Identidade e participação: apontamentos sobre a experiência política das ocupações secundaristas de 2015 (original) (raw)

As ocupações secundaristas de 2015: viver entre iguais no mundo da desigualdade

Agradeço, especialmente, aos estudantes que compartilharam comigo suas histórias e percepções sobre o tempo presente. Este foi o caso de André Ferreira, Aniely Silva, Heudes Castro, João Pedro e Thalita Gomes, os quais possibilitaram que suas narrativas fossem contadas aqui, virassem outras e se misturarem a tantas mais... Mais do que contadores de histórias, eles foram grandes parceiros na difícil tarefa de atribuir significados à experiência das ocupações. Minha gratidão não basta para fazer frente à generosidade sem tamanho e disponibilidade ímpar de vocês. Deixo, aqui, um enfático "obrigada" aos secundaristas que, em encontros voltados ao tema das ocupações, contribuíram direta, ou, indiretamente para a realização deste trabalho.

Ocupações secundaristas no Brasil em 2015 e 2016: sujeitos e trajetórias

Revista Brasileira de Educação

RESUMO O artigo comunica resultados gerais de pesquisa nacional sobre as ocupações secundaristas no Brasil em 2015 e 2016. Teve como objetivo a interpretação dos sentidos da participação de adolescentes nesse movimento estudantil, destacando a caracterização dos sujeitos nas ocupações e as trajetórias educacionais, familiares e políticas pós-ocupação. Como metodologia, a análise qualitativa e quantitativa de 80 entrevistas semiestruturadas concedidas em 2019 e 2020 por jovens que, em 2015 e 2016, eram estudantes do Ensino Médio que ocuparam suas escolas, de 10 diferentes estados. Orientam a análise, as categorias de subjetivação política de Jacques Rancière, de significado de González Rey e de trajetória (inspirada em Lahire e Bourdieu). Os resultados que se destacam: o caráter popular do movimento; o protagonismo feminino e a influência decisiva da experiência da ocupação para a definição de trajetórias educacionais entre outros aspectos.

E quando a experiência vira campo? Reflexões a partir da observação participante nas ocupações secundaristas

Praxis Educativa

Este trabalho é resultado do campo de pesquisa que orientou a dissertação de Mestrado, intitulada Ocupar e resistir: as ocupações das escolas públicas como parte do ciclo atual de mobilização juvenil no Brasil. *** O relato foi organizado com base em excertos do trabalho de campo e tem como objetivo tratar dessa "entrada" da pesquisadora "no campo". Baseia-se na experiência da pesquisadora como participante que apoiava o movimento de ocupações e que, posteriormente, tornou-se tema de estudo. A óptica de análise da presente pesquisa pode ser descrita como a "participação observante", em uma referência direta a Wacquant (2002) e tem como objetivo abordar o tema a partir da metodologia qualitativa, como uma construção significativa em que o corpo constitui parte importante no desenvolvimento do campo de pesquisa. Palavras-chave: Juventude. Movimentos sociais. Trabalho de campo.

Educação política: o protagonismo dos estudantes secundaristas

Cadernos de Pós-graduação

Este artigo tem como objeto o movimento secundarista de ocupações das escolas públicas de Educação Básica ocorrido nos anos de 2015 e 2016. Objetivou-se investigar se as ações protagonizadas por estudantes secundaristas caracterizaram uma educação política no interior desse movimento capaz de impulsionar a ocupação e a luta pela sobrevivência da escola pública. O levantamento bibliográfico dos referenciais teóricos da área e a análise de nove pesquisas de diferentes universidades brasileiras relacionadas aos registros do movimento estudantil secundarista de Goiânia, exibidos no documentário Escola de Luta, comprovaram que a ação política emergiu do interior do próprio movimento, em prol dos interesses do coletivo de jovens, além de promover uma educação de consciência política acerca da importância da instituição escolar e do olhar da sociedade para o próprio movimento.

Direitos geracionais e ação política: os secundaristas ocupam as escolas

Educação e Pesquisa

Resumo A construção democrática apoia-se na participação política de crianças e jovens, não circunscrita às normatizações legais que estabeleceram a posição de sujeitos de direitos para as crianças. Neste trabalho, discutimos como a ação política dos estudantes secundaristas, ao ocuparem as escolas públicas ao longo de 2015 e 2016 no Brasil, politizam as relações intergeracionais em torno do bem educação e fazem emergir lutas para garantir interesses e prerrogativas da geração mais nova. Enquanto a educação sempre foi colocada como um direito das crianças e dos jovens, a análise que desenvolvemos aqui evidencia que esse direito se qualifica como um direito geracional que empurra para lados opostos, por vezes antagônicos, adultos e crianças. Metodologicamente, ao longo dos meses de abril a julho de 2016, acompanharam-se as ocupações secundaristas em diferentes cidades do Estado do Rio de Janeiro em 12 escolas públicas do estado. Esse acompanhamento, de cunho etnográfico, compreendeu ...

Das ocupações secundaristas do estado de São Paulo (2015-2016) ao protagonismo juvenil: neoliberalismo, gestão-guerra e trabalho político

Geografares

Este artigo busca analisar desde a eclosão da primeira onda de ocupações dos secundaristas de São Paulo em 2015 – em especial as estratégias e elaborações que o movimentou criou frente àquelas do Estado em articulação com outros atores sociais - até o seu fim, após a segunda onda do movimento em 2016, quando foi reabsorvido no e pelo discurso do protagonismo juvenil. Esta análise partiu da compreensão do movimento dos secundaristas como trabalho político e do reconhecimento dos saberes produzidos nele, o que permitiu traçar a maneira como as mudanças da função da escola pública em curso remetiam a uma mudança estrutural de gestão-empresarial, em um discurso compartilhado entre ONGs, acadêmicos, o Estado e órgãos internacionais desde o final da década de 1990 nos países latino-americanos. No entanto, a consolidação deste projeto apenas foi possível por meio de uma tática e estratégia de guerra ordinárias que remontam a uma experiência muito anterior de reprodução social (e suas formas de negação), como compreenderam os secundaristas.

Condição adolescente e socialização política nas ocupações secundaristas em Caxias do Sul, RS

Praxis Educativa, 2019

Este artigo tem como temática as ocupações das escolas públicas no ano de 2016 em Caxias do Sul, Rio Grande do Sul. O objetivo é discutir a influência da condição adolescente na socialização política das ocupações. As fontes da pesquisa são analisadas de maneira qualitativa, utilizando como referencial os termos "experiência", discutido por Edward Thompson (1981), e "condição adolescente", apresentado por Martuccelli (2016). Por meio desse arcabouço teórico-metodológico, reflete-se que a condição adolescente é um fator de relevante influência na experiência política do movimento, que gerou empecilhos para o desenvolvimento das ocupações, assim como serviu de base para o processo de aprendizagem política das e dos estudantes. Nesse sentido, conclui-se que as ocupações foram potentes para a transformação subjetiva das e dos "ocupas", modificando a sua experiência de escolarização e seu entendimento acerca da política de educação. Palavras-chave: Ocupações Estudantis. Condição adolescente. Movimento estudantil.

Ocupações secundaristas através do facebook: governamentalidade e heterotopia

Ocupações secundaristas através do facebook: governamentalidade e heterotopia, 2018

O presente artigo tem por objetivo analisar alguns marcadores de subjetividade dos estudantes envolvidos com o movimento secundarista na cidade de Rio Grande/RS, nos seus modos de se relacionar com a produção de uma outra escola, através de postagens publicadas pelo Facebook das ocupações. Para isso, nos utilizamos das noções de subjetivação, governamentalidade, enunciado, saber e poder em Michel Foucault para extrair de três páginas selecionadas algumas linhas de forças atuantes sobre as subjetividades estudantis ocupantes, nas suas relações com a escola. Dividimos os resultados em dois marcadores, nomeados como a Escola que se fez e a Escola que se quis, indicando pistas de uma heterotopia da instituição escolar produzida em meio à utopia de torná-la um outro lugar.

As ocupações secundaristas em Francisco Beltrão-PR – 2016: fazer-se e experiências

2021

In 2016, several students occupied more than 800 schools in the state of Parana. This action was extended to universities and other states. This article reflects on this movement in Francisco Beltrao. From semi-structured interviews, reports published in the local newspaper, and bibliographic review, the formative experiences lived by high school students are analyzed, as well as their contribution to the political making of these young people. Based on the categories, experience, and Thompson's role, it is concluded that the occupations were important in the political work of the participants who, when competing for public education and the school space, placed themselves as subjects of their historical time.

Classificando ocupações prévias à entrada na política: uma discussão metodológica e um teste empírico

Opinião Pública, 2014

This article brings forward a discussion regarding the definition, classification, and measurement of social positions of origin for research on political elite recruitment. To this end we present several theoretical and methodological strategies to establish the variable “occupation prior to a parliamentary career” and argue in favor of a more analytical criterion than a sociographic one when coding the occupations of those who consider entering the political world. The argument that follows considers that political recruitment could be better apprehended by means of a typology that takes into account not only institutional variables but also, as suggested by Max Weber, social and economic variables. For the empirical test concerning the proposed criteria the data is based on candidates for a federal deputy seat in 2006 and 2010 so as to simulate the efficiency of an alternative classification. This classification is based on three parameters: 1) the flexibility of the candidate’s professional career (free time and financial autonomy), 2) the importance of this occupation in a given community (social status) and 3) the candidate’s previous affinities with the values and practices of the political world. The results revealed that social cleavages as well as gender cleavages may be enhanced due to the type of professional activity previously exerted by the political candidates even before institutional filters yield their effects.