Os Sertões Research Papers - Academia.edu (original) (raw)
RESUMO: Tendo como ponto de partida a posse de Afrânio Peixoto (1876-1947) na Academia Brasileira de Letras, em sucessão a Euclides da Cunha (1866-1909), o objetivo deste artigo é entender como o debate sobre o sertão e os sertanejos... more
RESUMO: Tendo como ponto de partida a posse de Afrânio Peixoto (1876-1947) na Academia Brasileira de Letras, em sucessão a Euclides da Cunha (1866-1909), o objetivo deste artigo é entender como o debate sobre o sertão e os sertanejos mobilizou os intelectuais brasileiros a partir da publicação da obra Os Sertões, de Euclides da Cunha. De forma mais específica, nosso interesse é entender como Afrânio Peixoto, um médico e escritor nascido e identificado com o sertão baiano, se apropria da obra e das representações de Euclides da Cunha para se projetar entre os intelectuais brasileiro no início do século XX, sobretudo no concorrido espaço da Academia Brasileira de Letras. Deste modo, o presente artigo busca analisar as aproximações e distanciamentos de Afrânio Peixoto em relação a Euclides Cunha, seja no que tange as leituras e interpretação sobre o sertão, seja na descrição de suas personalidades ou de suas identidades intelectuais. ABSTRACT: The objective of this article is to understand how the debate about the construction of images and representations about the backlands and the 'sertanejos' mobilized the Brazilian intellectuals around the publication of the book Os Sertões, by Euclides da Cunha. More specifically, our interest is to understand how Afrânio Peixoto (1876-1947), a physician and writer born and identified with the Bahian backlands, appropriates the work and representations of Euclides da Cunha to project himself among Brazilian intellectuals in the early 20th century, especially in the space of the Brazilian Academy of Letters. Thereby, the present article seeks to analyze Afranio Peixoto's approximations and distances in relation to Euclides Cunha, whether in terms of reading and interpretation about the backlands or in the description of their personalities or their intellectual identities.
Os cinco ensaios desse livro surgiram de um espanto diante da passividade de muitos brasileiros receberem e perpetuarem as imagens negativas os sertões, naturalizando-as como absolutas, aquém do juízo crítico acerca da função por trás da... more
Os cinco ensaios desse livro surgiram de um espanto diante da passividade de muitos brasileiros receberem e perpetuarem as imagens negativas os sertões, naturalizando-as como absolutas, aquém do juízo crítico acerca da função por trás da propaganda e montagem delas. No esforço de dissolvê-las, recorro a paisagens e certos jardins que não existem mais, filhos da história, da memória e da arqueologia; embora, paradoxalmente, alguns de seus traços persistam na atualidade como remanescentes materiais e imateriais, capazes de desvendar modos de se relacionar com o espaço e a natureza ou relembrar paisagens e jardins ideias, isto é, símbolos ou metáforas de cronologias arcaicas ataviadas nas mais diversas culturas do mundo, como o jardim do Éden, que evoca uma época amena cujo pathos congregava humanidade e natureza num todo harmonioso.
Não é segredo que Os Sertões foi sucesso de vendas desde sua primeira publicação em 1902. Por trás desse grande sucesso estão não apenas o talento e o trabalho árduo de jornalista investigativo do autor, mas também seu envolvimento... more
Não é segredo que Os Sertões foi sucesso de vendas desde sua primeira publicação em 1902. Por trás desse grande sucesso estão não apenas o talento e o trabalho árduo de jornalista investigativo do autor, mas também seu envolvimento pessoal com os acontecimentos, que o levou a uma espécie de “conversão”, ou seja, uma mudança radical de posicionamentos ideológicos sobre o conflito de Canudos. Longe, porém, de um mistificador, Euclides sempre manteve uma distância da propaganda republicana que vendia o conflito como uma insurreição monarquista financiada e apoiada por elementos que buscavam a restauração do Império. Nesse artigo, propomos que a principal suspeita do autor, desde antes de seu trabalho de campo, residia justamente nos aspectos militares do conflito. Para esse fim, nos valemos não apenas de trechos específicos de Os Sertões, como também de correspondências trocadas entre Euclides da Cunha e João Luís Alves antes mesmo de aquele desembarcar no sertão baiano para o acompanhamento de perto do desenrolar da famosa quarta expedição.
Resumo: O presente trabalho toma de empréstimo a estrutura de Os sertões, de Euclides da Cunha, para propor uma leitura do direito a partir de outra obra situada no sertão: Bacurau, o filme de Kléber Mendonça Filho, servirá como ponto de... more
Resumo: O presente trabalho toma de empréstimo a estrutura de Os sertões, de Euclides da Cunha, para propor uma leitura do direito a partir de outra obra situada no sertão: Bacurau, o filme de Kléber Mendonça Filho, servirá como ponto de partida para as discussões sobre um direito entendido também como forma de criaçãoainda que não literária ou cinematográfica. A partir do entrelaçamento entre espaço, comunidade e conflito, o que a narrativa de Bacurau tem a dizer sobre o direito? A hipótese é que relacionar o direito à terra, à comunidade e à lutaelementos do mundo material-, tendo como palco o sertão de Euclides e de Bacurau, expõe o que fica encoberto em abordagens que apostam na transcendência do direito e o separam da realidade espacial, social e conflitiva. O objetivo é compreender de que maneira a relação com o direito é explorada na arte-filme, não apenas como ordem omissa diante do ataque à comunidade, mas como ordem que é criada na resistência de Bacurau (para mantê-la no mapa e na história). A metodologia adotada é bibliográfica, com abordagem interdisciplinar e recurso aos aportes teóricos dos estudos pós-coloniais, da geografia jurídica crítica, e do direito e literatura.
Un sondeo por el aspecto religioso de "Los sertones" nos conduce a tres estigmas que se vienen repitiendo desde la publicación definitiva del libro en 1902: 1) Euclides da Cunha desvaloriza y subestima la fe y las creencias de la ciudad... more
Un sondeo por el aspecto religioso de "Los sertones" nos conduce a tres estigmas que se vienen repitiendo desde la publicación definitiva del libro en 1902: 1) Euclides da Cunha desvaloriza y subestima la fe y las creencias de la ciudad de Canudos, reduciéndolas a la típica descripción solipsista: Canudos es “la fase religiosa de un monoteísmo incomprendido, repleto de misticismo extravagante que es el fetichismo del indio y el africano”; en conclusión, un catolicismo “mestizo” y “mal comprendido”. 2) Euclides da Cunha, embebido por la teoría antropológica francesa, se seculariza por medio de un discurso positivista que reprueba y se burla de la cosmovisión de Antonio el Conselheiro. 3) En Canudos nunca hubo un conflicto de fe, por ende, una interpretación histórica correcta debe prescindir de la axiología religiosa y pasar a un análisis del plano político y sociológico. Pero estos tres postulados son falsos y han desencadenado varias conclusiones embusteras y desleales al texto de Los sertones, por ejemplo: 1) El libro se enmarca en un ejercicio aplicativo de las teorías de Hippolyte Taine en el contexto brasilero. 2) Con respecto a la forma del texto, prescindir del fondo religioso implicaría que los tres capítulos (La tierra, El hombre y La lucha) son tres cajones cerrados sin relaciones profundas entre sí. 3) Antonio Conselheiro fundamentó su ideología con fines políticos, disfrazándose con una máscara religiosa. 4) La ciencia, atravesando el conflicto de modernización del Brasil, aparece como la clave verdadera para la interpretación de la historia pasada y venidera. Por ende, debemos desmentir estos cuatro puntos. El texto de Da Cunha tiene, en realidad, una comprensión absorbente y compleja de la religiosidad sertaneja. Un virtuosismo espiritual sin mística. Sin mesianismo, ni redención alegórica del texto, trataré de aproximarme a Los sertones desde las referencias cruzadas que devuelven al texto su visión ternaria
Não é segredo que Os Sertões foi sucesso de vendas desde sua primeira publicação em 1902. Por trás desse grande sucesso estão não apenas o talento e o trabalho árduo de jornalista investigativo do autor, mas também seu envolvimento... more
Não é segredo que Os Sertões foi sucesso de vendas desde sua primeira publicação em 1902. Por trás desse grande sucesso estão não apenas o talento e o trabalho árduo de jornalista investigativo do autor, mas também seu envolvimento pessoal com os acontecimentos, que o levou a uma espécie de “conversão”, ou seja, uma mudança radical de posicionamentos ideológicos sobre o conflito de Canudos. Longe, porém, de um mistificador, Euclides sempre manteve uma distância da propaganda republicana que vendia o conflito como uma insurreição monarquista financiada e apoiada por elementos que buscavam a restauração do Império. Nesse artigo, propomos que a principal suspeita do autor, desde antes de seu trabalho de campo, residia justamente nos aspectos militares do conflito. Para esse fim, nos valemos não apenas de trechos específicos de Os Sertões, como também de correspondências trocadas entre Euclides da Cunha e João Luís Alves antes mesmo de aquele desembarcar no sertão baiano para o acompanhamento de perto do desenrolar da famosa quarta expedição.
O ensaio reflete sobre a construção dos espaços de determinadas vilas coloniais localizadas nos territórios dos sertões das capitanias do Norte. Põe luz sobre a interação cultural entre ameríndios e adventícios (africanos e europeus) nos... more
O ensaio reflete sobre a construção dos espaços de determinadas vilas coloniais localizadas nos territórios dos sertões das capitanias do Norte. Põe luz sobre a interação cultural entre ameríndios e adventícios (africanos e europeus) nos processos de urbanização. Segue, portanto, uma metodologia recente no estudo do urbanismo e da urbanização da América portuguesa direcionada, no âmbito da Arquitetura e Urbanismo, pelas pesquisas de Rafael Moreira, Rubens Gianesella e Nestor Goulart Reis. Como enfoque teórico-metodológico, o texto recorre às fontes primárias manuscritas, impressas e cartográficas que clarificam o papel do índio na construção urbana dos sertões do Norte. O ensaio busca mobilizar, em termos epistemológicos e empíricos, outras pesquisas a prestarem atenção ao papel do ameríndio na urbanização do Brasil, além de fundamentar novas leituras sobre o urbanismo brasileiro não circunscritas exclusivamente no discurso eurocêntrico.
En torno a Os Sertões (1902), podemos explorar una sensibilidad sobre un resto social, la comunidad de Canudos, que está signada principalmente por una criminalización y patologización que abreva en teorías psiquiátricas contemporáneas.... more
En torno a Os Sertões (1902), podemos explorar una sensibilidad sobre un resto social, la comunidad de Canudos, que está signada principalmente por una criminalización y patologización que abreva en teorías psiquiátricas contemporáneas. La disposición de diversos fragmentos de este ensayo interpretativo junto a los de otros textos de la teoría psiquiátrica o de la literatura nos permitirán sondear la particularidad de las lecturas de Euclides da Cunha sobre la modernidad y su resto, sobre el crimen y la locura entre el sertón y el litoral brasileño, así como también rastrear el devenir de esta sensibilidad más allá del acontecimiento.
O artigo tem por objetivo refletir sobre o estatuto da estrangeiridade do sertanejo na obra máxima de Euclides da Cunha. Utilizando conceitos de teóricos das migrações, discute-se a contribuição que a obra dá ao tema a partir das próprias... more
O artigo tem por objetivo refletir sobre o estatuto da estrangeiridade do sertanejo na obra máxima de Euclides da Cunha. Utilizando conceitos de teóricos das migrações, discute-se a contribuição que a obra dá ao tema a partir das próprias contradições existentes nela sobre a alteridade, a pureza e a nacionalidade construídas a partir do pensamento positivista que dominava os intelectuais desse período e refletia nas formas midiáticas da imprensa. Ao fim, é feita uma reflexão dos rumos da “grande imprensa” nos dias de hoje e as novas formas de representação popular.
Os Sertões de Euclides da Cunha são um projeto intermidiático e multimodal. Sua “tecnografia própria”, como Euclides a projeta em carta a José Veríssimo, “corporifica-se” numa “transgressão de gêneros” (cf. Haroldo de Campos), e requer o... more
Os Sertões de Euclides da Cunha são um projeto intermidiático e multimodal. Sua “tecnografia própria”, como Euclides a projeta em carta a José Veríssimo, “corporifica-se” numa “transgressão de gêneros” (cf. Haroldo de Campos), e requer o uso de mapas e fotografias. Como fotolivro de literatura brasileira, trata-se de nosso mais notável experimento de “literatura expandida”, híbrida. Há, em Os Sertões, ao menos dois níveis de descrição que não devem ser con- fundidos nas análises. Sua macroestrutura, concebida como um projeto inter- midiático, que intercala, ao longo de mais de 600 páginas, imagens de cartógrafos e fotos do acervo de Flávio de Barros. Essa arquitetura depende da microestrutura de interação local texto-imagem, uma propriedade que chama- mos de co-localização. Nosso foco, neste artigo, concentra-se na macroestru- tura da obra. Cinco edições foram diretamente comparadas (1902, 1903, 1905, 1933, 2016).
As tentativas de organização de um cânone literário brasileiro, principalmente através das diversas Histórias da Literatura, justificam-se, frequentemente, por um critério estético-formal de gosto; embora de modo contraditório, como tem... more
As tentativas de organização de um cânone literário brasileiro, principalmente através das diversas Histórias da Literatura, justificam-se, frequentemente, por um critério estético-formal de gosto; embora de modo contraditório, como tem sido demonstrado por muitos críticos da formação do cânone, um dos critérios principais tenha sido antes uma noção de representação da nacionalidade. Tanto no primeiro caso quanto no segundo, os críticos responsáveis pelas Histórias da Literatura organizam suas propostas de cânone segundo uma perspectiva colonial, patriarcal e eurocêntrica, derivada, em grande parte, de uma absorção do universalismo humanista da estética kantiana e do historicismo idealista e teleológico da estética hegeliana, informados pela perspectiva nacionalista do romantismo. A essas linhas que orientam as canonizações tradicionais, de Sílvio Romero e José Veríssimo a Antonio Cândido e Alfredo Bosi, e que excluem largamente a produção de mulheres, indígenas, negros, militantes políticos e pobres, podem-se opor duas perspectivas distintas, mas não necessariamente excludentes: a crítica pós-estruturalista e suas releituras da marginalidade, e a crítica pós-colonial e seu deslocamento de critérios para englobar vozes previamente excluídas. Observando possíveis dificuldades tanto de uma quanto de outra crítica, procuro fazer uma leitura estratégica de Os Sertões, de Euclides da Cunha, problematizando o seu lugar no cânone.