(2012) Video no limite: os ensaios audiovisuais de Jean-Luc Godard entre o cinema e a media art (original) (raw)
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Sessões do Imaginário-Cinema| …, 2011
Este artigo propõe uma apropriação da ideia de “cinema impuro”, segundo André Bazin, para pensar as contaminações mútuas entre o cinema e o vídeo, tomando como objeto de análise a série de ensaios fílmicos produzidos para a televisão História(s) do Cinema, de Jean-Luc Godard (1998). À luz também das contribuições de autores como Philippe Dubois e Arlindo Machado, este trabalho busca colocar em questão a forma como Godard incorpora e combina referências das mais diversas expressões artísticas - sobretudo a literatura, a pintura e a música, além do próprio cinema – na produção de um pensamento audiovisual, e como as suas colagens poéticas e narrativas se apresentam num meio de materialidade essencialmente tão fluida quanto o vídeo. This paper proposes an appropriation of the idea of “impure cinema”, according to André Bazin, to reason about the mutual contaminations between cinema and video, using as an object of analysis the series of film essays produced for television Histoire(s) du Cinéma, by Jean-Luc Godard (1998). In light of the contributions by authors such as Philippe Dubois and Arlindo Machado, this article intends to call in question the way how Godard incorporates and assembles references from many diverse artistic expressions – mainly literature, painting and music, beyond cinema itself – to produce an audiovisual thought, and how its poetical and narrative collages are featured in a medium as essentially fluid as video in its materiality.
Jean-Luc Godard: ouvindo as imagens sob a ótica da prática eletroacústica
2019
Neste artigo, observamos as relações entre a música e o cinema, com foco no contexto sonoro, estético e técnico utilizados pelo diretor franco-suíço Jean-Luc Godard, um dos precursores da Nouvelle Vague francesa nas décadas de 1950 e 1960. Iniciamos o artigo introduzindo questões relacionadas ao som e imagem no cinema no início do séc. XX, refletindo sobre um contexto em que não considerava-se o som, a partir de fontes sonoras instrumentais tradicionais ou não, como ítem essencial na construção da expressão cinematográfica. Encontramos em autores como Claudia Gorbman (2007), Michel Chion (2008), entre outros, o suporte teórico para tratarmos sobre o tema e seus desdobramentos. Dentro do escopo do chamado “cinema de autor”, representando o lugar do diretor/autor dentro da sétima arte, observamos aqueles que têm por princípio o distanciamento da produção dita “estereotipada” da indústria cinematográfica, adotando a própria visão sobre o mundo como referência estética e mantendo o cont...
2015
Esta tese apresenta uma reflexão sobre o ensaísmo no cinema, a partir de um olhar à série História(s) do cinema, produzida pelo cineasta franco-suiço Jean-Luc Godard entre os anos de 1988 e 1998, e exibida pela emissora de TV francesa Canal+. A inquietação que origina a pesquisa é a necessidade de melhor compreender o que significa um exercício de pensamento audiovisual, tão atribuído às obras fílmicas de teor ensaístico e à própria série de Godard, e ao mesmo tempo tão pouco problematizado. Esta preocupação norteou a elaboração das duas questões centrais em torno das quais a investigação orbita e ao mesmo tempo busca responder: como se constitui um pensamento por e com imagens? E que saberes a respeito do mundo histórico são engendrados pela escritura ensaística no cinema, no caso de uma obra como História(s) do cinema? O trabalho aposta num cruzamento entre os campos da Comunicação e das Artes e se insere num nicho de estudos ainda em construção no seio da pesquisa em cinema, que floresceu especialmente nas últimas duas décadas, e vem se dedicando aos produtos audiovisuais que fogem às convenções de gênero mais marcadas (a exemplo do ensaio fílmico). A estrutura da tese é composta por três partes: 1) Cinema, uma forma que pensa; 2) Montagem, essa bela inquietação e 3) Nem arte, nem técnica: um mistério. A primeira é dedicada à apresentação do conceito de ensaio fílmico e à discussão sobre a sua conflituosa relação com o método, a partir de escritos recentes de autores como Josep Maria Català (2014a, 2014b, 2014c) e Antonio Weinrichter (2007, 2009), bem como de textos das teorias do cinema em que foi identificado um devir-ensaio, como em Hans Richter (1940) e Alexandre Astruc (1948). Na segunda parte, é discutida a noção de pensamento visual, partindo principalmente das contribuições teóricas de Didi-Huberman (2011, 2013a) ao estudo das imagens e de algumas experiências de saber visual mapeadas e trazidas à tona, que funcionam como uma espécie de prelúdio à análise de Histórias(s) do cinema. São elas o Atlas Mnmemosyne de Aby Warburg, o museu imaginário de André Malraux e o trabalho de curadoria de Henri Langlois junto à Cinemateca Francesa. Na terceira parte, a série História(s) do cinema é analisada à luz do conceitos de gesto, em Giorgio Agamben (2008, 2012) – desdobrado em duas categorias: gesto arqueológico e gesto apropriativo –, e de visibilidade e legibilidade, em Didi-Huberman (2010, 2012b, 2013e), buscando identificar como se manifesta um exercício de pensamento audiovisual e como Godard pratica uma espécie de arqueologia crítica das imagens em sua obra. No entendimento a que se chegou com a pesquisa, o ensaio fílmico se baseia na exploração crítica do dispositivo e num pensamento por montagem, ambos traços constituintes de História(s) do cinema.
Godard e as imagens cine(video)gráficas
Dito Efeito, 2019
Na década de 1970, o vídeo surgiu como um aparato tecnológico produtor de imagens rejeitado inicialmente por cineastas, devido a sua imagem precária e tecnicamente experimental. A profundidade de campo, um dos fundamentos do cinema, é reduzida neste mecanismo, no entanto, o campo de experimentação é amplo. Foi utilizado inicialmente por artistas visuais, videoartistas, performers e cineastas experimentalistas, como Jean-Luc Godard, que o incorporou ao cinema analógico, transformando ontologicamente as imagens produzidas.
O Olhar De Godard Na Pintura e No Documentário
REVISTA LIVRE DE CINEMA, uma leitura digital sem medida (super 8, 16, 35, 70 mm, ...), 2016
Jean-Luc Godard, ao longo de sua carreira cinematográfica, sempre buscou inserirse na tradição das rupturas, tecendo um movimento que lhe permitiu contestar os filmes consagrados da época e difundir uma nova tendência do cinema francês. Valorizando aspectos que lhe permitiram criar uma estética inovadora, a linguagem da pintura e do documentário agregam significados e intenções em suas histórias, apresentando um olhar órfico ao passado que evidencia a importância de tais narrativas no cinema. Para tanto, parte de sua filmografia, principalmente a obra Pierrot le Fou, será visitada pelas inúmeras intervenções da pintura na narrativa e a relação entre o cinema de Harun Farocki e o de Godard será considerada em seu aspecto de documentário.
Todas as histórias: Cinema, literatura e pensamento em Godard
Recorte, 2007
This text analyzes, with the intention of fomenting the theoretical frictions among the literature, the movies and the history, the film documentary Histoire(s) du cinéma , from Jean LuGodard. It tries to study the hybridism conceptual from the french moviemaker's historiographical project, that founded in the critic to the origin notions, tradition, influence and continuity, crosses the movies history with the 20 century history. In this perspective, it evaluates the movies relationship with the power, in other words, with the forces that they operate in the sense relationship among the signs and define the effective models of images production, texts, sounds and movements into the modernity.
Jean-Luc Godard no Brasil: da recepção à interdição (1961-1970)
Master Dissertation, Social History, USP, 2018
Primeiramente, agradeço ao meu orientador Francisco Alambert, que aceitou orientar esta pesquisa quando ela ainda se encontrava em estágio inicial de desenvolvimento. Além disso, já nos meus anos primeiros de graduação, as aulas de Francisco foram fundamentais nas minhas reflexões acerca da arte e da cultura na sociedade contemporânea.
Mateus Araújo. "Jean-Luc Godard e a memória do cinema". In Glaura Cardoso Vale e Júnia Torres (Org.). Forumdoc.bh.2022 - 26o festival do filme documentário e etnográfico de belo horizonte. Belo Horizonte, Filmes de quintal, 2022, p.86, 2022
Abstract: Written very quickly, at the request of Forumdoc.bh (for a Festival homage to the memory of Jean-Luc Godard, who had died months before), this brief note of three paragraphs points out and comments on the way in which the filmmaker establishes, in his Histoire(s) du cinéma, an identification between his cinematographic persona and the literary persona of Jorge Luís Borges. In both cases, the artists seem to assume in their work and in their person the memory of whole humanity, filtered by their art. Resumo: Escrita muito rapidamente a pedido do Forumdoc.bh (para uma homenagem do Festival à memória de Jean-Luc Godard, que falecera meses antes), esta breve nota de três parágrafos aponta e comenta o modo como o cineasta estabelece, nas suas História(s) do cinema, uma identificação entre a sua persona cinematográfica e a persona literária de Jorge Luís Borges. Em ambos os casos, os artistas parecem assumir em seu trabalho e em sua pessoa a memória da humanidade inteira filtrada por sua arte.
Godard: o cinema é nós mesmo(s)
Revista Ciclos, 2015
Sou professor de teoria(s) da imagem no Curso de Graduação em Cinema e no Programa de Pós-Graduação em Literatura da Universidade Federal de Santa Catarina, e também (como professor colaborador) no Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da Universidade do Estado de Santa Catarina. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/4963597583878266 Si se pudiera decir: yo vieron subir la luna, o: nos me duele el fondo de los ojos, y sobre todo así: tú la mujer rubia eran las nubes que siguen corriendo delante de mis tus sus nuestros vuestros sus rostros. Qué diablos. Cortázar (Las babas del diabo) Todas as mulheres das telas de Manet parecem dizer a Godard: "je sais à quoi tu penses" (IIIa 48). 1 No rosto de Olympia isso fica muito evidente. Godard poderia ter se restringido a ela, mas não: ele diz todas. Não seria viável verificá-lo, é claro, mas não seixa de ser um exercício delicioso. A garnçonete do Folies-Bergère, por exemplo. Ela não nos olha diretamente nos olhos, seu olhar fica um pouco abaixo, vago. Tenho minhas dúvidas se ela está olhando nos olhos do homem a sua frente, de bigode e cartola, que vemos apenas no reflexo improvável atrás dela. Aquele ou aquela que o olhar encontraria não está ali, ela já sabe; não está mais, ou nunca esteve. Seu olhar vago e desolado acontece, certamente, após um leve suspiro de desânimo. É a própria melancolia que ali se instala. A jovem parece saber que olhamos para ela e já nem liga mais se sentimos pena dela ou não; já superou o estágio de se importar com nossa piedade. Mas sabe o que estamos pensando, embora não ligue pra nós. A tela realmente ajuda a inventar o cinema, mais especificamente o cinema de alta definição. Há ali vários cortes, vários planos de detalhe muito nítidos, reunidos naquela geometria ótica impossível. Sincronicamente, há toda uma sequência em que a câmera nos faz passear pelas sensações do Folies Bergère; não supostas sensações objetivas, coletivas, comunicativas, que provavelmente o cinema aqui antecipado sabe não existirem: falo de sensações que nos atingem no momento em que forjam a 1 Godard, Jean-Luc. Histoire(s) du cinéma, v. IIIa. Paris: Gallimard-Gaumont, 1998, p. 48-55. As referências seguintes a essa obra de Godard virão apenas com a indicação do volume (em romanos) e das páginas entre parênteses.