A representação dos negros no romance naturalista brasileiro (original) (raw)
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A (auto)representação do negro no conto brasileiro contemporâneo
Veredas: Revista da Associação Internacional de Lusitanistas, 2020
O ensaio tem como principal objetivo discutir a noção de autorrepresentação em produções da literatura brasileira recente. Tomando como fundamento teórico os estudos propostos por bell hooks em seu livro Olhares negros: raça e representação (2019) e as discussões empreendidas por Souza (2010), Rankine (2019), Gonçalves (2018), pretendemos discutir e analisar o posicionamento afirmativo cada vez mais recorrente na literatura brasileira por parte dos escritores afrodescendentes que buscam marcar um lugar de presença, por meio de diferentes recursos literários, para questionar os estereótipos que, por muito tempo, estiveram presentes no discurso literário brasileiro. Assim, pretende-se refletir sobre o elo entre o autor, sua etnia e seu projeto literário, caracterizando melhor diferentes estratégias de "autorrepresentação" do negro em três contos de autores negros da literatura contemporânea brasileira: "Metal-Metal" de Cidinha da Silva (2019), "Espiral" de Geovani Martins (2018) e "Elevador a serviço" de Cristiane Sobral (2016).
O negro na literatura brasileira
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Notas sobre o Romance Brasileiro de Autoras Negras
2017
Como escritoras negras constituem sua voz autoral no romance? Abordaremos a questao a partir da leitura de Ursula (1859), As mulheres de Tijucopapo (1982) e Um defeito de cor (2006), romances escritos por autoras negras em diferentes momentos da historia. No texto de Maria Firmina dos Reis, a autoria negra se constitui no discurso, nao se apoia em indices de auto-referencialidade da escritora, posto nao haver registros de sua imagem nem maiores detalhes de sua biografia. Na obra de Marilene Felinto, inexiste correspondencia entre o posicionamento da autora frente a escrita literaria negra e a construcao da personagem narradora, cuja trajetoria se pauta na interseccao raca, classe, genero, localidade. Por fim, Ana Maria Goncalves ficcionaliza a propria constituicao de seu lugar autoral ao inventar um manuscrito da historia narrada, investindo na autoria enquanto agenciamento coletivo de enunciacao negra, mesclando sua voz a Luiza Mahin – signo de grande potencia para o feminismo negro.
A estereotipização do negro nos romances de Bernardo Guimarães
Revista Todas as Musas, 2016
Resumo: No decorrer do século XIX, desata no Brasil um assíduo debate em torno da escravidão e do futuro do país. Bernardo Guimarães instrumentaliza a imagem do afrodescendente para divulgar suas ideias sobre nacionalidade. Ao fazer do afrodescendente o protagonista de sua narrativa, o escritor, entretanto, constrói uma série de personagens estereotipados. Propõe-se, por meio do presente artigo, analisar as principais características dos personagens negros em três obras de Bernardo Guimarães. Palavras-chave: Bernardo Guimarães; Estereótipos raciais; Literatura abolicionista. Abstract: In the course of the nineteenth century, an assiduous debate begins in Brazil concerning the slavery and the future of the country. Bernardo Guimarães uses the image of the African descendant to broadcast his ideas about nationality. Nevertheless, while the author makes the African descendant the main character of his narrative, he constructs a sequence of stereotyped figures. We intend, with the present article, to analyze the main characteristics of the negro characters in three works of Bernardo Guimarães. O negro na literatura brasileira até o século XIX Apesar de o negro, desde o início do período colonial, ter desempenhado um papel crucial no desenvolvimento econômico e estrutural da sociedade brasileira, observamos que sua figura é praticamente inexistente em textos literários anteriores à abolição do tráfico negreiro, decretada de forma definitiva apenas em 1850 (CARVALHO, 2006, p. 54; CASTILHO, 2004, p. 104; MARTINS, 1977, p. 26). Essa situação, aparentemente paradoxal, diz muito sobre como o negro era percebido e apreciado pelo branco durante os primeiros séculos de colonização. Até o fim da escravidão, o afrodescendente não havia representado para a elite do país mais que um importante bem material. A coisificação do escravo como aquisição valiosa para o desenvolvimento da economia brasileira teve como consequência a desumanização do afrodescendente que era considerado um ser inferior. Os intelectuais brasileiros não estavam interessados em apresentar o negro como personagem de suas obras, pois ele não era considerado um elemento poético. Consequentemente, o afro-brasileiro permanece praticamente ausente
A representação do negro no conto machadiano
Revista Mafuá, 2020
Este ensaio tem como objetivo analisar alguns contos escritos por Machado de Assis considerando que o autor foi, durante muito tempo, lido pela crítica literária brasileira como omisso em relação à condição do negro no Brasil escravocrata. No entanto, nas últimas décadas, a partir da revisão teórica dessas premissas realizada por nomes como Eduardo de Assis Duarte (2007), Machado de Assis vem sendo lido como autor afrodescendente e suas obras vêm sendo reinterpretadas, com base na relação entre o projeto literário do escritor e sua etnia. Assim, tomando como pressuposto esse discurso revisionista, este ensaio busca situar a obra de Machado de Assis na discussão sobre literatura afrodescendente e refletir sobre o pertencimento étnico do autor e suas formas de manifestação em alguns contos famosos do escritor, como “O caso da Vara” (1899), Pai contra Mãe” (1906), “O espelho” (1882) e “Mariana” (1871). Em anexo, apresentamos a transcrição da carta escrita por Hemetério dos Santos (1908), publicada no jornal Gazeta de Notícias, a fim de sustentar a hipótese de que seu comentário foi uma espécie de marco zero dos discursos acusatórios proferidos contra Machado de Assis (MOUTINHO, 2015).
Narrativa e experiência histórica nos romances de autoras negras brasileiras
Revista Crioula
Na primeira parte deste artigo discute-se a condição minoritária do gênero romance dentro da produção literária de autoria negra brasileira, dado que constitui um problema de amplas dimensões, principalmente pensando na tradição nacional estabelecida em torno desse gênero historicamente reivindicado na construção da identidade da nação. No segundo momento do texto, adentra-se propriamente a questão da forma romance frente à representação da experiência histórica nacional narrada sobre a exclusão do sujeito negro. Por fim, destaco a obra pioneira da romancista negra Maria Firmina dos Reis, pensando Úrsula como um romance de fundação oitocentista, cujo paradigma discursivo está em circulação – conforme se nota nos romances de autoras negras brasileiras publicados nos séculos XX e XXI.
Os filhos da natureza: Figurações do indígena no romance brasileiro dos anos 1930
Latin American Research Review, 2018
Este artigo objetiva analisar representações do indígena na literatura ficcional brasileira da década de 1930, buscando compreender sua incorporação ao imaginário nacional naquele momento. Trata-se de um contexto de aprofundamento do debate sobre a modernização social, produtiva e institucional do país, sobretudo no sentido da promoção da industrialização nas áreas de economia mais dinâmica e da ampliação da presença estatal na vida do país, particularmente através de sua expansão em direção ao interior e às regiões de fronteira. Buscamos observar as formas de sua percepção como objeto, obstáculo e sujeito histórico e para tal foram selecionadas manifestações literárias bastante diversas: a literatura de entretenimento de Menotti del Picchia, a escrita neorrealista de Graciliano Ramos e a ficção mística e introspectiva de Cornélio Penna. Por meio de tal diversidade, intentamos alcançar um amplo horizonte de possibilidades em torno do problema exposto. Observamos, enfim, nos romances...
Representatividade De Mulheres Negras Na Literatura Brasileira
Fronteiraz, 2023
RESUMO Este estudo tem como objetivo analisar dois cordéis, integrados na obra Heroínas negras brasileiras 15 cordéis, da autora Jarid Arraes, que trazem um contra-discurso aos papéis inferiores dados a duas mulheres negras na literatura brasileira, a saber, Carolina Maria de Jesus e Maria Firmina dos Reis. Nessa obra, Arraes (2020) desconstrói, por meio de 15 cordéis, algumas representações estereotipadas a que foram associadas as mulheres na literatura, recorrendo ao viés do protagonismo feminino negro. A perspectiva de análise desta pesquisa foi conduzida com base na teoria da interseccionalidade proposta por Collins e Bilge (2020), e essa fundamentação teórica é apoiada em reflexões propostas por Zolin (2009), Evaristo (2005), Perrot (2007), dentre outros. Mediante o valor artístico, social e literário que a respectiva obra apresenta, concluímos que ela pode provocar reflexões importantes sobre o apagamento e silenciamento de mulheres negras na literatura, sobretudo no âmbito escolar.
2020
This article examines three texts by Machado de Assis featuring enslaved black (mixed-race) women: The short story “Father Against Mother” (Relics from an Old House, 1906); the narrative poem “Sabina” (Americanas, 1875); and the short story “Mariana” (Jornal das Famílias, 1871). It intends to show that, in these works, Machado subverts and unveils the social and literary stereotype of black women in general and mixed-race women in particular, as well as to claim that this subversion means a critique of naturalism that characterizes these stereotypical figures and makes up the fetishized conscience of the proprietary white man.