Como se faz um marginal? (original) (raw)
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O que há de positivo em ser marginal?
O presente trabalho busca discutir o uso do termo marginal para designar parte da produção literária contemporânea, sobretudo para a produzida por autores vinculados a bairros periféricos dos grandes centros urbanos do Brasil. Parte-se da constatação de que a adoção por parte destes autores do termo marginal passa a adquirir um caráter identitário que busca construir uma espécie de movimento literário que se baseia em critérios sociais para sua delimitação. Importante destacar que tal empreendimento, que é revestido por um posicionamento político, resultou em um importante debate acerca dos limites dos estudos literários frente a este objeto. Neste sentido, ao cobrar para si um exame fundado em estruturas sociais, expressando como principal diferenciação a origem periférica de seus produtores discursivos, o grupos de autores que se agrupam sob o título de marginal não utilizam como primeiro elemento catalisador um pacto estético. Dessa forma, é proposto um exame das múltiplas leituras que o termo marginal recebe no âmbito dos estudos literários, estabelecendo as possíveis aproximações e os distanciamentos entre o uso que os autores de periferia fazem do termo marginal e a teorização que esta noção recebeu no âmbito dos estudos literários.
livro, 2012
Espírito Marginal – estudo de casos O marginal não é apenas o estado de espírito do delinquente. É uma experiência muito frequente no quotidiano. O processo de desenvolvimento de cada pessoa é a sua afirmação social a partir da marginalidade (infanto-juvenil, de género, étnica, pessoa com necessidades especiais), para que se prepara desde que nasce até se estabilizar como adulto. Parte dos adultos também não deixam de ser marginais e todos compreendem bem, pudera, o que é ser marginal, odiando ou amando isso. O livro está organizado numa sequência de cinco estudos de caso. Os primeiros casos são simbólica e culturalmente mais distantes da nossa sociedade do que os últimos. Espera-se que a leitura possa ir adaptando o leitor às maiores profundidades a que o texto nos conduz. O texto foi pensado como uma introspecção. Muitos leitores poderão preferir recusar reconhecer a presença do espírito marginal nas suas vidas. A esses deve ser recordada a tese aqui inscrita: os estados-de-espirito fundamentais, como o proibicionista, o de submissão e o marginal, não são características dos carcereiros e torcionários, pobres e prisioneiros, revolucionários e delinquentes. Todos os seres humanos já os experimentaram ocasionalmente, procurando recalcá-los ou fixá-los para melhor e mais controlado uso, consoante a ocasião. Os bandidos do século XIX, os Estados torcionários, a violência urbana, a violência doméstica e o abandono de crianças à sua sorte, são os temas dos casos estudados. Em todos há algo reconhecível como espírito marginal. Independentemente de nos referirmos a sociedades caracterizadas pela emergência dos estados modernos ou a estados modernos plenamente desenvolvidos, a pessoas em funções institucionais das mais elevadas ou gente na sua azáfama quotidiana, a trânsitos sociais em público ou em privado, são muitas as circunstâncias em que o espírito marginal é mobilizável. Para o mal e para o bem, para antagonizar outros seres humanos mas também para empatizar com eles. Há, portanto, evidência suficiente para colocar a hipótese de o espírito marginal ser, efectivamente, uma experiência humana muito generalizada e suficientemente influente para não poder ser ignorada.
O marginal na formação do leitor
2020
Este artigo se propõe a debater a importância da Literatura Marginal, surgida a partir dos anos 2000, para a formação leitora, visando estabelecer a relação entre a produção desses autores e a emergência de um movimento que busca a sua legitimação fora da série literária canônica. Logo, pensando na relação existente entre as literaturas de minorias e as práticas e orientações que norteiam a formação do leitor é que este trabalho busca problematizar como a formação leitora pode, por meio de obras da Literatura Marginal, promover uma efetiva inserção dos chamados grupos sociais minoritários ou marginalizados nas práticas de letramento e que contribuem para o desenvolvimento linguístico do leitor em formação. Ainda, tem-se por objetivo deste artigo avaliar como a Literatura Marginal pode contribuir para uma diversificação e inclusão de conteúdos e temáticas culturais periféricas nas práticas de formação do leitor. Cabe ressaltar que não somente a adoção de textos de autores vinculados ...
Edição impressa, em livro de bolso https://www.amazon.com/dp/8592021308
Heróicos Marginais: Pensando o Banditismo e a Dominação Senhorial a partir do estudo comparativo entre a Idade Média e a Contemporaneidade, 2022
Este trabalho apresenta um estudo comparativo entre a canção The Gest of Robyn Hode (c. 1450) e cordéis da primeira metade do século XX. Comparando estes sistemas sociais através dos conceitos de Banditismo Social e Dominação Senhorial delineamos mecanismos de pensamentos e suas conexões. Demarcamos as narrativas que permeiam os embates entre modernidade e tradição e encontramos relações em cadeias, escolhas e contradições. Questionamos, portanto, como sociedades distintas utilizam mitos fundadores para fortalecer tradições e quais valores são defendidos em momentos de transformação social.
Resumo: A hipótese deste artigo parece uma contradição. Baseado numa interpretação de exemplos empíricos de processos heurísticos em nível individual e coletivo, argumento que a margem é um centro de produção material e simbólica. A premissa do texto é que a margem não representa simplesmente os restos de arte, literatura, interação social, urbanização, desenvolvimento ou outras formas de produção humana. Ao contrário, a margem facilita a constituição de objetos cotidianos e noções de senso comum da vida humana.
Criando Situações de Invenção Marginal
O artigo pretende analisar trabalhos e escritos de Hélio Oiticica como um novo paradigma da relação entre artista, público, e processo criativo, tendo como pressuposto suas pesquisas que partem da cor e chegam ao corpo do espectador como modalidades de seu Programa Ambiental.
Como se faz um conservador-restaurador
patrimonio.pt, 2022
Já há alguns anos, pelo menos entre quem se preocupa com a profissão, é ponto assente que na origem de um conservador-restaurador está uma formação superior especificamente em Conservação e Restauro com duração não inferior a anos. É o que claramente está afirmado nos documentos de referência das organizações internacionais relacionadas com a formação em Conservação e Restauro e a respectiva profissão, respectivamente a Rede Europeia para o Ensino da Conservação e Restauro (ENCoRE) e a Confederação Europeia das Organizações de Conservadores-Restauradores (E.C.C.O.). ...
Utilidade marginal formou a terra firme sobre a qual os economistas erigiram uma nova teoria da ação social. Dentro do espaço de duas gerações, entre 1871 e 1912, todas as vigas sólidas da teoria econômicaescolha do consumidor, precificação de fator (preço fator), decisões de produção, a determinação da taxa de juros e o valor do dinheiroforam reformuladas e ressignificadas à luz da avaliação na margem. Enquanto a modificação tem continuado até o presente, os princípios gerais da economia permanecem como estavam de pé em 1912, o ano em que a Teoria do Dinheiro e do Crédito de Ludwig von Mises aplicou a utilidade marginal para o valor do dinheiro. Exceto pela "mão invisível" de Adam Smithou seu equivalente moderno, o equilíbrioutilidade marginal é talvez a mais revolucionária ideia na história da economia. Como outras ideias seminaistal como o Cálculo na Matemática e a Evolução na Biologiaa utilidade marginal foi descoberta, independente e simultaneamente, por mais de uma pessoa.William Stanley Jevons na Inglaterra, Leon Walras na França e Carl Menger na Áustria, cada um deles desenvolveu a ideia, e utilizaramna eficazmente, em tratados pioneiros. Afirmações de utilidade marginal tinham aparecido ainda mais cedo. William Lloyd (1833) na Grã-Bretanha e Herman Gosse (1854) na Alemanha definiram utilidade marginal e explicaram sua conexão ao preço. Ambos foram ignorados. Então, inicialmente, foi Jevons. Em 1862, ele apresentou um artigo sobre utilidade marginal para a British Association for the Advancement of Science, que o recebeu, nas palavras de Jevons, "sem uma palavra de interesse ou crença". Não até que os tratados da década de 1870 fizessem a utilidade marginal exercer uma influência perceptível, e então virar a economia de ponta-cabeça.
Uma nação periférica: instinto de marginalidade
Cultura. Revista de História e Teoria das Ideias, 2018
O presente ensaio parte dos questionamentos construídos por Machado de Assis no artigo “Notícia da atual literatura brasileira: instinto de nacionalidade”, para analisar o lugar que o discurso marginal ocupa na produção literária contemporânea. Nesta perspectiva, utilizando como referência o conceito construído por Machado de Assis, investigo a possibilidade de observarmos a presença de um “Instinto de Marginalidade” na atual literatura brasileira, que não mais se baseia no intuito de formação de uma “literatura nacional”, isto é, unificadora e essencialista, mas como vozes da dissonância e da alteridade. Assim, se o “Instinto de nacio-nalidade”, detectado por Machado em sua época, serviria a uma busca de independência, não estaríamos igualmente presenciando um ensejo de diferenciação das minorias? E, dessa forma, ainda seguindo os passos do crítico, não correríamos o risco da busca de uma “cor local” que salvaguardaria as fronteiras entre margem e centro?