Por uma gênese do cinema ensaio latino-americano (original) (raw)

A EMERGÊNCIA DA IDEIA DE “AMÉRICA LATINA” NO PENSAMENTO CINEMATOGRÁFICO BRASILEIRO

Este texto tem como objetivo investigar a circulação do imaginário sobre a “América Latina”, produzido em diversas instâncias de produção discursiva, entre representantes da crítica e do pensamento de cinema no Brasil, durante as décadas de 1950 e 1960. Momento crucial da produção reflexiva em torno dos dilemas das transformações sociais, econômicas e políticas pelas quais o país passava, o contexto assinalado foi palco da emergência de diversas expressões culturais, artísticas e intelectuais, através das quais se revelava a disputa em torno do sentido dos processos de mudança política em curso. O presente artigo tem por meta analisar o debate no qual críticos de cinema, intelectuais e cineastas se posicionaram quanto à busca de uma expressão política e estética que, enquanto identidade latino -americana, fosse capaz de dar sentido ao protagonismo político daquela geração.

O Cinema e o Tempo Criado - esboço de ensaio

Revista Sísifo

Este texto é um ensaio. Como o próprio nome já diz, aqui não será apresentado nenhum dado definitivo, mas algumas implicações que nos levarão a uma conclusão. Nosso objeto de estudo é o tempo cinematográfico. Enquanto espectador de um filme, percebo que o tempo passa enquanto assisto à obra. Enquanto cinéfilo, percebo que diferentes cineastas trabalham de formas diferentes para nos fazer perceber o tempo. Ora ele é alongado, ora ele parece curto. Trata­se de um ensaio escrito, antes de qualquer coisa, por um cinéfilo, e por isso muitos serão os filmes abordados aqui, neste que é um ensaio de introdução a um pensamento. Comecemos, então, com uma história: Em Turim, no dia 3 de janeiro de 1889, Friedrich Nietzsche deixa a residência no número 6 da Via Carlo Alberto, talvez para dar um passeio, talvez para ir até o correio para recolher sua correspondência. Não longe dele, ou realmente bastante longe dele, um cocheiro tem problemas com seu cavalo teimoso. Apesar de sua premência, o cavalo resolve empacar, o que faz com que o cocheiro ­ Giuseppe? Carlo? Ettore? ­ perca a paciência e comece a chicoteá­ lo. Nietzsche avança até a multidão e põe um fim ao brutal espetáculo do cocheiro, que está espumando de raiva. O forte e bigodudo Nietzsche repentinamente pula na carroça e abraça o pescoço do cavalo, soluçando. Seu vizinho o leva para casa, onde ele fica deitado por dois dias, imóvel e silencioso, em um divã até que finalmente murmura suas últimas palavras: "Mutter, ich bin dumm." ("Mãe, eu sou idiota."). Ele vive ainda por 10 anos, meigo e demente, sob os cuidados de sua mãe e irmãs. Do cavalo, nada sabemos.[1] As palavras acima são enunciadas pelo narrador do filme O Cavalo de Turim (A torinói ló) do cineasta húngaro Béla Tarr. Elas soam para o espectador enquanto este mergulha na escuridão da sala de cinema proporcionada pela tela preta que mantém o filme sem qualquer representação espacial daquilo que é retratado pelo narrador. Perante esta falta, o espectador se vê obrigado a O Cinema e o Tempo Criado-esboço de ensaio

Desmundo Uma Análise Da América Por Trás Do Filme

Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Pará

A AMÉRICA COLONIAL RETRATADA EM DESMUNDO Do diretor Alain Fresnot, o filme Desmundo, lançado em 2003 é uma adaptação brasileira do romance Desmundo, publicado em 1996 por Ana Miranda. Com roteiro de Sabina Anzuategui e Produção Executiva de Van Fresnot, a obra narra a trajetória de jovens órfãs que são enviadas para o Brasil, em 1555, pela rainha de Portugal, para se casarem com colonizadores cristãos que habitavam a colônia e, assim, garantir uma descendência branca legítima. Empregando um português arcaico (o qual os atores precisaram aprender), falado à época, línguas indígenas, e um cenário e vestuário característicos, a obra é altamente preocupada em ser fidedigna à realidade cotidiana colonial. Tal esforço foi recompensado quando ganhou o prêmio de melhor filme no Festival de Cinema Brasileiro de Paris, além de ter sido o segundo longa-metragem, mais premiado, no Grande Prêmio Cinema Brasil, nas categorias de Melhor Figurino, Melhor Maquiagem e a Melhor Direção de Arte. Desmundo: Uma análise da América por detrás do filme Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Pará (IHGP), (

Gênese "ateneísta" da história cultural latino-americana

Tempo Social - TEMPO SOC, 2005

Na década de 1940, e no quadro do intenso movimento editorial que a diáspora espanhola-provocada pela guerra civil e o franquismo-estimulara nos diversos países da América Latina, um novo campo (ou subcampo) disciplinar começou a adquirir contornos precisos: a história cultural latino-americana. Era uma história que definia seu projeto cultural em torno de quatro traços muito específicos. Primeiro, utilizava um conceito de "cultura" que permanecia estreitamente ligado às noções alemãs de Kultur e Geist, tal como elas haviam sido elaboradas no curso dos debates sobre a Geistgeschichte [História do espírito], a Kulturgeschichte [História da cultura] e a Lebensphilosophie [Filosofia da vida] durante as primeiras décadas do século XX. Dito de outro modo, essa história empregava uma definição do vocábulo "cultura" que tendia a enfatizar simultaneamente seu caráter "espiritual" e sua restrição ao universo da produção cultural da elite (embora esse último elemento tendesse a ficar muito atenuado nos textos produzidos por essa corrente). Segundo, postulava a existência de uma "cultura latino-americana" cujos traços gerais eram compartilhados por todas as nações dessa região: as inegáveis diferenças culturais que separavam uma nação de outra apareciam como menos importantes-desse ponto de vista-do que as semelhanças que as uniam. Essa corrente historiográfica possuía uma ter-to intelectual que vinculava entre si os campos intelectuais mexicano, argentino, espanhol e brasileiro, são examinadas com certo detalhe. O propósito do trabalho é duplo: de um lado, se propõe a explorar a relação entre a circulação internacional de idéias e as condições para a emergência de novas formações culturais no interior dos campos intelectuais nacionais; e, de outro, analisar o processo específico pelo qual tomou corpo-por meio da confluência entre obras específicas, de projetos editoriais, de instituições culturais e de intercâmbios ou contatos culturais entre os distintos países iberoamericanos-um discurso historiográfico com características novas na região. O período compreendido é o que vai aproximadamente de 1906 a 1960.

Uma história erótica e literária do cinema latino-americano

Cadernos de Literatura Comparada, 2019

Resumo: Nesse artigo, a partir de textos literários latino-americanos em diferentes gêneros textuais, especialmente cubanos, chilenos, argentinos e brasileiros, tentamos reconstruir a história do cinema e a história do erotismo nas salas de exibição cinematográfica. Assim, através do diálogo entre história e literatura, abordamos as primeiras exibições cinematográficas e chegamos aos cinemas pornográficos e às salas multiplex. Abstract: In this article, from Latin American literary texts in different textual genres, especially Cubans, Chileans, Argentines and Brazilian, we try to reconstruct the history of cinema and the history of eroticism in the movie theaters. Through the dialogue between history and literature, we approached the first cinematographic exhibitions and arrived at the pornography theaters and the multiplex rooms.

O filme-ensaio: história e teoria

Esferas

O trabalho aborda as possibilidades estéticas e narrativas do filme-ensaio, ao escavar o seu percurso na teoria do cinema em diálogo com contribuições da filosofia e da literatura. Além de um esforço conceitual de delimitar o domínio do ensaio no cinema, pretende-se fomentar uma reflexão a respeito de alguns de seus gestos, tais como a diluição de fronteiras de gênero cinematográfico, a marca da subjetividade dos/das autores/as nas obras, o imbricamento de pensamento e forma cinematográfica.

Cinema estilo e análise fílmica

Art Cultura, 2020

Partindo de uma apresentação teórico-metodológica do livro Cinema, estilo e análise fílmica, organizado por Fábio Uchôa e Margarida Adamatti (Appris, 2020), o texto de introdução debate as principais conexões entre a análise fílmica e o estudo do estilo, de interesse geral para a pesquisa entre cinema e história. O trajeto divide-se em três partes: Estilo e recorrências formais, Autoria e mise en scène e Autoria, política e contexto. Através de um mapeamento das tendências entre o formalismo e a análise histórico-política, procura-se indicar os caminhos tomados pelo cinema brasileiro moderno, contemporâneo e por obras voltadas a revelar a situação da mulher numa perspectiva feminista. Como ponto de chegada, realizamos uma fundamentação das seções e capítulos, presentes em Cinema, estilo e análise fílmica, indicando suas particularidades em termos de métodos de análise nos embates entre materialidade cinematográfica e sociedade.

As línguas nativas no cinema da América Latina

IMAGOFAGIA No 6, 2012

As Línguas Nativas no Cinema Latino-americano Poucos são os filmes falados em língua nativa latino-americana. Em 1937, Humberto Mauro introduziu algumas frases em tupi no filme Descobrimento do Brasil, com o objetivo de formular um mito fundador do Brasil que reunisse o índio, o português e seus respectivos idiomas como origem do povo brasileiro. Esse filme fazia parte do projeto do Instituto Nacional de Cinema Educativo (INCE), que seguia as diretrizes da política do Estado Novo. O governo de Getúlio Vargas promoveu a

A produção da " cidade latino-americana "

Sobre a "cidade latino-americana" como categoria Como ocorre com a expressão "cultura latino-americana" e com a noção mesma de "América Latina", a idéia de "cidade latino-americana" mostrase de modo mais nítido quanto mais afastados estamos de qualquer referente real. Qual cidade caberia com clareza nesta categoria: Havana ou Caracas, Montevidéu ou México, Cuzco ou Buenos Aires? O que define uma delas dificilmente serve para a outra. E não se trata apenas de uma dificuldade que se apresenta entre realidades urbanas nacionais: como agrupar em uma mesma categoria Ouro Preto, São Paulo e Brasília, no Brasil, ou Cartagena das Índias e Bogotá, na Colômbia? Que espécie de "cidade latinoamericana" encarnaria cada uma delas? Que mapa pode ser delineado no conjunto? Se cada cidade apresenta qualidades distintas que dificultam sua integração, sem mais, numa categoria abrangente, seria absurdo tentar definir a cidade latino-americana por meio de um ideal de representação de um conjunto de características a ela atribuídas, como uma espécie de Frankstein urbano; tão absurdo seria o procedimento que ele poderia levar-nos rapidamente à conclusão de que a única cidade latino-americana realmente existente é Miami. Com efeito, a clássica indiferenciação da malha urbana norte-americana, visivelmente distinta de qualquer cidade latino-americana real, permitiu, no entanto, que nas últimas décadas se desenvolvessem