Loucura Research Papers - Academia.edu (original) (raw)
O presente artigo visa ofertar subsídios para a continuação da implementação dos pressupostos da Reforma Psiquiátrica (RP) brasileira no campo da Saúde Mental (SM), circunscrito ao atual momento de anti ou contrarreforma psiquiátrica e... more
O presente artigo visa ofertar subsídios para a continuação da implementação dos pressupostos da Reforma Psiquiátrica (RP) brasileira no campo da Saúde Mental (SM), circunscrito ao atual momento de anti ou contrarreforma psiquiátrica e seus retrocessos. Ao mesmo tempo, sinalizaremos horizontes ético-políticos para o campo, de modo a possibilitar uma leitura mais abrangente da conjuntura em que vivemos e perspectivas contextualizadas de ação, mobilização e transformação social. Ancorados em predicados da tradição marxista (ou em diálogo com ela), primeiramente, esboçamos uma breve análise conjuntural, enfatizando os principais desafios que perpassam a SM e RP brasileiras; posteriormente, apontamos algumas saídas e possibilidades para o campo; e, finalmente, discutimos a necessidade de submeter a Reforma e seus avanços a um novo projeto de sociabilidade, de onde seja possível estabelecer novas formas de relacionamento não só com a loucura e a saúde mental, mas também entre todos os seres humanos. Dessa forma, acreditamos ser possível o resgate da radicalidade da RP brasileira, bem como a retomada de seu caráter revolucionário, visualizando caminhos e horizontes possíveis frente à atual neblina que turva nossas visões.
The article addresses the concept of madness in a dialogue between psychoanalysis and other fields of knowledge, in particular British antipsychiatry and Michel Foucault's post-structuralism. The form of presentation is the essay, in the... more
The article addresses the concept of madness in a dialogue between psychoanalysis and other fields of knowledge, in particular British antipsychiatry and Michel Foucault's post-structuralism. The form of presentation is the essay, in the tradition of the adorniana dialectic. The central problem proposed is the underlying differentiation between the notions of psychosis and madness taking as reference the works of Freud and Lacan, in a comparison procedure with other theoretical and epistemological models. A privilege is presented to the concept of schizophrenia and its centrality in debates about psychoses in contemporary thought. The study is exclusively theoretical, comparing concepts and authors and the objective is to provide a critical look, along the lines of the Frankfurt betrayal, regarding the relationship between psychoses and society, suggesting the relevance of the concept of social experience. It is a panoramic essay, which aims to contribute to the understanding of madness in contemporary society and its related forms of social domination.
RESUMO: Este trabalho é parte da pesquisa realizada no Doutorado em História pela Universidade Federal de Pernambuco. Ele visa analisar a temática da loucura no Ceará no Século XIX a partir da construção do primeiro asilo para alienados,... more
Introdução A antropologia brasileira pode ser ana-lisada considerando ao menos três períodos: o fim do século XIX e início do século XX, da década de 1930 até a de 1960 e de 1968 até a atualidade. Esses períodos correspon-dem,... more
Introdução A antropologia brasileira pode ser ana-lisada considerando ao menos três períodos: o fim do século XIX e início do século XX, da década de 1930 até a de 1960 e de 1968 até a atualidade. Esses períodos correspon-dem, respectivamente, aos estudos da for-mação da nação, à institucionalização das ciências sociais e à criação dos Programas de Pós-Graduação em Antropologia. Há um consenso em torno da ideia de que, diferen-temente de outros centros, a antropologia no Brasil é marcada por pensar o próprio país, uma antropologia em grande parte reflexi-va. Nesse âmbito, é de interesse deste estu-do apontar como a temática da loucura, da doença mental, da saúde mental e demais termos correlatos figura no empreendimento de fazer antropologia no e sobre o Brasil. Na passagem do século XIX para o sé-culo XX, o processo de construção da antro-pologia brasileira contou com reflexões sobre raça, mestiçagem, crime e degenerescência no esforço de pensar os brasileiros e a formação da nação. Nesse contexto, Nina Rodrigues destaca-se (é destacado) como um dos inte-lectuais polivalentes que iniciam as pesquisas antropológicas no Brasil. Segundo Corrêa (2001), o autor-preocupado com as ques-tões da capacidade civil, da responsabilidade penal e das desigualdades sociais no âmbito das interações raciais-esforçou-se para con-solidar a medicina legal e ajudou na criação de uma nova disciplina interessada no ser humano. Corrêa (2001) explica que a defi-nição de antropologia "enquanto ciência do homem" provém da prática médica com os seus estudos de caso advindos da craniologia, craniometria e antropometria de criminosos e loucos 2. A antropologia de Nina Rodrigues carrega uma acepção biológica, seja como antropologia patológica, seja como antro-pologia criminal. No cerne do pensamen-to de Nina Rodrigues estão as morbidades das raças e o negro como um problema no Brasil; dimensões que ganham matizes com o fenômeno da mestiçagem. Em associação BIB, São Paulo, n. 92, 2020 (publicada em abril de 2020), pp. 1-22. Este trabalho configura-se como um produto do projeto "Levar a sério os pontos de vista dos loucos e as suas impli-cações nas discussões sobre loucura na contemporaneidade brasileira", desenvolvido no período em que estive como bolsista PNPD/CAPES no PPGAS/UFRN. 2 Oda (2001) acrescenta que, nesse esforço de criação e diferenciação de áreas de saberes, encontrava-se também a psiquiatria. Para a autora, Nina Rodrigues atribuía a essas ciências a prerrogativa de explicar cientificamente o compor-tamento humano e a responsabilidade de regular e avaliar as atitudes consideradas mórbidas dos indivíduos, decidindo sobre a imputabilidade e a prevenção da loucura e do crime.
Propõe-se nesse estudo uma análise que perscrute a leitura que Calvino, na trilogia Os nossos antepassados, faz de Orlando Furioso de Ariosto, tornando-o referência poético-retórica de sua ficção, estrutural, portanto, operando sua... more
Propõe-se nesse estudo uma análise que perscrute a leitura que Calvino, na trilogia Os nossos antepassados, faz de Orlando Furioso de Ariosto, tornando-o referência poético-retórica de sua ficção, estrutural, portanto, operando sua concepção de clássico; e, dessa forma, como tantos outros autores do século XX, ressoa os séculos XVI e XVII.
Como a ordem social é possível? Por que o mundo social não descamba mais facilmente para o caos ou para a “guerra de todos contra todos”? O presente livro sustenta que parte da resposta a essas questões clássicas da teoria sociológica se... more
Como a ordem social é possível? Por que o mundo social não descamba mais facilmente para o caos ou para a “guerra de todos contra todos”? O presente livro sustenta que parte da resposta a essas questões clássicas da teoria sociológica se encontra no anseio universal do agente humano por “segurança ontológica”, isto é, por uma experiência do mundo e de si como imbuídos de ordem, justificação e sentido. Na sua primeira parte, a obra explora versões dessa tese nos trabalhos de autores tão diversos quanto Weber, Berger, Bourdieu, Giddens, Sartre, Heidegger e Ernest Becker. Em seguida, o texto aprofunda a discussão sobre a segurança ontológica pelo exame do seu reverso: as experiências de insegurança existencial radical descritas na literatura sobre a esquizofrenia. Nesse sentido, ao propor um exercício em “heurística da insanidade” ou “epistemologia insana”, o livro defende não apenas uma compreensão da loucura a partir da teoria social, mas também um repensar crítico da teoria social a partir da loucura.
O presente trabalho parte da percepção empírica e teórica de que haveria, nos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), uma tentativa de tamponamento do mal-estar (antagonismo social) que a psicose encarna através da tomada de uma posição... more
O presente trabalho parte da percepção empírica e teórica de que haveria, nos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), uma tentativa de tamponamento do mal-estar (antagonismo social) que a psicose encarna através da tomada de uma posição fundamentalmente superegóica por parte do profissional de saúde mental. A premissa, nesse caso, é a de que os serviços substitutivos seriam perpassados por mecanismos ideológicos de controle e reprodução social – tal como qualquer instituição – que pressupõem a constituição de ideais de cura inalcançáveis, o que acaba por acarretar, conseguintemente, o surgimento de imperativos como expressão das exigências provenientes desses ideais. Estes se traduzem em: um ideal de inclusão, derivado dos pressupostos subjacentes ao movimento político que veio a instituir o CAPS; e um ideal de normalidade, efeito do atual “paradigma” psiquiátrico de viés organicista que tem sido predominante no cotidiano desses serviços. Assim, em um primeiro momento, procuramos estabelecer a base conceitual para a discussão que vem a seguir, explorando o que seria da ordem de uma metapsicologia da psicose, desde Sigmund Freud até Jacques Lacan. Em seguida, buscamos mapear os efeitos políticos e clínicos da presença dos mecanismos de poder engendrados pelos ideais de cura identificados, partindo da hipótese de que as consequências nesses dois campos são, ironicamente, tributárias de sua dissociação no interior do próprio serviço, dissociação que, como vimos, tende à supressão da clínica. Numa tentativa de pensar uma rearticulação, a metapsicologia apareceu como mediador privilegiado, de modo a nos permitir realizar uma crítica que incida por ambos os flancos, quais sejam: pela clínica e pela política. Visamos, com isso, contribuir para o estabelecimento de uma político-clínica possível, cujo estatuto seja o de uma reflexão instituinte, em face à já instituída (e reproduzida) relação entre a psicose e o CAPS. Almejamos, desse modo, o tensionamento da tarefa institucional de transformação social com a atenção que deve ser dada aos sujeitos em sua singularidade. Tendo em vista que o nosso objeto é uma instituição, adotamos como orientação teórico-metodológica a psicanálise em extensão (também chamada de psicanálise aplicada), sem, com isso, ignorar o que outros campos de saber têm a contribuir.
A partir de uma observação dos tempos góticos em que vivemos atualmente, esta comunicação tem como objetivo analisar os danos psíquicos que a pandemia de Covid-19 lega aos indivíduos, bem como traçar, em paralelo, uma relação com os... more
A partir de uma observação dos tempos góticos em que vivemos atualmente, esta comunicação tem como objetivo analisar os danos psíquicos que a pandemia de Covid-19 lega aos indivíduos, bem como traçar, em paralelo, uma relação com os contos “The Yellow Wall-Paper” (1892), de Charlotte Perkins Gilman, e “On a Cold Day” (1999), de Himani Bannerji, em seu modo de encontrar sobrevida frente às adversidades que encontram. Desde a declaração da Organização Mundial da Saúde do status do novo coronavírus como pandêmico, em 11 de março de 2020, além de mais de meio milhão de vidas brasileiras perdidas, há um prejuízo irreparável que ficará conosco: o medo, a ansiedade e o nervosismo são efeitos de um enclausuramento forçado, das mudanças repentinas e de uma insegurança geral, sentidos por 40% dos participantes de uma pesquisa realizada pela Fiocruz de Brasília e da Bahia (2021). Ademais, aquilo que se entendia como real e virtual, em regime de home office, se mistura às horas incontáveis em frente à tela de computadores e de celulares, seja por tarefas profissionais ou por simples lazer. Desse modo, a loucura que Showalter (1985) chama de female malady dos anos oitocentos no século XXI pandêmico se tornou flagelo humano, comum àqueles que temem pela fragilidade de suas vidas. Tendo em vista esse cenário gótico, o que fazer então quando o nosso papel de parede amarelo parece ter se tornando os milhares de pixels que compõem a tela de um aparelho eletrônico? O caminho parece ser delineado pelas personagens dos contos, pois é em abjetando (KRISTEVA, 1982) a si mesmas que elas, enfim, encontram liberdade, formam a sua identidade e ganham sobrevida; seja fazendo-se louca ou aniquilando a sua própria história no corpo de outra. A reflexão que nos resta, então, é saber: que parte de nós teremos que matar quando tudo isso acabar?
Busco nesse artigo situar o escritor brasileiro Lima Barreto na história da loucura e das instituições manicomiais no Brasil. Internado por duas vezes em um manicômio, o escritor teve toda sua vida marcada pelas sombras da loucura, a... more
Busco nesse artigo situar o escritor brasileiro Lima Barreto na história da loucura e das instituições manicomiais no Brasil. Internado por duas vezes em um manicômio, o escritor teve toda sua vida marcada pelas sombras da loucura, a partir de suas próprias relações familiares. Amparado metodologicamente na forma do ensaio, busco traçar as ambiguidades e sofrimento de Lima tendo como referência o Diário do Hospício, texto redigido pelo autor durante sua segunda internação hospitalar. Este artigo aponta para a hipótese de que foi a experiência social do escritor carioca o que melhor caracteriza seus supostos atos de anormalidade, sendo que é na singularidade imanente a tal experiência que Lima encontra para além de sua condição de negro e pobre a contextualização de sua exclusão social.
Abstract:
In this article, I seek to situate the Brazilian writer Lima Barreto in the history of madness and asylum institutions in Brazil. Twice interned in an insane asylum, the writer had his whole life marked by the shadows of madness, based on his own family relationships. Supported methodologically in the form of the essay, I seek to trace the ambiguities and suffering of Lima with reference to the Diário do Hospício, a text written by the author during his second hospitalization. This article points to the hypothesis that it was the social experience of the Carioca writer that best characterizes his supposed acts of abnormality, and it is in the singularity immanent to such an experience that Lima finds beyond his condition as black and poor the contextualization of his social exclusion.
Sabendo que atualmente o mercado de jogos digitais cresce vertiginosamente, aumenta a necessidade de realização de pesquisas sobre a uso de jogos para atingir resultados positivos, sendo, entre eles, a desconstrução de estigmas e... more
Sabendo que atualmente o mercado de jogos digitais cresce vertiginosamente, aumenta a necessidade de realização de pesquisas sobre a uso de jogos para atingir resultados positivos, sendo, entre eles, a desconstrução de estigmas e estereótipos. O presente trabalho buscou investigar os efeitos do jogo Hellblade: Senua’s Sacrifice sobre o estigma da loucura em um gamer regular jovem. Além disso, buscou-se verificar o comportamento do jogador em relação a doenças mentais antes e depois da exposição ao jogo. Para isso, foi realizado uma pesquisa de nível exploratório, em forma de estudo de caso experimental, com aplicação de testagem pré e pós exposição ao jogo.
A presente tese foi elaborada a partir de um projeto de reflexão epistemológica, a qual originou e estruturou uma pesquisa de campo etnográfica no Hotel da Loucura. A investigação empírica consistiu na divisão daquilo que o pesquisador... more
A presente tese foi elaborada a partir de um projeto de reflexão epistemológica, a qual originou e estruturou uma pesquisa de campo etnográfica no Hotel da Loucura. A investigação empírica consistiu na divisão daquilo que o pesquisador entendia por “etnografia”, a fim de pôr à prova suas “partes”. Observação, entrevista e participação foram “separadas” para dar lugar tanto a uma meta-investigação sobre as condições de possibilidade de uma etnografia ser produzida quanto a construção de uma etnografia sobre o Hotel da Loucura. A tese apresenta duas linhas argumentativas centrais, costuradas por meio de uma performance textual que visa montar e desmontar seus enunciados, trazendo à tona seus possíveis pressupostos, condicionamentos e matrizes disciplinares. Uma das linhas argumentativas reitera a centralidade da figura de um “eu-antropólogo” como condição de possibilidade para uma etnografia existir. Já a segunda linha especula sobre a existência de um único paradigma na Antropologia, consolidado atualmente sob o registro de tudo aquilo que pode ser adjetivado de etnográfico ou de natureza etnográfica. Nesse sentido, existiram dois espaços onde o trabalho de campo foi realizado. O primeiro foi o Hotel da Loucura, o qual parecia oferecer correspondências e semelhanças de interesses, dilemas, paradoxos e problemas com os de natureza metodológica e epistemológica da Antropologia; o segundo foi o espaço acadêmico, o qual parece ser aquele local onde o pesquisador condiciona sua visão sobre o primeiro, por meio de treinamento e formação, processos que por sua vez parecem incorrer em uma “transformação interior” desse “eu-antropólogo”. Em suma, a presente tese objetiva instabilizar e problematizar a etnografia enquanto um jogo de (des)montagem, que parece mover-se à deriva, mas “ancora-se” constantemente em categorias de análise e pressupostos epistemológicos, que seriam como seus “atracadouros”. Tais paradoxos e ambiguidades tiveram, nessa tese, espaço privilegiado enquanto pontes de interlocução com o método do teatro ritual do Hotel da Loucura.
Um dos gestos políticos mais notáveis na escrita de Adília Lopes, é o assumir publicamente que tem uma doença mental. Trata-se de um dos principais leitmotiv da sua obra, com o qual denuncia os discursos da psiquiatrização e... more
Um dos gestos políticos mais notáveis na escrita de Adília Lopes, é o assumir publicamente que tem uma doença mental. Trata-se de um dos principais leitmotiv da sua obra, com o qual denuncia os discursos da psiquiatrização e medicalização, do heterossexismo ou das categorias de classe e da divisão sexual do trabalho, como estratégias de controlo social e de normalização. As suas descrições das alterações morfológicas e imagísticas do seu corpo e sua doença mental, são uma forma irónica mas também dolorosa de resistência e subversão das normas, mas também uma estratégia poética de politização da vida privada. A doença mental e a medicalização tornam-na “gorda e lenta. De corpo e de espírito”, atiram-na para fora do mercado de trabalho. Mas também a integram, simultaneamente, na esfera artística, onde a discriminação social e o isolamento não têm os mesmos efeitos que em outras ocupações. Ao incorporar a doença mental na poesia, Adília Lopes lida com o preconceito, e partilhá-lo representa tanto um processo de auto-ajuda como a procura de um reconhecimento pelos sistemas social e literário instituídos. Contudo, o caso Adília Lopes também demonstra que existe uma clara diferença entre as ideias romântica e modernista do artista louco, como mito canonizado de transgressão da normalidade burguesa, e o artista com uma doença mental. A doença mental real e concreta continua a estar sujeita ao silenciamento e à discriminação, e a sua exposição desinibida é ainda causa de desconforto ou, até, de rejeição. Em Adília Lopes podemos observar, no entanto, como uma não conformidade com esta suposta normalidade é transformada em poética política, como a exposição da vulnerabilidade abre espaços para a acção micropolítica e para discursos não essencialistas. Adília Lopes constrói a sua corporeidade e a sua identidade como amálgama de sensações queer, loucura e deslocamentos de imagens e imaginários. Como em Cindy Sherman, na sua obra a mente e o corpo inadaptados não aparecem apenas como representação ou simulacro, mas como aquilo que ainda subsiste do carnal, do disforme, do abjecto e do trauma.
Palavras-chave: Adília Lopes; poesia e política; representação poética de loucura, doença e corpo; identidade queer.
O presente trabalho problematiza a história em quadrinhos autobiográfica intitulada Parafusos, Mania, Depressão, Michelângelo e Eu, escrita e desenhada pela quadrinista estadunidense Ellen Forney, cuja tradução do original Marbles: Mania,... more
O presente trabalho problematiza a história em quadrinhos autobiográfica intitulada Parafusos, Mania, Depressão, Michelângelo e Eu, escrita e desenhada pela quadrinista estadunidense Ellen Forney, cuja tradução do original Marbles: Mania, Depression, Michelangelo and Me (2012), foi publicada no Brasil em 2014. O livro conta as experiências de Ellen em busca de medicamentos, terapias ou um modo de vida que a fizesse se sentir bem consigo mesma após ser diagnosticada como bipolar, pouco antes de completar 30 anos de idade. Durante sua busca, que durou quatro anos (1998-2002), a quadrinista encontrou inspiração assumindo voluntariamente a alcunha de “artista louca” em referência a conhecidos artistas que foram diagnosticados com algum transtorno mental, como Van Gogh e Sylvia Plath. Partindo desta premissa, este trabalho consiste em valorizar o que Ellen conta sobre sua vida e sobre sua loucura, porque conta e como conta. Portanto, minha investigação se insere em uma tendência do campo de estudos conhecido como História da Loucura e da Psiquiatria que, desde a década de 1990 vem ganhado visibilidade ao inserir e valorizar o ponto de vista dos chamados “loucos” na historiografia. O objetivo central desta dissertação é problematizar o livro Parafusos, no sentido de: mostrar como Ellen explica, descreve e reflete sobre si própria a partir do momento em que é diagnosticada com transtorno bipolar, como compreende este transtorno; identificar como a quadrinista lidou com o diagnóstico e, neste sentido, com a "ciência psiquiátrica", apropriando-se ou não dos referentes deste campo (conceitos, tratamentos, etc.), mas também buscando outras formas não científicas como tratamentos e terapias alternativas; compreender como e em que medida a autora se construiu e se reinventou a partir do diagnóstico inspirando-se em conhecidos artistas do passado e constituindo-se como uma “artista louca”.
Resumo: O presente artigo objetiva investigar como Bento Prado Jr. repensa o lugar da Razão filosófica através dos conceitos de erro, ilusão e loucura. Exploraremos a hipótese de que esses conceitos funcionam de operadores fundamentais de... more
Resumo: O presente artigo objetiva investigar como Bento Prado Jr. repensa o lugar da Razão filosófica através dos conceitos de erro, ilusão e loucura. Exploraremos a hipótese de que esses conceitos funcionam de operadores fundamentais de sua atividade histórico-filosófica. Em um primeiro momento, buscaremos precisar como a crise da razão precede e condiciona o horizonte problemático de Bento. Em seguida, busca-se demonstrar que Bento acolhe a conversão kantiana do erro em ilusão interna para, aprofundando-a através do conceito de loucura, redefinir o lugar da Razão na filosofia. Visa-se, assim, introduzir um fio condutor para a compreensão da operação que persegue a experiência intelectual do filósofo brasileiro, a saber: a busca na história da filosofia de aliados para realizar uma crítica ao modelo autárquico do pensamento sem, contudo, descartar a possibilidade da Razão.
Palavras-chave: Razão, Loucura, Ilusão, Erro, Bento Prado Jr.
From error to illusion, from illusion to madness: destinations of the philosophical reason according to Bento Prado Jr.
Abstract: The present article aims to investigate how Bento Prado Jr. rethinks the place of philosophical Reason through the concepts of error, illusion and madness. We will explore the hypothesis that these concepts function as fundamental operators of their historical-philosophical activity. At first, we will try to determine how the crisis of reason precedes and conditions the problematic horizon of Bento. Then, it is tried to demonstrate that Bento accepts the Kantian conversion of the error in internal illusion to, deepening it through the concept of madness, to redefine the place of Reason in the philosophy. It is intended, therefore, to introduce a thread to understand the operation that pursues the intellectual experience of the Brazilian philosopher, namely: the search in the history of the philosophy of allies to criticize the autarkic model of thought without, however, discarding the possibility of Reason.
RESUMO Este texto tem por meta analisar um conjunto documental pouco explorado referente às pesquisas do médico Raimundo Nina Rodrigues sobre fenômenos coletivos registrados entre o final do século XIX e inicio do XX. Pretendemos dar... more
RESUMO Este texto tem por meta analisar um conjunto documental pouco explorado referente às pesquisas do médico Raimundo Nina Rodrigues sobre fenômenos coletivos registrados entre o final do século XIX e inicio do XX. Pretendemos dar ênfase a algumas reflexões do referido autor e, especialmente, ao diálogo que ele estabeleceu com profissionais estrangeiros do campo da sociologia, da antropologia e da saúde mental. O esforço intelectual de Nina é como um testemunho do nascimento de um campo de estudos cujas primeiras linhas estavam sendo traçadas no Brasil: a psicologia das massas ou loucura das multidões. Nina resgata uma rica tradição de estudos para abordar, à sua maneira, casos de epidemias coletivas e religiosas no Brasil, vinculadas à população negra e mestiça. Palavras-chave Nina Rodrigues – multidões – loucura – religião – miscigenação. ABSTRACT This text is aimed to analyse an underexplored set of documents related to the research referring to the physician Raimundo Nina Rodrigues on collective phenomena recorded between the late nineteenth and early twentieth centuries. We intend to emphasize some reflections of that author and especially the dialogue which he established with foreign professionals in the field of sociology, anthropology and mental health.Ninàs intellectual effort is like a witness of the birth of a field of study whose first lines were being drawn in Brazil: crowd psychology or the madness of crowds. Nina rescues a rich tradition of studies to address, in its way, cases of collective and religious epidemics in Brazil, linked to the black and miscegenated population. Keywords Nina Rodrigues – crowds – madness – religion – miscegenation. Introdução É possível afirmar que Raimundo Nina Rodrigues foi um dos primeiros intelectuais brasileiros a, sistematicamente, teorizar e formular hipóteses sobre o campo da chamada Psicologia das Multidões. Esse aspecto foi apontado, pela primeira vez pelo médico Arthur de Araújo Pereira Ramos (1903-1949) no prefácio do livro As collectividades anormais, coletânea de textos de Nina Rodrigues, reunida pelo primeiro em 1939: Nina Rodrigues, já apontado como o iniciador dos estudos de etnografia e psicologia social do negro, no Brasil, já conhecido como estudioso de nossos problemas de raça e de cultura, aclamado como uma das autoridades em criminologia e ciência penal.... talvez não fosse lembrado, pela nossa pobre ciência nacional, tão esquecida dos precursores, como um dos pioneiros do movimento da psicologia coletiva. No entanto o seu nome fora apontado pelos estudiosos europeus, como um dos fundadores da psicologia das multidões, um dos criadores da psicologia gregária, normal e patológica, ao lado dos Rossi, dos Si
A morte e a loucura, se não andam de braço dado, andam, frequentemente, de mãos dadas. Ao nível do imaginário, naturalmente. Na dança macabra alemã, do séc. XVI (Figura 1), o louco não dá, contra o costume, a mão à morte. As demais... more
A morte e a loucura, se não andam de braço dado, andam, frequentemente, de mãos dadas. Ao nível do imaginário, naturalmente. Na dança macabra alemã, do séc. XVI (Figura 1), o louco não dá, contra o costume, a mão à morte. As demais figuras dão a mão a dois esqueletos, um de cada lado da fila de dança. Excetuando o homem de armas que, em vez de dar a mão direita à morte, a dá ao louco. O louco não dá nenhuma mão à morte, nem a direita, nem a esquerda. É o primeiro da fila, visivelmente, a contracorrente. Como compreender este estatuto excecional? Poderá o louco ocupar o lugar da morte? Em determinadas circunstâncias, até parecem intermutáveis. Acresce que a posição do louco nesta dança macabra não é um caso isolado: na Dança e Canção da Morte, publicada por John Audelay, em 1569 (Figura 2), o louco é apresentado numa situação similar: no início da fila, sem dar a mão à morte.
In this paper, I have sought to provide an analysis and sociological reflection on the theme of madness in Brazilian cinema. I have adopted as the reference the period that starts in 1995 and runs until 2015, understanding that in that... more
In this paper, I have sought to provide an analysis and sociological reflection on the theme of madness in Brazilian cinema. I have adopted as the reference the period that starts in 1995 and runs until 2015, understanding that in that period there were in Brazil changes in film production and at the same time the way in which society has dealt with the concept of madness. My analysis has focused on the attempt to draw a parallel between the historical context of the Psychiatric Reform and the ways in which madness is represented in some Brazilian films produced in that period. Based on theoretical contributions of Michel Foucault and the anti-psychiatry tradition I appointed to the possibility that film as an expression of culture industry reproduces in their narratives the hegemonic gaze in capitalist society about the phenomenon of madness.
Discussion of how spree could be understood as madness, taking patients to hospitalization in the Hospital Colônia of Barbacena, between 1934 and 1946. The Hospital Colônia was chosen for study because it is the first public psychiatric... more
Discussion of how spree could
be understood as madness, taking patients
to hospitalization in the Hospital Colônia of
Barbacena, between 1934 and 1946. The
Hospital Colônia was chosen for study because
it is the first public psychiatric hospital of
Minas Gerais. In this Hospital was frequent the
admission of patients who were not mentally ill
and were there for other problems. The period,
from 1934 to 1946, was selected due to the
medical situation experienced during the Vargas
Era (1930-1945) in which the management
of Gustavo Capanema in the Ministério dos
Negócios de Educação e Saúde; the Serviço
de Doenças Mentais (SDM) and medical ideals
of the Liga Brasileira de Higiene Mental (1935-
1946) contributed to the admission of illicit
Campos de Saberes da História da Educação no Brasil 3 Capítulo 13 147
amusements practitioners in Hospital Colônia of Barbacena. The methodology involves
historical research, based on the Cultural History. The research population includes
new patients admitted to the Hospital, between 1934 and 1946.
RESUMO: À luz é dado o caráter de representar a razão. É ela que guia as almas perdidas dos marinheiros à deriva. A luz é antagônica à sombra. Sombra, então, é sinônimo da falta da razão. Para Jung (1991), a sombra é para onde enviamos... more
RESUMO: À luz é dado o caráter de representar a razão. É ela que guia as almas perdidas dos marinheiros à deriva. A luz é antagônica à sombra. Sombra, então, é sinônimo da falta da razão. Para Jung (1991), a sombra é para onde enviamos todas as partes do nosso ser que não seriam socialmente aceitas. Partes que não podem ser trazidas à luz do dia. Um sábio é tido como um ser iluminado. Este trabalho, busca lidar com questões atinentes às ações sombrias das personagens Bertha Mason, refletindo a possível busca constante da personagem por criar/reproduzir luz, e Camila, refletindo sua possível busca constante por liberdade. Para tanto, retomaremos questões de construção do sujeito racional e do sujeito feminino. Pretendemos, neste artigo, fazer a aproximação entre as personagens a partir de duas categorias (casamento; e morte, a busca por luz) que são recorrentes em suas narrativas. PALAVRAS-CHAVE: intertextualidade; loucura; casamento; Bertha Mason; Manhã Transfigurada. ABSTRACT: Light is the representation of reason. Light is antagonistic to shadow. Shadow, then, is synonymous to lack of reason. To Jung (1991), shadow is where we send all the parts of our being that would not be socially accepted. Parts that can not be brought into daylight. A sage is said to be an enlightened being. Thus, the Enlightenment cried out as the source of rational response, as a liberating philosophy. The shadow is the unknown.This article works on latent issues in the somber actions of the characters Bertha Mason, reflecting a possible constant aim to create /reproduce light, and Camila, reflecting a possible constant search for freedom. We intend, in this article, to approximate these characters by considering two categories (marriage; and death, the search for light) that are recurrent in their narratives.
I seek in this work to present theoretical reflections on the concept of madness through a look of contemporary social theory, especially as regards the references of a critical theory of society. Through an interdisciplinary analysis I... more
I seek in this work to present theoretical reflections on the concept of madness through a look of contemporary social theory, especially as regards the references of a critical theory of society. Through an interdisciplinary analysis I propose the hypothesis of apprehension of madness, especially of schizophrenia, as a form of social experience, in opposition to the hegemonic definitions in the field of psychiatry, which name schizophrenia as mental illness. I associate modern psychiatry with the field of what Max Horkheimer called the Traditional Theory. In an attempt to take a critical look at the so-called psychoses, I recover the works of Michel Foucault and Ronald Laing as critics of the psychiatric paradigm, while at the same time pondering the contributions of Axel Honneth to think of madness in the dimension of recognition theory. The proposal is about postulating different epistemological possibilities of a critical theory of madness and abnormality.
(Ecos, ISSN 2237-941X)
A partir de algumas questões e problemas originados em meu trabalho de campo com o coletivo do Hotel da Loucura, pretendo ecoar aqui alguns debates epistemológicos atuais e históricos da Antropologia em torno do caráter, natureza, limites... more
A partir de algumas questões e problemas originados em meu trabalho de campo com o coletivo do Hotel da Loucura, pretendo ecoar aqui alguns debates epistemológicos atuais e históricos da Antropologia em torno do caráter, natureza, limites e horizontes da etnografia. A questão central levantada aqui é aquela que se pergunta pela possibilidade ou não de grafar, narrar ou interpretar, de alguma forma, a experiência da loucura ao articular duas ciências que se encontram no campo: a Antropologia e a Psiquiatria Transcultural praticada nos Teatros Rituais do Hotel da Loucura. Ao narrar sobre as negociações, impasses e alianças entres essas duas ciências, abre-se a possibilidade de coproduzir uma outra ciência que habita/inventa/cria outros mundos, realidades ou perspectivas (Roy Wagner). O “método da loucura”, em prática no Teatro Ritual, ao encontrar a etnografia, a interpela, questionando sua plausibilidade, seus limites e potencialidades. Uma Antropologia reversa (Roy Wagner) torna-se possível a partir daí, quando o coletivo do Hotel da Loucura se sente implicado em um fazer antropológico que rompe com os limites daquilo que chamamos disciplinarmente de “trabalho de campo”. No lugar de tomar os conteúdos gerados e acionados pelos participantes desse coletivo de pacientes, internos, cientistas e artistas, como metáforas ou mensagens codificadas de sujeitos conectados conosco por algum chão comum universal, proponho submeter a exame a prática de pesquisa etnográfica concomitantemente com sua prática (Paul Feyerabend), montando-a e desmontando-a. Mais detidamente, viso aqui questionar sobre o que fazer com a incomensurabilidade de mundos existente entre a Antropologia e essas outras realidades, ontologias e epistemologias que habitam o território vasto da loucura, principalmente quando falar em “etnografia” pressupõem um texto plausível, com estatuto de verdade e escrito por alguém treinado a centrar-se e descentrar-se no giro eterno em torno de sua prática narcísica. Portanto, pergunto sobre esse “basta a etnografia” (Tim Ingold), que ressoa ainda na disciplina, e sobre a possibilidade de fazer Antropologia a partir da proposta de promover uma saúde mental coletiva entres todos os seres, defendida e aplicada pelo coletivo do Hotel da Loucura.
This study aims to analyze the problems of feminine normality, in view of the movement of medical intervention in Rio de Janeiro city between the years 1925 and 1933. This research is based on the theoretical references of gender by Joan... more
This study aims to analyze the problems of feminine normality, in view of the movement of
medical intervention in Rio de Janeiro city between the years 1925 and 1933. This research is
based on the theoretical references of gender by Joan Scott (1994), on the conceptualizations
of social representations and appropriations of Roger Chartier (2002) and on the issues raised
by Georges Canguilhem (1990) concerning the notions of normal, abnormal and pathological.
Therefore, the following journals were used as primary sources: Arquivos Brasileiros de
Higiene Mental (1925-1947) and Boletim de Eugenia (1929-1933), besides books on
healthcare professionals relevant to the topic in focus. We also analyzed two non-scientific
magazines: Revista Feminina (1915-1936) and A Maçã (1923-1929). Our aim was to
investigate to what extent the models of feminine normality proposed by Brazilians mental
hygienists and eugenicists were suitable or not as gender patterns in non-scientific magazines
of general circulation in Rio de Janeiro city.
Ao longo das primeiras páginas de À la recherche du temps perdu, Marcel Proust nos apresenta uma série de variações em torno da experiência do dormir e do despertar. “Um homem que dorme”, diz ele, “mantém num círculo em torno de si o fio... more
Ao longo das primeiras páginas de À la recherche du temps perdu, Marcel Proust nos apresenta uma série de variações em torno da experiência do dormir e do despertar. “Um homem que dorme”, diz ele, “mantém num círculo em torno de si o fio das horas, a ordem dos anos e dos mundos. Ao acordar consulta-os instintivamente e neles lê num segundo o ponto da terra em que se acha, o tempo que decorreu até seu despertar”. Se Leibniz pudesse ter lido e reescrito essas páginas de Proust, imagino que teria alterado pouca coisa. Dormir, diria, é esquecer-se de si mesmo, esquecer-se do lugar onde se está, de por que e como viemos parar em nossa situação presente. Dic cur hic? – é a fórmula várias vezes repetida por ele para se referir, entre outras coisas, ao que significa o acordar, seja de um sono profundo, seja de um desmaio ou outro estado de atordoamento qualquer. Acordar é lembrar de quem somos; e aquilo que somos é determinado, antes de mais nada, pelo situs, pela situação espaciotemporal de nosso corpo, expresso na alma.
O presente artigo discute a maneira como o documentário Estamira, de Marcos Prado coloca em evidência a personagem principal; portadora de esquizofrenia e catadora do Aterro do Gramacho, na periferia do Rio de Janeiro; como ser produtor... more
O presente artigo discute a maneira como o documentário Estamira, de
Marcos Prado coloca em evidência a personagem principal; portadora de esquizofrenia e catadora do Aterro do Gramacho, na periferia do Rio de Janeiro; como ser produtor de conhecimento e de que forma isto torna visível a transgressão e contestação social presente na loucura. A análise também faz um paralelo com as intenções estéticas e filosóficas do Cinema Novo e mostra como o cineasta em
questão atinge as proposições apresentadas pelo manifesto Estética da Fome, de Glauber Rocha.
- by Kamyla Maia
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- Loucura, Documentário
Resumo: Este artigo investiga as práticas discursivas de psiquiatras na construção das categorias de normalidade e anormalidade para mulheres no período de 1920 a 1930. Nossas investigações levam em conta o ambiente de transformações em... more
Resumo: Este artigo investiga as práticas discursivas de psiquiatras na construção das
categorias de normalidade e anormalidade para mulheres no período de 1920 a 1930.
Nossas investigações levam em conta o ambiente de transformações em que a
psiquiatria brasileira estava inserida, considerando o aumento de importância das teorias
organicistas alemãs para a discussão de tais categorias. Com este objetivo, trabalhamos
com artigos de época em revistas especializadas e também analisamos um caso clinico
de uma mulher internada no Hospital Nacional de Alienados com o diagnóstico de
loucura maníaco-depressiva.
Este trabalho se propõe a pensar os caminhos da luta antimanicomial no entrelaçamento entre saúde mental, cidade e carnaval, a partir do encontro com o bloco Loucura Suburbana, do Engenho de Dentro, no Rio de Janeiro. Em um primeiro... more
Este trabalho se propõe a pensar os caminhos da luta antimanicomial no entrelaçamento entre saúde mental, cidade e carnaval, a partir do encontro com o bloco Loucura Suburbana, do Engenho de Dentro, no Rio de Janeiro. Em um primeiro momento, traça-se um percurso histórico para perceber como foram forjadas na modernidade as relações entre a loucura, a cidade, os saberes e as instituições. A partir disso, nos debruçamos sobre os movimentos de desnaturalização destas relações, de negação dos manicômios e da invenção de novas práticas de cuidado a partir da Reforma Psiquiátrica Brasileira e do Movimento da Luta Antimanicomial. Traçado este percurso, partimos ao plano da experiência para pensar como as questões da luta e da saúde mental se atualizam nos dias de hoje, apostando na alegria e no carnaval enquanto caminhos potentes para a luta antimanicomial.
Capítulo do livro "Representações e visibilidades na história cultural : imagens, imaginários, memórias", organizado por Miriam de Souza Rossini, Cláudio de Sá Machado Júnior, Nádia Maria Weber Santos; publicado pela EDIPUCRS,... more
Capítulo do livro "Representações e visibilidades na história cultural : imagens, imaginários, memórias", organizado por Miriam de Souza Rossini, Cláudio de Sá Machado Júnior, Nádia Maria Weber Santos; publicado pela EDIPUCRS, 2015.
Este artigo discute memória na sua relação com alguns aspectos do estatuto das imagens, para a História Cultural, a partir de imagens fotográficas tomadas em manicômios, na década de 1950, em Porto Alegre/Brasil e Túnis/Tunísia, retiradas de duas fontes específicas: Jornal Diário de Notícias de Porto Alegre, de 22 de março de 1951 e do livro L´asile aux Fous, fotografias de Roger Camar da década de 1950, organizado por Philippe Artières e Jean-François Laé . Discutir-se-á “imagens da loucura” (“imagens apesar de tudo”) em manicômios, dando relevo a aspectos da memória (cultural e social) e do imaginário que as mesmas engendram, construídos em torno deste fenômeno social, a loucura, que atravessa as épocas e os lugares.
O aporte teórico trazido para a reflexão sobre imagem, fotografia, representação, imaginário e memória, é discutido, principalmente, a partir de alguns textos: o livro Imagens apesar de tudo (2012), do historiador da arte e filósofo Didi-Huberman (e com ele, Walter Benjamin e Aby Warburg); imaginário e Memória Cultural, na obra Espaços da recordação – formas e transformações da Memória Cultural (2011), de Aleida Assmann; o texto Imagem, memória e sensibilidades: territórios do historiador (2008) e o livro História & História Cultural (2003), ambos da historiadora gaúcha Sandra Jatahy Pesavento.
Parte-se de algumas reflexões preliminares sobre as imagens, discutidas no decorrer do artigo: imagens são simbólicas “apesar de tudo” e se transformam na relação com o olhar no tempo; imagens [fotográficas] são “instantes de verdade”, testemunhos do passado, que se perpetuam ali, no gesto/processo de fotografar; imagens são rastros e traços deixados no tempo, constituindo-se em órgãos de memória social e cultural; imagens são de uma complexidade problemática e contraditória.
- by Nádia Maria Weber Santos and +1
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- Loucura, Memoria, Imagens da loucura
O artigo discorre sobre alguns aspectos históricos da exclusão social de mulheres consideradas loucas e internadas no Hospital Psiquiátrico São Pedro de Porto Alegre (HPSP), durante a década de 1940. Os dados foram colhidos em fontes... more
O artigo discorre sobre alguns aspectos históricos da exclusão social de mulheres consideradas loucas e internadas no Hospital Psiquiátrico São Pedro de Porto Alegre (HPSP), durante a década de 1940. Os dados foram colhidos em fontes hospitalares (prontuários médicos) e jornalísticas e discute-se parâmetros históricos de loucura e suas sensibilidades em relação ao gênero feminino em nosso meio (Rio Grande do Sul). As vertentes teóricas de análise são aquelas relativas à História das Sensibilidades (História Cultural).
Palavras-chave: Sensibilidades; exclusão social; mulheres; loucura; hospício.
PUBLICADO NO LIVRO:
Cultura e identidade [recurso eletrônico] : subjetivi-
dades e minorias sociais / Flavi Ferreira Lisboa
Filho, Thomas Josue Silva, (orgs.). – Santa Maria,
RS : FACOS-UFSM, 2018. 1 e-book
Disponível em: http://w3.ufsm.br/estudosculturais/arquivos/livros-completos/CULTURA%20E%20IDENTIDADE%202018.pdf
Este trabalho tem como objetivo apresentar, a partir da análise dos prontuários de internamento de uma instituição destinada ao tratamento de alienados administrada por seguidores do espiritismo, as concepções particulares sobre saúde,... more
Este trabalho tem como objetivo apresentar, a partir da análise dos prontuários de internamento de uma instituição destinada ao tratamento de alienados administrada por seguidores do espiritismo, as concepções particulares sobre saúde, doença e loucura produzidas por essa doutrina e o modo pelo qual elas eram transpostas para o interior de uma instituição de caráter asilar, o Sanatório Espírita de Uberaba, no Brasil da primeira metade do século XX.
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1415-47142011000300008
Obra de Maura Lopes Cançado traz a criatividade e a angústia de uma autora psicótica
RESUMO No momento da constituição da loucura como doença mental, Falret orientava o psiquiatra a não se fazer do que pejorativamente denominava "secretário do alienado". Ora, esta é a posição que J. Lacan recomendará anos mais tarde ao... more
RESUMO No momento da constituição da loucura como doença mental, Falret orientava o psiquiatra a não se fazer do que pejorativamente denominava "secretário do alienado". Ora, esta é a posição que J. Lacan recomendará anos mais tarde ao psicanalista na sua lida com o sujeito psicótico. O trabalho aponta que ao secretário do alienado cabem certas tarefas e certa margem de manobra. PALAVRAS-CHAVES Saber-sujeito-psicose-texto-gozo 1 1
- by Paulo Vidal
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- Psicología, Loucura, Psicanalise
En Heracles de Eurípides, mientras el héroe se encuentra realizando uno de los famosos doce trabajos (el descenso al Hades en busca de Cerbero), Lico se apodera del trono de Tebas y pretende asesinar a la familia del héroe.... more
En Heracles de Eurípides, mientras el héroe se encuentra realizando uno de los famosos doce trabajos (el descenso al Hades en busca de Cerbero), Lico se apodera del trono de Tebas y pretende asesinar a la familia del héroe. Inesperadamente aparece Heracles y, una vez al tanto de la situación, intenta restablecer el orden en la ciudad. Mata al usurpador e inicia un ritual para purificar el palacio pero lo interrumpe y, enloquecido por obra de Lýssa, mata a flechazos a su esposa e hijos. Cuando vuelve en sí, gracias a la intervención de Atenea, el héroe decide suicidarse pero llega Teseo, quien lo convence de no hacerlo y de que lo acompañe a Atenas. Cabe destacar que Eurípides utiliza, a lo largo de toda la obra, la subversión de patrones normales rituales. No sólo pervierte el ritual de purificación y lo convierte en el espacio para el infanticidio en el cuarto episodio, sino que, también, altera las normas de la súplica, transforma a Mégara y los niños en víctimas sacrificiales, confunde bodas con funerales en el segundo epi-sodio, y pospone continuamente el lamento fúnebre al final de la tragedia. Pero, por otra parte, en el éxodo Teseo promete a Heracles purificar la polución e instaurar sacrificios en su honor una vez que lleguen a Atenas, evocando así un ritual que será ejecutado según patrones normales. Por lo cual analizaré el uso del lenguaje y acciones rituales, tanto la perversión como el seguimiento de sus normas, con el objetivo de aportar datos sobre la representación de la locura ya que manifiesta el cuestionamiento y la aceptación del orden social que caracterizan al género trágico.
This paper in the form of an experience report aims to situate performativity and agency in the field of mental health after the insertion of psychology students in the context of a psychiatric clinic to practice a basic trainee program... more
This paper in the form of an experience report aims to situate performativity and agency in the field of mental health after the insertion of psychology students in the context of a psychiatric clinic to practice a basic trainee program in psychopathology. The trainee program started in the first half of 2018. But to talk about the subject in which we propose, it is necessary to rescue the history of madness in its critical and tragic traditions. With the psychiatric reform, the scenario for madness has been transformed; paradigms weretransformed and were created new ways of offering care in mental health, extinguishing
the asylum model, promoting autonomy and protagonism to the subject and the family in multiprofessional care. Therefore, as a proposal for therapeutic intervention, we opted for art as a possibility, in writing itself as an instrument of mediation. The proposal consisted in the construction of a book as a process of self-reporting through writing.
Tradução do capítulo Medeia de Pascal Quignard, publicado em O sexo e o pavor, Le sexe et l'effroi. Tradução de Pablo Simpson para o curso “A literatura e o mal”, Unesp/2019.
No presente vídeo, apresento uma prévia da introdução da minha dissertação de mestrado no evento Encontros de Filosofia do PPGFIL/PUCRS, evento organizado por discentes do programa que ocorreu no dia 1 de dezembro de 2016. O título da... more
No presente vídeo, apresento uma prévia da introdução da minha dissertação de mestrado no evento Encontros de Filosofia do PPGFIL/PUCRS, evento organizado por discentes do programa que ocorreu no dia 1 de dezembro de 2016. O título da apresentação é Loucura e Parresía: uma leitura a partir de Michel Foucault.
- by Elton Borba
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- Loucura, Discurso, Parresía
Este trabalho é parte de um projeto de pesquisa em andamento que investiga a construção das categorias de normalidade e anormalidade para mulheres nas práticas discursivas de psiquiatras e eugenistas... more
Este trabalho é parte de um projeto de pesquisa em andamento que investiga a construção das categorias de normalidade e anormalidade para mulheres nas práticas discursivas de
psiquiatras e eugenistas brasileiros, entre 1903 e 1930. Este artigo discute a paulatina substituição do diagnóstico de histeria pelo de psicose maníaco-depressiva dos prontuários
de mulheres do principal hospital psiquiátrico do (antigo)
Distrito Federal.
Tal mudança aponta a hegemonia das teorias organicistas alemãs entre as décadas de 1920 e 1930. Demonstra-se então que a mudança nosográfica não promoveu diferença efetiva quer na
interpretação, quer na consequente conduta médica frente aos comportamentos considerados, à época, socialmente desviantes. Para a análise, utilizam-se artigos médicos
publicados em revistas especializadas e em jornais de grande circulação na cidade do Rio de Janeiro, além de casos clínicos retirados dos Livros de Observações Clínicas do Pavilhão de
Observações do Hospital Nacional.
http://www.revispsi.uerj.br/v11n2/artigos/pdf/v11n2a21.pdf