A mentira e o riso na obra Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna (original) (raw)

Dos mitos à picaresca: uma caminhada residual pelo Auto da Compadecida de Ariano Suassuna

2007

de pessoa rude, bruta, grosseira, baseando-nos na carta 22 de Pero Vaz de Caminha a D. Manuel I, quedamo-nos a perguntar:-Quando do descobrimento do Brasil, qual dos dois povos era o mais selvagem? De acordo com o escrivão, na chegada da frota portuguesa, apesar de os índios terem se aproximado do batel portando arcos e flechas, a um sinal de Nicolau Coelho, eles os depuseram; quando Coelho lhes arremessou um barrete, uma carapuça de linho e um sombreiro, um dos índios jogou-lhe um sombreiro de penas de aves, e um outro, um ramal grande de continhas brancas; nas várias vezes em que o Capitão mandou Afonso Ribeiro, um jovem degredado, ir ter com os índios para conhecer-lhes o modo de vida e maneiras, os nativos o receberam muito bem: deram-lhe arco e flecha e não receberam nada em troca; uma das vezes, quando um dos índios tomou umas continhas do degradado e fugiu, os outros, ao saberem do ocorrido, foram atrás do índio fujão, 20 CARVALHO, Ronald de. Op.cit., p. 31. 21 Há controvérsias quanto ao número de indígenas que havia no Brasil quando da chegada dos portugueses. Estima-se entre 1 a 10 milhões de aborígenes. Atualmente, são aproximadamente 460 mil índios que ocupam o território brasileiro. São aproximadamente 225 etnias indígenas e 180 línguas (Vide: www.funai.gov.br/indios/conteudo.htm). Em 11 de dezembro de 2002, a Lei n° 145 da Câmara Municipal de São Gabriel da Cachoeira, município amazonense, concedeu às línguas nheengatu, tukano e baniwa o status de línguas co-oficiais à língua portuguesa. Esta lei é encontrada em vários sítios, entre os quais: www.ipol.org.br. São Gabriel da Cachoeira, a aproximadamente 850 quilômetros de Manaus, é o município brasileiro com a maior população indígena, correspondendo a 95% da população (cf.

A Representação Identitária Do Sujeito Em Auto Da Compadecida, De Ariano Suassuna

Revista FSA, 2014

O Nordeste do Brasil tem sido loco de estudos acerca da identidade de sujeitos tidos como diferentes. Este artigo tem o objetivo de investigar a representação de sujeito nordestino em Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna, através da análise dos personagens João Grilo e Chicó. Para tanto, adota-se o método descritivo bibliográfico na análise desses personagens e no embasamento teórico, em que Stuart Hall (2003), Muniz Sodré (1999) e Benedict Anderson (2008) contribuem, ao discutirem sobre conceitos de identidade nacional e Albuquerque Jr. (2006), Auristela Andrade (2000), dentre outros, ao abordarem a questão do estereótipo do sujeito nordestino. Indagamos se os sujeitos representados em Auto da compadecida podem ser considerados simplesmente nordestinos ou brasileiros nordestinos. Os resultados indicam que os personagens representam não só o nordestino, mas o próprio brasileiro.

O Equívoco de Ariano Suassuna

NEPOMUCENO, Cínthia. O equívoco de Ariano Suassuna: o corpo instrumento na estética da dança armorial. Brasília: Instituto Federal de Brasília; professora efetiva; CAPES; bolsista REUNI; UnB -Programa de Pós-Graduação em Arte; doutoranda; orientadora: Profa. Dra Roberta K. Matsumoto. Dançarina e coreógrafa. GT: Pesquisa em Dança no Brasil.

A Invenção do Tribunal do Júri em ‘Auto da Compadecida” de Ariano Suassuna

Revista de Direito, Arte e Literatura, 2016

Identificou-se as intersecções entre o Tribunal do Júri e a Literatura, no “Auto da Compadecida” de Ariano Suassuna. Enveredou-se num campo de intersecção entre o Direito e a Arte Literária para identificar os personagens, o ritual e a emoção no espetáculo do Tribunal do Júri por ele apresentado. O julgamento é a verdadeira chave para compreensão desta obra e é o ponto de intersecção, nesta pesquisa, com o Direito, pois se pretende relacionar a instituição do Tribunal do Júri a partir das construções de Ariano Suassuna. Concluiu-se que a emotividade dá-se na racionalidade do Tribunal do Júri.

Uma análise da construção da narratividade processual na peça Auto da compadecida, de Ariano Suassuna

DDI - Departamento de Direito – São Cristóvão – Presencial, 2021

Nossas cicatrizes têm o poder de nos fazer lembrar que o passado foi real. Não obstante desejasse apagar algumas marcas, isso não seria possível. Contudo, foi perante esses momentos difíceis que pude notar a importância daqueles que sempre estiveram presentes. À minha mãe, Genivalda dos Santos Cruz, a minha eterna gratidão por todos os esforços prestados durante o meu processo de constituição enquanto indivíduo. Oriunda de família humilde e privada de muitos direitos, lutou para que seus filhos pudessem usufruir de um futuro melhor. Ela será, eternamente, o meu maior exemplo de bravura e perseverança. Da mesma forma, agradeço ao meu padrasto (in memoriam), José Barbosa de Menezes, agricultor, descendente de sertanejos, que mesmo diante das adversidades batalhou até os seus últimos dias, sendo a figura paterna por quem eu nutria (e ainda nutro) grande respeito e admiração. Sou grato também aos pets que passaram por minha vidaincluindo os gatos da Universidade por ajudarem a reduzir o meu estresse; aos meus familiares pelo suporte; aos amigos de longa data, e que sempre se fizeram presentes, Karine Peixoto, Edna Rodrigues, Kaline, Maydane, Wilmarques e Everton Santos; e aos amigos que conheci durante a graduação e o período de estágio na Procuradoria Geral do Estado

Notas Sobre a Função-Autor e O Efeito Autoria No Auto Da Compadecida De Ariano Suassuna

Miguilim Revista Eletronica Do Netlli, 2013

Our work has as a major objective the analysis of author-function and authorial effect in Ariano Suassuna's "Auto Compadecida" (2005), guided by the concepts-notions of commentary and file. Specifically, we aimed to describe the enunciative regularities present in some leaflets written by Leandro Gomes de Barros, which are incorporated in Suassuna's play; we also meant to analyze how the discourse of leaflets [cordéis] is embodied in the text of Suassuna; we see how interdiscursivity crosses through these texts. As for our corpus, we analyze "History of the horse whom defecated Money" and "The Money" by Leandro Gomes

O circo na poética de Ariano Suassuna

A visão do Circo é fundamental para se entender não só meu Teatro mas toda a poética se encontra por trás dele, do meu romance, da minha poesia e até da minha vida, como um dia talvez venha a revelar melhor (Ariano Suassuna, 2008a: 12) O consagrado romancista e dramaturgo brasileiro Ariano Suassuna (2000: 29) dizia que a alma humana é formada por dois hemisférios, um "hemisfério Rei" e um "hemisfério Palhaço": no "hemisfério Rei" estaria o que existe de mais elevado e nobre no ser humano, mas se exacerbado, poderia resultar em extrema crueldade e autoritarismo; ao contrário, o "hemisfério Palhaço" estaria ligado ao riso e este seria o ponto de equilíbrio com o "hemisfério Rei". Quando pensamos em Ariano Suassuna, o que normalmente nos vem à mente é a lembrança do riso durante sua atuação como apresentador das aulas-espetáculo, ou senão, a imagem cômica dos personagens João Grilo e Chicó na adaptação para o cinema de uma de suas obras mais conhecidas: o Auto da Compadecida. O riso, presente na maior parte da obra literária de Suassuna, nem sempre fez parte da sua vida. Seu pai, João Suassuna, ex-governador da Paraíba, foi assassinado quando o filho tinha apenas três anos de idade. Esse fato marcou profundamente o destino do futuro autor, que teve nos livros, no circo e no palhaço Gregório-imortalizado por ele no seu discurso de posse na Academia Brasileira de Letras (Suassuna, 2008b: 241)-seus grandes momentos de "escape" e de alegria durante a infância. O circo configura-se como elemento essencial da poética suassuniana e revela-se em sua obra de diversas formas, dentre as quais elencamos as três que nos parecem mais marcantes: 1. Na primeira, o circo aparece de forma clara, visível e bem identificada, inclusive com a presença do palhaço, e pode ser evidenciada na peça Auto da Compadecida. 2. Na segunda, o circo revela-se de forma pontual ou diluído na narrativa, sem ser a temática principal, mas deixando a sua marca. Aqui, serve-nos como exemplo o romance d'A Pedra do Reino.

O “AUTO DA COMPADECIDA” E A INVENÇÃO DO TRIBUNAL DO JÚRI EM ARIANO SUASSUNA

RESUMO: Identificou-se as intersecções entre o Tribunal do Júri e a Literatura, no “Auto da Compadecida” de Ariano Suassuna. Enveredou-se num campo de intersecção entre o Direito e a Arte Literária para identificar os personagens, o ritual e a emoção no espetáculo do Tribunal do Júri por ele apresentado. O julgamento é a verdadeira chave para compreensão desta obra e é o ponto de intersecção, nesta pesquisa, com o Direito, pois se pretende relacionar a instituição do Tribunal do Júri a partir das construções de Ariano Suassuna. Concluiu-se que a emotividade dá-se na racionalidade do Tribunal do Júri. ABSTRACT: It identified the intersections between the jury and literature, the "Auto da Compadecida" by Ariano Suassuna. He embarked at the intersection field between law and Literary Arts to identify the characters, ritual and emotion in the jury of the show presented by him. The trial is the real key to understanding this work and is the intersection point of this research, with the law as it is intended to relate the institution of the jury from the buildings from Ariano Suassuna. It was concluded that emotionality gives on the rationality of the jury.

“O Riso Agudo dos Cínicos”: Desassossego e Ironia em Armando Silva Carvalho

A partir de uma reflexão sobre a resposta do poeta Armando Silva Carvalho (n. 1938) à questão “A poesia é uma forma de resistência?” e sobre o seu dictum “O texto não faz nem refaz o mundo”, este trabalho procura reconstituir na sua obra poética, desde o inaugural Lírica Consumível (1965), os princípios elementares que presidem ao exercício da “expressão desassossegada”, da retórica da ironia e da textualidade paródica que têm singularizado o discurso do poeta no panorama da literatura portuguesa contemporânea, exigindo ao leitor a colaboração num complexo jogo de reconstrução da intencionalidade autoral. Esta análise terá em vista um equacionamento sistemático das modulações que a razão cínica, fundada no culto da polifonia irónica, tem apresentado numa certa linhagem da poesia moderna e contemporânea que ambiciona, na síntese de Armando Silva Carvalho, “incomodar os vivos” e assim, nesta justa medida, assumir a resistência enunciativa como forma de existência poética.