IV ENTRE REDES, TRAMAS E TEIAS: O PARENTESCO ESPIRITUAL DOS LIVRES DE COR NA VILA DE SÃO JOÃO DEL REI, 1790-1799 (original) (raw)

DANDO A LUZ À LIBERDADE: A TRAJETÓRIA DE UMA MÃE ESCRAVA E SUA PROLE (VILA DE SÃO BORJA, RIO GRANDE DE SÃO PEDRO, SÉCULO XIX

Revista Tempos Históricos, 2016

Neste texto examina-se o processo de busca pela liberdade por meio da trajetória de uma escrava que obteve a alforria para si e seus filhos. A análise desenvolvida defende que tal cativa conduziu um projeto coletivo em que evidencia-se a utilização consciente e estratégica das normas e costumes sociais. Neste contexto, esta mulher buscou: manter a integridade de seu grupo familiar; viabilizar a mobilidade social dos componentes de sua família em perspectiva geracional; utilizar vínculos com a casa senhorial e com outros sujeitos que viviam na órbita desta com o objetivo de conservar o grupo familiar num ambiente estável, onde suas expectativas pudessem ser organizadas dentro de um horizonte de previsibilidade. Palavras-chave: mulheres escravas; mães escravas; alforrias; mobilidade social; Brasil meridional. Abstract: In this text, it is discussed the process of searching for freedom by means of the analysis of the trajectory of a slave woman who obtained manumission for herself and her children. Such analysis claims that this woman led a collective project in which it is observed the conscious and strategic use of the standards and social customs. In this context, this woman aimed at preserving the integrity of her family group; making possible the social mobility of her family members in a generational perspective; and using the bonds with the manor house and the subjects who lived there in order to maintain her family group in a stable environment, so that her expectations could be organized in a horizon of predictability.

SOB A ÓTICA DA RESIDÊNCIA PEDAGÓGICA: UMA ANÁLISE DA CULTURA DE SÃO JOÃO DEL-REI POR MEIO DAS PRÁTICAS DE LEITURA E ESCRITA EM SALA DE AULA ATRAVÉS DO LIVRO LENDAS SÃO-JOANENSES

Este trabalho tem como objetivo explanar a proposta de aula que foi desenvolvida, visando à participação na Olimpíada Nacional de Língua Portuguesa, regida por um caderno de atividades disponibilizado pela banca organizadora, durante o primeiro semestre de 2019, no programa de Residência Pedagógica, na Escola Estadual Tomé Portes del-Rei, por meio de estudos das lendas regionais que entendemos ser narrativas transmitidas oralmente, que discorrem sobre acontecimentos misteriosos ou sobrenaturais, misturando fatos reais com imaginários tendo como intuito incentivar a leitura e produção textual. Nosso estudo pauta-se em obras que destacam perspectivas sobre gêneros na escola, observando especialmente aspectos voltados para o trabalho com lendas (BRANDÃO e JESUS, 2003; DOLZ, NOVERRAZ e SCHENEWLY, 2004. A partir dos aspectos teórico-metodológicos, traçamos uma sequência didática composta por duas aulas expositivas, duas aulas de leitura, uma aula de análise de entrevistas e três aulas de produção textual que foram constituídas pelo gênero "memórias literárias". Tais atividades foram compostas por narrativas que têm como ponto de partida experiências vividas em épocas passadas, mas que são contadas da forma como são vistas no presente, bem como demonstram como o gênero memórias literárias está ligado à produção oral dos indivíduos que vivem há muito tempo em determinada região; nesse caso, em São João del-Rei. Após a aplicação da sequência, compreendemos a importância do trabalho com as lendas são-joanenses, observando que elas são constitutivas do imaginário dos moradores da cidade, ajudando a fazer parte de suas memórias. Sendo assim, acreditamos poder reunir, em essência, neste trabalho, o desenvolvimento da produção textual dos alunos que, durante a aplicação das aulas, exerceu a condução histórica, criativa, identitária e corroborou, para além da sala de aula, com a constituição dos discentes como sujeitos empíricos, autores de suas histórias e memórias.

ENTRE O CHICOTE E A FOGUEIRA: ESCRAVOS E SENHORES NOS DOCUMENTOS DO SANTO OFÍCIO PORTUGUÊS ENTRE OS SÉCULOS XVII-XVIII

LIMA, Monique M. N. , 2018

Senhores e escravos: a relação ambígua entre ambos, com contatos de diferentes tipos, é o tema principal do trabalho que se propõe. A responsabilidade senhorial, avocada por letrados do Brasil, principalmente na passagem do século XVII para o XVIII, ultrapassa o simples provimento do sustento dos cativos, mas se insere também no comprometimento com a instrução da doutrina cristã e dos bons costumes. Não faltava nessa discussão a necessidade do castigo, prática importante para a função disciplinadora. Como exposto na epígrafe pertencente às linhas do padre Manuel Ribeiro Rocha (?-1778), sob a incumbência do senhor, repousava o corpo e a alma do cativo; o erro do escravo poderia pesar no compromisso do seu dono. Essa última questão, já, antes, discutida por juristas e teólogos, desde o século XVI, acompanhava igualmente outras indagações: a rudeza dos escravos, sua condição de rústico, e a legitimidade da posse e do comércio. Todos esses debates entrecruzados da época moderna, que podem ser enquadrados na discussão sobre a relação senhor-escravo, desdobram-se, aqui, na análise de um olhar específico: o contato entre proprietários e cativos a partir dos registros do Santo Ofício da Inquisição, principal Tribunal da Igreja.

Em torno de um registro de irmãos: o livro do Rosário das Portas do Carmo (1719-1826)

Salvador da Bahia. Retratos de uma cidade atlântica, 2016

Em torno de um registro: o livro de irmãos do Rosário das Portas do Carmo (1719-1826) 1 Haverá na Mesa um livro em que se assentarão os nomes dos Irmãos e o dia, e ano em que forem recebidos, no qual se fará um assento nesta forma: fulano se assentou por Irmão em tantos anos de tal mês e prometeu guardar os estatutos, e ordem da Irmandade. Compromisso da Irmandade do Rosário da Praia da Cidade da Bahia, 1773.

Jacobeia e redes clientelares. Fr. Luís de Santa Teresa e Fr. João da Cruz (OCD): (Auto)Retrato de dois irmãos em Braga (1730-1735)

Auto) retrato de dois irmãos em Braga (1730-1735)* Com esta comunicação evidenciaremos o perfil jacobeu de Fr. Luís de Santa Teresa (O.C.D.), tendo por base a Vida que escreveu de uma sua dirigida espiritual, aquando da sua estadia em Braga, entre 1730-1735. A análise biográfica estabelecerá o seu círculo de relações clientelares, com elos em Fr. João da Cruz (O.C.D.), em Fr. Gaspar da Encarnação, em D. Lourenço de Mendonça e Moura e D. Rodrigo de Moura Teles. Aflorar-se-ão pontos desse período passado em Braga e da vivência monacal no Convento de monjas beneditinas de S. Salvador, pesando a matriz jacobeica do biógrafo num contexto de Sé Vaga e de resistência aos caminhos afetivos da união com Deus, por assimilação molinosista. Palavras-chave: D. Fr. Luís de Santa Teresa; D. Fr. João da Cruz; Jacobeia; Redes clientelares

RENDERS, Helmut. “A obra Cor Iesv amanti sacrvm de Antônio Wierix: a religio cordis jesuíta no início da reforma católica e a promoção da via mística tripla”. In: Imago: Revista para Emblematica y Cultura Visual, Valência, Espanha, vol. 7, p. 135-164 (jan.-dez. 2015).

This article introduces the emblem book Cor Iesv amanti sacrvm by Antonius Wierix, written around 1586/87 with 18 engravings accompanied by brief Latin poems of two stanzas with three lines each. After a general introduction to the work, this study presents an iconographic analysis of the picturae, interpreted together with their corresponding subscriptio-nes. This text and image composition is then regarded as religious language, typical of Jesuit emblem books. By comparing different editions of this book, the order of the 18 emblems-suggested (but not explained) by Menon-is confirmed, and a new sequence is proposed, highlighting the main objective of this work, viz. the promotion of the triple mystic way.

ALIANÇAS, CONFLITOS E MOBILIDADE SOCIAL NA CONSTRUÇÃO DA NORMA ESTATUÁRIA E VIVIDA PELOS IRMÃOS DO ROSÁRIO DE SÃO JOÃO DEL-REI (1787-1841

Este artigo disserta sobre a formação de alianças e conflitos presentes no processo de organização e aplicação do regimento normativo da Irmandade do Rosário de São João del-Rei, entre os anos de 1787 a 1841. Procuramos, ao longo da exposição, analisar os ideais de comportamentos e suas leituras diversas ocasionadas pela vivência dos confrades no cotidiano da confraria, através do estudo das narrativas normativas e de suas interpretações na prática devocional. Além disso, procuramos demonstrar como estas alianças hierárquicas, forjadas pela estrutura do poder administrativo do grêmio, definiram tanto a construção de leis prescritas e praticadas no âmbito da experiência cotidiana dos irmãos. Para cumprirmos este objetivo, utilizamos a análise conjunta entre os estatutos e as atas de reunião da irmandade, método de investigação que nos possibilitou alcançar o delineamento dos espaços de conflito e de negociação engendrados durante os processos de construção da norma.

Roceiros do Imperador: direitos, alianças e redes sociais entre famílias escravas na crise do escravismo (Fazenda de Santa Cruz, 1858-1871). In: Amantino, Márcia e Engemann, Carlos (orgs). Santa Cruz: de legado dos jesuítas à pérola da Coroa. Rio de Janeiro: EdUERJ / FAPERJ, 2013. (pp. 241-272)

Neste texto, trataremos das transformações de alguns direitos de propriedade dos escravos da Fazenda de Santa Cruz já no contexto de colapso do paternalismo e do fim do escravismo. Sabemos que os termos da transição para liberdade foram intensamente disputados por senhores e cativos, conforme já bem demonstrou Hebe Mattos. Portanto, resta-nos saber se esta comunidade escrava foi capaz de fazer frente a negociações cruciais para a consolidação ou ampliação de seus direitos. Ao usarmos o termo ‘direitos’ estamos tomando nossa posição no que diz respeito às origens e aos usos de recursos, que por outros podem ser lidos como ‘privilégios’ ou ‘concessões’ senhoriais. Encarando-os como direitos, ressaltaremos o caráter coletivo e regulado destas concessões, possivelmente fruto de negociações com os senhores, sancionadas não apenas no campo dos costumes, mas também nos regulamentos da Fazenda desde o tempo dos jesuítas. Por outro lado, são direitos porque melhoravam as condições de vida das famílias escravas e por isso eram almejados com grande expectativa pelos próprios cativos. Trataremos especificamente de alguns direitos de propriedade, aqueles que nos remetem ao campo da subsistência e da autonomia na gestão do tempo, do trabalho familiar e de seus frutos. Falamos, por exemplo, do direito a ter um fogo e uma casa; do direito de criar animais; do acesso a recursos naturais naquele tempo indispensáveis para a manutenção de uma família: a terra para produção de alimentos, a caça, a lenha e a água. Entendemos estes como direitos de propriedade, na medida em que regulam o acesso a meios de produção, a apropriação dos seus frutos e a possibilidade de legá-los ou transferi-los. É mister reconhecer as influências de E. P. Thompson e Rosa Congost nesta abordagem, já que encaramos como direitos não apenas o que sanciona a lei, mas aquilo que emana da tradição, do costume e do processo social, e também o que é reivindicado por grupos sociais como direito, mesmo que fora da lei ou em suas brechas. Encarados dessa forma, a análise da transformação destes direitos nos obriga a integrar neste texto aspectos que quase sempre são estudados separadamente: grupos sociais, condições de vida, trabalho, produção, o papel da lei e do Estado, hábitos, costumes e tradições.