Capitalismo, Estado e Política: Notas a partir de Chasin e do Gramsci de C.N. Coutinho (original) (raw)

Capitalismo, Estado e política: notas a partir de Chasin e do Gramsci de Carlos Nelson Coutinho

Revista Katálysis, 2013

Este artigo parte do entendimento de que a construção teórica de Marx é uma ontologia materialista do ser social e que as categorias capital, Estado e política devem ser tratadas como categorias ontológicas. Baseia-se em Chasin e Coutinho, que põem no horizonte teórico e prático a superação da lógica do capital e da sua sociabilidade específica. Destaca, em Chasin, o desvelamento da ontonegatividade da política e a categoria de metapolítica. Posiciona-se criticamente em relação à leitura de Gramsci proposta por Coutinho, marcada por uma concepção ontopositiva da política e a algumas conclusões sobre o processo de transformação social e a perenidade da política. Por fim, assinala uma possível convergência entre as duas abordagens.

As reflexões J. Chasin sobre sociedades pós revolucionárias regência do Capital Niep.pdf

Resumo: Marx apontou alguns pressupostos necessários ao sucesso de uma empreitada revolucionária de superação da regência do capital: a existência de uma massa de pessoas destituída de propriedade de par com um mundo de riquezas e cultura abundante, pré-requisitos que só ocorrem quando há certo nível de desenvolvimento das forças produtivas; e, ainda, que tal se dê num nível histórico-mundial que possibilite uma revolução já com base nesse desenvolvimento universal e por iniciativa dos povos desenvolvidos, súbita e simultaneamente. Ora, a Revolução Russa de 1917, que completa 100 anos, ocorreu, de forma imprevista, num dos países mais atrasados da Europa e não conseguiu tornar-se o estopim de uma verdadeira revolução mundial. Com isso, desenvolveu-se um regime que não era capitalista, que precisava criar os citados pressupostos (que em outros lugares haviam sido efetivados pelo capitalismo), mas que também não era socialista. Pretendemos, aqui, recuperar as reflexões de J. Chasin sobre o tema, centrando-nos na distinção entre capital e capitalismo e no argumento de que aquelas sociedades superaram o segundo, mas se mantiveram sob a lógica de um capital coletivo/não-social. Configuraram-se, então, sociabilidades imprevistas, plenas de contradições e limites, que não ascenderam da revolução política à revolução social e portanto não chegaram ao socialismo, etapa de transição para o comunismo. Abordamos, ainda, as características e questionamos sobre o agente da revolução social da época da produção e do intercâmbio globais. Palavras-chave: J. Chasin; União Soviética; sociedades pós-revolucionárias; revolução socil; emancipação humana. J. Chasin's reflections on post-revolutionary societies: the regency of collective / non-social capital Abstract: Marx pointed to some of the presuppositions necessary for the success of a revolutionary enterprise of overcoming the regency of capital: the existence of a mass of people deprived in parity with a world of riches and abundant culture, prerequisites that only occur when there is a certain level of development of the productive forces; And also that this should take place on a world-historical level that will enable a revolution already based on this universal development and at the initiative of the developed peoples, suddenly and simultaneously. The 1917 Russian Revolution, which turns 100, occurred unexpectedly in one of the most backward countries in Europe and failed to become the trigger for a true world revolution. With this, a regime that was not capitalist was developed, that needed to create the mentioned presuppositions (that in other places had been effected by the capitalism), but that also was not socialist. We intend here to recover the reflections of J. Chasin on the subject, focusing on the distinction between capital and capitalism and on the argument that those societies surpassed the second, but remained under the logic of a collective / non-social capital. Uma versão mais curta deste texto foi publicada como uma " Apresentação " a excertos de Chasin relativas ao tema da revolução e da emancipação humana (ASSUNÇÃO, 2017).

Estado e sociedade em Gramsci, por Fernando Graça

2021

Neste artigo também publicado no meu site, em contato direto com os Cadernos do Cárcere e outros textos gramscianos e marxistas fundamentais, eu mostro que, para o líder dirigente do PCI, militante da Internacional, deputado preso pelos fascistas e grande intelectual marxista Antonio Gramsci, Estado e sociedade estão em relação dialética, não dualista. A separação entre ambos só interessa à ideologia burguesa, que demoniza e se apropria do público, torna o Estado pura coerção, reivindica a tirana autorregulação do mercado ("neoliberalismo" e afins) e camufla a dominação de classes na sociedade civil (tida como espaço da "livre iniciativa"), seja a opressão autocrática da fábrica/empresa capitalista ou do sutil consenso em escolas, mídia, jornais etc. Também uma parcela da esquerda, sobretudo anarquista, incorre em ingênua fenomenologia do poder ou na armadilha liberal-conservadora, ao invés de lutar pela hegemonia da classe subalterna para esta tornar-se dominante (isto é Gramsci!). Ao separar primeiro a superestrutura marxiana e engelsiana em dois níveis ("sociedade civil" e "sociedade política"), Gramsci então une os dois níveis em teoria inovadora e fatídica sobre o Estado. (Lembremos do poder do lobby no Congresso Federal, do vínculo podre entre empresariado e políticos, da legislação burguesa que molda as ações da sociedade sob a forma mercadoria ou do fato de que as forças militares do Estado servem à defesa da propriedade privada dos meios de produção da burguesia...) Gramsci mostra, portanto, que a sociedade civil é um momento do que ele chama de Estado integral ou ampliado e uma arena das lutas de classes. "Todo Estado é uma ditadura." Esta teoria sustenta as estratégias gramscianas da revolução no Ocidente ("guerra de posição", "guerra de movimento", etc.) e a tese da "sociedade regulada" (comunismo), que é construída à medida que o Estado-coerção esgota-se e dissolve-se na sociedade civil para o fim da divisão de classes após a conquista trabalhadora e revolucionária do poder (tal como em Marx e Engels, com a diferença de que G. chega a defender a conquista da hegemonia antes da conquista do poder governamental). Boa leitura. https://fernandograca.com.br/07/02/2021/estado-e-sociedade-em-gramsci/

(Re)visitando Gramsci: considerações sobre o Estado e o poder

Revista Katálysis, 2013

O objetivo deste artigo é revisitar as contribuições gramscianas sobre a sociedade capitalista, com ênfase em suas reflexões sobre o Estado e o poder. Situa, inicialmente, os elementos sócio-históricos fundantes da análise do autor, inscritos no cenário particular da transição do capitalismo concorrencial ao estágio monopolista do capital. Resgata as bases teórico-analíticas do pensamento de Gramsci, a partir da singular contribuição dos escritos de Marx e Engels para formulação da noção de Estado ampliado. Defende a atualidade do pensamento de Gramsci para o desvelamento do ethos capitalista, principalmente para análise das estratégias contemporâneas de recomposição da hegemonia burguesa.

NOTAS SOBRE "AS FORMAS QUE PRECEDERAM A SOCIEDADE CAPITALISTA" DOS "GRUNDRISSE" E A CENTRALIDADE DO VALOR

Sustentamos que a instauração da teoria do valor por Marx é um marco na constituição do pensamento propriamente marxiano. Os manuscritos de 1857-58, conhecidos como Grundrisse, são a primeira expressão da crítica ontológica da economia política feita por Marx. Decorre que, em nosso entendimento, ao tratar, nesse manuscrito, das formas sociais que precedem à sociedade capitalista, o autor germânico já se afastara da centralidade, até então atribuída, à forma jurídica da propriedade na explicação da dinâmica social de toda a historicidade do ser social. Em outras palavras, Marx já vislumbra que na sociedade do capital há uma essência (valor) que é permanência na mudança e que se modifica na quantidade e não na qualidade e que, ao mesmo tempo é a forma específica da riqueza, forma de dominação social específica da sociedade capitalista (dominação abstrata), forma social automediadora e médium social (o que permite o laço social indireto entre os produtores) . Essa substância só existe socialmente no interior de um inexorável processo de autoexpansão que é nomeado por Marx como capital. Capital, desse modo, revela-se um constrangimento lógico que em seu nível mais crucial independe da forma jurídica da propriedade para se efetivar no mundo humano.

Crise, Estado e Capitalismo

Defeitos Estruturais de Controle do Capital, 2023

Crise, Estado e Capitalismo (Prefácio do Livro "Defeitos Estruturais de Controle do Capital", de Milena Santos).

CAPITALISMO AUTORITÁRIO E CAMPESINATO

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Gramsci e O Sentido Da Política: Materialismo Histórico, Recusa Dos Dogmas Economicistas e Das Ilusões “Ideologistas”

Revista Prelúdios

Este artigo tem por objetivo apresentar alguns dos principais conceitos do pensador italiano Antonio Gramsci, em especial a noção de hegemonia. A partir de uma discussão teórica, este trabalho pretende discutir como o pensamento engendrado por Gramsci tem raízes solidamente fundadas no materialismo histórico elaborado por Marx e Engels e renovado por Lênin. Para tanto, partindo da epistemologia marxiana, procura organizar a apresentação dos conceitos partindo de elementos mais simples e abstratos em direção à totalidade da realidade social, objetivando a construção de um concreto pensado. Assim, compreende que embora Gramsci tenha introduzido novos e importantes elementos a esse campo de pensamento, a fundamentação teórico-metodológica do seu pensamento permanece materialista, herdeira, portanto, da tradição marxista. Este artigo pretende também focar nos aspectos metodológicos da operacionalização empírica dos conceitos de hegemonia e contra-hegemonia, discutindo as dimensões e ind...

DÍVIDA E DINHEIRO NA TEORIA DO CAPITALISMO E DO ESTADO EM E A PARTIR DE DELEUZE & GUATTARI (RESUMO EXPANDIDO DA TESE)

Resumo expandido de tese em Filosofia a ser defendida, 2023

A partir da obra de Deleuze & Guattari, a tese critica as abordagens tradicionais do problema monetário e o ressitua em novas bases, clamando pela substituição da imagem dogmática por uma outra imagem do dinheiro. O dinheiro é principalmente uma relação social atravessada de fluxos libidinais e políticos, e não uma simples coisa análoga a uma mercadoria. O trabalho se justifica pela centralidade do dinheiro e da dívida na configuração das sociedades e pela premência da questão monetária na atualidade, sobretudo desde a crise de 2008. Também se justifica por o tema do dinheiro não ser suficientemente pesquisado na bibliografia deleuze-guattariana. Utiliza-se principalmente de método crítico, genealógico e materialista, em linhagem marxista-spinozista, para apresentar o desenvolvimento das complexas relações entre dívida, dinheiro e socius na história universal da contingência, chegando ao dinheiro propriamente capitalista, com sua dualidade entre fluxo de financiamento e fluxo de meio de pagamento. Conclui-se que o dinheiro é um vetor de desterritorialização que é reterritorializado pelo Capital e domina o próprio tempo ao rifar o futuro pelo passado. Através do dinheiro, o poder capitalista subjuga as potências coletivas em uma operação de cercamento que separa as potências e as forças ativas do que elas podem. O quase-monopólio do fluxo de financiamento pela parte do Capital é o principal meio que este utiliza para subjugar o dinheiro e, com ele, a produção desejante e social. Propõe-se assim os conceitos de dinheiro do comum e de crédito infinito como meios de retomar a potência monetária para fins coletivos.