Tolkien e a alegoria: uma relação em busca de entendimento (original) (raw)

A alegoria em J.R.R. Tolkien: entre as Ciências da Religião e a Filosofia Perene

Estudos de Religião, 2021

O ensaio On Fairy-Stories de J.R.R. Tolkien (1892-1973) é resultado da conferência de 1939 para a Universidade de St. Andrews e revisado para publicação em 1947. Neste texto, Tolkien dialoga com duas figuras importantes para as Ciências da R)eligião, Max Müller (1823-1900) e Andrew Lang (1844-1912). O primeiro é um dos fundadores da ciência da religião, a partir de suas pesquisas em filologia, enfatizando as relações entre linguagem, mito e religião. O segundo foi antropólogo e folclorista, igualmente discutindo as relações entre mito e religião. Neste diálogo, Tolkien estabelece críticas a ambos, fundamentalmente relativas à concepção de alegoria, e indica uma proposta teórica que resgata elementos da filosofia perene, enfatizando

Paideia Mitopoética - A educação em Tolkien

Paideia Mitopoética - A educação em Tolkien, 2012

Resumo: Esta tese é uma exposição sistemática da teoria da educação presente na produção de J.R.R. Tolkien, que denominamos de Paideia Mitopoética. A partir de uma hermenêutica fenomenológica de seus trabalhos de análise filológica de poemas medievais, de seu ensaio teórico sobre literatura, de seus romances mitopoéticos e de suas cartas pessoais, sistematizamos uma teoria da educação composta de conceitos claros de sujeito, objeto e método. Nessa teoria, existe uma antropologia que dialoga com a tradição filosófica grega, com a patrística e com a escolástica, e que é harmônica com a fenomenologia do século XX; da mesma forma, o objeto fundamental é o sagrado, entendido como categoria das ciências da religião, em chave histórica e noética, que se expressa através das narrativas sagradas, seja nas formas do mito vivo, seja nas formas das reminiscências míticas da poesia épica ou dos romances de fantasia modernos. O método é a fabricação de mitos como forma de meditação da leitura de textos de tradições religiosas, assim como o compartilhamento dialógico com um grupo, que culmina na publicação da obra fabricada. Assim, o sujeito aberto à experiência da totalidade do Ser através da hierofania via narrativa poética ou literária, através de um método que integra tradição, comunhão, criatividade e trabalho, se relaciona com o objeto fundador da consciência e da cultura: o sagrado.

Tolkien e os críticos: recepção e legitimação no campo literário

Ponto-e-Vírgula. Revista de Ciências Sociais

Este artigo tem como objetivo explorar a dinâmica do campo literário. Elegendo o escritor inglês J.R.R.Tolkien como seu objeto e baseando-se no pensamento de Pierre Bourdieu, o texto procura debater a recepção da obra do escritor e a constituição de sua posição no campo literário a partir das relações entre autor, editor e público, mediados pelo mercado e pela crítica intelectual. Para isso, o artigo discute a recepção daquela que é considerada a obra-prima do autor, O Senhor dos Anéis, destacando a repercussão da publicação da obra, que atingiu a marca de um dos livros mais vendidos do mundo em pouco tempo, bem como o percurso da crítica que à publicação se seguiu.

A natureza entre Fäerie e Laudato si: um diálogo entre Tolkien e Francisco.

Anais do XV Simpósio Filosófico Teologico da FAJE, 2019

Em seu ensaio On Fairy Stories (1939) o escritor e professor da universidade de Oxford, J.R.R. Tolkien, afirma que todas as estórias de fadas (Faërie) possuem três faces: 1) o Espelho de Escárnio e Pena; 2) a Mágica; 3) a Mística, referindo-se, respectivamente, a essência e condição do Homem, à contemplação da Natureza (physis e cosmos) e à experiência do Mistério Transcendente e Sobrenatural. Para o medievalista católico, embora estas três dimensões estejam ligadas, a face essencial das fairy stories é a Mágica, na qual a contemplação da existência, através dos dados dos sentidos e da inteligência da realidade, é a finalidade última. Nesse sentido, em sua encíclica Laudato Si, o Papa Francisco também reflete sobre esses três aspectos (Homem, Natureza e Mistério Transcendente), quando, na perspectiva do Homem, faz uma crítica ao antropocentrismo utilitário, ao relativismo e reafirma a lei moral; no enfoque da Natureza critica o paradigma tecnocrático moderno e a redução da criatividade aos interesses econômicos; e por fim, ao refletir sobre a Trindade e os sinais sacramentais na Criação, recupera a perspectiva da contemplação da Natureza como via mística de relação com Deus. Como ponto de encontro, as reflexões de Tolkien e Francisco se relacionam com as virtudes intelectuais presentes na Suma Teológica de São Tomás de Aquino, enquanto buscam a síntese entre Homem, Natureza e Deus e, portanto, se lançam a meditação sobre: 1) a prudência, enquanto virtude intelectual que incide sobre a vida moral, fundamental para relacionar os meios e os fins da realização humana; 2) a arte (técnica e poética), enquanto virtude intelectual responsável pela produção humana e sua transformação na natureza, seja enquanto fim útil ou belo, fulcral para a discussão sobre tecnologia; 3) e a sabedoria, enquanto virtude intelectual última, ligada à capacidade de relacionar os princípios primeiros da ordem universal (lógica) com a extensão da realidade em sua transcendência (metafísica). Por fim, é a recuperação do humanismo integral que retoma a função da imaginação (phantasia) como componente essencial da pessoa em sua relação com a Natureza e com o Mistério Transcendente, expressa no ensaio On Fairy Stories de Tolkien (e também em seus romances O Hobbit e O Senhor dos Anéis) e, igualmente, na encíclica Laudato Si de Papa Francisco, que cita o poeta São João da Cruz.

Estudo dos mitos e da construção narrativa em J. R. R. Tolkien

Téssera

Resumo O presente artigo visa fazer um pequeno levantamento sobre as referências míticas na construção e corpo narrativo das obras fantásticas mais conhecidas do autor inglês J. R. R. Tolkien. O Silmarillion contém contos que abordam fortemente a mitologia subcriada por ele, numa gama de referências de diversas sociedades e épicos de outrora. Conta com a gênese da Terra-Média e o estabelecimento dos povos que a constitui, passando assim a ser a história mítica de Arda. As menções deste livro se fazem presentes enquanto contos históricos passados de geração em geração nas demais narrativas do autor, como O Hobbit e O Senhor dos Anéis. Sob este aspecto mítico de suas narrativas, usamos como base, além de autores que estudam Tolkien, o mitólogo Joseph Campbell. Palavras-chave: Mitos. Fantasia. Literatura.

DE JERUSALÉM A GONDOLIN, DA QUEDA AO SOERGUIMENTO: a Aplicabilidade Tolkieniana como Chave Hermenêutica

Dissertação de Mestrado defendida na PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LITERATURA da UNB, 2023

Este estudo analisa a aplicabilidade alegórica entre as cidades de Jerusalém e Gondolin, destacando as influências religiosas e literárias na obra de J.R.R. Tolkien. Investigamos a relação entre a descrição da Cidade Santa em Apocalipse 21 e da cidade élfica em A Queda de Gondolin. Ambas as cidades representam realidades divinas e compartilham semelhanças, como segredos ocultos e a experiência de invasões e quedas devido à recusa em acolher enviados divinos. O conceito de “eucatástrofe” desempenha um papel crucial em ambas as narrativas, trazendo esperança após momentos sombrios. Além disso, exploramos como as Eras Tolkenianas se relacionam com diferentes períodos históricos e culturas, incluindo a influência da cultura greco-romana e da cultura judaico-cristã em suas obras. Tais influências culturais e religiosas são tecidas nas narrativas de Tolkien, refletindo uma perspectiva de esperança. Em resumo, este trabalho destaca as conexões alegóricas possíveis entre Jerusalém e Gondolin, evidenciando como a subcriação de Tolkien é profundamente inspirada por fontes teóricas, religiosas e artísticas. Esta análise transcende as eras e culturas, revelando uma busca contínua por esperança em meio à adversidade.

Mito e Natureza como percepção de Deus segundo J.R.R. Tolkien

Anais do V Simpósio do Programa de Estudos Pós-Graduados em Teologia da PUC-SP, 2019

As obras do inglês J.R.R. Tolkien mais conhecidas são os romances O Hobbit e O Senhor dos Anéis. Lançados, respectivamente, em 1937 e em 1954-55, as narrativas tratam das aventuras de seres imaginários num mundo de fantasia que alimentam o apetite pelo maravilhoso há gerações. Menos conhecida é sua produção acadêmica, elaborada durante décadas a partir das atividades do escritor como professor de filologia e literatura na Universidade de Oxford. Dentre tais obras, encontramos o ensaio On Fairy-Stories, originalmente elaborado como conferência em 1939 na universidade de St. Andrews, na Escócia, e ampliado e publicado em 1947. Nesse texto Tolkien discorre sobre a definição, origens e funções das fairystories, associando-as aos mitos e inserindo seu estudo dentro do debate filológico do século XIX, assim como a perspectivas filosóficas e teológicas em relação à produção literária. O ensaio é considerado uma das mais importantes contribuições teóricas de Tolkien, ao lado de sua pesquisa sobre o poema Beowulf, e entendido hoje como um marco incontornável para seu campo de estudos (FLIEGER&ANDERSON, 2014, p. 9). É significativo que a elaboração do trabalho tenha acontecido justamente entre a escrita e a publicação de O Hobbit e os volumes de O Senhor dos Anéis, caracterizando uma unidade temática e intelectual entre a teoria literária e a prática de criador de mitos. Como recorte para esta comunicação, escolhemos analisar trechos de parágrafos nos quais Tolkien (2014, p. 40-44) reflete sobre a tripla face de tais narrativas, a mística, a mágica e a especular, com o objetivo de compreender o processo da composição dos mitos. No contexto dessa definição, na seção sobre as origens, existe um debate sobre a validade da pesquisa comparada de motivos, cenas e personagens que se repetiriam nas várias narrativas englobadas na categoria fairy-story. Segundo o ensaísta, essas investigações podem carregar elementos de verdade, mas a busca pela natureza de tais narrativas não pode ser encontrada em estudos comparados que se fundam no método analítico, pois somente a apreciação dos detalhes particulares garante a descoberta da beleza e da verdade numa determinada obra literária. Com essa perspectiva, o foco da busca das origens é alterado, saindo das três hipóteses da filologia comparada: a) invenção (a mais importante e misteriosa); b) herança; e c) difusão para uma inquirição acerca do surgimento das narrativas fantásticas, mitos ou fairy-stories, considerados fenômenos da mesma natureza na mente humana, no processo gnosiológico e produtivo que sustenta a fabricação de enredos.

Fantasia, mal e fascínio: um estudo sobre as obras de J. R. R. Tolkien

2012

Monografia de Bacharelado em História - UFU, defendido em 2012. O presente trabalho tem como objetivo traçar alguns paralelos acerca de três perspectivas nas obras do autor inglês J. R. R. Tolkien: fantasia, mal e fascinação. Ao tratar de fantasia, permeamos aspectos com referência a algumas outras histórias e teorias do próprio autor para escrita de suas obras fantásticas, conjugando biografia e outros trabalhos, para chegar aos conceitos de subcriação e mundo possível. Sobre o mal analisamos personagens que fazem parte do imaginário de Tolkien agindo de forma maléfica. Neste aspecto tratamos um pouco da dicotomia presente em alguns personagens. No pretexto da fascinação, analisamos o motivo pelo qual Tolkien é considerado um dos autores mais importantes do século XX

Paideia Medieval e Mythopoeia: Filosofia e Literatura em Tolkien

Revista Antíteses, 2020

O tema deste artigo concentra-se nas relações entre filosofia e literatura no ensaio On Fairy-stories do escritor inglês J.R.R. Tolkien (1892-1973). Apresentado como conferência em 1939 e publicado em 1947, o texto mostra a concepção do autor sobre o gênero literário conhecido como fairy-stories, as estórias de fadas, e buscamos considerar as possíveis mediações e referências filosóficas e teológicas em sua investigação. Os objetivos do artigo são: 1) evidenciar a teoria literária proposta por Tolkien como parte da tradição filosófica do realismo medieval, com correspondências conceituais em Platão, Aristóteles, Agostinho e Tomás de Aquino; e 2) demostrar uma contribuição original de Tolkien na valorização da imaginação e da fantasia como forma da contemplação, que é a finalidade do esforço educativo, denominada paideia, dessa tradição filosófica. A metodologia utilizada é de revisão bibliográfica comparativa entre os autores, usando tanto o ensaio citado quanto as cartas pessoais de J.R.R. Tolkien, além das obras dos filósofos em questão e seus comentadores contemporâneos. A conclusão afirma a viabilidade dessa relação entre a paideia e a mythopoeia concebida por Tolkien como uma via contemplativa que valoriza o artesanato de mitos como meio de admiração pela realidade na perspectiva metafísica