Síntese do livro INOUWA NIKETXE (original) (raw)

A PULP FICTION BRASILEIRA DE RYOKI INOUE

“A mente acadêmica”, reflete Ray Browne em Against Academia, “começa com capacidade quase ilimitada, mas nunca utiliza todo seu potencial ” (BROWNE, 1989, p. 1). Por essa razão, ela resulta em uma instituição semelhante aos salões de arte conforme descritos por Pierre Bourdieu, pois “se definem mais pelo que excluem que pelo que aglutinam” (BOURDIEU, 2010, p. 69). Essas posições exclusivistas assumidas pelos agentes literários dentro do campo delineiam uma prática cognitiva fundadora de uma realidade acadêmica maniqueísta. De um lado, o predomínio da beletrística, com os cânones e a “ficção literária”, “séria”, que, na tentativa de absorver a sensibilidade moderna, por vezes se distancia do público; do outro, a literatura popular, pulp, de gênero, a literatura de banca de jornal, toda a literatura que tem por objetivo principal o entretenimento.

Metáfora das emoções Kaiowá

Revista Brasileira de Linguística Antropológica

Este artigo apresenta uma descrição de algumas expressões linguísticas metafóricas que codificam as emoções e os sentimentos em Kaiowá, língua pertencente ao sub-ramo I da família linguística Tupí – Guaraní do tronco Tupí (Rodrigues 1984-1985). O trabalho está baseado na Teoria da Metáfora Conceptual (TMC), que compreende a metáfora como um mecanismo da cognição humana que desempenha um papel fundamental na construção, organização e compreensão do mundo e da experiência humana, (Lakoff; Johnson 1980). O corpus, respeitando o princípio metodológico Usage-Based Models of Languages (Barlow e Kemmer 2000), foi construído a partir de dados obtidos de entrevistas com falantes de Kaiowá. Nessa Língua, o fígado – py’a – é local das emoções; já os fenômenos emocionais e sentimentais inerentes ao ser humano são descritos a partir do conceito de teko.

Resenha do livro de NILO REIS, MAQUIAVEL NA INGLATERRA E O INCONFESSO INTÉRPRETE DAVID HUME. BELO HORIZONTE: EDITORA DIALÉTICA.

Há mais de vinte anos Nilo Henrique Neves dos Reis tem direcionado seus esforços ao exame da filosofia de David Hume. O livro Maquiavel na Inglaterra e o inconfesso intérprete David Hume é o resultado de sua pesquisa ao pensar não somente sobre a filosofia de Hume, mas também acerca da filosofia de Maquiavel, e de que modo seus respectivos sistemas estão intimamente relacionados. O livro aqui apresentado é uma obra de fôlego e, apesar disso, não se trata de um trabalho enfadonho e desestimulante, ao contrário, trata-se de uma obra na qual o autor conduz o leitor pela mão por meio de ensaios cativantes, que fazem com que a relação entre Maquiavel e Hume seja apresentada de forma límpida e inteligível, como se uma ideia se seguisse naturalmente da outra. Em suma, Nilo exprime este trabalho nos moldes sugeridos pelo próprio Hume no ensaio intitulado Da simplicidade e refinamento na escrita, a saber, conduzindo seu texto de forma a estabelecer “(...) a justa mistura de simplicidade e refinamento na escrita” (SR, 5).

Recensão ao livro de Vítor Tau Anzoátegui

Recensão ao livro de Vítor Tau Anzoátegui, 2018

ANZOÁTEGUI, Vítor Tau (2016). El jurista en el nuevo mundo. Pensamiento. Doctrina. Mentalidad. Frankfurt am Main: Max Planck Institute for European Legal History, 2016, 267 pp. [ISBN 978-3-944773-06-3]

SINTAXE: EIXO DA TEXTUALIDADE

A frase, criação indefinida, variedade sem limite, é a vida mesma da linguagem em ação. Concluímos que com a frase se sai do do-mínio da língua como domínio de signos e se penetra em outro u-niverso, o da língua como instrumento de comunicação, cuja ex-pressão é o discurso. É no discurso, atualizado em frases, que a língua se forma e se configura. Aí começa a linguagem. Pode-se dizer, calcando uma fórmula clássica: nihil est in lingua quod non prius in oratione. (E. Benveniste) Uma das particularidades mais importantes da comunicação escrita é o fato de ela ser elaborada em ausência do receptor e recebida em ausência do emissor, o que acarreta uma sé-rie de conseqüências, principalmente ligada à organização interna da mensagem: " escrever é esforçar-se para compensar através de procedimentos discursivos e lingüísticos específicos o fato de os dois interlocutores não poderem estar presentes no momento da comunicação " (Vigner, 1982:24). Essa necessidade de compensar a ausência de interlocutores durante a comunicação es-crita torna quem elabora a mensagem tão assustadoramente responsável que não causa admi-ração sentir-se ele inibido e incapaz, duvidando da própria eficácia daquilo que escreve. Po-rém, teoricamente, tal atividade comunicativa não deveria trazer tantos obstáculos a sua plena realização, como afirma Teun Van Dijk (1977: 203): Tudo leva a crer que o falante conhece as regras que sustentam as relações entre enunciados textu-ais coerentes. Já que ele pode produzir/interpretar um número infinito de discursos diferentes, sua competência é necessariamente uma competência textual. É bem pouco provável, e mesmo impossí-vel, que a produção e a percepção de enunciados se operem através de uma concatenação não regrada de frases isoladas. Ora, do ponto de vista da vivência professor/aluno, resta-nos fazer uma pergunta crucial a Van Dijk, diante de suas considerações a respeito da competência textual: por que, então, deparamo-nos com redações escolares deste tipo 1 : (1) A loucura pode ser tratada nas instituições totais? Quem a reproduz, está é uma doença patoló-gica ou social? Com o ritmo que a maioria da população tem vivido, considero natural que a conseqüência de al-gumas situações resultem neste estado de loucura. Desta forma, a loucura é reproduzida pelo indivíduo no meio social. O que interferiria nesse desempenho textual escrito evidentemente sofrível de boa parte de nossos alunos ou até mesmo de simples usuários da língua? Também teoricamente conhe-1 Os trechos que ilustram este artigo foram tirados de textos escritos por alunos de nível de ensino superior.

UTOPIA DA LIBERDADE EM NIKETCHE, DE PAULINA CHIZIANE

ZITO MACARIO JULIO, 2021

Resumo Niketche constitui um tesouro de saberes tradicionais, sobretudo provérbios, a partir dos quais a autora procura demonstrar à sociedade, como estes saberes eternizam o sofrimento da mulher, numa sociedade em que ser mulher, é ser condenada a uma vida recheada de “histórias de espinhos”. Neste artigo, faz-se uma análise sociológica na qual procura-se compreender o valor social das falas das personagens, dos papéis de género com o objectivo de aferir como os provérbios e mitos constróem as diferenças baseadas no sexo ou género. Tony é acusado de não cuidar dos filhos, mergulhando as famílias num caos social profundo. Mas este comportamento é consequência do adultério que caracteriza a vida de Tony. Ao lado dessa realidade, estão os provérbios populares que enfatizam a aporia: “mamas caídas, não pego”; ou “na capoeira, quem canta é o galo”. Estes provérbios cristalizam no universo diegético do romance, cenários humilhantes contra mulheres como os casos em que o homem tem mais de uma esposa e ainda se prostitui, a mulher se mantêm num eterno silêncio, porque desde a infância, à mulher nunca lhe foi ensinado o amor próprio, a amar-se e a respeitar-se, mas sim a respeitar o estado quo estatuído, o da obediência aos homens, facto que solidifica as hierarquias sociais, colocando a mulher sempre à margem da sociedade. Com isso, o romance denuncia e reivindica a forma como se pensa o “ser mulher africana”, alertando para a construção de utopias de um mundo em que ser mulher não será sinónimo de subalternidade. Palavras-chave: Utopia, liberdade, Niketche, Paulina Chiziane.

Livro de NNE

A c o m u n i c a ç ã o m a t e m á t i c a e m c r i a n ç a s c o m N E E Introdução A presente dissertação surge no âmbito da realização do mestrado em necessidades educativas especiais (NEE), domínio da comunicação e linguagem, no Instituto Superior de Educação e Ciência. O tema de investigação centra-se no estudo do uso das tecnologias de informação e comunicação (TIC), designadamente o programa Geogebra, aplicado a crianças e jovens com NEE. I n s t i t u t o S u p e r i o r d e E d u c a ç ã o e C i ê n c i a s Página 2

INTRÓITO OU COMEÇO DE NÁUKRATIS, LIVRO DO NAVIO OU MEMÓRIAS E ESQUECIMENTOS DE UM NAUFRÁGIO Escrito por Anna Kálister Perena (pseudônimo de Fabíola Menezes de Araújo) 1

Revista Ananke, 2019

Náukratis, colônia grega, 600 antes de Cristo. Sede de um encontro entre deuses. Por que neste "Livro do Navio", como chama a Marinha Mercante Brasileira, Eles renasceram? Para que outros registros capazes de testemunhar naufrágios apareçam Para que, mesmo estando eu ausente, e o navio naufragado, consiga o povo aqui denominado afro-egípcio superar as desumanidades, e as intempéries. A fim de tornar mais forte o desejo De que o respeito e a Justiça sejam, escrevo. Themis ou Nêmesis? Dirão-me vocês depois. Aqui, ou em outros universos. Não se nasce escravo. É-se escravizado. Há sete anos, o antiquíssimo chão de tábuas da Universidade foi palco de nosso primeiro encontro. Quando vi, pela primeira vez, a morte nos olhos de um homem, não me considerava negra; tampouco vítima de colonialismos. Cega eu era. Em 2010, as únicas testemunhas da violência e do desprezo-a fonte seca e os azulejos brancos da Universidade Federal do Rio de Janeiro-ainda não haviam surgido sob a insígnia da escravidão. Somente em outubro de 2017, quando este livro recebeu o título provisório de Sete anos de escravidão que eu pude realizar que havia sido escravizada. Quando aconteceu este primeiro encontro com a morte? Foi quando a condição financeira de meu futuro profissional dependia de eu me tornar professora universitária. Tinha vinte e oito anos quando os meus ancestrais não existiam, e, embora eu não soubesse disto, eu tampouco existia. Não existia a 1 Pos-doutoranda na ECO-UFRJ. Doutoranda pela PUC-Rio em Filosofia Antiga.