Capitalismo, Estado e política: notas a partir de Chasin e do Gramsci de Carlos Nelson Coutinho (original) (raw)

Capitalismo, Estado e Política: Notas a partir de Chasin e do Gramsci de C.N. Coutinho

Recebido em 27.08.2012. Aprovado em 20.12.2012. Capitalismo, Estado e política: notas a partir de Chasin e do Gramsci de Carlos Nelson Coutinho Resumo: Este artigo parte do entendimento de que a construção teórica de Marx é uma ontologia materialista do ser social e que as categorias capital, Estado e política devem ser tratadas como categorias ontológicas. Baseia-se em Chasin e Coutinho, que põem no horizonte teórico e prático a superação da lógica do capital e da sua sociabilidade específica. Destaca, em Chasin, o desvelamento da ontonegatividade da política e a categoria de metapolítica. Posiciona-se criticamente em relação à leitura de Gramsci proposta por Coutinho, marcada por uma concepção ontopositiva da política e a algumas conclusões sobre o processo de transformação social e a perenidade da política. Por fim, assinala uma possível convergência entre as duas abordagens. Palavras-chave: Capitalismo. Estado. Política. Marxismo. Ontologia. Introdução Este artigo explora o entendimento da necessidade ontológica do Estado na economia para a reprodução do capital, e procura pistas para o lugar da política na superação do Estado e do Capital. Destaca algumas considerações sobre a categoria ontonegatividade da politicidade e a necessidade da metapolítica para a efetiva emancipação humana, tal como formulada por José Chasin a partir de sua leitura dos textos de Marx. Em seguida apresenta interpretação de Gramsci, dada por Coutinho, que formula uma estratégia para a superação da formação histórica que melhor permite a expansão do valor, destacando suas eventuais limitações frente ao constructo teórico marxiano. Por fim contrapõe a interpretação de Coutinho às contribuições de Chasin. Concepção ontonegativa da politicidade de Chasin O Estado moderno é parte constituinte da base material da lógica expansionista do capital. A política como emanação dinâmica da luta pelo poder do Estado está subsumida à lógica do capital.

As reflexões J. Chasin sobre sociedades pós revolucionárias regência do Capital Niep.pdf

Resumo: Marx apontou alguns pressupostos necessários ao sucesso de uma empreitada revolucionária de superação da regência do capital: a existência de uma massa de pessoas destituída de propriedade de par com um mundo de riquezas e cultura abundante, pré-requisitos que só ocorrem quando há certo nível de desenvolvimento das forças produtivas; e, ainda, que tal se dê num nível histórico-mundial que possibilite uma revolução já com base nesse desenvolvimento universal e por iniciativa dos povos desenvolvidos, súbita e simultaneamente. Ora, a Revolução Russa de 1917, que completa 100 anos, ocorreu, de forma imprevista, num dos países mais atrasados da Europa e não conseguiu tornar-se o estopim de uma verdadeira revolução mundial. Com isso, desenvolveu-se um regime que não era capitalista, que precisava criar os citados pressupostos (que em outros lugares haviam sido efetivados pelo capitalismo), mas que também não era socialista. Pretendemos, aqui, recuperar as reflexões de J. Chasin sobre o tema, centrando-nos na distinção entre capital e capitalismo e no argumento de que aquelas sociedades superaram o segundo, mas se mantiveram sob a lógica de um capital coletivo/não-social. Configuraram-se, então, sociabilidades imprevistas, plenas de contradições e limites, que não ascenderam da revolução política à revolução social e portanto não chegaram ao socialismo, etapa de transição para o comunismo. Abordamos, ainda, as características e questionamos sobre o agente da revolução social da época da produção e do intercâmbio globais. Palavras-chave: J. Chasin; União Soviética; sociedades pós-revolucionárias; revolução socil; emancipação humana. J. Chasin's reflections on post-revolutionary societies: the regency of collective / non-social capital Abstract: Marx pointed to some of the presuppositions necessary for the success of a revolutionary enterprise of overcoming the regency of capital: the existence of a mass of people deprived in parity with a world of riches and abundant culture, prerequisites that only occur when there is a certain level of development of the productive forces; And also that this should take place on a world-historical level that will enable a revolution already based on this universal development and at the initiative of the developed peoples, suddenly and simultaneously. The 1917 Russian Revolution, which turns 100, occurred unexpectedly in one of the most backward countries in Europe and failed to become the trigger for a true world revolution. With this, a regime that was not capitalist was developed, that needed to create the mentioned presuppositions (that in other places had been effected by the capitalism), but that also was not socialist. We intend here to recover the reflections of J. Chasin on the subject, focusing on the distinction between capital and capitalism and on the argument that those societies surpassed the second, but remained under the logic of a collective / non-social capital. Uma versão mais curta deste texto foi publicada como uma " Apresentação " a excertos de Chasin relativas ao tema da revolução e da emancipação humana (ASSUNÇÃO, 2017).

Carlos Nelson Coutinho e o processo de desenvolvimento do capitalismo no Brasil

Em Tese, 2019

O presente texto propõe a discussão da concepção formulada por Carlos Nelson Coutinho para compreender o processo de desenvolvimento do capitalismo no Brasil. Para tal intento, o pensador baiano recorre a dois conceitos, que conjuga em uma proposta interpretativa singular: da noção “via prussiana”, como formulada por Lenin (e retomada por G. Lukács), ao conceito de “revolução passiva”, como proposto por A. Gramsci. A partir desse aporte teórico, Coutinho investiga o caráter “conservador” do desenvolvimento do capitalismo no país, referendado pela aliança entre os principais setores das classes dominantes (do “velho” ao “novo”), que tem por consequência uma ampla ruptura entre nação e povo. Nesse sentido, realizaremos algumas considerações sobre a atualidade da proposta interpretativa coutianiana para a compreensão do Brasil contemporâneo.

Estado e sociedade em Gramsci, por Fernando Graça

2021

Neste artigo também publicado no meu site, em contato direto com os Cadernos do Cárcere e outros textos gramscianos e marxistas fundamentais, eu mostro que, para o líder dirigente do PCI, militante da Internacional, deputado preso pelos fascistas e grande intelectual marxista Antonio Gramsci, Estado e sociedade estão em relação dialética, não dualista. A separação entre ambos só interessa à ideologia burguesa, que demoniza e se apropria do público, torna o Estado pura coerção, reivindica a tirana autorregulação do mercado ("neoliberalismo" e afins) e camufla a dominação de classes na sociedade civil (tida como espaço da "livre iniciativa"), seja a opressão autocrática da fábrica/empresa capitalista ou do sutil consenso em escolas, mídia, jornais etc. Também uma parcela da esquerda, sobretudo anarquista, incorre em ingênua fenomenologia do poder ou na armadilha liberal-conservadora, ao invés de lutar pela hegemonia da classe subalterna para esta tornar-se dominante (isto é Gramsci!). Ao separar primeiro a superestrutura marxiana e engelsiana em dois níveis ("sociedade civil" e "sociedade política"), Gramsci então une os dois níveis em teoria inovadora e fatídica sobre o Estado. (Lembremos do poder do lobby no Congresso Federal, do vínculo podre entre empresariado e políticos, da legislação burguesa que molda as ações da sociedade sob a forma mercadoria ou do fato de que as forças militares do Estado servem à defesa da propriedade privada dos meios de produção da burguesia...) Gramsci mostra, portanto, que a sociedade civil é um momento do que ele chama de Estado integral ou ampliado e uma arena das lutas de classes. "Todo Estado é uma ditadura." Esta teoria sustenta as estratégias gramscianas da revolução no Ocidente ("guerra de posição", "guerra de movimento", etc.) e a tese da "sociedade regulada" (comunismo), que é construída à medida que o Estado-coerção esgota-se e dissolve-se na sociedade civil para o fim da divisão de classes após a conquista trabalhadora e revolucionária do poder (tal como em Marx e Engels, com a diferença de que G. chega a defender a conquista da hegemonia antes da conquista do poder governamental). Boa leitura. https://fernandograca.com.br/07/02/2021/estado-e-sociedade-em-gramsci/

Socialismo e democracia no marxismo de Carlos Nelson Coutinho (1943-2012)

Lua Nova: Revista de Cultura e Política, 2013

Quando publicou, em março de 1979, na revista Encontros com a Civilização Brasileira, o ensaio "A democracia como valor universal", Carlos Nelson Coutinho já era um autor de destaque no Brasil. Marxista de base lukacsiana, havia escrito dois belos e importantes livros-Literatura e humanismo, de 1967, reunião de artigos de estética e crítica literária, e O estruturalismo e a miséria da razão, de 1972, em que submetia à crítica as ideias positivistas que se insinuavam entre a intelectualidade e no próprio campo marxista. Havia também elaborado vários artigos sobre cultura brasileira, fi losofi a e teoria política. Ainda jovem, era um autor prolífi co, que se singularizava pelo texto límpido, rigoroso e erudito. Mas foi com esse ensaio (Coutinho, 1980) sobre a democracia que Carlos Nelson ingressou de vez na cena política e intelectual brasileira, para dela nunca mais sair. Poucos textos tiveram tanta infl uência quanto aquele. Em plena ditadura militar no Brasil, o ensaio lançava uma luz na escuridão; era como uma golfada de ar num ambiente reprimido e sufocado, num momento em que as esquerdas (dentro e fora do país) ainda digeriam o

Crise, Estado e Capitalismo

Defeitos Estruturais de Controle do Capital, 2023

Crise, Estado e Capitalismo (Prefácio do Livro "Defeitos Estruturais de Controle do Capital", de Milena Santos).

(Re)visitando Gramsci: considerações sobre o Estado e o poder

Revista Katálysis, 2013

O objetivo deste artigo é revisitar as contribuições gramscianas sobre a sociedade capitalista, com ênfase em suas reflexões sobre o Estado e o poder. Situa, inicialmente, os elementos sócio-históricos fundantes da análise do autor, inscritos no cenário particular da transição do capitalismo concorrencial ao estágio monopolista do capital. Resgata as bases teórico-analíticas do pensamento de Gramsci, a partir da singular contribuição dos escritos de Marx e Engels para formulação da noção de Estado ampliado. Defende a atualidade do pensamento de Gramsci para o desvelamento do ethos capitalista, principalmente para análise das estratégias contemporâneas de recomposição da hegemonia burguesa.