Sergio Schargel | UFSJ - Federal University of São João Del-Rei (original) (raw)
Papers by Sergio Schargel
Almanaque de Ciência Política, Jan 28, 2021
Wirapuru, 2024
: Muito se tem discutido e comparado o Bolsonarismo a movimentos fascistas do passado, como o Fas... more : Muito se tem discutido e comparado o Bolsonarismo a movimentos fascistas do
passado, como o Fascismo ou mesmo o Nazismo. Entretanto, pouco se tem discutido sobre o
Integralismo, movimento análogo ao Fascismo que foi parcialmente absorvido em suas
versões contemporâneas pelo Bolsonarismo. O objetivo deste artigo é, por meio de um
exercício de análise de conteúdo sobre o material fundador do Integralismo, o Manifesto de
outubro, em diálogo com uma base teórica sobre Integralismo da qual se destaca O fascismo
em camisas verdes, perceber as construções retóricas, discursivas e argumentativas de Plínio
Salgado e suas proximidades e diferenças com o Fascismo e com o Bolsonarismo. Com a
justificativa de ampliar o estado da arte dos estudos sobre movimentos de matriz fascista,
este trabalho se propõe a responder a seguinte pergunta: quais os pontos de consenso e
dissenso discursivos, a partir do Manifesto de outubro, com outros movimentos similares?
Cadernos Pagu, 2024
Em 26 de dezembro de 1929, Sylvia Serafim assassinou Roberto Rodrigues. Desde então, passou a ser... more Em 26 de dezembro de 1929, Sylvia Serafim assassinou Roberto Rodrigues. Desde então, passou a ser tratada como assassina, tendo sua produção literária, jornalística e política abandonada. A proposta deste artigo é formular um esboço inédito de crítica sobre seu trabalho intelectual, mesclando com alguns elementos de relato pessoal. Para isso, por meio de uma pesquisa em arquivo, foram selecionados materiais que discutem pautas de gênero. Ao final, comprova-se a importância de resgate não somente de Serafim, mas também de outras autoras apagadas pelo cânone.
Religião e Sociedade, 2023
A relação entre distopia e ideologia é intrínseca: a primeira se alimenta da segunda, produzindo ... more A relação entre distopia e ideologia é intrínseca: a primeira se alimenta da segunda, produzindo realidades ficcionais em que ideologias opostas criam um futuro devastado. Nesse cenário, o medo da tecnologia se aliar a movimentos fascistas ou totalitários é uma constante na série britânica Black mirror, como no episódio Men against fire. Se qualquer movimento fascista depende da criação de monstros, inimigos objetivos para condicionar o ódio e o terror, Men against fire leva essa proposta a um campo mais literal, e o seu movimento fascista/totalitário altera as próprias percepções da realidade para que seja possível exterminar o monstro. Dentro de um arcabouço teórico que mescla textos sobre ideologia, distopia, fascismo e narrativas de monstros, a proposta deste trabalho é discutir o processo de desumanização do inimigo objetivo no fascismo/totalitarismo no episódio. A intenção é que, no cotejo do debate sobre monstros, desumanização e fascismo, seja possível perceber a relação que o fascismo possui com a narrativa de monstros, ao passo em que, paradoxalmente, ele próprio acaba por criar os seus próprios monstros banais.
Revista Eletrônica Interfaces, 2022
Revista de Estudos Acadêmicos de Letras, Jan 16, 2023
Dia-logos, 2024
Se há um consenso entre cientistas sociais, é que a democracia enfrenta um processo de crise a ní... more Se há um consenso entre cientistas sociais, é que a democracia enfrenta um processo de crise a nível global. As causas, motivos e efeitos variam de nação para nação, de acordo com as idiossincrasias, mas não se discorda sobre uma decadência generalizada. Neste cenário, cresce discussão sobre qual termo e conceito utilizar para explicar esta recessão democrática. A proposta deste artigo é pensar alguns conceitos, entre clássicos e novos, da ciência política como tentativa de compreender este fenômeno, com particular atenção para o Bolsonarismo e suas peculiaridades, como a aproximação com o neoliberalismo/libertarianismo. Ciente da impossibilidade de contemplar por completo um movimento que se desenrola a nível internacional, a intenção é trabalhar com alguns elementos que se repetem, privilegiando o conceito de fascismo ante a interpretação de Robert Paxton como possível método de compreensão. Por fim, seguindo Paxton, conclui-se que o fascismo é um processo inerente às democracias contemporâneas, emergindo em suas falhas e incompletudes.
Revista Laboratório, 2024
Após o fracasso do Levante Integralista de 1938, Plínio Salgado partiu para um autoexílio em Port... more Após o fracasso do Levante Integralista de 1938, Plínio Salgado partiu para um autoexílio em Portugal. Contudo, Salgado não ficaria permanentemente no exílio, retornando ao final de 1945, quando o Estado Novo colapsava. Mas, do retorno, seu movimento já não era o mesmo. Não apenas o Integralismo havia se esfarelado, como também no pós-guerra e depois do Holocausto um movimento de matriz abertamente fascista não seria bem visto. Como consequência, Salgado fundou um partido com a mesma sigla do antigo Partido Republicano Paulista (PRP), pelo qual havia sido eleito deputado estadual duas décadas antes. O novo partido, porém, chamava-se Partido da Representação Popular. Lançou-se candidato à presidência nas eleições de 1955 e, ainda que tenha ficado em quarto lugar, angariou 8% dos votos, a pouco mais de dois milhões de votos do presidente eleito, Juscelino Kubitschek. Seu jingle de campanha sintetizava a sua visão do Integralismo nesta nova fase: “O homem vem aí / Está na hora de mudar / Vem o Plínio Salgado / Pro Brasil endireitar” (GONÇALVES; NETO, 2020, p. 89).
Faces de Clio, 2024
Completando o primeiro mandato, há ampla disponibilidade de materiais discursivos sobre o Bolsona... more Completando o primeiro mandato, há ampla disponibilidade de materiais discursivos sobre o Bolsonarismo. Entre as diversas opções disponíveis, privilegiou-se, neste trabalho, dois deles: o discurso de abertura da Assembleia Geral da ONU, de 2019, e o discurso de 07 de setembro de 2021, por suas respectivas importâncias. Por meio de análise de conteúdo, a intenção deste trabalho é apreender as principais características que aparecem nesses materiais, tentando compreender, na prática, como o Bolsonarismo enxerga a si próprio, contribuindo para o estado da arte do número crescente de estudos sobre o movimento. Na prática, percebe-se reconstruções discursivas e uma espécie de antropofagia de movimentos anteriores, como o Fascismo e o Integralismo, ainda que com suas idiossincrasias.
Confluências, 2023
Patricio Pron is part of a recent tradition in contemporary Latin American literature... more Patricio Pron is part of a recent tradition in contemporary Latin American literature: a literature focused on the memory of dictatorships. In other words, not just memory, but post-memory. It explores the relationship that the second and third generations have with the trauma of dictatorial violence. The pain is there, but not lived directly, like a looming shadow, a ghost, a memory passed from generation to generation.
Boletim Historiar, 2024
o Projeto Fênix, proposto por Jair Bolsonaro em 2018, representa um programa de govern... more o Projeto Fênix, proposto por Jair Bolsonaro em 2018, representa um programa de governo com características reveladoras e de aparente simplicidade. Seu título por si só sugere um viés reacionário, pois busca renascer e refundar o Brasil, resgatando-o deinfluências consideradas degeneradas. Este artigo busca analisar o conteúdo desse projeto por meio de uma análise aprofundada, com o intuito de responder à seguinte questão: quais elementos estavam presentes no Projeto Fênixe em que medida essas características contribuíram para a constituição do Bolsonarismo?Por meio dessa análise detalhada, espera-se lançar luz sobre pontos-chave do Bolsonarismo, compreendendo-o como um movimento que transcende a figura do Messias, à qual é associado. Além disso,pretende-se identificar como essas ideias e propostas influenciaram e moldaram o pensamento político e a base de apoio do governo Bolsonaro.
O Eixo e a Roda, 2024
A prosa de Álvares de Azevedo é marcada por elementos fragmentários, como bem aponta Antonio Cand... more A prosa de Álvares de Azevedo é marcada por elementos fragmentários, como bem aponta Antonio Candido. Todavia, há elementos que se repetem a despeito de sua irregularidade qualitativa. A proposta deste artigo é aprofundar-se sobre um desses elementos: o erotismo. Tomando como marco teórico discussões propostas pelo próprio Candido e por Eliane Robert Moraes, a intenção é tomar o erotismo como elemento aglutinador, como ponto de consenso entre duas obras azevedianas: Macário e Noite na taverna. Assim, por meio desta dialética entre teoria e objetos, será possível adicionar uma nova camada aos estudos azevedianos ao pensar na forma com que sua prosa reconstrói a noção de erótico no século XIX, antecipando o explícito do estilo modernista.
Mapping the Impossible, 2024
There are few artistic genres more intertwined with politics than dystopia. In its very essence, ... more There are few artistic genres more intertwined with politics than dystopia. In its very essence, dystopian fantasy is a method of criticising ideology, at the same time that it serves as a tool for the dissemination of the issuer's own ideology. Black Mirror's "Men Against Fire" episode provides a rich case study for considering ideology in one of its most violent formats: the creation of monsters. In the episode, deceived by a helmet that changes reality, soldiers fight and exterminate cockroaches-individuals with a genetic predisposition to diseases-while the civilian population, immersed in that bellicist ideology, dehumanises individuals even without a literal alteration of the real. This article analyses the creation of monsters, putting into dialogue theories on ideology, dystopian fantasy, and dehumanisation to construct a framework of how this dehumanisation process and its relationship with ideology works.
Literatura e Autoritarismo, 2024
Vera Lúcia Follain de Figueiredo, professora associada da Pontifícia Universidade Católica do Rio... more Vera Lúcia Follain de Figueiredo, professora associada da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, leciona nos departamentos de Comunicação Social e Letras. Seu primeiro livro publicado, Da profecia ao labirinto: imagens da história na ficção latino-americana contemporânea, já se preocupava em desvelar temas sensíveis e caros à história sociopolítica brasileira e latino-americana. O tema da violência urbana é dissecado em Os crimes do texto: Rubem Fonseca e a ficção contemporânea, que, a partir da obra de Rubem Fonseca, trata também da questão dos gêneros literários, do corpo e das narrativas autobiográficas
REVELL - REVISTA DE ESTUDOS LITERÁRIOS DA UEMS, Aug 23, 2022
Faces de Clio, Apr 5, 2023
Fascism as a generic concept: the five stages of Robert Paxton El fascismo como concepto genérico... more Fascism as a generic concept: the five stages of Robert Paxton El fascismo como concepto genérico: las cinco etapas de Robert Paxton Sergio Schargel 1 Resumo: Este artigo propõe uma discussão sobre o fascismo como conceito genérico, o entendendo como a manifestação simultânea de quatro outros conceitos, a saber, reacionarismo, populismo, autoritarismo e nacionalismo. Privilegia-se a análise do politólogo Robert Paxton, trabalhando uma noção do fascismo como processo inerente à política de massas contemporânea, uma versão degenerada da democracia de massas, e que responderia por cinco estágios que vão desde seu surgimento até sua radicalização ou entropia. A partir dessa análise, será possível elucidar algumas de suas principais características e utilizar a chave de Paxton para apreender fascismos contemporâneos. Aprofundando a hipótese de que o fascismo não morreu em 1945, é pertinente por permitir ampliar o estado da arte ao analisar algumas de suas principais idiossincrasias e sua ameaça à democracia agonística.
Anuário Antropológico, Dec 4, 2023
This is an open-access article distributed under the terms of the Creative Commons Attribution Li... more This is an open-access article distributed under the terms of the Creative Commons Attribution License.
Almanaque de Ciência Política, Jan 28, 2021
Wirapuru, 2024
: Muito se tem discutido e comparado o Bolsonarismo a movimentos fascistas do passado, como o Fas... more : Muito se tem discutido e comparado o Bolsonarismo a movimentos fascistas do
passado, como o Fascismo ou mesmo o Nazismo. Entretanto, pouco se tem discutido sobre o
Integralismo, movimento análogo ao Fascismo que foi parcialmente absorvido em suas
versões contemporâneas pelo Bolsonarismo. O objetivo deste artigo é, por meio de um
exercício de análise de conteúdo sobre o material fundador do Integralismo, o Manifesto de
outubro, em diálogo com uma base teórica sobre Integralismo da qual se destaca O fascismo
em camisas verdes, perceber as construções retóricas, discursivas e argumentativas de Plínio
Salgado e suas proximidades e diferenças com o Fascismo e com o Bolsonarismo. Com a
justificativa de ampliar o estado da arte dos estudos sobre movimentos de matriz fascista,
este trabalho se propõe a responder a seguinte pergunta: quais os pontos de consenso e
dissenso discursivos, a partir do Manifesto de outubro, com outros movimentos similares?
Cadernos Pagu, 2024
Em 26 de dezembro de 1929, Sylvia Serafim assassinou Roberto Rodrigues. Desde então, passou a ser... more Em 26 de dezembro de 1929, Sylvia Serafim assassinou Roberto Rodrigues. Desde então, passou a ser tratada como assassina, tendo sua produção literária, jornalística e política abandonada. A proposta deste artigo é formular um esboço inédito de crítica sobre seu trabalho intelectual, mesclando com alguns elementos de relato pessoal. Para isso, por meio de uma pesquisa em arquivo, foram selecionados materiais que discutem pautas de gênero. Ao final, comprova-se a importância de resgate não somente de Serafim, mas também de outras autoras apagadas pelo cânone.
Religião e Sociedade, 2023
A relação entre distopia e ideologia é intrínseca: a primeira se alimenta da segunda, produzindo ... more A relação entre distopia e ideologia é intrínseca: a primeira se alimenta da segunda, produzindo realidades ficcionais em que ideologias opostas criam um futuro devastado. Nesse cenário, o medo da tecnologia se aliar a movimentos fascistas ou totalitários é uma constante na série britânica Black mirror, como no episódio Men against fire. Se qualquer movimento fascista depende da criação de monstros, inimigos objetivos para condicionar o ódio e o terror, Men against fire leva essa proposta a um campo mais literal, e o seu movimento fascista/totalitário altera as próprias percepções da realidade para que seja possível exterminar o monstro. Dentro de um arcabouço teórico que mescla textos sobre ideologia, distopia, fascismo e narrativas de monstros, a proposta deste trabalho é discutir o processo de desumanização do inimigo objetivo no fascismo/totalitarismo no episódio. A intenção é que, no cotejo do debate sobre monstros, desumanização e fascismo, seja possível perceber a relação que o fascismo possui com a narrativa de monstros, ao passo em que, paradoxalmente, ele próprio acaba por criar os seus próprios monstros banais.
Revista Eletrônica Interfaces, 2022
Revista de Estudos Acadêmicos de Letras, Jan 16, 2023
Dia-logos, 2024
Se há um consenso entre cientistas sociais, é que a democracia enfrenta um processo de crise a ní... more Se há um consenso entre cientistas sociais, é que a democracia enfrenta um processo de crise a nível global. As causas, motivos e efeitos variam de nação para nação, de acordo com as idiossincrasias, mas não se discorda sobre uma decadência generalizada. Neste cenário, cresce discussão sobre qual termo e conceito utilizar para explicar esta recessão democrática. A proposta deste artigo é pensar alguns conceitos, entre clássicos e novos, da ciência política como tentativa de compreender este fenômeno, com particular atenção para o Bolsonarismo e suas peculiaridades, como a aproximação com o neoliberalismo/libertarianismo. Ciente da impossibilidade de contemplar por completo um movimento que se desenrola a nível internacional, a intenção é trabalhar com alguns elementos que se repetem, privilegiando o conceito de fascismo ante a interpretação de Robert Paxton como possível método de compreensão. Por fim, seguindo Paxton, conclui-se que o fascismo é um processo inerente às democracias contemporâneas, emergindo em suas falhas e incompletudes.
Revista Laboratório, 2024
Após o fracasso do Levante Integralista de 1938, Plínio Salgado partiu para um autoexílio em Port... more Após o fracasso do Levante Integralista de 1938, Plínio Salgado partiu para um autoexílio em Portugal. Contudo, Salgado não ficaria permanentemente no exílio, retornando ao final de 1945, quando o Estado Novo colapsava. Mas, do retorno, seu movimento já não era o mesmo. Não apenas o Integralismo havia se esfarelado, como também no pós-guerra e depois do Holocausto um movimento de matriz abertamente fascista não seria bem visto. Como consequência, Salgado fundou um partido com a mesma sigla do antigo Partido Republicano Paulista (PRP), pelo qual havia sido eleito deputado estadual duas décadas antes. O novo partido, porém, chamava-se Partido da Representação Popular. Lançou-se candidato à presidência nas eleições de 1955 e, ainda que tenha ficado em quarto lugar, angariou 8% dos votos, a pouco mais de dois milhões de votos do presidente eleito, Juscelino Kubitschek. Seu jingle de campanha sintetizava a sua visão do Integralismo nesta nova fase: “O homem vem aí / Está na hora de mudar / Vem o Plínio Salgado / Pro Brasil endireitar” (GONÇALVES; NETO, 2020, p. 89).
Faces de Clio, 2024
Completando o primeiro mandato, há ampla disponibilidade de materiais discursivos sobre o Bolsona... more Completando o primeiro mandato, há ampla disponibilidade de materiais discursivos sobre o Bolsonarismo. Entre as diversas opções disponíveis, privilegiou-se, neste trabalho, dois deles: o discurso de abertura da Assembleia Geral da ONU, de 2019, e o discurso de 07 de setembro de 2021, por suas respectivas importâncias. Por meio de análise de conteúdo, a intenção deste trabalho é apreender as principais características que aparecem nesses materiais, tentando compreender, na prática, como o Bolsonarismo enxerga a si próprio, contribuindo para o estado da arte do número crescente de estudos sobre o movimento. Na prática, percebe-se reconstruções discursivas e uma espécie de antropofagia de movimentos anteriores, como o Fascismo e o Integralismo, ainda que com suas idiossincrasias.
Confluências, 2023
Patricio Pron is part of a recent tradition in contemporary Latin American literature... more Patricio Pron is part of a recent tradition in contemporary Latin American literature: a literature focused on the memory of dictatorships. In other words, not just memory, but post-memory. It explores the relationship that the second and third generations have with the trauma of dictatorial violence. The pain is there, but not lived directly, like a looming shadow, a ghost, a memory passed from generation to generation.
Boletim Historiar, 2024
o Projeto Fênix, proposto por Jair Bolsonaro em 2018, representa um programa de govern... more o Projeto Fênix, proposto por Jair Bolsonaro em 2018, representa um programa de governo com características reveladoras e de aparente simplicidade. Seu título por si só sugere um viés reacionário, pois busca renascer e refundar o Brasil, resgatando-o deinfluências consideradas degeneradas. Este artigo busca analisar o conteúdo desse projeto por meio de uma análise aprofundada, com o intuito de responder à seguinte questão: quais elementos estavam presentes no Projeto Fênixe em que medida essas características contribuíram para a constituição do Bolsonarismo?Por meio dessa análise detalhada, espera-se lançar luz sobre pontos-chave do Bolsonarismo, compreendendo-o como um movimento que transcende a figura do Messias, à qual é associado. Além disso,pretende-se identificar como essas ideias e propostas influenciaram e moldaram o pensamento político e a base de apoio do governo Bolsonaro.
O Eixo e a Roda, 2024
A prosa de Álvares de Azevedo é marcada por elementos fragmentários, como bem aponta Antonio Cand... more A prosa de Álvares de Azevedo é marcada por elementos fragmentários, como bem aponta Antonio Candido. Todavia, há elementos que se repetem a despeito de sua irregularidade qualitativa. A proposta deste artigo é aprofundar-se sobre um desses elementos: o erotismo. Tomando como marco teórico discussões propostas pelo próprio Candido e por Eliane Robert Moraes, a intenção é tomar o erotismo como elemento aglutinador, como ponto de consenso entre duas obras azevedianas: Macário e Noite na taverna. Assim, por meio desta dialética entre teoria e objetos, será possível adicionar uma nova camada aos estudos azevedianos ao pensar na forma com que sua prosa reconstrói a noção de erótico no século XIX, antecipando o explícito do estilo modernista.
Mapping the Impossible, 2024
There are few artistic genres more intertwined with politics than dystopia. In its very essence, ... more There are few artistic genres more intertwined with politics than dystopia. In its very essence, dystopian fantasy is a method of criticising ideology, at the same time that it serves as a tool for the dissemination of the issuer's own ideology. Black Mirror's "Men Against Fire" episode provides a rich case study for considering ideology in one of its most violent formats: the creation of monsters. In the episode, deceived by a helmet that changes reality, soldiers fight and exterminate cockroaches-individuals with a genetic predisposition to diseases-while the civilian population, immersed in that bellicist ideology, dehumanises individuals even without a literal alteration of the real. This article analyses the creation of monsters, putting into dialogue theories on ideology, dystopian fantasy, and dehumanisation to construct a framework of how this dehumanisation process and its relationship with ideology works.
Literatura e Autoritarismo, 2024
Vera Lúcia Follain de Figueiredo, professora associada da Pontifícia Universidade Católica do Rio... more Vera Lúcia Follain de Figueiredo, professora associada da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, leciona nos departamentos de Comunicação Social e Letras. Seu primeiro livro publicado, Da profecia ao labirinto: imagens da história na ficção latino-americana contemporânea, já se preocupava em desvelar temas sensíveis e caros à história sociopolítica brasileira e latino-americana. O tema da violência urbana é dissecado em Os crimes do texto: Rubem Fonseca e a ficção contemporânea, que, a partir da obra de Rubem Fonseca, trata também da questão dos gêneros literários, do corpo e das narrativas autobiográficas
REVELL - REVISTA DE ESTUDOS LITERÁRIOS DA UEMS, Aug 23, 2022
Faces de Clio, Apr 5, 2023
Fascism as a generic concept: the five stages of Robert Paxton El fascismo como concepto genérico... more Fascism as a generic concept: the five stages of Robert Paxton El fascismo como concepto genérico: las cinco etapas de Robert Paxton Sergio Schargel 1 Resumo: Este artigo propõe uma discussão sobre o fascismo como conceito genérico, o entendendo como a manifestação simultânea de quatro outros conceitos, a saber, reacionarismo, populismo, autoritarismo e nacionalismo. Privilegia-se a análise do politólogo Robert Paxton, trabalhando uma noção do fascismo como processo inerente à política de massas contemporânea, uma versão degenerada da democracia de massas, e que responderia por cinco estágios que vão desde seu surgimento até sua radicalização ou entropia. A partir dessa análise, será possível elucidar algumas de suas principais características e utilizar a chave de Paxton para apreender fascismos contemporâneos. Aprofundando a hipótese de que o fascismo não morreu em 1945, é pertinente por permitir ampliar o estado da arte ao analisar algumas de suas principais idiossincrasias e sua ameaça à democracia agonística.
Anuário Antropológico, Dec 4, 2023
This is an open-access article distributed under the terms of the Creative Commons Attribution Li... more This is an open-access article distributed under the terms of the Creative Commons Attribution License.
Âncora, 2024
O Crime da Galeria de Cristal e os dois crimes da mala, de Boris Fausto, oferece u... more O Crime da Galeria de Cristal e os dois crimes da mala, de Boris Fausto, oferece uma reconstrução de dois crimes históricos que marcaram época no Brasil. Fausto revisita os crimes com foco nas disputas midiáticas e políticas que os envolveram. A proposta desta resenha é colocar em diálogo o livro de Fausto com outro caso que ocorreu mais ou menos na mesma época: o assassinato de Roberto Rodrigues por Sylvia Serafim. Os três crimes, além de terem acontecido em um espaço-tempo próximo, lançam luz sobre dinâmicas de gênero, processos de desumanização feminina e disputas na imprensa.
Estudos Feministas, 2024
Por que é mais fácil imaginar mulheres assassinadas do que mulheres assassinas? É com essa questã... more Por que é mais fácil imaginar mulheres assassinadas do que mulheres assassinas? É com essa questão que Alia Trabucco Zerán abre seu novo livro, As homicidas. Nele, se debruça sobre quatro casos de assassinas chilenas, para pensar quais elementos sociais unem essas mulheres, em casos tão díspares de violência. Mesmo que seu foco seja o de acontecimentos de um país vizinho, os casos que Zerán apresenta são úteis na compreensão de fenômenos semelhantes que ocorreram no Brasil, como o assassinato de Roberto Rodrigues por Sylvia Serafim.
ANAMORPHOSIS - Revista Internacional de Direito e Literatura, 2023
Athenea, 2024
En Tormenta, Thaís Oyama analiza detalladamente el primer año del gobierno de Jair Bolsonaro en B... more En Tormenta, Thaís Oyama analiza detalladamente el primer año del gobierno de Jair Bolsonaro en Brasil, un período que estuvo marcado por crisis, intrigas y secretos. El libro no pretende ser una obra académica en el sentido tradicional, pero aporta valiosa información sobre el ascenso de Bolsonaro y el fenómeno del Bolsonarismo en la política brasileña. La autora presenta datos inéditos y ofrece una visión interesante de cómo un político antes considerado irrelevante pudo llegar al poder y mantenerse en él a pesar de las controversias.
Varia Historia, 2024
A crise da democracia liberal, que até outrora parecia infalível, é um dos temas mais discutidos ... more A crise da democracia liberal, que até outrora parecia infalível, é um dos temas mais discutidos nas ciências sociais atualmente. Somente a biblioteca Widener de Harvard concentra mais de 23 mil livros publicados no século XX com “crise”, essa palavra de ordem, no título (PRZEWORSKI, 2020, p. 26). Ainda faltava, no entanto, a análise aprofundada de um dos cientistas políticos mais conhecidos da atualidade, Adam Przeworski, referência em política comparada e em estudos teóricos e empíricos sobre a democracia. Polonês radicado nos Estados Unidos, doutor pela Northwestern University e vinculado à New York University, já em 1997, publicou O que mantém as democracias? em coautoria com Michael E. Alvarez, Jose Antonio Cheibub e Fernando Limongi ( PRZEWORSKI et al., 1997). Esse artigo foi um estudo pioneiro ao antecipar a recessão democrática global e pensar os elementos que fazem uma democracia implodir – em uma época em que a democracia liberal parecia inevitável. A impressão é que seu novo livro, Crises da democracia, aproveita o momento histórico para retomar e aprofundar seu artigo.
Hoplos, 2023
Fascismo: um alerta, de Madeleine Albright, explora o ressurgimento de movimentos antidemocrático... more Fascismo: um alerta, de Madeleine Albright, explora o ressurgimento de movimentos antidemocráticos no contemporâneo. A obra não se destaca como uma análise teórica profunda do fascismo, mas sim como uma fusão de experiências pessoais da autora. Entretanto, isso não a impede de trazer alguns elementos conceituais interessantes, como sua proposta de interpretar o fascismo como um método de poder.
Anuário Antropológico, 2023
Mesmo após o fim do mandato, muito ainda há para se entender como Jair Bol-sonaro, um político do... more Mesmo após o fim do mandato, muito ainda há para se entender como Jair Bol-sonaro, um político do baixo clero e sem qualquer experiência em Executivos, foi eleito ao maior cargo de outrora uma das democracias mais estáveis da América Latina. Engana-se quem pensa que o Bolsonaro e o Bolsonarismo são uniformes, uníssonos, um movimento de explicação única. É um fenômeno complexo de diversas frentes em uma união, sobretudo inorgânica e em tensão sobre as quais pesquisadores se dobrarão por muitos anos
Folhas de Relva, 2024
"O livro que apresento neste prefácio ajuda a compreender esse fenômeno que há um século ressurge... more "O livro que apresento neste prefácio ajuda a compreender esse fenômeno que há um século ressurge em contextos muito diferentes, com aspectos distintos, mas sempre intolerante, hostil, autoritário e reativo a avanços civilizatórios na direção de um mundo mais justo e solidário (eu me refiro a solidariedade com o diferente, não a companheirismo dentro do séquito). Para enfrentar um problema, não basta preocupação e disposição, é preciso identificar a ameaça. E não podemos esperar décadas para nos debruçarmos sobre isso, pois o perigo cruza diariamente conosco na calçada." (Guilherme Simões Reis - Escola de Ciência Política, Unirio).
Via Litterae, 2023
A sátira tem, em sua própria essência, a práxis de trabalhar sobre o absurdo. Através do real da ... more A sátira tem, em sua própria essência, a práxis de trabalhar sobre o absurdo. Através do real da ficção, tende ao exagero em sua maior potência na tentativa constante de atacar o nosso real. Por essa característica, talvez seja um dos formatos mais políticos que a literatura pode assumir. Pois, desde As viagens de Gulliver, a sátira toma o absurdo como método para criticar a política do real. O novo livro de Ian McEwan, A barata, é herdeiro direto dessa tradição. Bem como o é de uma nova tradição: o Brexlit, subgênero de literatura política que surge, como o nome indica, na onda do Brexit.
Revista Brasileira de Ciência Política, 2024
Referência nos estudos judaicos no Brasil, Michel Gherman, professor de História da Universidade ... more Referência nos estudos judaicos no Brasil, Michel Gherman, professor
de História da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), tem se dedicado mais recentemente ao bolsonarismo. Na verdade, não somente ao bolsonarismo, mas à relação (e apropriação) do movimento com a comunidade judaica. Eis o tema de seu novo livro, O não judeu judeu: a tentativa de colonização do judaísmo pelo bolsonarismo.
Hurbinek, 2023
Certos conceitos perdem sua credibilidade por excesso de má utilização. Fascismo é um deles, bana... more Certos conceitos perdem sua credibilidade
por excesso de má utilização. Fascismo é um
deles, banalizado desde o seu surgimento,
quando George Orwell
(2017, p. 89) já apontava
seu esvaziamento como
forma de xingamento
político. A discussão
sobre a possibilidade do
deslocamento do conceito de fascismo para
além do Fascismo de
Benito Mussolini já remonta há quase um século.
Historiadores como Gianni Fresu (2017) chegam
a propor que mesmo movimentos similares do
mesmo período não seriam manifestações do conceito, mas seus próprios conceitos em si. Federico
Finchelstein, em Uma breve história das mentiras
fascistas, rechaça essa ideia. E não está só: Primo
Levi, muitos anos antes, fez o mesmo.
Brasiliana, 2023
The Danish-Brazilian Karl Erik Schøllhammer, professor at the Pontifical Catholic Univers... more The Danish-Brazilian Karl Erik Schøllhammer, professor at the Pontifical Catholic University of Rio de Janeiro, has established himself as a key figure among Brazilianists in contemporary Brazilian literature. His new book, Affect and Realism in Contemporary Brazilian Fiction, published by Anthem Press, brings together some of his recent works. Thesedeal with topics such as literary post-autonomy, self-fictionand the publishing market, among others, all converging aroundthe notion of contemporaneity.
Albuquerque, 2023
O Bolsonarismo tornou-se objeto de escru-tínio dentro das ciências humanas. Diversas áreas ... more O Bolsonarismo tornou-se objeto de escru-tínio dentro das ciências humanas. Diversas áreas têm esmiuçado vários de seus aspectos, consideran-do a heterogeneidade que compõe o movimento. Mas um, em particular, tem sido posto em segundo plano em relação a outros como o caráter econo-micamente liberal, o neopentecostalismo, as Forças Armadas: a simbiose do Bolsonarismo com o Integralismo. Mas, para entender essa relação, é preciso antes entender o que foi/é o Integralismo.
Argumentum, 2023
A ascensão de Jair Bolsonaro no Brasil trouxe consigo uma série de discussões e livros na tentati... more A ascensão de Jair Bolsonaro no Brasil trouxe consigo uma série de discussões e livros na tentativa de compreender a multiplicidade do fenômeno e de suas repercussões. Um deles é Antissemitismo, uma obsessão, organizado por Eliane Pszczol e Hliete Vaitsman, uma coletânea de artigos de pesquisadores que trabalham com a intolerância à comunidade judaica e suas repercussões. Um livro fundamental para compreender um aspecto do autoritarismo bolsonarista que, ainda que secundário frente a outros como a homofobia oumesmo o racismo, também se faz presente
Atenea, 2023
Onovo lançamento de Traverso, As novas faces do fascismo, procura se inserir na crescente discuss... more Onovo lançamento de Traverso, As novas faces do fascismo, procura se inserir na crescente discussão sobre a ascensão global da extrema direita. Voltado para uma proposta de defi nição de um “pós-fascismo”, Traverso divide o seu livro em duas grandes partes, subdivididas em seis capítulos. Na primeira, analisa as permanências e mudanças entre fascismo e “pós-fascismo”, passando por dois pontos que identifi ca como essenciais: identitarismo de direita e a uti-lização do Islã como inimigo desumanizado para estes grupos. Já na segun-da parte, o autor volta sua atenção para os aspectos teóricos do fascismo, em oposição a outros conceitos como populismo e totalitarismo.
Desacatos, 2023
En referencia al clásico de Karl Polanyi, la colección de ensayosA grande regressão. Um debate in... more En referencia al clásico de Karl Polanyi, la colección de ensayosA grande regressão. Um debate internacional sobre os novos populismos – e como enfrentá-los, editada por Heinrich Geiselberger, surgió en la ola de recesión democrática mundial. Con heterogeneidad ideológica y política, bajo un amplio espectro teórico y analítico, los ensayos hablan del debilitamiento de la democracia y el surgimiento de na-cionalismos de extrema derecha. Al final, queda la impresión de que el conjunto hace poco por el subgénero de la crisis de la democracia, pues pocas colaboraciones ofrecen insumos orgánicos e inéditos, y la mayoría tiende a repetir la jerga y los clichés de otras publicaciones.
Clio, 2023
No dia 26 de dezembro de 1929, a intelectual Sylvia Serafim assassinou o irmão de Nelson Rodrigue... more No dia 26 de dezembro de 1929, a intelectual Sylvia Serafim assassinou o irmão de Nelson Rodrigues, Roberto Rodrigues, motivada por uma matéria de capa do jornal A Crítica, no mesmo dia, que mostrava seu suposto adultério. O assassinato entrou à memória coletiva, e permanece mobilizando afetos e disputas ainda hoje. Entretanto, Serafim passou a ser tratada sempre como assassina, tendo sua produção literária, jornalística e política abandonada e esquecida. O assassinato foi apropriado como disputa política e ideológica, mobilizando paixões entre conservadores e progressistas.
Latinoamérica, 2023
Após a vitória de Donald Trump começou a se disseminar um subgênero nas ciências humanas (e mesmo... more Após a vitória de Donald Trump começou a se disseminar um subgênero nas ciências humanas (e mesmo na ficção): a crise da democracia. Previsões apocalípticas pululavam sobre o fim inevitável da democracia. Como a democracia chega ao fim, de David Runciman, Como as democracias morrem, de Steven Levitsky e Daniel Zibblat, entre tantos outros são alguns exemplos. O mesmo aconteceu com o Bolsonarismo, tomando um fenômeno mais local. De uma hora para outra apareceram diversos livros tentando explicar aquele movimento, como se ele tivesse surgido do vácuo, por mais que suas origens e raízes sejam muito anteriores. Mais do que isso: diversos livros passaram a pensar na relação do Bolsonarismo com movimentos anteriores, brasileiros e internacionais, como o Fascismo e o Integralismo. Sobre este último, vale destacar O fascismo em camisas verdes, de Odilon Caldeira Neto e Leandro Pereira Gonçalves, e o problemático Fascismo à brasileira, de Pedro Doria, objeto aqui resenhado. Antes de tudo, importante deixar claro: o texto de Doria não é acadêmico, mas jornalístico. Especificamente, seu estilo colhe do New Journalism, uma mescla entre o literário e o jornalismo, caracterizado não pela objetividade e transparência, mas por descrições exageradas que beiram o ficcional. Um dos problemas desse estilo é levantar até que ponto informações sobre o estado emocional dos personagens envolvidos pode ser comprovado por fontes. Por exemplo, por mais que seja provável que Plínio Salgado "estava ansioso" do encontro com Benito Mussolini (Doria 2020: 17), como provar tal afirmação? O texto se torna agradável de ler, bem da verdade, quase como um romance, mas coloca-se na fronteira entre fato e ficção, o que se torna problemático sobre uma perspectiva histórico-política.
Religião e Sociedade, 2023
Embora não seja o ponto focal do Como funciona o fascismo, livro de Jason Stanley, o antissemitis... more Embora não seja o ponto focal do Como funciona o fascismo, livro de Jason
Stanley, o antissemitismo é um elemento essencial para a conceitualização do fascismo. Não que todo fascismo seja antissemita, na prática o que ocorre é que esses movimentos não podem passar sem a criação de um imaginário sobre um inimigo
desumanizado. O inimigo pode ser o judeu e o judaísmo, mas não necessariamente. Pode ser o islã, o comunismo, os LGBTQ+. O essencial é a existência de um grupo específico a servir ao propósito de mobilizar a base de massas, seja ele qual for. Dito isso, também é inegável a associação histórica e mesmo contemporânea entre fascismos e antissemitismo.
Intexto, 2022
Entre o crescente número de opções na literatura sobre o Bolsonarismo, uma se d... more Entre o crescente número de opções na literatura sobre o Bolsonarismo, uma se destaca: Guerra cultural e retórica do ódio, de João Cezar de Castro Rocha. Esta resenha discute o seu livro, destacando a complexidade de sua construção sobre o fenômeno, beirando o literário. Partindo da hipótese principal de Rocha, que assume que o Bolsonarismo transcende e antecede a figura de Jair Bolsonaro, se discute também seu método de etnografia textuale os elementos do que chama de um Brasil pós-político.
Vale Quanto Pesa, 2023
Em setembro de 2019 o então prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella, em uma tentativa de ape... more Em setembro de 2019 o então prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella, em uma tentativa de apelar para um público religioso e afastar os holofotes dos escândalos políticos em que estava envolvido, perseguiu e mandou retirar da Bienal do Livro uma história em quadrinho da Marvel que mostrava dois homens se beijando. No ano anterior, um colégio no Rio de Janeiro proibiu Meninos sem pátria, de Luiz Puntel, acusado de “doutrinação comunista” (Pires, 2018). Já em 2020, um desembargador tentou proibir uma empresa privada de veicular um especial de Natal da produtora Porta dos Fundos – mesmo após ela ter sido vítima de um ataque a bomba por militantes integralistas –, ante o argumento de que o produto ofendia a moral da “maioria cristã” (Oliveira, 2020). Também em 2019, o então Ministro da Cidadania, Osmar Terra, declarou que “O perfil vai ser mais conservador. Obra de arte é obra de arte. Se for arte e não for só pornografia, vai ser respeitado. É preciso entender isso como uma transição” (Trindade, 2019).
Nexo Jornal, 2024
Em 2017, foi publicado o artigo “Trump e o Ocidente”, de Ernesto Araújo, na revista Cadernos de P... more Em 2017, foi publicado o artigo “Trump e o Ocidente”, de Ernesto Araújo, na revista Cadernos de Política Exterior, do IPRI (Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais). O texto foi produzido dois anos antes de seu autor se tornar ministro das Relações Exteriores (2019-2021) no governo Jair Bolsonaro.
Jornal da USP, 2024
De vez em quando, antes de dormir, começo a me lembrar. 26 de dezembro de 1929. E as coisas tomam... more De vez em quando, antes de dormir, começo a me lembrar. 26 de dezembro de 1929. E as coisas tomam uma nitidez desesperadora. A memória deixa de ser a intermediária entre mim e o fato, entre mim e as pessoas.
Não fui eu quem disse isso, mas poderia ter sido. Porque compartilho com o autor, Nelson Rodrigues, a mesma visão. Claro que com a diferença de que Nelson estava na redação no dia 26 de dezembro de 1929, enquanto eu apenas a revisitei por meio de uma pós-memória — conceito que sugere que traumas são herdados e perpassam gerações — e pelo estudo de anos sobre o caso. O caso, no caso, do assassinato do irmão de Nelson, Roberto Rodrigues, por minha bisavó, Sylvia Serafim.
A Terra é Redonda, 2023
O fascismo não morreu em 1945 com o suicídio de Hitler, limitá-lo de forma hermética a um período... more O fascismo não morreu em 1945 com o suicídio de Hitler, limitá-lo de forma hermética a um período histórico é negar que qualquer conceito e ideia se adapta e evolui através do tempo. Tanto mais: Benito Mussolini deu nome a essa fusão de populismo, reacionarismo, nacionalismo e autoritarismo, mas em que pese que o seu movimento fascista seja o mais famoso, outros semelhantes existiam na mesma época e inclusive o antecederam. Na própria Itália, Gabriele d’Annunzio mobilizou uma campanha nacionalista pela cidade fronteiriça de Fiume (na época, com a Iugoslávia) que pode, no mínimo, ser visto como predecessor do Fascismo.
Jornal Nexo, 2023
Através da definição Ur-Facismo, criada pelo filósofo Umberto Eco, que caracteriza o facismo como... more Através da definição Ur-Facismo, criada pelo filósofo Umberto Eco, que caracteriza o facismo como um movimento infinito, a pesquisa se debruça nos livros “Não vai acontecer aqui”, de Sinclair Lewis, e “Ele está de volta”, de Timur Vermes, para demonstrar como a ideologia é representada.
Jornal Nexo, 2023
Mas o que levou a jornalista e literata Sylvia Serafim a assassinar Roberto Rodrigues no dia segu... more Mas o que levou a jornalista e literata Sylvia Serafim a assassinar Roberto Rodrigues no dia seguinte ao Natal? Como toda boa história, a nossa também gira em torno de um adultério. Ou suposto adultério
Nexo, 2023
A pesquisa concluiu que existe a necessidade de um conceito genérico e amplo para caracterizar o ... more A pesquisa concluiu que existe a necessidade de um conceito genérico e amplo para caracterizar o que foi a maior “novidade política” do século 20, uma vez que não há fenômenos de massas anteriores que englobam nacionalismo, reacionarismo, autoritarismo e populismo. Nesse sentido, a palavra “fascismo” poderia ser empregada como uma forma de caracterizar fenômenos contemporâneos que se assemelham ao fascismo de Mussolini.
A Terra é Redonda, 2023
Há alguns conceitos em teoria política que caem em desgraça, ao passo em que outros são utilizado... more Há alguns conceitos em teoria política que caem em desgraça, ao passo em que outros são utilizados excessivamente. Reacionarismo e fascismo são dois que estão nesse primeiro grupo, esquecidos e substituídos por aberrações teóricas, em geral acoplados com um prefixo desnecessário como “ultra” conservador. Pois não, Jair Bolsonaro não é conservador. Aliás, poucos políticos poderiam ser tão antitéticos em relação ao conservadorismo do que Jair Bolsonaro. Mas por quê?
InkStick, 2023
The Brazilian 2022 elections generated a buzz in the global media. For the first time, it opposed... more The Brazilian 2022 elections generated a buzz in the global media. For the first time, it opposed a current president seeking re-election, Jair Bolsonaro, against a former president Luiz Inácio Lula da Silva or Lula.
A Terra é Redonda, 2023
Breve comentário sobre os acontecimentos de 08 de janeiro
A Terra é Redonda, 2022
A peça Praça dos heróis, de Thomas Bernhard, abre com Josef Schuster se jogando de sua janela na ... more A peça Praça dos heróis, de Thomas Bernhard, abre com Josef Schuster se jogando de sua janela na Heldenplatz (Praça dos Heróis), onde Hitler anunciou a anexação da Áustria. Os motivos são absurdos e propositalmente exagerados: Schuster teria se matado porque a Áustria de 1988 seria mais nazista e antissemita do que a Áustria de 1938. É óbvio que Thomas Bernhard exagera de propósito, para chocar – como é, por sinal, típico da sátira –, mas para pegar em uma ferida: o fascismo não morreu em 1945.
Jornal da USP, 2022
Com 100 anos de historiografia e fortuna crítica, há diversas correntes interpretativas sobre o f... more Com 100 anos de historiografia e fortuna crítica, há diversas correntes interpretativas sobre o fascismo, seja como conceito, seja como o movimento de Mussolini. Algumas são contraditórias entre si, mas outras se contaminam, possuem pontos de consenso. Entre as principais correntes que se opõem, vale chamar a atenção para duas em particular: fascismo hermético e fascismo maleável.
A Terra é Redonda, 2022
Desde o início dos anos 2000 cresce em quantidade e potência movimentos e regimes autoritários ao... more Desde o início dos anos 2000 cresce em quantidade e potência movimentos e regimes autoritários ao redor do planeta A primeira coisa que precisamos levar em consideração é que há, em curso, um processo global de fragilização democrática que já data de quase duas décadas, de acordo com órgãos que medem a saúde da democracia, como o V-Dem e a Freedom House.
Jornal Nexo, 2022
Pouco tem sido tão debatido nas ciências sociais quanto a suposta crise mundial da democracia. Al... more Pouco tem sido tão debatido nas ciências sociais quanto a suposta crise mundial da democracia. Alguns pesquisadores são mais extremos, fatalistas, decretam que a democracia está em seu crepúsculo. Outros, como David Runciman, são mais cautelosos, e falam apenas em uma “crise de meia-idade”. A atenção é tanta que estandes inteiros são dedicados ao tema nas livrarias e livros novos surgem em profusão, alguns com títulos quase homônimos, tais como “Como as democracias morrem” ou “Como a democracia chega ao fim” (lançados, vale ressaltar, com um espaço de apenas seis meses entre um e outro). A previsão apocalíptica é a mesma: com a eleição do arauto da destruição Donald Trump, os populistas ascenderam ao poder e a democracia liberal está fadada à autodestruição.
Jornal Nexo, 2022
Um ponto essencial para permitir uma convivência em civilização, que os libertários contemporâneo... more Um ponto essencial para permitir uma convivência em civilização, que os libertários contemporâneos ignoram e que os liberais clássicos entendiam: liberdade infinita assassina a própria liberdade.
Nexo, 2021
Era de se esperar que os judeus se posicionassem maciçamente contra um presidente que, em muitos ... more Era de se esperar que os judeus se posicionassem maciçamente contra um presidente que, em muitos aspectos, lembra um político que nos massacrou. No entanto, acontece justamente o contrário Recentemente, o Ministro da Educação Abraham Weintraub comparou a ação da Polícia Federal referente ao inquérito das fake news com a Noite dos Cristais, sangrento episódio de perseguição aos judeus na Alemanha.
A anulação das condenações do ex-presidente Lula gerou um burburinho na mídia. Qualquer jornal te... more A anulação das condenações do ex-presidente Lula gerou um burburinho na mídia. Qualquer jornal televisivo se dobrou sobre o assunto. Os mais distintos jornalistas e especialistas políticos acenderam o alarme: “a polarização ameaça a democracia”. Ora, polarização existe e o conceito em si é válido, mas é um erro a forma como tem sido tratada pelos jornais.
O cerne do problema em repetir ad infinitum que o Brasil está polarizado é implicar que o país está dividido entre dois perigosos extremos. Em suma, que Lula é um doppelgänger de Bolsonaro, sua versão distorcida de extrema esquerda. Ou, tanto pior, normalizar Bolsonaro, interpretá-lo não como um extremista autoritário, mas como um político comum. É reproduzida uma falsa equivalência entre o reacionarismo autoritário e a esquerda. Em suma, a retórica de polarização oferece às pessoas a ideia de que escolher entre democracia e autoritarismo, entre esquerda democrática e uma versão brasileira de fascismo, é uma escolha muito difícil.
Outro rótulo que tem atendido aos propósitos de propagar essa falsa equivalência é o “populismo”. Como o termo se transformou em epíteto para classificar grupos tão díspares, de socialistas a conservadores, de demagogos personalistas a fascistas? Podemos encontrar na história a possível resposta.
Em um ensaio publicado em 1926, o teórico marxista Evgeni Pachukanis chamou a atenção acerca de um malabarismo que a mídia e intelectuais majoritariamente liberais aplicavam: tratar fascismo e bolchevismo como sinônimos. A clássica teoria da ferradura há quase um século coloca o liberalismo como centro democrático e moderado, em oposição aos extremos: qualquer alternativa que ofereça mínima instabilidade aos mercados. É sintomático, por exemplo, que um liberal como Hayek, sem qualquer preocupação democrática por sinal, projetasse uma teoria em que qualquer intervenção estatal seja deturpada como totalitarismo. Em suma, o termo populismo se tornou ferramenta para desqualificar qualquer tentativa de questionar o liberalismo, seja à direita ou à esquerda.
Em abordagem muito distinta desta que vem se disseminando nos programas de TV, mas também em best-sellers sobre os perigos para a democracia, o politólogo Ernesto Laclau traçou uma genealogia do conceito em seu livro “A razão populista”. Identificou quais supostamente seriam as características mais básicas do populismo: antielitismo e base de massas. É interessante que Laclau busque entender o conceito não como um sistema político – e, portanto, análogo ao socialismo ou liberalismo –, mas como uma ferramenta inerente às democracias de massa. Nesse sentido, o populismo seria uma espécie de mecanismo de defesa de uma democracia degenerada em oligarquia. Desse modo, Laclau retira a conotação negativa do conceito, contestando a visão maniqueísta que o toma como um perigo à democracia. Tal noção, por si própria, consistiria em um paradoxo: se a essência do populismo responde pela população demandando mais democracia, como poderia ele, portanto, ser antidemocrático?
De todo modo, não é exatamente essa a forma mais frequente de se entender “populismo”. Na visão hegemônica, mais implícita que explícita, o populista é aquele que coloca os interesses do mercado em risco. Na mesma toada, isso seria um perigo para a democracia, especialmente quando esta estivesse polarizada entre os “populistas de direita” e os “populistas de esquerda”. Ao ser igualado pelo mesmo rótulo com a esquerda crítica ao capitalismo, o fascismo tem sua gravidade nublada. Pessoas não acreditam que o que veem diante de si mesmos possa ser fascismo, ignorando que este pode existir em diferentes níveis – desde preferências pessoais e movimentos sem perspectiva de poder, passando por líderes que conquistam o governo e até mesmo Estados que têm sua institucionalidade convertida em Estado fascista.
Não é sem motivo que se nota o crescimento de políticos, com a queda de popularidade de Bolsonaro e a anulação das condenações de Lula, que buscam se colocar como uma terceira via, como centro moderado. De Huck a Doria, de Maia a Moro, não faltou quem, mesmo até ontem alinhado ao bolsonarismo, subitamente se transformasse em centro moderado. O discurso de populismo e polarização fornece um verniz para que bolsonaristas arrependidos, ou mesmo a direita tradicional, que segue votando a favor dos radicais projetos do governo federal no Congresso, se tornem “moderados” da noite para o dia.
A polarização não apenas existe, como não é um problema. Pelo contrário, é fundamental para qualquer democracia saudável. Como mostra a noção de democracia agonística proposta por Chantal Mouffe, a polarização, desde que baseada em respeito mútuo pelas regras do jogo democrático, é o que faz a roda da democracia girar. Em outras palavras: para a democracia funcionar, é o dissenso, e não o consenso, que é imprescindível. Faz ainda menos sentido, portanto, que se almeje um “consenso para o bem da nação”, para repetir um mantra que sempre reaparece. O consenso somente pode existir sob um governo autoritário. Em uma democracia, o único consenso que se precisa ter é aquilo que John Rawls definiu por consenso sobreposto: concordância sobre direitos mútuos básicos como liberdade de expressão e de associação, desde que não firam os direitos básicos alheios. Ou seja, nem mesmo a liberdade de expressão deve ser absoluta, mas essa é outra extensa discussão.
A retórica inócua de “polarização” ou “populismo” serve a interesses claros, basta perceber quais atores o repetem com frequência. É preciso questionar sua utilização: é lógico chamar de populistas personagens tão díspares como Lula e Bolsonaro? Ou faz sentido chamar de polarizado um país supostamente dividido entre um político que, com todos os defeitos que possa ou não ter, sempre respeitou o processo democrático brasileiro e outro que não passa um dia sem atacá-lo?
Polarização não é um problema e é preciso tomar o bacilo por seu nome verdadeiro: fascismo não é “populismo”. Ainda que Hannah Arendt possa ter incorrido no equívoco da falsa equivalência, neste ponto ela foi precisa: o fascista é o pai de família, o “cidadão de bem”, o nosso amigo de infância tão absorvido em teorias da conspiração que perdeu o traço do real, em suma, nós. Não é algo que acontece apenas em filmes, não é um homem enorme cheio de cicatrizes ou um zumbi extraterrestre, como Hollywood adora retratar. Cass Sustein percebeu isso muito bem quando falou em seu livro “Can it happen here?” (sem tradução para o português) que “em cada coração humano há um fascista esperando para sair”. E a retórica de polarização e populismo ajuda a alimentar esse bacilo.
[texto completo]
Tese de doutorado Comunicação UERJ, 2024
Em 26 de dezembro de 1929, motivada por uma matéria de capa que a afirmava adúltera, a jornalista... more Em 26 de dezembro de 1929, motivada por uma matéria de capa que a afirmava
adúltera, a jornalista e escritora Sylvia Serafim atirou em Roberto Rodrigues, ilustrador do
jornal Crítica e irmão de Nelson Rodrigues, em um homicídio que chocou e dividiu a
sociedade carioca. A história do assassinato de Roberto se transformou em livro, peça, filme,
programa de televisão, em suma, foi explorada por diversas mídias, em diversos formatos.
Conforme essas narrativas migram, vão adquirindo novas nuances, contraditórias entre si,
através de um processo de divisão que se inicia logo depois do atentado. O principal objetivo
deste trabalho é analisar a captura que Sylvia Serafim sofreu por uma disputa política, social e
econômica que transcendeu sua época e permanece ainda hoje, bem como trabalhar a
construção dessa imagem desumanizada. Em outras palavras, sintetizado no próprio título,
trabalhar a construção das várias faces de Serafim, desde seus escritos até os escritos sobre
ela, enxergando-a não somente como assassina, da forma com que entrou para a História, mas
também como intelectual, jornalista, escritora, feminista. Essa divisão gerou um processo de
disputa sobre a sua figura que se iniciou na imprensa logo após o assassinato e perdura ainda
hoje, de modo que este trabalho olha também para a apropriação dessa figura em jornais da
época e do contemporâneo, bem como redes sociais. Com isso, Serafim acabou tendo sua
produção intelectual apagada, esquecida na História, a despeito de sua relevância na época.
Na intenção de evidenciar essa multiplicidade de Sylvia Serafim, também foram trabalhados
seus materiais jornalísticos. Assim, é possível resgatar sua história e destacar os mecanismos
sociais e políticos que a marginalizaram, além de examinar o impacto duradouro do
sensacionalismo sobre sua imagem. Por meio de pesquisa em arquivo e em diálogo com uma
base teórica sobre História do Jornalismo e processos de desumanização, foi possível fornecer
visões menos maniqueístas e mais completas, explorando caminhos desconhecidos de uma
intelectual lembrada apenas em função de seu homicídio. Ao explorar essa narrativa, busca-se
não apenas uma reinterpretação histórica, mas também uma reflexão sobre as dinâmicas de
poder e gênero, principalmente na imprensa.
UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO (UNIRIO), 2022
O processo mundial de recessão democrática fez ressurgir a discussão acerca de qual termo uti... more O processo mundial de recessão democrática fez ressurgir a discussão acerca de qual termo
utilizar para trabalhar os movimentos antidemocráticos que se espalharam por todo o planeta.
Muito se tem discutido sobre autoritarismos, populismos, totalitarismos, reacionarismos,
fascismos, entre outros conceitos políticos. No caso específico do fascismo, há um dissenso
acerca da possibilidade de expandir e deslocar o conceito para além de seu surgimento na
Itália de 1920. Caso seja possível, isso inevitavelmente acaba por ampliálo e considerar que,
em espaçotempo distinto, o fascismo adquirirá novas características, embora conserve pontos
que o permitam continuar a ser compreendido como tal. Na prática, isto ocorre com qualquer
conceito político, dado que qualquer conceito é polissêmico e não se limita de forma
hermética a um espaçotempo específico. Esta dissertação irá tratar da aplicabilidade do
conceito de fascismo no Brasil, trazendo para isso um recorte temporal heterogêneo, a saber, o
Fascismo, Integralismo e o Bolsonarismo. Entretanto, a intenção é trabalhar menos com o que
esses movimentos foram de fato e mais com o que eles disseram sobre si próprios. Para isso,
proporá responder uma pergunta de pesquisa inicial, o que é o fascismo, para enfim chegar a
principal pergunta: o fascismo morreu em 1945 na Europa, ou ele pode aparecer em outros
períodos e lugares? Especificamente, pode ele aparecer no Brasil? Para tal, serão tomados
como objetos discursos, obras e programas escritos por líderes como Mussolini, Plínio
Salgado e Jair Bolsonaro. Assim, serão trabalhados consensos e dissensos entre a aparição
original do Fascismo e suas supostas contrapartes brasileiras, tomando características
específicas como pontos de interseção, testando, no processo, a hipótese de que é possível
aplicar o conceito para o Brasil. Isso tornará possível ampliar o estado da arte acerca da
discussão conceitual dos movimentos apreendidos, ao interpretar hermeneuticamente como
eles imaginavam a si próprios. À luz da proposta de fascismo “etapista” de Robert Paxton, em
Anatomia do Fascismo ― marco teórico deste trabalho que interpreta que todo movimento
fascista obedeceria cinco estágios ―, foram escolhidos objetos de análise relevantes que
respondessem por um período amplo na existência desses movimentos, na intenção de
apreender não apenas as diferenças entre eles, mas mesmo as mudanças discursivas
idiossincráticas. Nesse sentido, também foi proposto uma divisão por ciclos para cada
movimento, de acordo com as suas mudanças internas e em geral, mas não necessariamente,
alinhado aos estágios de Paxton (por exemplo, o Fascismo de Mussolini perpassa ciclos
progressista, liberal, ditatorial, imperial e nazifascista). Para além da pesquisa hermenêutica,
utilizando métodos exploratórios, teóricos e descritivos de closereading sobre os materiais
apreendidos, também serão utilizados softwares como o Canva e o WordClouds, importantes
por, respectivamente, ilustrar e quantitativar os dados obtidos; além de análises estatística s
sobre a cultura política brasileira em 2018. Ao final, concluiuse que, ainda que diferenças
significativas existam, tanto mais considerando o espaçotempo, Integralismo e Bolsonarismo
possuem traços próximos ao Fascismo de Mussolini, o que permite, a partir disso, classificálos como movimentos de matriz fascista
O ur-fascismo ontem e hoje, 2021
A Freedom House, instituição estadunidense, reportou 2019 como o déci-mo quarto ano seguido de re... more A Freedom House, instituição estadunidense, reportou 2019 como o déci-mo quarto ano seguido de recessão democrática mundial, uma crise que ressuscita a discussão acerca do conceito usado para denominar esses movimentos antide-mocráticos. Muito se fala que eles seriam novas versões de um fascismo, a despei-to de características distintas em cada manifestação. O semiólogo italiano Umber-to Eco antecipou essa questão e criou um conceito que busca resolver essa pro-blemática: Ur-Fascismo. O Ur-Fascismo é o fascismo que nunca acaba, que se reconstrói, se retrabalha, se adequa a cada época, dado seu caráter infinito. As distintas aparições do fascismo não se limitam à política da realidade: a política da ficção tratou de apresentá-lo de diversas formas. Partindo da discussão de uma base teórica sobre teoria política, em particular sobre o Ur-Fascismo, será possível perceber como a ficção tratou aparições e características desse fenômeno, toman-do, para isso, dois objetos: Não vai acontecer aqui, de Sinclair Lewis, e Ele está de volta, de Timur Vermes. Assim, será possível trabalhar as idiossincrasias dos Ur-Fascismos dessas ficções, suas diferenças e similitudes, em consoante com as bases da teoria política e, no processo, expandir tanto o estado da arte sobre literaturas do Ur-Fascismo, quanto contribuir à discussão sobre um fenômeno político pouco compreendido. Por fim, encerra-se com uma discussão, a partir da ideia de vaga-lumes de Pasolini e Didi-Huberman, sobre a importância da arte, em especial a arte antifascista, na luta contra o Ur-Fascismo.
PRACS, 2024
A cientista política Camila Rocha é conhecida como referência nos estudos do liberalismo no Brasi... more A cientista política Camila Rocha é conhecida como referência nos estudos do liberalismo no Brasil. Autora de Menos Marx, mais Mises: o liberalismo e a nova direita no Brasil, editado pela Todavia em 2021, foi finalista no Prêmio Jabuti de 2022 e recentemente inaugurou uma coluna na Folha de S.Paulo. Em sua obra, Rocha mergulhou no universo liberal em um contexto desafiador, buscando compreender as razões por trás do crescimento das ideologias liberais no Brasil.
Confluências, 2024
Patricio Pron is part of a recent tradition in contemporary Latin American literature... more Patricio Pron is part of a recent tradition in contemporary Latin American literature: a literature focused on the memory of dictatorships. In other words, not just memory, but post-memory. It explores the relationship that the second and third generations have with the trauma of dictatorial violence. The pain is there, but not lived directly, like a looming shadow, a ghost, a memory passed from generation to generation
LerO, 2023
OFICINA DE TEORIA DO ROMANCE Ministrada por Sergio Chargel (USP) A proposta desta oficina é com... more OFICINA DE TEORIA DO ROMANCE
Ministrada por Sergio Chargel (USP)
A proposta desta oficina é compreender as reconstruções da violência no romance brasileiro contemporâneo, a partir de um recorte de três obras de Patrícia Melo. Para isso, o foco será sobre Gog Magog, O matador e, principalmente, Valsa negra, em diálogo com um referencial teórico sobre estética da violência, erotismo e antissemitismo. Tomando o contato com os objetos, é possível apreender as formas com que os objetos apresentam a temática da violência, seus dissensos e consenso.
Portal ESPM, 2022
e1664197690524-780x470-1.jpg) O "Fratelli d'Italia" (Irmãos da Itália), coalizão política pós-f... more e1664197690524-780x470-1.jpg) O "Fratelli d'Italia" (Irmãos da Itália), coalizão política pós-fascista, venceu as eleições legislativas do país com mais de 40% dos votos, no último domingo (25). Liderado por
TV 247, 2024
O fenômeno do fascismo, sempre intolerante, hostil, autoritário e reativo a avanços civilizatório... more O fenômeno do fascismo, sempre intolerante, hostil, autoritário e reativo a avanços civilizatórios na direção de um mundo mais justo e solidário, ressurge de tempos em tempos. Para debater o tema, Mario Vitor e Regina Zappa conversam com o professor e mestre em
Literatura e Ciências Políticas Sergio Schargel, autor do livro “Bolsonarismo, integralismo e fascismo: diálogos entre Jair Bolsonaro, Plínio Salgado e Benito Mussolini”
Anais do VII Seminário do Programa de Pós-Graduação em Literatura Brasileira, 2021
No dia 26 de dezembro de 1929, a jornalista e escritora Sylvia Serafim invadiu o jornal A Crítica... more No dia 26 de dezembro de 1929, a jornalista e escritora Sylvia Serafim invadiu
o jornal A Crítica, no Rio de Janeiro, e assassinou o filho mais novo do editor, Roberto
Rodrigues, irmão de Nelson Rodrigues. O crime foi motivado por uma matéria publicada
no dia anterior em que Sylvia aparecia sendo acariciada por um médico, sugerindo um
adultério, embora fosse desquitada. O assassinato de Roberto – e o julgamento de Sylvia
- se tornou palco para uma cisão social entre grupos progressistas e
conservadores/reacionários, os primeiros defendendo que Sylvia agiu em legítima defesa
de sua honra e os segundos, como personificado pela declaração do advogado de
acusação, afirmando que a assassina teria trocado “sua condição de anjo do lar pela
profissão de jornalista, para satisfação de sua vaidade” e cometido um “ultraje á família
brasileira”. O assassinato entrou à memória coletiva; se tornou filme, livro, tese, teatro,
biografia. Perdura, ainda hoje, quase 100 anos depois, a cisão ideológica e política a partir
das paixões que o caso movimenta; comentários de um episódio do programa Linha
Direta sobre o assunto repete, por exemplo, comentários semelhantes aos veiculados na
grande imprensa durante o julgamento. Todas essas narrativas desumanizam Sylvia de
uma forma ou de outra: nenhuma trata de sua produção intelectual e artística, que caiu no
esquecimento, sempre limitada a sua função de assassina. A proposta deste trabalho é
humanizar a intelectual, promovendo um resgate de sua produção em contato com tudo
que se criou sobre ela, permitindo, no processo, visões mais complexas e menos
maniqueístas sobre uma jornalista e poetiza transformada unilateralmente em anjo
Serafim caído, em verdadeiro anjo pornográfico, conforme seu sobrenome permite o
trocadilho. Metodologicamente, se trata de uma reconstrução entre as produções sobre
Sylvia, o arquivo herdado de sua família e sua produção poética, em perspectiva
interdisciplinar.
Livro Poéticas da Diversidade, 2024
No dia 26 de dezembro de 1929, a jornalista e literata Sylvia Serafim entrou na redação do jornal... more No dia 26 de dezembro de 1929, a jornalista e literata Sylvia Serafim entrou na
redação do jornal Crítica, um dos periódicos mais importantes do Brasil, buscando
uma audiência com seu proprietário, Mário Rodrigues. Contudo, ele não estava
presente. Persistente, Sylvia procurou seu filho, Mário Filho, também ausente naquele
momento. Foi então que ela se dirigiu ao gabinete de outro filho de Mário Rodrigues,
Roberto Rodrigues, ilustrador do jornal. O que aconteceu dentro daquele gabinete
ainda é envolto em mistério. Não se sabe ao certo o teor da conversa, nem os motivos
precisos que levaram ao desfecho trágico, mas o fato inegável é que Sylvia atirou na
barriga de Roberto.
Tendências críticas contemporâneas - E-book Abralic, 2024
Assim consta no capítulo 11 de Leviatã, de Thomas Hobbes (2008, p.72): “assinalo como tendência g... more Assim consta no capítulo 11 de Leviatã, de Thomas Hobbes (2008,
p.72): “assinalo como tendência geral de todos os homens um perpétuo e irrequieto desejo de poder e mais poder, que cessa apenas com
a morte”. No sentido hobbesiano, compreendendo o poder como uma
eterna luta de todos contra todos, e foucaultiano, entendendo-o como
uma relação que perpassa todas as classes e sistemas sociais (FOUCAULT, 1979, p.183), poucos autores da ficção brasileira contemporânea são tão hobbesianos quanto Patrícia Melo. Vencedora do Prêmio Jabuti de 2001, com sua prosa marcada por uma escrita crua,
veloz, apropriada à estética da violência que impõe em seus livros.
Possivelmente qualquer um dos romances de Patrícia Melo poderia
ser tomado como objeto. O matador, Elogio da mentira, Ladrão de cadáveres, Gog Magog, entre outros: todos trabalham na interseção entre
o dualismo prazer-horror da violência e sua relação com o urbano.
Mas Gog Magog é uma de suas obras que mais absorve esses traços.
O FASCISMO INFINITO, NO REAL E NA FICÇÃO, 2023
No próximo dia 24/03, sexta às 19h, será lançado "O fascismo infinito, no real e na ficção", de S... more No próximo dia 24/03, sexta às 19h, será lançado "O fascismo infinito, no real e na ficção", de Sergio Schargel, na Livraria Blooks do Espaço Itaú de Cinema de Botafogo. O livro deriva da dissertação de mestrado do pesquisador, realizado na Letras/PUC-Rio, vencedor do Prêmio Dirce Côrtes Riedel Abralic de melhor dissertação de 2020-2021, e trata, com uma discussão sobre teoria política e literatura comparada, sobre as formas com que o conceito de fascismo foi apresentado em ficções de um espaço-tempo heterogêneo.
https://www.bestiario.com.br/livros/o_fascismo_infinito.html