Tio Joe Stalin vai à Hollywood: o cinema americano pró-soviético (1941-45) (original) (raw)
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O cinema soviético tende a ser visto e analisado pela ótica da teoria do totalitarismo, segundo a qual, seria apenas propaganda ideológica do regime. Um instrumento dos mais importantes para o funcionamento da moderna máquina do Estado totalitário durante o século XX. Um de seus atributos, uma vez que não passaria de um meio de se controlar a consciência da massa, seria o de manipular a História constantemente e em sentidos opostos, segundo os interesses políticos do momento. Entretanto, essa teoria demonstra ser falha. Essa mesma prática pode ser facilmente encontrada no cinema que deveria ser tão autônomo quanto o livre mercado. O cinema americano tentou remodelar a imagem da URSS durante a Segunda Guerra. A sócio-história do cinema, de Marc Ferro, pode demonstrar essa similaridade, concedendo ao cinema soviético uma nova compreensão.
OS AMERICANOS NO CINEMA SOVIÉTICO DO STALINISMO TARDIO: O DIDATISMO PARA A GUERRA FRIA
Revista de História Comparada, 2021
Resumo: No cenário da nascente Guerra Fria e do mundo bipolar travou-se uma guerra cultural na qual o cinema foi uma das arenas principais. A URSS rodou filmes de intenso teor antiamericano nos anos finais de Stalin, após a Segunda Guerra, o stalinismo tardio (1945-53). A teoria sócio-cinematográfica de Marc Ferro permite apreender como o Estado se relacionou com a indústria cinematográfica e com os expectadores soviéticos. Num momento de maior controle e maiores exigências políticas sobre o cinema, o nível técnico e a qualidade artística caíram, simplificados, permitindo mensagens mais claras, objetivas e menor tensão com as agências governamentais. Estas demarcavam a ameaça estadunidense à URSS e invertiam a propaganda americana antissoviética. Palavras-chave: Cinema; Guerra Fria; URSS.
SILVA, Michelly Cristina da. CINEMA, PROPAGANDA E POLÍTICA: Hollywood e o Estado na construção de representações da União Soviética e do Comunismo em Missão em Moscou (1943) e Eu Fui um Comunista para o FBI (1951). 2013. 190 f. Dissertação (Mestrado) - Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2013. A presente dissertação analisa dois filmes norte-americanos produzidos e distribuídos pelo estúdio Warner Bros., ambos baseados em histórias reais, que de distintas formas representaram, seja de forma idealista ou condenatória, a União Soviética, o Comunismo e os membros do Partido Comunista dos Estados Unidos (CPUSA). O primeiro, "Missão em Moscou", dirigido pelo já renomado Michael Curtiz e lançado no contexto da Segunda Guerra Mundial, apresenta evidências de ter sido feito sob a tutela tanto da agência governamental Birô do Cinema- Secretaria de Informação da Guerra quanto do presidente dos Estados Unidos à época, Franklin Delano Roosevelt. Pela forma como interpretou fatos da história da Rússia e por sua campanha do país como membro dos países Aliados, o filme recebeu a denominação de “pró-soviético” pela literatura que o estudou. Já o segundo, "Eu Fui um Comunista para o FBI", lançado apenas oito anos após Missão em Moscou, mas já no contexto da Guerra Fria, evidenciou, por outro lado, a tentativa da companhia cinematográfica em se alinhar à atmosfera de repúdio ao Comunismo reinante em boa parte da opinião pública norte-americana no período, bem como de tentar afastar as acusações do Comitê de Atividade Antiamericanas (HUAC) da presença dentro de Hollywood de elementos “subversivos” e de sua propaganda. Por sua representação, filmes como Eu Fui um Comunista para o FBI, recorrentes na década de 1950, foram denominados “anticomunistas”. O estudo aqui empreendido inicia-se com a caracterização da indústria cinematográfica em Hollywood na época de sua chamada Era Clássica (1930- 1948), primeiro capítulo; passando pelas análises fílmicas e de contexto de ambas as obras, resultando no capítulo dois e três; para encerrar-se, no último capítulo, com as considerações sobre a recepção das duas obras, levando para isso em conta as produções de significado de três “agentes”: os críticos cinematográficos; o seu público espectador, e os seus números de bilheteria. Por fim, nas considerações finais, colocamos em comparação a obra pró-soviética e anticomunista no tocante às suas diferenças, bem como similitudes, nas estratégias para a representação das personagens envolvidas em suas tramas. Palavras-chave: Hollywood, anticomunismo, propaganda, representação, Segunda Guerra Mundial, Guerra Fria. ABSTRACT SILVA, Michelly Cristina da. Cinema, Propaganda and Politics: Hollywood and the State in the making of depictions of the Soviet Union and the Communism in Mission to Moscow (1943) and I Was a Communist for the FBI (1951). 2013. 190 pages. Thesis (Master’s Degree) - Faculty of Philosophy, Languages and Literature, and Human Sciences, University of São Paulo, São Paulo, 2013. This thesis analyses two American movies produced and distributed by Warner Bros. Studios. Both are based on true stories, that used different depictions, one in an idealized way and the other condemnatory, of the Soviet Union, of the Communism and of the members of the Communist Party of the United States. The first film, "Mission to Moscow", directed by Michael Curtiz and released in the context of World War II, presents evidence that it was fostered by the governmental war agency, the Bureau of Motion Pictures – Office of War Information and by the president of the United States himself at that time, Franklin Delano Roosevelt. Due to its interpretation of recent facts in Russian history and because of its propagandistic campaign to generate a better understanding of this country among Americans, historians and film theorists have classified the picture as “pro-Soviet”. The second movie, I Was a Communist for the FBI, whose premiere occurred only eight years after Mission to Moscow, showed, on the other hand, Warner Bros.’ attempt to realign itself to the atmosphere of anticommunism perpetrated by the majority of American public opinion and also to deny any accusation that the motion picture industry was full of “subversive elements” and their propaganda. When considered for its representation and depiction of Communism, movies like I Was a Communist for the FBI, very common in the 1950s, was denominated “anticommunist”. We divided this work into four parts. We start in the first chapter by exploring the motion picture industry in Hollywood during what was called the “Golden Age” (1930 – 1948). Then, we move to the film analyses of both pictures, the content of chapters two and three; in chapter four we study the reception of the two feature films, using as elements of measure the productions of meaning of three different agents: the critics, the spectator and the box-office numbers. Finally, in “Conclusions”, we compare Mission to Moscow and I Was a Communist for the FBI, aiming to observe them in the light of their differences but also of their similarities in the strategies used for the representation of the characters in the stories. Keywords: Hollywood, anti-communism, propaganda, depiction, World War II, Cold War.
Os Estados Unidos e a Inglaterra vistos pelo cinema soviético do stalinismo tardio
Revista Brasileira de História & Ciências Sociais
O sistema soviético sofreu uma série de reformas no pós-guerra que, se não deram origem ao esperado regime mais liberal, amenizou algumas de suas características (como a eliminação física) e acentuou outras (como a eficácia da censura). Externamente, a Primeira Guerra Fria exigia uma luta cultural travada em iguais condições com aquela criada pelos impérios rivais anglo-americanos. O cinema assumiria importantes funções de contrapropaganda interna e externa. Os vilões estrangeiros genéricos dos anos 1930 dão lugar a personagens claramente caracterizados ou anunciados como britânicos e estadunidenses. A sócio-história cinematográfica de Marc Ferro permite demonstrar que, apesar da existência residual da crítica marxista-leninista, impõe-se uma imagem invertida da própria propaganda antissoviética das duas democracias liberais. Assim, para o cinema soviético do período (1945-53), os bêbados, autoritários, improdutivos, caóticos economicamente, presas e agentes da censura são os anglo-...
Cinema e História: o caso do Cinema Bélico soviético do pós-guerra
A primeira parte deste artigo apresenta as contribuições do cinema para a História; que consistem na representação de fatos longínquos, não observáveis por outro meio a não ser o da reconstrução e encenação, e no fornecimento de dados importantes sobre a sociedade em que o filme está inserido. E tece considerações teóricometodológicas que embasam a utilização do filme como fonte histórica. Na segunda parte evidencia-se que, o cinema soviético sobre a Segunda Guerra, produzido no pós-guerra, não se distinguiu tão fundamentalmente do cinema ocidental pelo uso da propaganda ou da busca pela construção da memória coletiva. Portanto, a concepção de totalitarismo não é passível de ser aplicada realisticamente ao quadro cultural do qual o cinema participava, ou à sociedade no qual o mesmo estava inserido.
"Missão em Moscou": Hollywood e cinema de propaganda americano durante a segunda guerra mundial
Cadernos de Pesquisa Interdisciplinar em Ciências Humanas, 2010
RESUMO O estudo de questões ligadas à cultura, à sociedade e à política utilizando como fontes primárias mídias visuais, entre elas o cinema, é uma metodologia há algum tempo difundida e aceita como possível por grande maioria dos historiadores. Neste artigo, tentamos descrever como a partir da escolha e da crítica de um filme produzido por Hollywood durante a Segunda Guerra Mundial pode-se chegar a uma série de detalhes sobre a sociedade que permitiu e fomentou sua veiculação. A produção de um filme como Missão a Moscou (Mission to Moscow, Michael Curtiz, 1943), classificado como pró-soviético em sua essência e reivindicador de uma verdade esclarecedora nos indicam que política e entretenimento podem se unir para projetar no cinema certas idéias e imagens a fim de (re)criar um estereótipo, seja ele de pessoas, países ou regimes. Palavras-chave: Hollywood. Rússia. Segunda Guerra Mundial. Propaganda. ABSTRACT The study of questions related to culture, society and politics, using as primary sources visual media, including cinema, is a method that has been widely used and accepted for some time by the great majority of historians. This article seeks to describe how, starting from the analysis of a film produced by Hollywood during the Second World War, one can discover a series of details about the society that permitted and encouraged its circulation. The production of a film like Mission to Moscow (Michael Curtiz, 1943), classified as essentially pro-Soviet and claiming to clarify the truth, indicates to us that politics and entertainment can join together to project in film certain ideas and images so as to (re)create a stereotype, be it of people, countries or regimes. Key Words: Hollywood. Russia. World War II. Propaganda.
Suvorov (1940), de Pudovkin: o cinema soviético e o conservadorismo no Exército Vermelho
Revista Ágora, 2020
Ao contrário do que aponta a maior parte da historiografia, a reorganização do Exército Vermelho não se deu durante a Batalha de Stalingrado. Tampouco foi obra desenraizada, concebida e imposta rapidamente por um tirano. Ela se inscreve num processo mais lento, iniciado com a década de 1930. O governo soviético lançou uma campanha pelas reformas ainda em 1940, inclusive com o uso do cinema. Apesar da pressão financeira, legal e física sobre os cineastas, jamais conseguiu exercer um controle absoluto. O cinema, como aponta Marc Ferro, abre uma janela para uma visão minuciosa de uma sociedade, que poderia passar despercebida sem o uso dessa fonte. O filme Suvorov (1940), dirigido pelo cineasta soviético Vsevolod Pudovkin, permite realizar uma análise segundo a perspectiva mencionada acima.
O cinema soviético do stalinismo tardio: entre a propaganda e a anfibologia
Revista NUPEM, 2022
O stalinismo tardio, que se estendeu de 1945 a 1953, censurou e coagiu o cinema com uma eficácia desconhecida na URSS, direcionando-o para o confronto cultural com o arquirrival americano na nascente Guerra Fria. Enquanto o regime exigia filmes políticos que exibissem os problemas e crimes cometidos pelo inimigo e fomentassem a união interna, os cineastas procuravam burlar as diretrizes para inserir críticas sutilmente, ou o assunto abordado, centralizado na inversão da propaganda antissoviética em antiamericana, produzia ambiguidade por si mesmo. A cine-história cinematográfica de Marc Ferro, aplicada a 22 filmes do período, permite captar o jogo de interesses opostos por meio da análise de mensagens latentes, conscientes ou não.
Esboços, 2022
Durante o stalinismo tardio (1945-53), o cinema soviético, como o americano, produziu várias películas veiculando mensagens de interesse governamental. A propaganda soviética transparece em filmes como Zagovor obrechonnykh, 1950, apesar do trabalho artístico do diretor Mikhail Kalatozov. Por meio da sócio-história cinematográfica de Marc Ferro pode-se apreciar a construção de um discurso legitimador dos novos regimes socialistas locais, da condução da luta política contra o titoísmo (acusado de se aliar e se subordinar ao imperialismo anglo-americano) e a passagem do Leste Europeu da influência ocidental (ora inglesa, ora alemã) para a soviética (cumprindo o papel do antigo pêndulo russo), e o fim da experiência democrática liberal, trocada pela da democracia popular, com a derrota do novo rival americano e de seu Plano Marshall na região, substituídos pelo COMECOM. During late Stalinism (1945-53), Soviet cinema, like the American one, produced several films conveying messages of governmental interest. Soviet propaganda appears in films such as Zagovor obrechonnykh, 1950, despite the artistic work of director Mikhail Kalatozov. Through Marc Ferro's cinematographic socio-history, one can appreciate the construction of a discourse that legitimizes the new local socialist regimes, the conduct of the political struggle against Titoism (accused of allying and subordinating to Anglo-American imperialism) and the passage from Eastern Europe to Western influence (now English, now German) for the Soviet (fulfilling the role of the old Russian pendulum), and the end of the liberal democratic experience, exchanged for that of popular democracy, with the defeat of the new American rival and his Marshall Plan in the region, replaced by COMECOM.
O golpe de Estado (1964) no Brasil visto por um cinejornal soviético
Fotocinema. Revista científica de cine y fotografía
Este artigo propõe uma reflexão histórica e teórica sobre a relação entre registros visuais e construção da memória de um evento político, analisando o caso específico do Golpe de Estado de 1964 no Brasil que derrubou o presidente de centro-esquerda João Goulart e se tornou um importante evento da Guerra Fria na América Latina. Este evento, que inaugurou 20 anos de ditadura militar no Brasil, foi registrado em imagens que se tornaram matrizes da memória social, nas quais predominam figurações da derrota e da ausência de resistência popular diante das tropas golpistas. A partir de uma sequência de um cinejornal exibido na União Soviética em 1964, entretanto, pudemos tomar contato com imagens raras de um protesto popular contra os golpistas, ocorrido no Rio de Janeiro. Estes registros nos ajudam a problematizar a memória construída e seus suportes visuais, sugerindo a possibilidade de uma outra história visual e política do Golpe de 1964.