O enigma do outro: contribuições do pensamento de Emmanuel Lévinas para a pesquisa com afetos (original) (raw)
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Emmanuel Lévinas e o paradoxo de viver
O presente artigo tem como objetivo levar ao leitor uma reflexão sobre a dualidade das nossas escolhas com base nas nossas reflexões e desejos. Até aonde nossas escolhas são baseadas para o sustento de desejos egoístas? Até aonde temos consciência de que nossos desejos podem fazer parte de algo maior que não podemos ver através de uma cadeia valorativa que vivemos? Será que a vida com menos necessidades é mais feliz do que a vida de necessidades? Como encontrar alegria em meio ao paradoxo do viver? Todos esses pontos serão discutidos filosoficamente com base na leitura dos capítulos “Representação e Fruição” e “Eu e Dependência” do livro Totalidade e Infinito de Emmanuel Lévinas.
Epinosa e Nietzsche terapeutica dos afetos
Resumo: Neste artigo, partindo de uma análise dos conceitos de corpo e potência presentes nas filosofias de Nietzsche e Espinosa, objetivamos mostrar que ambos os filósofos, além de fazerem uma crítica aos valores transcendentes, afirmam a necessidade de criação de novos valores e mostram que para que uma ética afirmativa da vida seja possível há, antes de tudo, a necessidade do aumento de potência da totalidade corpo/ mente, obtido através de uma terapêutica fundada na dinâmica afetiva. Considerando que tanto Nietzsche quanto Espinosa recorrem ao mesmo afeto, o da alegria, para a cura da impotência e apresentam uma terapêutica de caráter estritamente pessoal, recusando a criação de uma ética normativa, concluímos que uma terapêutica que objetiva realmente promover saúde deve ser um processo essencialmente afetivo, pautado em escolhas e ações salutares próprias, e não uma moralização dos atos da vida cotidiana, operada pelos manuais de psicologia do comportamento e de higiene coletiva.
Raymond Williams e "estruturas de sentimentos": os afetos como criatividade social
Resgate, 2020
Retomo a relevância da primeira geração dos Estudos Culturais Britânicos, mediante o exame da contribuição de Raymond Williams no diálogo com a contemporânea "virada afetiva" nas Ciências Sociais, a fim de observar a atu-alidade de seu pensamento, que se propôs a uma renovação do marxismo. Busco explorar seu conceito de "estrutura de sentimentos", que possibilita a ênfase nas dinâmicas reais da vida em que afetar uns aos outros é um "ines-perado potencial para o sentido" (GUMBRECHT, 2015). Revisito as noções de Stimmung e de mood para me aproximar da descrição dos "afetos comuns", que entrelaçam corpos e matérias e são capazes de contagiar uma época. Em que pese a conclusão de que quaisquer mudanças começam nos aspectos mais sutis da vida social, deixo aos leitores o julgamento acerca do potencial das formas emergentes para expressar avanços, mas também recuos rumo a uma ordem social desejável.
v. 3, n. 2 (2020): Os afetos na filosofia e a dimensão filosófica dos afetos
Aoristo - International Journal of Phenomenology, Hermeneutics and Metaphysics, 2020
Mais do que um tema da reflexão filosófica, o afeto quase sempre se fez presente na filosofia como constitutivo do princípio mesmo do filosofar. É este o caso da aspiração platônica, do espanto de Aristóteles, da inquietude de Pascal, do infinito anseio dos românticos-afetos que se podem chamar filosóficos no sentido de que mobilizam o pensamento. As vastas discussões sobre os sentimentos estéticos e morais que percorrem a história da filosofia dão igualmente notícia da importância dos afetos para o questionamento filosófico. Enquanto alguns autores relutaram em reconhecer a dignidade dos afetos, outros lhe conferiram um peso extraordináriocomo os filósofos do romantismo alemão, que viram no anseio infinito (Sehnsucht) o princípio da filosofia; Nietzsche, que fez dos afetos a chave de sua interpretação genealógica da história da filosofia e de sua própria apreciação moral e estética da existência; Kierkegaard, com seu mergulho filosófico na angústia; Heidegger, que analisou a angústia e o tédio como tonalidades afetivas fundamentais (Grundstimmungen), que põem em manifesto para o homem a espessura de sua existência e finitude; Sartre, ao fazer da náusea existencial um confronto com o ser e o nada; Miguel de Unamuno, ao afirmar o sentimento trágico da vida como origem da reflexão filosófica... Cumpre mencionar, é claro, também os poetas e escritores literários que se entregaram à exploração dos afetos, como o desassossego de Fernando Pessoa, a melancolia em Georg Trakl, o spleen em Baudelaire, o sentimento do absurdo em Kafka... Assim, em vista dessa centralidade dos afetos na reflexão filosófica, o presente dossiê, Os afetos na filosofia e a dimensão filosófica dos afetos, contempla reflexões que privilegiem não apenas o afeto enquanto questão na filosofia, mas, especialmente, o afeto como abertura filosófica, ou ainda, a própria filosofia como possibilitada por uma abertura afetiva.
Revista de Administração Educacional (UFPE/ISSN 1414-5987), 2013
RESUMO: Neste artigo, apresento a trajetória bioepistemográfica de Emmanuel Lévinas. Segundo a tese que aqui apresento, este filósofo judeu franco-lituano produziu um dos mais ricos exemplos contemporâneos da fecundidade intercultural albergada em práticas do pensamento científico-filosófico que ousem desenvolverse inspirados, mesmo que com pretensões universais, nos particulares fundamentos étnico-culturais ancestrais de seus autores. A fecundidade de tais práticas explica-se no fato de nelas inaugurar-se uma Razão Interdiscursiva, na qual funcionam horizontes culturais específicos, antes que como centros, como pontes para outras margens possíveis do Sentido, num movimento do espírito humano em que se fomenta uma solidariedade epistemológica fundamental à convivência dialogal e pacífica entre os distintos universos culturais humanos. Tal possibilidade faz-se, decerto, bastante interessante em sociedades pós-coloniais que, como a brasileira, advêm das violências do colonialismo escravista europeu moderno e têm como maior desafio civilizatório atual produzir a comunhão social de grupos étnicoculturais que, apesar dos diferentes interesses e posições sociais ao longo da história, formam hoje um único território nacional.
As contribuições da teoria dos afetos de Spinoza à psicologia da diferença
EccoS – Revista Científica
A Psicologia da Diferença consiste na criação de um campo conceitual cuja principal característica é a de fornecer instrumentos para que exerça a função crítica às teorias psicológicas afinadas com os sistemas hegemônicos de construção de sentidos, principalmente aqueles que afirmam hierarquias, oposições disjuntivas e normas e trabalham pela homogeneização das diferenças. Por causa disso, objetiva a valorização das singularidades. Articula-se com a Filosofia da Diferença, com a Psicologia Política e com a Clínica Política. Nesse sentido, exporemos nesse artigo as teorias básicas que permitirão o direcionamento temático aqui proposto à Psicologia da Diferença, enquanto escuta experimental, que põe em prática uma ética das singularidades. Este estudo se caracteriza como uma produção epistemológica de caráter conceitual acerca das contribuições da teoria dos afetos de Spinoza com a Psicologia da Diferença.
Opiniães, 2019
Fernando Rocha é paulistano, graduado em Letras, professor na rede municipal de ensino de São Paulo, fotógrafo, autor dos livros Sujeito sem verbo, Os Laços da fita, Afetos e Pouca Pele, este último publicado recentemente. Possui textos em diversos sites, como: Mallarmagens, Amaité Poesias & Cia, Diversos e Afins, Revista Gueto, Incomunidade, Letras Inacabadas e Letras et Cetera.Nesta entrevista, gentilmente concedida para a Opiniães via correspondência eletrônica no mês de maio, Fernando Rocha expõe suas ideias acerca da intrincada relação entre a literatura e os afetos, desde o processo criativo até a recepção da obra pelos leitores.
Les affects sont effects:Para pensar a noção de afeto em Jacques Lacan
Revista Modernos & Contemporâneos: IFCH, Universidade Estadual de Campinas,, 2019
No presente artigo desenvolvemos uma análise em torno da noção de afeto na psicanálise de Jacques Lacan, a partir principalmente dos seguintes seminários: IX – l ’Identification (1961/62), X – l ’Angoisse (1962/63), XX - Encore(1972/73); e da comunicação Télévision (1974). Fornecemos, em primeiro plano, subsídios teóricos que demonstram falsa a premissa de que Lacan teria negado a categoria afeto em suas obras, confirmando improcedente a acusação de um suposto “intelectualismo” em seu ensino. Em segundo lugar, fundamentamos a noção de afeto na perspectiva lacaniana a partir da afirmação do autor de que “os afetos são um toque do Real”. Designamos duas classes de “circuitos afetivos”: afetos de alienação e afetos de separação na relação não antinômica com o discurso, com a linguagem, com o enodamento significante. Por fim, avançamos com a noção de desamparo(Hilflosigkeit) e angústia(Angst), afetos por excelência de separação e despossessão daquilo que o sujeito enuncia como próprio, constitutivo, identitário; algo determinante para a clínica e para os processos de (des)subjetivação. Palavras-chave: Jacques Lacan; afeto; linguagem; discurso; desamparo; angústia
Explorando o território dos afetos a partir de Lev Semenovich Vigotski
Psicologia em Estudo, 2014
RESUMO. O território dos afetos, denominação genérica sob a qual abarcamos emoções, paixões e sentimentos em suas diversas nuanças, tem sido abordado sob diferentes enfoques epistemológicos ao longo do tempo. Partindo de uma perspectiva fisiológica, passou depois por enfoques metafísicos, indo até o surgimento de olhares mais atentos ao papel das interações sociais no desenvolvimento humano, que compreendem o campo dos afetos no contexto dos processos semiótico-culturais nos quais se constitui o sujeito. No presente artigo buscaremos resgatar as contribuições da abordagem histórico-cultural esboçada por Lev Semenovich Vigotski para o estudo das emoções, a qual estabeleceu marcos importantes em meio aos debates das correntes vigentes no século XX. Situaremos, em seguida, algumas abordagens contemporâneas de orientação sociocultural que se propõem a dar prosseguimento à proposta do autor russo, analisando avanços trazidos por novas pesquisas sobre o tema. Por fim, discutiremos desafios e implicações de uma perspectiva histórica e sociocultural para o estudo dos afetos que atente para a complexidade e a dinamicidade dos fenômenos psicológicos.
O papel dos afetos na vida humana
2021
The aim of this article is to present some of the philosophical positions that dialogue with different areas of knowledge and that help us take a step further in the understanding of the relationship between reason and emotion. First, we present Damasio's idea of somatic-markers, which elucidates the role of affections in the development of rational thought. Second, we observe that these exhibit a reduced capacity in different spheres of life, with a decreased ability to connect negative components to moral norms, resulting in inappropriate moral behavior and interfering with deliberative capacities. Finally, we present Shaun Nichols' theory on Affective Resonance, the norms that comprise affective support (mainly negative) exhibit cultural transmission advantages to the detriment of affectively neutral norms. These studies prove the importance of affections inrational thinking and in the maintenance and propagation of moral norms and rules. The main idea defended herein is ...