial simpoiético, capaz de impedir que a percepção se torne hábito, se cristalize e que, pelo contrário, sempre seja re-inventada e diferida em novas matrizes.
Os artigos, ensaios, resenha e produções audiovisuais de pesquisadores e artistas brasileiros e e... more Os artigos, ensaios, resenha e produções audiovisuais de pesquisadores e artistas brasileiros e estrangeiros, que compõem este sexto dossiê da ClimaCom, vêm para contribuir com a politização desse conceito quando o assunto são as mudanças climáticas. São textos, filmes, ensaios fotográficos, séries de experimentações sonoras que aceitaram o convite de deslocamento da pergunta que domina as agendas nacionais e internacionais – “quais os impactos que as mudanças climáticas provocarão sobre os territórios X, Y e Z?” – para outras questões de natureza avaliativa e especulativa: e se os territórios não se reduzissem apenas a uma base ou fundo fixo e inerte sobre o qual os seres-coisas do mundo agem e os eventos ocorrem, um meio previamente dado ao qual temos que nos adaptar? E se o problema do território não fosse só o de demarcação e distribuição de fronteiras, formas, propriedades e estados de coisas, mas também de experimentação de povoamentos múltiplos, de cooperativismo e composições aberrantes entre seres-coisas-elementos do mundo?
Abrir-nos às composições impensadas que a vulnerabilidade pode colocar para a escrita e o pensame... more Abrir-nos às composições impensadas que a vulnerabilidade pode colocar para a escrita e o pensamento com as mudanças climáticas. Habitar a vulnerabilidade com outros sentidos, tornando-a condição vital para o enfrentamento de todas as forças que nos querem impotentes e tolos. Alterar as coordenadas que definem um campo de associações já dadas entre vulnerabilidade, graus de conhecimento,
incapacidades e falta de consciência, que terminam por recair na culpabilização, estigmatização e na própria produção de uma certa vulnerabilidade das ditas “populações vulneráveis”, que tanto se desejava combater. Fazê-la emergir então como resistência,
intuição, não saber, encontro de heterogêneos, formação de coletivos aberrantes, abertura ao novo, possibilidade de vida, ocasião efetiva de se deixar afetar pela matéria frágil dos seres-corpos-coisas do
mundo e de produzir a permeabilidade necessária para a invenção e a vida, pois não se pensa e não se cria sem se deixar vulnerável como a terra.
Este dossiê busca multiplicar as possibilidades que imagens, palavras e sons podem apresentar ao ... more Este dossiê busca multiplicar as possibilidades que imagens, palavras e
sons podem apresentar ao explorar o tema escolhido para este segundo dossiê da revista ClimaCom: “Adaptação”. Um convite a pensar a adaptação não como reação ou passividade diante das mudanças
climáticas, mas como invenção de novos modos de agir, pensar, viver. Adaptar ganha força neste dossiê como invenção de variações vitais nas perguntas que nos fazemos, nas narrativas que tecemos. Variações
que perturbam as lógicas de funcionamento gerais e totalizantes e abrem brechas para efetuação de outras expressões do político.
O que pode uma rede? O que implica produzir conhecimentos, sensações e afetos em rede? Como artes... more O que pode uma rede? O que implica produzir conhecimentos, sensações e afetos em rede? Como artes, ciências e filosofias pensam e experimentam a criação em rede na contemporaneidade? Como esses
modos de pensar e criar afetam a nossa potência de existir e lidar com as mudanças climáticas? Como se configuram as grandes redes de pesquisa nacionais e internacionais em mudanças climáticas? Com o
quê e quem se conectam e articulam? Como essas articulações potencializam (podem potencializar) o desenvolvimento científico, tecnológico, artístico, político, social e cultural e promovem a constituição de uma efetiva cultura científica e a democratização
de conhecimentos, artefatos, tecnologias? Quais as limitações e desafios que as redes de pesquisa existentes atualmente enfrentam? Como tais pesquisas e pensamentos em rede se abrem à experimentação de um futuro e uma humanidade por vir? Estas foram as questões propostas para a primeira edição da revista
ClimaCom Cultura Científica – pesquisa, jornalismo e arte que teve como tema “Redes”. Questões que movimentaram o convite aberto à submissão de artigos, resenhas e produções artísticas e culturais,
cujas produções aprovadas pelos pareceristas estão disponíveis nas seções Pesquisa e Arte. Perguntas que geraram pautas e abordagens diversas nas notícias, entrevistas e reportagens feitas pela equipe da
ClimaCom e que podem ser vistas na seção Jornalismo. Inquietações que foram experimentadas em oficinas de produção audiovisual coletiva com diversos grupos de pesquisadores, artistas e profissionais e cujas produções estão espalhadas pelas imagens da ClimaCom, bem como podem ser conferidas em detalhes no Laboratório-Ateliê da seção Arte. Modos como encontramos de atingir o objetivo proposto pela
revista: colaborar com o debate sobre o impacto da noção de “Redes” na abordagem do tema mudanças climáticas promovendo multiplicações no pensamento com os fenômenos políticos, sociais e culturais do presente. Esperamos que nossos leitores sigam
participando desses enredamentos.
A natureza não é nem um dado, nem um plano de fundo sobre o qual agimos. Partimos da inutilidade ... more A natureza não é nem um dado, nem um plano de fundo sobre o qual agimos. Partimos da inutilidade de dicotomias como natureza/cultura ou mesmo orgânico/inorgânico. Acreditamos antes que estamos submersos num fluxo de experiência pura (James) e co-criação infindável com o cosmos. Um dobrar-desdobrar fractal, onde na ausência de qualquer centralidade humana, fluxos vitais e processos de morfogênese constante tomam lugar para que a matéria possa ser modulada e individualizada sem resquícios de subjetivação. Então nos perguntamos por como complicar a matéria-floresta. Já Latour nos lembra de que as ciências podem fazer isso na passagem de incessantes cascatas de procedimentos que, por exemplo, podem tomar lugar no laboratório, mas também no ateliê. Escolhemos agenciar a floresta com a luz. Com a luz e o fotográfico complicar seu desdobrar no mundo para além do que nossa percepção de hábito entende por floresta. Dar uma nova luz à floresta. Dar a luz uma nova floresta. Uma floresta de luz que nasce com a criação de um laboratório-ateliê que acolhe sua potencia foto-sintética. Um laboratório-estufa, onde exsicatas e classificações aberrantes acontecem. Um berçário de vida de qualidades alquímicas. Uma prática de futuro, uma botânica especulativa que faz emergir espécies que rebrilham em parentescos nunca antes vistos. Uma floresta de papel que se escoando no fotográfico, contorna uma nova terra onde um tempo diferente ao da extinção aflora e uma biodiversidade alienígena faz continuar a vida.
ClimaCom, 2018
Poderíamos dizer que se tratou de uma proposta um tanto audaz, um tanto imprópria, um tanto indis... more Poderíamos dizer que se tratou de uma proposta um tanto audaz, um tanto imprópria, um tanto indisciplinada, um tanto a contracorrente. Ou ainda, que foi a tentativa de inventar modos de estar juntos, de instaurar um comum que nos obriga a fazer de nossos campos de saber e conhecimento, de nossos papers e obras, de nossas práticas, sejam estas acadêmicas, artísticas ou informais, um árduo preparo que possa e até, talvez deva, ser esquecido na hora de estar efetivamente presente, pois nosso lugar de fala – sou doutor, estou fazendo pós-graduação, sou pesquisador, sou artista, sou sei lá o que – não podem ser nosso fundamento, mas sim o germe de um des-fundamento porvir. Saber, antes de tudo, para abrir um não saber, para abrir um movimento idiota, para deixar de ser o que se era, para perceber que avançar no pensamento não é uma questão de consciência de um sujeito, mas sim de um movimento coletivo e anônimo. De um anonimato que avança entre anomalias, de um não se reconhecer. Não pedimos apresentações-comunicações, não pedimos que sejam o que já são, o que um paper ou uma obra apresentam como resultado final, mas sim que estejam efetivamente presentes a composições porvir, fazendo deles – dos papers, das obras, do que for – material a ser devorado, a se tornar condição generativa e genética de vida e variação, de se-estar-fazendo. Fazer de tudo um experimento, uma experimentação que joga ao fundo do mar os a priori. Fazer de Imediações aberrantes um experimento, uma experimentação onde blocos de trabalho em composições impensadas e coletivas nos lembrem que o VII Seminário Conexões: Deleuze e Cosmopolíticas e Ecologias Radicais e Nova Terra e… não só pode ser um intercessor potente que nos ajude a complicar e problematizar o pensamento, mas também que nos ajude a fazer corpo entre comunidades de pensamentos díspares, onde percebamos que somos pouco mais que um espectro anônimo e anômalo, que se dizendo qualquer um, tenta dar tudo de si para continuar, para fazer com que o mundo continue. Imediações aberrantes não sabemos ao certo o que são, pois elas se dispõem como campos de criação coletiva para tempos que ainda não estão aqui mas intuímos. Não podemos dizer de antemão o que elas podem. O único que provisoriamente podemos declarar é que não são sessões de comunicações de um congresso no sentido tradicional, nem lugares onde mediadores articulam ou tencionam relações já esperáveis e esclarecedoras entre trabalhos, mas sim onde Imediadores arrastam uma coletividade ao acaso, à contingência, ao imprevisível de um encontro, de um estar juntos, de um comum, pouco mensurável ou identificável.
ClimaCom, 2018
Imaginamos este espaço de encontro como um portas abertas do laboratório-ateliê que levamos adian... more Imaginamos este espaço de encontro como um portas abertas do laboratório-ateliê que levamos adiante entre o grupo de pesquisa-criação multiTÃO (Unicamp – Labjor) e o Orssarara Ateliê. Um abrir as portas para a cozinha de nossos processos de criação que na interseção de afetos advindos de práticas singulares da arte, ciência e filosofia, isto é, advindos de ecologias de práticas experimentais, apostam na emergência de novos modos e lógicas de pensamento que se instauram no plano do sensível, como aquele plano onde se faz corpo com o mundo e o cosmos. Esta proposição de re-existência ecoa com os imperativos que a atual crise socioambiental nos impõe. Para nós, um chamado a abrir o humano a uma condição de operador anônimo entre processos de co-criação e co-evolução do mundo. Isto é, de imanência com o mundo, onde cada gesto é um ato de fazer corpo, é uma prática que engravida o mundo a partir de fabulações especulativas onde cenários outros são experimentados. Todo um apelo à experiência pura que William James reclamava, onde não há lugar para dicotomias, onde todo movimento deve ser ao uníssono teórico e prático envolvendo todas as potências do corpo, que certamente não passam só pelo cérebro, mas também pelas mãos. Abrir plasticidades no e do pensamento, que sejam mais dignas da propensão dos movimentos do mundo, que sejam mais maleáveis as modulações e individuações do vivente. Como fluxo vital o pensamento, não pode só passar pela escrita e o discurso, ele vaza, transborda e deve se abrir a uma heterogeneidade de meios, procedimentos e práticas. Heterogeneidade que queremos compartilhar com vocês ao apresentar o projeto de intervenção e criação “Fractosferas: dobras entre nuvens, árvores e pedras”. Este projeto abre vários campos problemáticos que vão da pergunta por ontologias outras ao tensionamento do que pode a pesquisa dentro da Universidade, quando esta se pergunta por um efetivo corpo a corpo com o mundo, por processos de imediação, onde o humano como potência de acontecimento se experimente a si mesmo de modos impensados e que implicam, sem lugar a dúvida, sua abertura a novas práticas que o tirem do seu hábito de humano demasiado humano. Um fazer corpo com ecologias de práticas experimentais que nos ajudem a lembrar da potência do humano antes deste se saber humano, que nos ajudem a reativar a nossa potência de composição e compostagem com o mundo.
O título deste seminário já traz implícita a triste herança que tem nos deixado a modernidade, um... more O título deste seminário já traz implícita a triste herança que tem nos deixado a modernidade, um hábito por dividir (Stengers, 2012) decorrente do que Whitehead chama bifurcação da natureza (1920) e que tem alimentado nossa crença de que estamos sozinhos no mundo, de que o solipsismo é o único modo possível de estar no mundo. Queremos resistir a esta herança das luzes com trabalhos que afirmem que não estamos sozinhos e que, antes que estar no mundo, estes tempos catastróficos nos impõem a estar com os mundos. Para quem nunca perdeu uma intimidade e conexão efetiva com o mundo como os Yanomami, o céu pode cair (Kopenawa, 2015) justamente porque nós, os brancos, nos sentimos alheios a ele e a todas as possíveis relações que dele se desprendem. Como as infinitas linhas por onde a vida prolifera (Ingold, 2015), forças anímicas que se agenciam com as nuvens, mas também com a chuva, a floresta, o rio, os cantos e o próprio pensamento. Este aliar-se com as nuvens é aliar-se com tudo aquilo que não deixa cair o vivo, dispondo-se como superfície de contacto e interseção para que o vivo continue em movimento. Uma aliança que acontece como possibilidade construtiva dos mais impensados encontros multiespécies (Haraway, 2016; Van Dooren et al., 2016) e da emergência de modos de existência (Latour, 2012), onde o humano se abre a uma certa leveza, transmutabilidade e multirelacionalidade, fazendo da potência de pensar um gesto menor e pluri-ontológico – entre artes, ciências, filosofias. Um convite a estar a céu aberto, sem medo de que ele caia.
musimid.mus.br
Interessa-nos per-correr as potencialidades que a criação do CD Sons ao e-vento -feito pelo músic... more Interessa-nos per-correr as potencialidades que a criação do CD Sons ao e-vento -feito pelo músico João Arruda para a instalação "Num dado e-vento: biotecnologias e culturas em vãos, ventos, sombras, cores…" -tem para oferecer/criar/experimentar junto ao pensamento no campo da divulgação científica e cultural. A instalação fez parte das ações dos projetos de pesquisa e extensão "Biotecnologias de rua" e "Um lance de dados", ambos desenvolvidos por pesquisadores e artistas vinculados ao . As músicas produzidas resultaram de mixagens de composições do artista, samplers diversos e do álbum Jogos de armar do músico Tom Zé e sons captados durante a performance teatral "Num dado momento: biotecnologias e culturas em jogo", apresentada nas ruas de Campinas-SP e que propôs um jogo de dados com imagens e palavras com o público. Tais composições nos fazem pensar nas músicas como máquinas de tempos bio-tecno-lógicos. Produções maquinais-musicais que investem na criação de um tempo não cronológico, que não pretendem trazer à memória do visitante da instalação uma peça que aconteceu, numa recuperação e representação do passado. Mas antes, tentam inserir nela vazios, agenciar outras forças, ruídos, sons. Forças das culturas, conhecimentos e pensamentos, nas conexões entre arte, filosofia, ciência e comunicação, que sejam capazes de inserir ciências, biotecnologias e divulgações em outros fluxos, velocidades. Abrir as forças do território ciência-divulgação ao mundo. Movimento que, para o filósofo Gilles Deleuze, supõe o jogo e o acaso.