Literatura Moçambicana Research Papers - Academia.edu (original) (raw)
Ao utilizarmos a expressão “tradição oral africana” fazemos referência direta a uma discussão de caráter teórico que mobiliza mais questões do que respostas. O presente artigo busca, a partir de alguns trabalhos recentes da antropologia e... more
Ao utilizarmos a expressão “tradição oral africana” fazemos referência direta a uma discussão de caráter teórico que mobiliza mais questões do que respostas. O presente artigo busca, a partir de alguns trabalhos recentes da antropologia e da arqueologia africana, fazer uma revisita teórica a alguns momentos da discussão acerca da existência de uma tradição africana e de uma oralidade africana, e, em seguida, discutir a aplicabilidade desses conceitos no interior da crítica literária moçambicana a partir de uma visada diacrônica e histórica. O intuito é obter subsídios para uma reflexão interdisciplinar de conceitos-chave para compreensão dos diálogos interculturais que cercam a literatura moçambicana.
O título da obra integral, Vozes Anoitecidas , diz-nos algo sobre a dimensão coletiva, que embebida na oralidade que o som da palavra produz, expressa o tradicional que Couto nos dá a conhecer. E fá-lo ao tempo que reinventa a identidade... more
O título da obra integral, Vozes Anoitecidas , diz-nos algo sobre a dimensão coletiva, que embebida na oralidade que o som da palavra produz, expressa o tradicional que Couto nos dá a conhecer. E fá-lo ao tempo que reinventa a identidade moçambicana na modernidade. São as vozes que contam as histórias, à noite, à volta da fogueira. No conto de Mia Couto
A construção de uma identidade cultural nos países africanos de língua portuguesa surgiu numa época em que, em outras regiões do mundo, o conceito de “nação” parecia haver perdido o poder de mobilização. Contudo, o colonialismo português,... more
A construção de uma identidade cultural nos países africanos de língua portuguesa surgiu numa época em que, em outras regiões do mundo, o conceito de “nação” parecia haver perdido o poder de mobilização. Contudo, o colonialismo português, a luta pela independência e as guerras civis subsequentes despertaram a necessidade de se criar uma consciência nacional que permitisse encaminhar as novas nações para a liberdade e a paz. Essas novas identidades africanas, longe de serem homogêneas, dialogam de maneira diferente com as literaturas e as culturas portuguesa e (afro)brasileira. Considerando os eventos históricos que abriram um espaço para a construção de identidades múltiplas, neste livro se apresentam diferentes estudos de projetos identitários que tematizam e discutem os diálogos literários e culturais luso-africano, afro-brasileiro e afro-português.
Resenha do livro 'Caderno de memórias coloniais', de Isabela Figueiredo, publicada na Revista VIA ATLÂNTICA Nº 17 JUN/2010.
A maternidade têm sido imposta às mulheres como a experiência do feminino por excelência. As sociedades patriarcais têm vingado no mundo, refletindo-se em todas as instituições e esferas sociais. O mundo têm privilegiado organizar-se em... more
A maternidade têm sido imposta às mulheres como a experiência do feminino por excelência. As sociedades patriarcais têm vingado no mundo, refletindo-se em todas as instituições e esferas sociais. O mundo têm privilegiado organizar-se em estados-nação, através da propriedade privada e da família, mesmo que nem sempre tenha sido assim (Hegel, 1984 , pp.5-19). As vivências de cada um de nós variam tanto quanto o país, cultura, gênero, classe e raça com que nascemos. Este ensaio procura refletir sobre a sobrevalorização da maternidade como elemento central da experiência feminina; sobre a rivalidade interiorizada nas mulheres que se reflete na forma envergonhada como lidam com a poligamia; no caminho que fazem para desconstruir a vergonha e construir resistência e revolução; Partirei das representações destas temáticas no livro Niketche: Uma história da poligamia , da escritora Moçambicana Paulina Chiziane (1955). Antes de avançar, alguns apontamentos sobre metodologia: o pensamento científico tradicional hegemônico é eurocêntrico e masculino (Federici, 2004, pp.23-38). Mascara-se sobre a farsa da "objetividade" e da "imparcialidade", ignorando as estruturas de poder existentes (Grosfoguel, 2011, pp.341-355). Sigo a linha da teoria pós-colonial e das suas críticas, começando por reconhecer o meu "lugar de fala" (Ribeiro, 2017, pp.47-51): o de uma mulher (biológica e socialmente falando), branca (socialmente falando, já que biologicamente não existem fundamentos que dividam a espécie humana em raças). Como toda a vida vivi em Portugal, país europeu, apesar do contacto com movimentos sociais protagonizados por pessoas não-brancas, incluindo mulheres africanas ou afro-descendentes não conheço de perto a realidade vivida pelas mulheres africanas, particularmente as que vivem numa família polígama em Moçambique. Desta forma procuro ter os cuidados necessários para não estabelecer a tão comum relação de poder entre o sujeito que produz conhecimento, o observador e o sujeito estudado, o observado (Sousa Santos, 2018, p.157). Assim, os meus argumentos são fundamentados com autores que tenham tenham a maior propriedade possível sobre os temas em questão. Sigo a teoria de Sousa Santos para a construção de novas perspectivas epistemológicas que desconstroem estereótipos e visibilizam a produção de conhecimento dos povos do Sul (Sousa Santos, 2014, pp.38-39).
Em meados de 1934, logo antes de morrer, José Albasini (o Bandana) escrevia para as páginas do Brado Africano uma série de crónicas, um híbrido de relato autobiográfico e relato de viagem, possivelmente a primeira narrativa de intenções... more
Em meados de 1934, logo antes de morrer, José Albasini (o Bandana) escrevia para as páginas do Brado Africano uma série de crónicas, um híbrido de relato autobiográfico e relato de viagem, possivelmente a primeira narrativa de intenções literárias escrita e publicada por um moçambicano. Trata-se de um testemunho de convalescença, não só física, mas também moral, cultural e colonial. Seu encontro com as paisagens e realidades do interior africano é colorido de memórias pessoais e colectivas, resultando em uma narrativa complexa, às vezes dramática, mas muitas vezes também cheia de humor e poesia. A edição das crónicas vem acompanhada de tradução para o inglês de Clélia Donovan, professora de português na
O objetivo deste artigo é um mapeamento das práticas artísticas revolucionárias que tiveram lugar em Moçambique durante a luta armada (1964-1974) e no período imediatamente posterior. Esse mapeamento deve nos levar em direção a um corpus... more
O objetivo deste artigo é um mapeamento das práticas artísticas revolucionárias que tiveram lugar em Moçambique durante a luta armada (1964-1974) e no período imediatamente posterior. Esse mapeamento deve nos levar em direção a um corpus privilegiado dessa produção que são as coletâneas Poesia de combate I (1979) e Poesia de combate II (1977), a partir do qual procederemos a análises de poemas específicos que poderão nos fornecer um pequeno repertório de tópicas correntes que nos permitem traçar um perfil estético do que, a partir do debate literário acerca da função da literatura no ambiente revolucionário de Moçambique, seria considerado, a propósito, de "poesia revolucionária".
A romancista e ensaísta moçambicana Paulina Chiziane (Gaza, 1955) é hoje uma das vozes mais expressivas no que tange à revelação da história e dos costumes de um país ainda tão pouco visitado pelo pensamento crítico brasileiro. Conhecê-la... more
A romancista e ensaísta moçambicana Paulina Chiziane (Gaza, 1955) é hoje uma das vozes mais expressivas no que tange à revelação da história e dos costumes de um país ainda tão pouco visitado pelo pensamento crítico brasileiro. Conhecê-la é, portanto, ter a possibilidade de transitar pelo universo cultural multifacetado de uma nação que, dominada até 1975 pelo colonizador português, agrega em si valores sociais díspares, como, por exemplo, a monogamia e a poligamia; uma inscrição lingüística plural; além de um complexo de situações político-econômicas sempre beirando a guerra e a miséria. Outro aspecto interessante é o engajamento da escritora com as questões relacionadas à condição social da mulher em Moçambique. Seu primeiro romance, Balada de amor ao vento, publicado em 1990, reflete sobre a sobrevivência de certos valores familiares tribais contrapostos às diretrizes urbanas que, impregnadas pela orientação cristã, deram novo direcionamento para a instituição familiar moçambicana. A mulher, no centro dessas articulações ideológicas, sofre a impossibilidade de construir uma identidade e reconhecer
seu real espaço de atuação como cidadã.
A imagem de sofrimento, para aqueles que começam a estudar a cultura moçambicana, é
inevitável. Contudo, um aprofundamento maior leva a descobertas fantásticas e a uma
conclusão imediata: somente um país com grande força de criação poderia reunir em sua
cultura expressões de tão grande beleza, através das quais estão traduzidos momentos
históricos díspares, uma realidade econômica perversa, uma natureza ímpar, e,
principalmente, uma vivência cultural multifacetada e, por isso mesmo, extremamente
interessante e convidativa para o pesquisador.
As informações a seguir não conseguirão “contar” Moçambique. Estão, apenas,
relacionadas àquilo que meu passeio particular pelo cabedal de textos sobre o país,
orientado pelo acesso ao pensamento crítico e à produção literária da escritora Paulina
Chiziane, conseguiu arregimentar. O que poderá ser observado, ao final, é que a realidade
moçambicana hoje traduz, de forma curiosa, toda a problemática da confluência de
questões como identidade, alteridade e globalização.
Luís Bernardo Honwana define a linguagem utilizada na sua narrativa breve “Rosita, até morrer” como uma “área literariamente autónoma”. Este conto apresenta uma integração linguística derivada de uma conceptualização híbrida que pode ser... more
Luís Bernardo Honwana define a linguagem utilizada na sua narrativa breve “Rosita, até morrer” como uma “área literariamente autónoma”. Este conto apresenta uma integração linguística derivada de uma conceptualização híbrida que pode ser considerada produto do
processo de colonização e que representa a coexistência e as tensões entre as línguas e as culturas em contacto. Neste artigo estabelece-se uma relação entre a noção de “área
literariamente autónoma” e os conceitos de terceiro espaço, proposto por Homi K. Bhabha, e de integração conceptual, definido por Fauconnier e Turner.
A LITERATURA NA METADE MESMA DE UM PASSO 0 titulo deste trabalho evoca a possibilidade de falarmos nâo apenas de conteü-dos mas do que por eles entendemos. Do ponto de vista dos estudos literàrios isto significa dar atençâo a textos de... more
A LITERATURA NA METADE MESMA DE UM PASSO 0 titulo deste trabalho evoca a possibilidade de falarmos nâo apenas de conteü-dos mas do que por eles entendemos. Do ponto de vista dos estudos literàrios isto significa dar atençâo a textos de circulaçâo mais efémera e muitas vezes de mais difi-cil acesso, publicados em jornais e revistas (literârias ou nâo), assim como a docu-mentos relacionados com a instituiçâo/institucionalizaçâo literâria. Em Moçambique, sobretudo durante a primeira repùblica, a relevância de uma pesquisa a partir da imprensa advém do facto de ela funcionar como um «diârio intimo colectivo» e como difusor do programa ideolôgico do Estado, das suas regras definidoras da nova sociedade e do novo homem. 0 pais é uma grande escola e o jornal um dos seus livros e um dos seus cadernos. Os jornalistas sâo a vanguarda avançada da revoluçâo, devem escrever as suas etapas em todos os sectores, informar e formar o povo, escribas do livro colectivo que se escreve todos os dias, das pâginas de Histôria que todos devem ler, mèditar e interiorizar. Hâ globalmente um apelo muito forte à escrita nas suas diferentes dimensôes e em qualquer suporte (os jornais de parede/jornais do Povo), apelo que cria mecanismos de autocensura, mas dei-xando fissuras que alguns irâo utilizar, nomeadamente através da literatura. Lembre-se que este apelo encontra urn' châo fértil, alimentado quer por uma tradiçâo de imprensa que jâ vem do século XIX, a partir da instalaçâo do prelo (1854), quer pelo trabalho realizado durante a guerra de libertaçâo. E nâo esqueçamos, finalmente, que a maior parte dos escritores trabalham nos jornais depois da independência, alguns até antes: a presença da literatura e das suas polémicas deve-se também a este facto. (*) Agradeço a Luis Bernardo Honwana a leitura deste texto. 77
A posição da mulher varia de diferentes formas em Moçambique, dependendo da zona do país. Um bom exemplo para representar estas mudanças é o livro Niketche da escritora Paulina Chiziane, o qual retrata estas tradições através deste... more
A posição da mulher varia de diferentes formas em Moçambique, dependendo da zona do país. Um bom exemplo para representar estas mudanças é o livro Niketche da escritora Paulina Chiziane, o qual retrata estas tradições através deste romance. O trabalho aprofundiza estas diferentes formas de ver a mulher e como é que se diferenciam as mulheres do norte e do sul do país.
João Paulo Borges Coelho, nascido em 1955 no Porto, cresceu em Moçambique e tornou-se, na última década, um dos escritores mais produtivos e reconhecidos deste país. É também professor e investigador de História Contemporânea na... more
João Paulo Borges Coelho, nascido em 1955 no Porto, cresceu em Moçambique e tornou-se, na última década, um dos escritores mais produtivos e reconhecidos deste país. É também professor e investigador de História Contemporânea na Universidade Eduardo Mondlane. A seguinte entrevista a João Paulo Borges Coelho realizou-se em julho 2014, em Maputo. Os temas abordados são, entre outros, questões de identidade na época colonial e pós-independência, singularidades regionais da(s) cultura(s) moçambicana(s), a relação entre “modernidade europeia” e “tradição africana”, a articulação entre o espaço urbano e rural, a memória da luta de libertação da guerra civil, além de particularidades das diferentes obras do autor.
Palavras-chave: Moçambique, João Paulo Borges Coelho, identidade nacional, memória histórica, literatura moçambicana
RESUMO: Este artigo pretende elaborar uma reflexão acerca do fazer poético nas obras Os ângulos da casa, da poeta moçambicana Hirondina Joshua, e Vácuos, do também moçambicano Mbate Pedro. A partir da categoria espaço-na primeira,... more
RESUMO: Este artigo pretende elaborar uma reflexão acerca do fazer poético nas obras Os ângulos da casa, da poeta moçambicana Hirondina Joshua, e Vácuos, do também moçambicano Mbate Pedro. A partir da categoria espaço-na primeira, representado pelo imaginário da casa; no segundo, a partir da ausência de locus-, analisaremos as representações imagéticas nos poemas, bem como o modo como essas imagens manifestam-se e expandem-se na produção lírica destes poetas. Para embasar nosso estudo, recorremos a Bachelard (1989) e Freud (2015, 1920). PAlAVRAS-CHAVE: Literatura africana, poesia moçambicana, espaço. AbstrAct: This article intends to elaborate a reflection about the poetic craft in Mozambican poet Hirondina Joshua's Os ângulos da casa (The house's angles), and the also Mozambican author Mbate Pedro's Vácuos (Vacuums). From the category space-in the first oeuvre represented by the home's imaginary; and, in the second, from the absence of locus-we will analyze the
Vários são os factores de interesse desta pequena novela. O primeiro, que a ultrapassa, consiste na sua língua de produção -Sitoe é raríssimo exemplo da escrita literária em língua moçambicana (entenda-se a retórica, ou a memória me trai... more
Vários são os factores de interesse desta pequena novela. O primeiro, que a ultrapassa, consiste na sua língua de produção -Sitoe é raríssimo exemplo da escrita literária em língua moçambicana (entenda-se a retórica, ou a memória me trai ou a ignorância se desvenda: não conheço outro caso). Esta edição anuncia o original em tsonga, mas tenho ideia de que aqui a obra é usualmente apresentada como escrita em ci-ronga, ainda que Sitoe seja autor do dicionário Português-Changana, fluidez pouco importante pois a denominação cobre suficientemente algum contínuo linguístico a sul de Moçambique. A edição em português está esgotada há muito.
1. 32 anos de Ualalapi: Um olhar sobre o Apocalipse na obra à luz de "O Último Discurso de Ngungunhane" 1.1. Contextualização Ualalapi, título da obra e nome de uma personagem que recebe a missão de matar o rei hosi (rei, imperador, em... more
1. 32 anos de Ualalapi: Um olhar sobre o Apocalipse na obra à luz de "O Último Discurso de Ngungunhane" 1.1. Contextualização Ualalapi, título da obra e nome de uma personagem que recebe a missão de matar o rei hosi (rei, imperador, em língua tsonga) Mafename, a mando do seu próprio irmão Ngungunhane-Gungunhana que se torna, assim, o imperador de Gaza. Este imperador é famoso pela resistência que opôs aos portugueses nos finais do séc. XIX. Eleito um dos 100 melhores romances africanos do século XX, em Ualalapi Ungulani Ba Ka Khosa conta a história de Ngungunhane, da sua ascensão até a sua queda. (Kapulana) Esta obra foi publicada pela primeira vez em 1987 e até hoje ecoa com uma profusão indescritível e imbatível no seio da rica literatura moçambicana. Ler Ualalapi é sempre um exercício de auto-deleite, de aprendizagem e de envolvência numa máquina do tempo que nos faz devorar página por página, espremendo as folhas movidos por um enlevo surreal. Actualmente é quase como um crime desconhecer Ualalapi, desconhecer a hipercorrecção e a forma como Ungulani torneia e esgota a descrição do espaço físico, social e psicológico, dando-nos uma imagem bem pincelada e sonora do que se trata na diegese. 1.2. O livro Apocalipse da Bíblia e Ualalapi à luz de "O Último Discurso de Ngungunhane": Que intercessão? Passados 32 anos, o que dizer de Ualalapi? Para uns uma obra literária e para outros didáctica, mas afinal de contas que obra literária não contém no seu ventre um pendor didáctico? Há sempre um didactismo por detrás de qualquer criação literária seja ficcional ou não. Refira-se que a análise feita tem em conta apenas "Ualalapi", isto é, exclui-se "As Mulheres do Imperador". Associamos o livro Apocalipse da Bíblia à obra Ualalapi, mais particularmente a "O último discurso de Ngungunhane". O nome do livro bíblico de Apocalipse vem de uma palavra grega que significa "Exposição" ou "Revelação", como aparece em algumas traduções. O próprio nome já indica qual é o conteúdo do livro de Apocalipse: ele expõe assuntos que estavam ocultos e revela eventos que aconteceriam muito tempo depois de
O tema da comunicação centra-se nas personagens femininas do romance Neighbous de Lília Momplé que se movem nos espaços domésticos. Para desenvolver tal assunto será preciso o apoio de outros romances de autores moçambicanos, nomeadamente... more
O tema da comunicação centra-se nas personagens femininas do romance Neighbous de Lília Momplé que se movem nos espaços domésticos. Para desenvolver tal assunto será preciso o apoio de outros romances de autores moçambicanos, nomeadamente Paulina Chiziane e Mia Couto. O enfoque é analisar como o espaço doméstico – cenário principal em que as personagens se movem – reflete as peculiaridades das três protagonistas do romance. O estudo será desenvolvido a partir do local da cozinha, geralmente considerado como lugar “tipicamente feminino”.
Resumo: o presente artigo pretende aproximar as poéticas do brasileiro Ronald Augusto e do moçambicano Sangare Okapi que rasuram os estudos comparativos das literaturas brasileira e africanas de língua portuguesa, pois apresentam... more
Resumo: o presente artigo pretende aproximar as poéticas do brasileiro Ronald Augusto e do moçambicano Sangare Okapi que rasuram os estudos comparativos das literaturas brasileira e africanas de língua portuguesa, pois apresentam experiências estético-formais que esgarçam as análises críticas dessas literaturas focadas em aspectos identitários. Esses dois autores questionam o próprio fazer poético e os limites da arte contemporânea propondo sintaxes escassas e fragmentações rumo à abstração posicionando o campo da literatura comparada na encruzilhada, assim como o que se convencionou como literatura negro-brasileira e literatura moçambicana.
Publicada na Revista de História da Biblioteca Nacional de Fevereiro de 2014
Apresentação do livro de contos "As Hienas Também Riem" (2013) de Aurélio Furdela.
Coletânea de poesias de estudantes moçambicanos.
This article aims to investigate from a historical perspective the election of Rui de Noronha as the first Mozambican poet, understanding this as process. Therefore, the article executes a diachronic study of the reception of his work,... more
This article aims to investigate from a historical perspective the election of Rui de Noronha as the first Mozambican poet, understanding this as process. Therefore, the article executes a diachronic study of the reception of his work, investigating two groups of texts: 1) the production of critical reviews of Noronha's work by white intellectuals, which gravitates around the posthumous organization of a collection of his sonnets in 1943; 2) the texts that reveal the position and reception of Rui de Noronha in the black and mestizo literary environment in Lourenço Marques in the early years of the 20th century. This elective process is especially relevant to understand the debates involved in the birth of an autonomous literature in moments of cultural assimilation, racism, and intense ethnocentrism in the colony.
Tornámos a vida num bazar de opiniões, frenético, feito do tropel dos nossos egos, tonitruantes, como se nós, assim gritados, algo fossemos verdadeiramente. Nisso se vão esgarçando os adjectivos, nesta nossa escalada de superlativos,... more
Tornámos a vida num bazar de opiniões, frenético, feito do tropel dos nossos egos, tonitruantes, como se nós, assim gritados, algo fossemos verdadeiramente. Nisso se vão esgarçando os adjectivos, nesta nossa escalada de superlativos, sinónimos ou antónimos, que nos valham para sermos ouvidos, numa dança vã do exigir atenção, um patético xigubo de vaidades, digo-o já que em Moçambique.
Resumo O romance Terra Sonâmbula é uma das mais importantes obras de Mia Couto e também de toda a literatura moçambicana, que espelha de forma peculiar a situação da guerra civil e o renascimento que se operou depois do fim dos conflitos... more
Resumo O romance Terra Sonâmbula é uma das mais importantes obras de Mia Couto e também de toda a literatura moçambicana, que espelha de forma peculiar a situação da guerra civil e o renascimento que se operou depois do fim dos conflitos em Moçambique. Vamos descobrir no presente artigo, de que forma se apresenta a viagem e como se torna um ponto-chave para compreender e interpretar este romance, desde as diferentes viagens que os personagens empreendem pelo território em guerra, até às viagens imaginárias que configuram, daí tentamos abarcar todas as perspetivas da viagem que são permitidas dentro do texto. A abordagem do tema da viagem aqui, prende-se com a observação quase imediata de que este seria um tema fulcral do romance ou seria mesmo a chave para a compreensão mais profunda do entretecer da narrativa e, principalmente, da natureza das suas personagens. Abstract The novel "Terra Sonâmbula" is considered as one of the most important literary works by Mia Couto as well as one of the most important literary works of the entire Mozambican literature, which reflects in a peculiar way the situation of the Mozambican civil war along with the country's revival that took place after the end of the conflicts in Mozambique. We will discover in this article, how "the journey" becomes the key point to understand and interpret the novel, from different journeys that the characters undertake in the territory at war, to the imaginary journeys they invent. from there, we attempt to cover all the perspectives of travel that are stated within the text. The approach to the theme of "the journey" is related to the possibility that it would be the central theme of the novel or would be even the key to a deeper understanding of the narrative's weave and, mainly, the nature of the novel's characters.
Com base na análise de configurações estéticas específicas de poemas de Noémia de Sousa e de José Craveirinha, é possível perceber de que modo a literatura moçambicana expressa os cruzamentos entre as múltiplas identidades do território... more
Com base na análise de configurações estéticas específicas de poemas de Noémia de Sousa e de José Craveirinha, é possível perceber de que modo a literatura moçambicana expressa os cruzamentos entre as múltiplas identidades do território colonial e as mudanças de consciência política que levaram à emergência de nacionalismos independentistas. Nesta análise, argumentos estéticos serão mobilizados desde o interior dos poemas para demonstrar a superação dos “protonacionalismos”, conforme definido por Mário Pinto de Andrade, em direção aos nacionalismos críticos que se seguiriam a partir da década de 1950.
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Nelson Saúte (1967, Maputo) é um personagem ainda desconhecido no meu país de origem, a Alemanha. Tanto maior foi a minha curiosidade quando, numa viagem a Lisboa em 2011, me deparei com um dos seus livros de contos, O Apóstolo da... more
Nelson Saúte (1967, Maputo) é um personagem ainda desconhecido no meu país de origem, a Alemanha. Tanto maior foi a minha curiosidade quando, numa viagem a Lisboa em 2011, me deparei com um dos seus livros de contos, O Apóstolo da Desgraça (Dom Quixote, 1999). Li-o, nas minhas idas e vindas de comboio ao Estoril, com muito interesse e com aquele fascínio que sentimos quando estamos à descoberta de novos mundos e novas realidades. Nesta altura, eu dedicava-me ao estudo da literatura latino-americana, mas sentia o impulso intrínseco de me aventurar ainda noutros continentes. Assim comecei a interessar-me por África que, desde o início, me colocou muitas questões e desafios que até hoje apenas consegui resolver parcialmente. Uma das pessoas que me ajudaram nesta árdua tarefa de compenetração intercultural foi Nelson Saúte, nomeadamente com as duas antologias incontornáveis que editou: Nunca Mais é Sábado, antologia de poesia moçambicana (Dom Quixote, 2004), e As Mãos dos Pretos, antologia do conto moçambicano (Dom Quixote, 2001).
José Pimentel Teixeira (blog ma-schamba, 3.7.2013) (Re)acabei agora este "A Maldição de Ondina" de António Cabrita. O autor, português imigrado em Moçambique há uma série de anos, que o XXI vai passando, poeta, prosador, jornalista,... more
José Pimentel Teixeira (blog ma-schamba, 3.7.2013) (Re)acabei agora este "A Maldição de Ondina" de António Cabrita. O autor, português imigrado em Moçambique há uma série de anos, que o XXI vai passando, poeta, prosador, jornalista, argumentista, crítico, professor, bloguista ("Raposas a Sul"), editor, tradutor, vai tendo por cá uma actividade intensa, constante e profunda, afixada em vários livros, disseminada em múltiplos textos, ecoada em constantes prelecções, um ritmo que não lhe prejudica densidade e ponderação. Este romance, publicado inicialmente no Brasil (Letras Selvagens, 2011) sairá em breve em Portugal (Abysmo), o que espero possa vir a proporcionar a sua distribuição no país, coisa
A partir de uma análise das configurações estéticas do romance Os sobreviventes da noite (2008), de Ungulani Ba Ka Khosa, é possível perceber certa estrutura persistente, o aqui chamado presente dependente, que se relaciona com a urgência... more
A partir de uma análise das configurações estéticas do romance Os sobreviventes da noite (2008), de Ungulani Ba Ka Khosa, é possível perceber certa estrutura persistente, o aqui chamado presente dependente, que se relaciona com a urgência em narrar uma multiplicidade de histórias, que, se analisada em relação às tendências hegemônicas e centralizadoras do tenso ambiente político da guerra pós-independência em Moçambique, surgem como uma estratégia estética de resistência.