Violência Colonial e Criminologia: Um confronto a partir do documentário Concerning Violence (original) (raw)
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Apresentação: Dossiê "Cinema e colonialismo"
Revista Rebeca, 2024
Um dos textos desta edição (Andermann, 2024) relembra a morna "Sodade", canção composta nos anos 1950 por Armando Soares: "Quem te mostrou esse longo caminho? Quem te mostrou esse longo caminho? Esse caminho para São Tomé?", indaga os primeiros versos, em crioulo cabo-verdiano, emendados ao refrão: "Saudade, saudade, saudade, da minha terra de São Nicolau". "Sodade" canta a despedida de um kontratadu 1 , estatuto comum aos emigrantes econômicos de Cabo Verde que partiam do cais de São Nicolau em direção à Europa, à América e a outros países da África submetidos a um acordo de trabalho análogo à escravidão. Personagem presente nos filmes de Pedro Costa, o kontratadu é uma das várias persistências da sintomatologia colonial-com reverberações não somente econômicas e territoriais, mas também linguísticas, culturais e subjetivas. 1 A figura do kontratadu surge no início do século XIX no rescaldo das secas e crises de fome em Cabo Verde. Tratava-se do acordo para trabalhar por cerca de dois anos nas plantações de São Tomé e Príncipe. Mais tarde, essa condição estendeu-se para outros continentes, em condições semelhantes às dos escravizados e prisioneiros angolanos e guineenses (Andermann, 2024).
Violência Colonial em Frantz Fanon, James Baldwin e Spike Lee
Interações: Sociedade e as novas modernidades
A temática deste artigo surgiu a partir da repercussão mundial que teve o assassinato do afro-americano George Floyd cometido por policiais brancos em Minneapolis (Estados Unidos), no contexto da pandemia do COVID-19 de 2020. O seu objetivo é analisar a violência colonial embutida nos conflitos étnicos-raciaisglobais à luz da teoria de Fanon (1968), na sua obra “Os Condenados da Terra”, dialogando com dois “artivistas” (ativistas e artistas) afro-americanos: o escritor James Baldwin no documentário “Eu não sou seu negro” (Peck, 2016) e o cineasta Spike Lee, com seu filme “Faça a Coisa Certa” (1988), realizado em memória de outros afro-americanos que acabaram como George Floyd. Também nos servimos do documentário “A 13a Emenda” (DuVernay, 2016), para compreender a cruel realidade de que ainda existam leis nos Estados Unidos que abrem brechas para continuar estigmatizando e condenando o negro. O trabalho está ancorado numa análise bibliográfica, cinematográfica e documental, estabelec...
Colonialism, as a system of denial of human dignity for many people of the world, represents an immense space-time of suffering, oppression and resistance, symbolizing what is nowadays termed the global South. This article, which focuses on an analysis of modern colonialism, is structured around three axes. The first one examines the epistemic project underlying colonization, explaining how abysmal thought is central to modern Eurocentric rationality. In a second moment the analysis is placed upon the legitimating logics of the political and epistemic action of the colonial project in Mozambique. This part is fundamental to understand the ruptures and continuities between the colony and the independent state that is now Mozambique. In the last part, some indications are discussed, as hints towards an epistemic decolonization of the global South. A colonização, enquanto sistema de negação da dignidade humana para muitos povos do mundo, simboliza um imenso espaço ‑tempo de sofrimento, opressão e resistência, aquilo que hoje é designado de Sul global. Este texto, que se centra numa análise do colonialismo moderno, está estruturado em torno de três eixos. No primeiro examina ‑se o projeto epistémico subjacente à colonização, explicando como o pensamento abissal é central à moderna racionalidade eurocêntrica. Num segundo momento analisam ‑se as lógicas legitimadoras da ação política e epistémica do projeto colonial em Moçambique. Esta parte é fundamental para compreender as ruturas e continuidades entre a colónia e o Estado independente que é hoje Moçambique. Na última parte, são apresentadas algumas pistas para uma descolonização epistémica do Sul global.
Violencia urbana e documentario brasileiro contemporaneo
2021
Esta tese analisa a violência urbana em quatro documentários brasileiros lançados no período de 1999 a 2003: Notícias de uma guerra particular (1999), O rap do pequeno príncipe contra as almas sebosas (2000), Ônibus 174 (2002) e O prisioneiro da grade de ferro (2003). Como um painel sobre a contemporaneidade, estes filmes conformam uma certa etnografia audiovisual da violência urbana brasileira, vista como um campo complexo de relações articuladas a esse contexto histórico específico. Tais relações apontam para o rompimento da invisibilidade dos setores sociais que vivem nos espaços de exclusão brasileiros; e sua presença na mídia, especialmente no cinema, forma, então, um conjunto significante acerca do momento histórico vivenciado no Brasil no início do século XXI, e permite identificar diferentes estratégias utilizadas para o filme representar, ou representificar essa realidade histórica. Neste sentido, quatro modos se destacam: (1) as relações com o contexto histórico, que evidenciam a violência urbana brasileira no período; (2) o tipo de negociações entre os "sujeitos" documentaristas e documentados, suas implicações e determinações, o discurso construído e sua articulação na estrutura da narrativa; (3) as passagens entre imagens que permitem níveis diferenciados de recepção do tema e remetem às relações midiáticas inseridas no imaginário contemporâneo; e (4) a superação de modelos e a renovação na linguagem, que manifestam fragmentação, hibridismo e reflexividade, marcas do cinema contemporâneo. Tendo por base a trajetória do filme documentário até a contemporaneidade, suas diversas definições e categorizações; este trabalho situa seus principais marcos e discussões, levando em conta, ainda, a contribuição da antropologia e das pesquisas e críticas sobre a imagem e o filme documentário, além da tematização da violência pelo cinema brasileiro.
Entre a violência legítima e as críticas ilustradas: escravidão e punição, embates de ideias e realidade colonial FLÁVIA MARIA DE CARVALHO * O artigo tem como tema os embates gerados entre as ideias ilustradas, que tiveram maior amplitude e difusão a partir de meados do século XVIII, e a manutenção da escravidão africana nos domínios do Império Ultramarino Português. O movimento de Ilustração defendia princípios que contradiziam a prática escravista e a realidade do cativeiro africano, o que exigiu da Coroa Portu-guesa a definição de uma política reformista que conciliasse a contribuição das ideias ilustradas com a manutenção de seu sistema escravista. O trabalho aborda os impasses e a distância entre o discurso ilustrado e a realidade de sociedades escravistas que aproximavam diferentes pos-sessões portuguesas de seu vasto Império. Between legitimate violence and illustrated reviews: slavery and punishment, clashes of ideas and colonial reality The article has as its theme the conflicts generated among the illustrated ideas that had greater breadth and diffusion from the mid-eighteenth century, and the maintenance of African slavery in the fields of Portuguese Overseas Empire. Motion Graphic defended slavery contradicted the principles practice and the reality of African captivity, which required the Portuguese crown defining a reformist policy that established a link between the contribution of ideas illustrated with maintaining their slave system. The work addresses the predicaments and illustrated the distance between discourse and reality of slave societies that approached different Portuguese possessions of his vast empire.
Etologia, Antropologia e cinema: uma etnografia da violência em Sob o Domínio do Medo
Psicologia USP, 2009
Este artigo aparece como uma tentativa de compreensão do fenômeno da agressão em seus múltiplos aspectos, tarefa para a qual contaremos com os referenciais teóricos advindos da Etologia e da Antropologia Social. Para melhor expressar as idéias aqui expostas utilizaremos o cinema como recurso etnográfico. Neste sentido, destacaremos alguns trechos do filme Sob o Domínio do Medo (1971), os quais serão trabalhados em maiores detalhes.
Quaestio Iuris, 2020
O presente trabalho se constitui como uma revisão bibliográfica que objetiva refletir a necessária articulação dos estudos feministas, raciais e decoloniais para a constante (re)construção de uma epistemologia criminológica que busca a compreensão da realidade social brasileira. O pensamento criminológico dominante, bem como a maioria dos outros campos do saber, se demonstra como uma ciência orientada por noções masculinas, de branquidade e eurocêntricas. Dessa forma, buscamos suscitar: i) a assimilação dos discursos positivistas e racistas na criminologia brasileira; ii) as contribuições e impactos das teorias feministas, raciais e decoloniais nas estruturações metodológicas e epistemológicas nesse campo; e iii) aludir as necessárias imbricações das categorias raça, gênero, classe e localização geopolítica interconectadas com a modernidade e a colonialidade. As reflexões expostas neste trabalho permitiram constatar como tais teorias auxiliam a reexaminar premissas e conceitos, bem como a partir da empiria revisitar as teorias até então produzidas, ampliando as percepções da questão criminal. Palavras-chaves: epistemologias, criminologia crítica, criminologias feministas, racismo, decolonialidade. Considerações Iniciais Investigações científicas advém de inquietações que lhes antecedem. O presente trabalho nasce de uma delas: a verificação do quanto o saber criminológico ainda é tão engendrado em concepções androcêntricas, racistas e colonialistas.
Violência de gênero: reflexões a partir do documentário estamira
Revista Valore, 2017
O presente artigo tem como objetivo fazer uma abordagem do documentário Estamira, de Marcos Prado, com o intuito de refletir sobre o tema relações de gênero e fatores relacionados á violência doméstica e familiar. Assim, foram propostas três reflexões. Na primeira, fez-se uma breve descrição do Lixão de Jardim Gramacho, localizado no município de Duque de Caxias, local de onde Marcos Prado decidiu produzir o filme sobre a vida de Estamira. Na segunda, realizou-se uma abordagem sobre alguns aspectos da vida de Estamira que foram marcados pela violência doméstica e familiar, dentre elas: os abusos sexuais, a violência física, moral e psicológica. Ao final, serão feitas algumas considerações sobre aspectos legais sobre mulheres vítimas de violência conjugal e doméstica.